quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Como sempre...

E se eu não te quiser para sempre?
E se tu sempre que quiseres,
Comigo sempre sentires o nunca?
Nos bocados
Que ele não entende?
Que seja com ele
Como eu
Nunca mais quis.
Que eu seja
O que o teu íntimo diz.
Sejamos para nunca
O que o sempre desejou.
Viver sem amarras
Do que uma vida pré anunciou.
Sejamos fugitivos
Antes que chegue o sempre.
E que nunca mais chegue!
Seja apenas pretendente
Do nosso fugaz tempo.
Talvez agora.
Ou sempre.
Melhor. Nunca!
Seria o mais conveniente.


Vaz Dias

Sussurros escondidos

Bela donzela.
O trovador à sua elegância se cala.
O mais possível, claro está!
Fala, escreve e se desalma
Para o que à sua linha
Lhe promete.
Fica tontamente
Balbuciando versos
Como à sua postura compete.
Mas ao silencio deve
Todo um universo de belezas
Segredadas.
Para si guardadas.
Prometidas.
Que bela mulher
Da mais bela casta
De poemas escolhidos.
E o trovador?
Esse malabarista do amor?
Já se calava já!
Com sussurros escondidos...

Vaz Dias

Teu fruto em mim

Apetece-me tomar-te
Em fruto.
Morder suavemente
A pele de ti morango.
Derreteres-me nos sentidos
E eu por ti
Ser absorvido.
Delicias-me!

Vaz Dias

Finjamos um começo

Finjamos que me amas.
Que eu até conheça
Tal acto de ser.
Finjamos ser felizes
Até a relação desfalecer.
E nesse dia
Comecemos a não fingir.
Na verdade,
Comecemos já!

Vaz Dias

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Trovador, pontes e embarcações...

Por vezes precisamos 
de pequenas pontes.
ou bocados de madeira
a que chamam embarcações
para que do outro lado
da corrente se encontre
o sorriso ou as ligações
que não nos deixe
à própria margem.
Que nos entusiasme!
Hajam donzelas!
Pelo menos uma,
que de "tonteria" trovadora
se engrace
e nos encoraje,
ao seu lado fazer
a viagem.

Vaz Dias

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Arranha-me!

Arranhas-me demais por dentro.
Quero-te tanto!
Caminho na sombra esperando-te.
Buscando o quando.
E no entanto,
passa o tempo e no nenhures
te encontro.
Arranhas-me por dentro,
é demais!
Como pode alguém suportar tal privação?
Se tudo o que quero
é arranhar-te até ao coração.
Felinamente marcar-te.
Quero-te tanto,
mas não me deixes amar-te!
Arranha-me.
Estou a convidar-te!


Vaz Dias

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Vem.

Vem. Beija-me. Guarda segredo de ti. Para que descubras no sonho. Lá onde os teus lábios sabem a sempre e onde os meus sabem a nuvens.



Vaz Dias

Sabor a Côr

Há uma côr que sonho
assentar-se nas maçãs do teu rosto.
É cítrico morango.
É temporal e sazonal porque o tempo és tu.
A côr é o meu desejo de te saborear.
Agora.
Ou no verão.
E em qualquer lugar.
Desde que sintas
O mesmo calor.
Desde que sejas sabor.

Que sejamos apenas tudo

Este ar que te faz suspirar
E o teu fôlego que me continua
A arranhar.

Maldade é deixar o sabor frio.
Sem tempo.
Sem deleite.

Derramarei o leite
Em teu secreto lugar.
Quente por lá. Confio...


Vaz Dias

"Beijo-te" respirar!

Com quantas palavras mais te posso fazer voltar? 
Com quantos silêncios posso eu me entregar a ti? 
Quantos são os suspiros que de ti me dão ar? 
Quantas vezes paraste o meu coração só porque sim?

Vamos respirar? 
Juntos o fôlego suster enquanto saltamos em queda livre e depois voamos? 
Para outro céu? Outro ar?

Dá-me o teu ar e o fôlego ofereço-te. 
"Beijo-te" respirar!

Vaz Dias

sábado, 17 de janeiro de 2015

Odeio-te amor!

