quinta-feira, 26 de março de 2015

Vento do Norte

O vento passou.
Aquele ar todo que se respira
a espaços
num todo.
Passou e deixou-me
pouco...
de tanto ar que prometia
fazer-me voar
voou.
Inventarei asas.
Voarei.
Por pouco.

Vaz Dias

quarta-feira, 25 de março de 2015

Barulho éramos nós!

Silêncio.
Que caia aqui um sorriso,
para se prender
por um instante.

"Lembras-te de largar
os pedais de frenesim intenso?
De te deixares ir
e tudo o resto ser silêncio?"

"Lembras-te de brincar
ao desliga e liga dos ouvidos?
De os premir com tanta força
que quando soltos todo
o som era surdo?"

"E de ser mudo?
olhar para o mundo,
céu incluído,
e em todo ele tudo ser
quieto?"

"Seria o céu
essa paz de silêncios?
Tão calado como
o universo?
Ser escuro era ser
de som abafado,
não era?

E sonhar era ruidoso
e cheio de cores.
Gostava de ouvir as cores
não faziam esse barulho
imenso.
Faziam sorrir. Dava vontade de acordar.
Pintar o mundo e berrar.
Não ter medo da repreensão.
Barulho éramos nós!

"Quando deixámos
o silêncio comandar as nossas vidas?
Quando deixámos o berreiro
nas cores perdida?"

Somos barulho, porra!

Barulho!

Vaz Dias











Enxugados olhos

E a vida é tão grande em mim
Como a soma de lágrimas lavadas.
Faltam-me mais mãos
Do que as minhas cansadas.
Não me dêem os braços
Em abraços
Se não puderem.
Emprestem-me mãos menos
Gastas
Para os olhos húmidos
Enxugarem...

Vaz Dias

Brando vai o lume

Neutraliza-se o fogo
com fogo.
Abafa-se nosso calor
com o torpor...
Brando vai o lume
do desamor
em cinza de côr
que se some.

Vaz Dias

No lóbulo da tribo enraizado

Não sei gritar como os demais.
O queixume que eles
Conseguem dos outros
Sua pena recolher.

(Sabe bem!)
Deve ser.

Os outros sabem
O que eu ainda não descortinei.
Vim doutra terra.
Onde se alarga lóbulo
Para à tribo respeitar.

(Sei lá eu...)

Também nunca o fiz.
Escrevo duma tribo diferente.
Dos que lhes falta palavra
Ou lóbulo ou pena
Para pertencer.

Grito nestas linhas.
Anéis que se precipitam
Até ao centro.
Que não se vendo
Precipitam-se para a génese.
Para o invento.

Talvez seja doutro tronco.
De árvore sem tribo.
De ramos abertos
Como braços abertos
Nunca cansados
Das aves que voem por perto.
Da sua planagem.
Do seu interesse momentâneo
De descanso.
Voam e eu cá fico.

Com raízes me fico
Esquecido das raízes
Da outra tribo.
Talvez pobre talvez rico.
Grito às estações
E às asas que delas
Nascem. E das vezes
Que passem e eu aqui fico
Aqui cresço raiz neste chão.
Pelo tempo perdido...

Vaz Dias

Quem é normal?

Devia ter-me remetido
Ao segredo da normalidade.
Ser diferente e buscar
Ser esxcelso
Não vos encantou
Na continuidade.
Devia ter-me remetido
Ao silêncio.
À mudez.
Ao compêndio
Da igualdade.
Ninguém quer ser diferente
Para sempre!
Querem igualdade
Para suportarem as suas
Pequenas diferenças
Em neutra conformidade.
Ficam sós os diferentes
Por ignorância de manifesta
Regularidade.
Felizes os ignorantes
Iguais
que nada ensinam
Aos mágicos mortais
Pois estes sabem
Como viver para sempre
Entre os escombros
Dos iguais...

