quarta-feira, 25 de junho de 2014

Sou o frio deste verão

Sou o frio deste verão.
Sinto em mim o arrefecimento
desse calor.
Algum sol que em mim toque,
faz-me acompanhar
da sombra.
Uma penúmbra de mim.
-"Onde está o calor?"-
pergunto à minha fiel companheira.
E inerte, estática,
depende de mim para a resposta.
Que besteira!
Como quero eu
que ela queira?
Que se mexa?
Se eu gélido espero.
Mas espero.
Aguardo o movimento
do sol estático
em terra fria.
Que gire e me aqueça.
Que me crie uma ideia
nesta cabeça.
Porque congelei o pensamento
nestes dias de sol no firmamento.
Mas o frio deste verão
sou eu.
Tao solamente meu,
este descontentamento
que de calor se perdeu.
Resta-me a sombra,
companheira do sol frio,
e deste que se intrometeu.

Vaz Dias




terça-feira, 17 de junho de 2014

No meu bairro.


No meu bairro,
as pessoas acreditam.
Nem todas.
Acredito naquelas que
desfraldando a bandeira
e a pendurando,
se lembrem de tempos passados.
De crenças esquecidas.
De vitórias cristalizadas.
No meu bairro avisto
aí umas cinco.
Mas testemunharei
umas tantas mais.
Desde que se ganhe.
Desde que uma bola as faça acreditar.
No meio bairro também vou à bola.
Não desfraldo nem penduro
a minha crença.
Acredito que nada resolverá
o ganhar para amanhã esquecer.
O perder que amanhã
também se deva olvidar.
"Bola p'rá frente!"
Desde que se acredite.
Mesmo que de bola
outros não dêem bola.
Que se tente.
Mesmo que de ignorância
se comente.
Se cometa a injustiça.
Porque também de tão boa pátria
fica o exemplo
do que ao exterior
o dedo se aponte.
No meu bairro,
há quem não desfralde
nem pendure
também a sua crença.
Mas que sejamos todos
essa pátria
que o amanhã promete.

Vaz Dias

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Numa brisa lampejo

Passaste por mim como uma brisa.

Doce e de despedida.

Como um sempre que esteve como presente,

e um amanhã de possibilidade vã.

Foi assim, como um único beijo,

de quem numa esquina se encontrou de lampejo,

e assim se despediu,

para um sempre que foi demasiado agora.

Beijo. (talvez até amanhã)



Vaz Dias

quarta-feira, 11 de junho de 2014

versus

Eu não quero nunca perder a noção do meu envelhecimento. Da minha maturação. Quero manter o hábito da crise e das dores desse processo. Desejo envelhecer graciosamente, quando todo o meu ser físico se submete à minha vontade. Mas aceito-me com uma luta vigorosa de jovem. E ainda tenho um mundo inteiro para viajar. Um mundo inteiro de gente para conhecer. A minha viagem interior merece essa epopeia da pele que derrete, da mente que se muscula e da alma que atinge a sua eternidade. Aprendi que a minha idade é só o tempo de dar. E tenho de dar muito antes que viaje para a eternidade. Quem me ama não merece menos e eu não tenho tempo. Apenas matemática da eternidade vs. vontade vs. vida.


Vaz Dias

Verão Resfreado

Quero-te tanto
verão gélido!
Na proporção da frieza
com que te trato.
Não consigo te ser crítico
na proporção
do meu alheamento.
Do meu distanciamento
estúpido.
Não me apareces,
nem eu te devo reclamar.
Fui eu com outros tantos
que te afastámos.
Com o nosso egoísmo.
Com a nossa vontade de te viver
todos os dias.
E só és bom
por existires por ti.
Termos-te inventado,
foi ter-te tido como parente afastado.
Como um que gostamos
mas que com outro
nos acomodámos.
Acomodei-me de sentir calor.
Queimei-te verão.
Agora te reclamo.
Mas frio me respondes
de tão individual
aquecimento.
Agoro refresco-me
de verão afastado.
Ausente, alheado.
Não és tu,
sou eu,
verão resfreado!


Vaz Dias

sábado, 7 de junho de 2014

Bafejada Cegueira




















Com cores o mundo se pinta.
Com cores muitos de nós as contemplamos.
Sem cores outros tantos se pintaram.
Sem cores poucos nunca viram.
Mas desde estes que a pintam,
sem nunca terem visto uma cor,
aos que de luz bafejados foram,
também do cinzento,
do preto e branco,
quadros do passado os restantes,
da saudade da cor,
pinceladas para o futuro coloriram.

Vaz Dias

Levitando terra/ar

Sabes, se me cativares te amarei até ao céu? Eu só sou da terra. E se calhar só me levarás a levitar, mas se me quiseres levitar, será já um céu. Se não, caminharei na terra que me conhece. Mas sempre sonharei o céu.


Vaz Dias

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Se te amo, imagino-te.

Amo-te! Já não sei do teu corpo, muito menos da sua forma. E interessa? Sei que amo a forma como me fazes desenhar. Nem sabes que te desenho, nem o jeito como te tento retratar. Ainda não te vislumbro e nem a minha mão te faz justa. Mas a minha paixão, deste nosso ainda não, faz-me amar-te sem justa posição. Ponho-me aqui suando da tua linha em mim contra adição. Ainda não somos mas já te amo sem condição. Mas custa! Já devíamos ser. Porque não? Se não me falha a linha, nem a esperança. Como não te acerto neste amor de imaginação?

Vaz Dias