Escrevo-te com lágrimas
na pele.
Vêm do passado.
Esconderam-se durante
aquele tempo.
Mas agora, mais não
aguento!
É a tristeza dos dias
que me impele.
É amar-te assim.
Enfraqueces-me.
E eu não posso.
Não volto a colocar-me
no cepo.
Armadilha que se preparou
ao de coração incauto.
É subir e cair lá dum alto.
É morrer de amor
e sobreviver de lágrima
cristalizada em punhal.
Odeio-te amor!
Ameaço-te de longe.
Desaparece.
Tratas-me mal
com o belo que prometes.
Desce aos infernos
com os crimes
que em teu próprio nome
cometes.
Impostor que aos dias
frios me lançaste.
Nunca me tiveste...
Autêntico sádico
que em longo inverno
me largaste.
Mais do que a vista alcança.
Mais do que a própria
dor que criaste!
Satisfeito com
tão nobre gesto de vingança,
que do meu coração te recriaste?

Vaz Dias


Nutrir os sonhos

Os beijos que guardei no teu jardim eram aqueles que sonhámos.
Vou agora nutrir o desejo e dormir.
Colhe-os pela manhã e eu estarei perto.


Vaz Dias

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Amizade dos Géneros

Uma vez disseram-me que a amizade é para uma vida.


Como um tipo de família e talvez melhor.

Que podiam vir ventos e tempestades, que a raíz dessa árvore plantada e germinada nunca da terra seria arrancada.

Pois quem assim fala, assim acolhe o próximo por princípio.

Cativa-o!

Mas a vida ensina que a amizade é uma linda palavra utilizada pelas pessoas para compôr épocas e ciclos. Para se convencerem que lá estarão mutuamente por uma vida.

Não! Não é verdade!

A amizade é muito mais do que um tempo.

É perdão!

É paciência!

É esquecimento!

A amizade é aquela palavra utilizada nas relações amorosas como fonte de problemas. Que nem nas relações se pode ter amizade entre si... quanto mais com os restantes.

Podem ter amigos fora da relação. Deste que seja do mesmo sexo.

Sim, porque a amizade é a palavra mais usada entre pessoas de sexos diferentes. A palavra.

A amizade fica para os restantes. Fica para quem a valoriza. Sem tempo. Sem género. Sem côr. Sem raça. Sem credo. Sem preconceitos.
Sempre!

E porque a amizade está lá na mesma, aceita de volta quem fez por a esquecer. 

Com o perdão da humildade.

Com a paciência do erro.

Com o esquecimento do esquecimento.

Com o tempo como moeda de troca. 




terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Melancolia feliz

É a melancolia que por vezes
em sorriso
se esconde.
Que se encontra em tantos
rostos
e que desviamos o olhar.
Eu desvio o olhar do meu.
Sorrio. Sorria.
Como quem sabe que vai durar.
Infelizmente não tenho
lágrimas para ela.
Foi constantemente guardada
nesses pregados lábios
a elásticos de esperança.
Máscaras do bem-estar.
Dos carnavais passados.
Os dos dias acumulados.
A amálgama de emoções
tornou-me melancolicamente
feliz.
Aceitamos o poder da vida
e dos seus ditames.
Seguimos felizes.
Menos infelizes.
Mas melancolicamente esperançosos.

Vaz Dias

Pel'alma

Sinto a tua pele aqui.
Imaginei-a sim.
Mas sentia-a de dentro para fora.
Como se pele fosse cobertura de aura.
Como se alma fosse presença.
Só a conheço.
E tudo é só
O que de ti tenho.
Assim me convenço.
Sou cego. Não te vejo cara.
Sou rico. Sem te ver a face.
Só encosto a cara
À pele da tua alma.
E a ti o meu mundo
Declarasse!
A minha alma arrepiou-se
De pele desejado.
Encostaste e tua à minha.
Abraço-te enquanto
Aqui te encostas a meu lado.
Pele com pele
Contigo acompanhado.

Vaz Dias

Eu e o rio.

Num canto
De rio escultor
De margens calmas
Escuto em surdina
O movimento da urbe.

Ao longe combina
O ruído das sirenes
Com a tirania dos motores.
Nada que me perturbe.

Nem as conversas
Do café nervoso das gentes.
Das cores que vestem
De topo de árvores
Que delas se empobrecem.

Mas há cores
Que passam. No siléncio
Dos sorrisos.
Dos passos precisos.
Que fogem do frio
Mas que se afastam do rio.
Que ali tão calmamente
Passa. Ignorando tal
Corropio.
Desembaraçado de tamanho
Frio.
Eu e ele. Placidamente
Destemidos.