Vaz Dias

domingo, 22 de março de 2015

Espelho teu

Embelezei-me em te olhar. 
Embelezei-me em teu olhar. 
Perdi-me em te sonhar. 
Encontrei-me em te despertar. 
Prefiro não o sonho. 
Não supondo 
Que um dia no meu olhar 
a tua beleza se perca 
no meu espelhar. 
"Espelho" meu, 
Mira a beleza que deseja 
Despertar.
Embelezaste o espelho
que não pára 
de te admirar.

Vaz Dias

Fugas do Coração II

E se te quisesse apenas 
o voluptuoso corpo? 
E se os teus olhos fossem 
criminosos de tão desejado delito? 
...Se a alma para aqui não fosse chamada? 
Queria-te toda. 
(Não me contentava com pouco).
Porque as almas melhor 
se reconhecem nos corpos. 
O meu 
no teu gemido... 
O teu no meu por coração raptado. 
O bom malandro que afinal 
vê-se despojado de argumento 
e rendido ao crime 
de te ter desejado
...Doce criminosa que de 
olhar raptas 
e desejo matas!

Vaz Dias

Encarnado Batom

Agarro em teu batom 
E te pinto versos. 
Pela linha de teu 
Corpo tão bom 
Te desejo. 
Sou perverso. 
O diabo de língua 
Em teu último terço. 
Senta-te em mim 
E mata-me a sede. 
Quero beber-te. 
Enebriar-me. 
És suculenta convenço-me. 
Vem e a ti vou!
Pinta-me a boca
com o teu prazer 
e desenha-me encarnado
com teu batom...

Vaz Dias

Mulher Horizonte

Voamos ao limite do horizonte? 
Acalentarmo-nos com o verão de lá? 
Primavera quente 
Com a suspeição em teus lábios presente 
Desse ardor que me derrete 
Nessa fronteira 
De beijo de verão 
De paixão tórrida 
E de prazer aliciante. 
Leva-me a voar 
No vertical de ti 
Mulher horizonte. 
Deixa-me teu corpo planar 
Enquanto derretes 
Em mim te queimar quente.
Cicatriz permanente.

Vaz Dias

Fugas do Coração I

Não vês que me perco
de cada vez
que de mim te acercas?
Me dás da tua essência
e te recolhes?
Inflamas-me o desejo
e depois foges?
Talvez desejes que me perca.

Mas não o desejes mais!
Desejei-o mais do que tu.
E por isso me perdi
de amores.
Sim, de amores por ti!

Arde mais violentamente
a chama.
Derreto e desapareço.
Vou para onde
o amor se aclama.
Longe de ti.
No universo.
Fico lá só
e cheio.
Sem ti. Livre e preso!
Mas sem ti.
Tristemente sem ti.
Fraco.
Pequeno.
E feio.

Vaz Dias

quinta-feira, 19 de março de 2015

De desejo matas

E se te quisesse apenas
o voluptuoso corpo?
E se os teus olhos
fossem criminosos
de tão desejado delito?
Se a alma para aqui
não fosse chamada?
Queria-te toda.
Não me contentava com pouco.
Porque as almas melhor
se reconhecem nos corpos.
O meu no teu gemido...
O teu no meu
por coração
raptado.
O bom malandro
que afinal vê-se despojado
de argumento
e rendido ao crime
de te ter desejado...
Doce criminosa
que de olhar raptas
e de desejo matas!

Vaz Dias

terça-feira, 17 de março de 2015

Desassossego

Decido não falar mais.
Gastarei palavras
nas rimas,
das mais variadas.

Quero-me hoje assim.
Das guardadas
agora sopro tantas...
e em rajadas.

"Queria amar-te."
Queria nada!
Foram palavras reflectidas...
demasiado pensadas.

Queria em teu peito cravar-te
todo o meu desapego.
Ao amor nego
tudo o que ainda falta dar-te.

Tu aí e eu aqui.
Sonho-te e depois volto
a continuar o dia.
Eu aqui e tu aí
tão longe
mas tão perto
do meu desassossego.

Não falo
nem calo.
Escrevo e exalto
o amor que não te tenho.
Tens-me.
Daí o sobressalto.

Vaz Dias

domingo, 15 de março de 2015

Um dia...

...E hoje enquanto te escrevo
assinalo-me um dia mais velho.
Um dia menos ignorante.
Um só poeta só que te sente.
Sem que da tua carne se contente
nem dum futuro a ambos se apresente. 
Aceito o que há por agora.
Mesmo sendo um contínuo descontente 
do que ao marasmo dos dias,
aos desafios e adversidades me veja perante.
Amo-te secretamente. 
E assim fico... sobrevivente.

Vaz Dias

quarta-feira, 11 de março de 2015

Pontos. Três. Gostos ou Prazeres.

Obrigado bela mulher.
Um gosto.
Porque do prazer
se escondem os seres.
Adoçam-se nas palavras
e num português altivo
fecha-se o tom
para se esconder prazeres.
Ou PRAZER.
Que é mais lúbrico
e instiga à palavra
se corresponder.
Os zês que terpidam
os sentidos...
Pontos. Três.
Que evitam
mais sussuros à luz
fazerem-se gemer.
Um GOSTO.
Um intervalo ou um
impedimento do ser
se fazer não perceber
e também de agradecer.
Um gosto que mais pareça
um prazer!
Ou um gosto se melhor
entender...

Vaz Dias

terça-feira, 10 de março de 2015

Metade Convin(S)ente...

Eu sou metades
que de somadas
acrescentam em mim
metade de outros nadas.
Nunca te seria fiel,
por não ter a certeza
de a mim o ser em pleno.
Meramente me empenho
em aceitar cada vez mais
a metade que não entendo.
Que não tenho.
Não a encontro em ti.
Nem em ti.
Nem naquela
ou sequer na outra.
Doce em fel
da tua metade
só querer o doce.
Que seja mel
que uma de vós me trouxe.
E se te fosses
cá ficava eu fielmente
amestrado à metade de mim
que nada sente
e à outra demasiado pensante.
Sintamos o que se pensa.
Sim talvez seja essa a metade,
a que pensa que sente.
Ainda a melhor metade
e a mais convincente
de quem de outra metade,
nada sente!

Vaz Dias

segunda-feira, 9 de março de 2015

O amor é cego

Gostava que ficasse.
Nem oportuno foi o momento
De sua graça saber.
Ou porventura volver.
Sim. Também me encantaria.
Não necessita bater à porta
nesse momento.
Saberei.
Na brisa o anúncio
Da sua chegada.
A fragrância que em mim
Deixou repousada
Dirá que é sua.
Ainda que nunca mais
Retornasse
Ou de seu nome
No meu conhecimento
não constasse
Teria o seu aroma
Em mim marcado.
Sem a ter olhado
Teria para sempre a visão
Desse seu
tão aveludado cheiro meu.


Vaz Dias

domingo, 8 de março de 2015

Dias de Mulher

Avó. Mãe. Filha. Neta.
E das demais que do meu
Abrutalhado masculino mundo
Completam.
Ela embeleza a inteligência
Das coisas.
Que toma conta e fá-la certa.
Os meninos e os senhores
Não têm como não concluir.
Quando a coisa aperta
Mais rápido à mãe e à mulher
Se confessa
Do que a um homem se possa
Admitir.
O dia da mulher é mais um
Que um nosso dia pela certa.
Nunca pode só haver um dia
Dela.
Porque o seu é de 48 horas
Enquanto um das nossas 24
Se completa.
Temos de convir.
Somos metade de um
dia da mulher.
Sejam todos dela
Para que meio engrandecidos
Nos possamos iludir.
Amanhã, se posso mandar,
também é
Teu dia mulher.
Para que a minha metade
Por tua caridade
Se permita de alguma forma
a existir.