Eu e o rio.


Vaz Dias

Coração Nosso

Como te gosto?
Como posso de ti
me fazer rosto?
Onde no teu me revejo
e encosto.
Te beijo e te mostro
que sou teu.
Como o reflexo
do futuro
neste momento prometeu.

Quero da tua voz
no meu ouvido
me comprometer.
Humidade quente
e envolvente
enquanto me gostas
nas costas do ouvido
conivente.
Ser tua a audição
de nos ouvir
no futuro
e eu guardar a tua voz
aqui guardada,
aqui presente.

Desejo-te ressoando
em ouvido meu,
refletindo teu rosto
em desejo nosso.
Visão e audição comum
da cada coração seu.
De desejo de coração nosso.


Vaz Dias

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Sub-amado...

As palavras escoam-se.
Como as emoções
que do teu andar
se infiltram nas paredes
cansadas do meu quarto.
Não te vejo.
Sinto-te passeando.
Em passo deslizante
como a minha respiração
ofegante.
Não te beijo.
Sinto-te encostada
ao chão, me escutando.
Como se junto do meu
peito
buscasses o batimento,
o sentimento mais concreto
de como amo.
Perdoa-me!
É um engano.
Neste andar sub vivendo,
sub estando,
olho para cima
nada esperando.
Nem do céu,
nem do teu coração encostado
em chão partilhado
de teto meu ali me observando.
Palpita me parece
de um coração que carece.
Empresta-se do teu
para que neste compartimento
o amor ressoasse.
Se refizesse.
Mas não te vejo.
E agora atentamente olhando
nem lá em cima algo
mexe.
Uma vez mais me entrego
à possibilidade no sonho.
Que desças logo
quando o sub vizinho adormece.

Vaz Dias


domingo, 11 de janeiro de 2015

Fogo Visceral

De fogo com fogo,
ardemo-nos de vontades.
A linha que desce
do teu pescoço
concebe a possibilidade
de nos derretermos
um no outro.
A tua chama
que parece branda
concebe a possibilidade
de com a minha
num inferno de pecado
uma enorme labareda atear.
Deflagra em mim
uma dureza carnal
que no teu corpo
tenho de penetrar,
e lá o fogo esconder
para no teu ser
eu ser cicatriz
em ti queimada.
Em ti derretido.
Vem ser a que
por mim chama.
E eu de prazer
o que por ti grita.
Quente.
Ardente.
Visceral.

Vaz Dias

E são portuguesas. E ainda bem!

A mulher portuguesa.
A moderna. A que não lê blogues sobre interacções pessoais. A que fala abertamente sobre os seus sentimentos. A que abdica dos joguinhos de manipulação com quem se interessa por não ter medo (e também ter. É humana "for god sake"!). A que também é clássica. Porque estima certos valores. A que sorri com uma banda de luz sobre os olhos como em filme a preto e branco só porque goza da sua capacidade de se mascarar só por divertimento. A que amou, deixou de ter amor e ainda assim, se digna não correndo para o próximo só para não estar só. A que acorda desgrenhada e de hálito miserável e assim sorri como se nada fosse com ela. A que beija sem vergonha da convenção. No meio da rua. À chuva. Ou onde tiver de ser. Mas com convicção. A que vai correr sempre que pode. Não para a estética. Para jantar e falar de boca cheia em roda de amigos. Para se rir à gargalhada de boca cheia (mas que pede sempre perdão na mesma) A que se arranja, mas não é vitima da voga. A que trabalha e luta. A que é também mãe, filha, irmã e neta e que não perde uma para com os seus estar e cuidar. A que abraçou uma causa só porque tinha tempo livre e queria aprender com os outros. A que lê como dança. Que canta desafinadamente no duche e não só. Que tem piada por não se esforçar mesmo quando a maior parte não tem. Who gives a damn! A que fala outras línguas com um sotaque ferrenho de portuguesa só porque sabe que mesmo assim se faz entender. A que sempre que pode, diz que gosta e ama os que gosta e ama com um abraço recheado de história e um olhar nos olhos de autenticidade.
Ela pode não existir numa só pessoa, mas existe em todas as mulheres que eu estimo e quero bem. E são portuguesas. E ainda bem!