Vaz Dias

Tens Alice em ti!

Tens Alice em ti!
Quando sorris.
Quando torneias os "ss"
Para soarem a suave.
Quando "err"as para saber
A Paris, Lisboa ou Lourenço Marques.

Tens Alice em ti!
Quando no lábio o rúbio
Te assenta de voz
Que canta um fado.
Ou declama o poema
De palavra lenta
E que embevece todos nós.

Tens Alice em ti!
Quando nas maçãs
De fino e belo traço
Alimentas a doçura
Da mãe natureza,
És neta da tua avó.
Tens dela em ti filha...
De certeza!
Tens Alice em ti!
Tens a Alice de todos nós!

Vaz Dias

quinta-feira, 5 de março de 2015

Des...obrigado!

Desafiando a gravidade.
Agudo em grave.
Um mundo em nada.
Cinco segundos para...chegar atrasado.
"Foi desta que aprendi.
Estou regenerado."
Qual quê?
Caio.
Mas de vontade.
Mais cinco segundos
De queda livre.
Não vens?
Não voas!
Estás à vontade.
Mais cinco segundos
E cais tarde.
Novamento resvalo.
Deixo-me ir solo.
Assim até prefiro.
Sem ti nem ninguém.
Quedo-me livre e
largo.
Desprendido e desapegado.
Vôo.

Vaz Dias

quarta-feira, 4 de março de 2015

Juntos a sós...

Nunca seríamos.
Cúmplices seriam
apenas os nossos corpos.
Nunca to tomaria por inteiro.
Na sua raíz o coração
desfaleceria.
E eu já não tenho mais de condão
para essa alegria.
Te perderia.
Quero o teu corpo
mas ele rejeita-me
porque o teu coração,
atraiçoando-nos,
mais me deseja.
Então não quero o prazer.
E o desprazer de te perder.
Ficamos vestidos
de nossos corpos,
sobrevivendo dos nossos fracos e
menores órgãos.
A sós e juntos
como quem esteja,
sem que se deseje
nem se ame.
Juntos a sós...

Vaz Dias

O Vento. A Felicidade e as Paixões Replicadas.

Vai-se apartando o nosso
iludido sentimento.
Caminhava-se lado a
lado.
Comungava-se o destino
pelo vento.
Iríamos ser o que tinha
desejado.
E assim desejou e decidiu.
Que nada no seu intento
seria de nossa fortuna
- se é que futuro fosse fortuna-.
Teria sido um nosso invento.
Uma criação que repetimos
e que de geração
em geração se consuma.
O ideal de amor eterno replicado.
Não há vento mais
aturdido do que este.
Não há ar, mais do que este
congelado.
Sopra-se movimento
para que o destino seja
a mútua felicidade.
Mas que raio?!
Nem este para despertar
essas mentes?
Ou afastar essas uniões convenientes?
Ou novas felicidades para buscar?
Nem nós fomos para ser
Nem os outros
para nos provar.
Sigamos nas rajadas,
as aventuras que o destino tem
para nós desejadas.
Sejamos nós o vento,
a felicidade
e as paixões replicadas.

Vaz Dias


terça-feira, 3 de março de 2015

Empedernido

O meu cérebro luta
contra a vontade.
Não deixa o coração expressar-se.
Tanta vontade
de te chegar.
De batimento te ecoar.
O cérebro não deixa de
cansar-se.
Quem és tu que virás
estes membros desconexos
conectar?
Quem és tu
que farás uma pedra,
querer,
sentir
e pensar?

Vaz Dias

domingo, 1 de março de 2015

A paz é suave

A paz é suave
Em cinzentos dias.
Nada no tempo ameaça
A tranquilidade.
Nem mesmo a negritude
Que trespassa.
Lá se desvanesse
Na branda brancura
Que da luz nos tocasse.
Suave é a paz
Que ajude a que o tempo
Mais negro
Ou mais branco
Passe.


Vaz Dias