Vaz Dias

sábado, 10 de janeiro de 2015

Menina Mulher Pessoa

Ela olhava dentre
as sardas
aos meus olhos
em céu aberto
desprotegidos.
Ela sabia como
jogá-los embevecidos.
Como se fora
gaiata de escola
que agora descobria
como brincar com os
meninos,
e os seus sentidos.
E eu ali,
a céu aberto,
rendido,
como um menino de recreio
que deixou de jogar
à bola para aprender
no intervalo
a conquistá-la.
"Inocente"
"Cândido"
"Que querido!"
Saltavam-me à mente.
Ou ela jogava comigo
ou gostava de mim
efectivamente.
Sei que saí dali,
qual puto de sacola,
com a mente intermitente
e uma sarda deliciosa
proporcionada por aquela
menina mulher pessoa.

Vaz Dias

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Por agora... pelo menos.

Tenho saudades de estar dentro de ti. 
De me sentir em ti humedecido. 
Emudecido em gemido teu. 
Quero o teu portal de desejo meu. 
Extasiemo-nos enquanto aqui estamos. 
Fisicamente amemo-nos. 
Ao extremo. Por agora...pelo menos.

Vaz Dias

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Desejos ao de Leve

"O corpo cansado
despe-se em volumes
pelo quarto todo.
Todas as camadas
mais pesadas que o costume
deixam-me cada vez
mais perto do conforto.
Um dia cheio
que de mim consumiu
todas as energias.
Mas agora quero todas
essas regalias.
Todas as que me prometeste.
Estou para ti leve.
Podes suportar-me
e carregar apenas
pelo breve momento
desta vida.
Ela deve-nos a prometida
harmonia.
Mulher, abraça-me
ao de leve!
Sou a pena que no teu traço
desliza.
Não te peso nem quero,
senão,
demonstrar o apreço
de ainda aqui estares
junto ao meu coração.
Na minha vida.
Descansemos sem pesos.
Boa noite. Dorme bem. Até amanhã querida."

Vaz Dias


JE SUIS CHARLIE

Uma das liberdades que mais nos é grata e por vezes levianamente tratada, é a de expressão.
A que me permite aqui e em tanto lugar evocar o pensamento, o sentimento...o que me vai no coração.
Ontem, baleou-se em som de rajada, em nome de nada.
Porque religião é na humanidade evocar a paz. A própria fraternidade, igualdade e liberdade
desta mesma comunidade, a humana.
O contrário disso é nada.
É alma estuprada dos direitos. É criança levada e polvilhada de diabólicos conceitos.
Dos outros crescidos, que rendidos ao mal
por antecessores também envenenados no peito.
Porque se falou.
Se rabiscou a tolerância
e a intolerância matou.
Em nome de quem?
Em nome de crença?!
Não há quem nos convença
que isto é correcto.
Mesmo que sem credo
um homem viva,
não tira a do outro
porque sente em ideal
que isso não está certo.
Mas quem em nome do bem morre,
em nós, nos nossos filhos e bem aventurados corações
para sempre vive.
E concorre para um dia aos de coração mal tratado e envenenado
encontrem os de amor afortunados
um irmão por perto.

#jesuischarlie

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Fotografêmea I

Captei-te numa frincha.
Nessa fotografia
em que te escondias em
privacidade
entreabrias a tua sensualidade
à nossa distância.

Insinuante elegância!
Intimamente aqui presente.

A curva predizia
o desassossego dos meus sentidos
ao desfilar desse tão distinto traço.
Tacteio com a imaginação
a pele e o espaço
que vai de mim a ti
e dessa bela face
ao nosso secreto enlace.

Nesta frincha os olhos
profundos de escuro
com que me sugas à tua cama
iluminam-me os dias.
Como luz dentre sol
e terra
que pela fresta da minha vontade
ao nosso segredo se assume.

Vaz Dias

domingo, 4 de janeiro de 2015

Partes-me o coração de dez maneiras diferentes.

Partes-me o coração
de dez maneiras diferentes.
Em dez partes iguais.

Primeiro quando te abeiras
e de repente vais.
Porque razão de nós
assim te subtrais?

Segundo quando não vens.
Quando tudo o resto
é mais importante e de mim
nem te deténs.

Terceiro quando distante
sou eu.
Surges-me de doçura perigosa
aproximando-te em candura.
Do inferno levas-me ao céu.

Quarto que não entro.
Não conheço e na letra invento
poder entrar.
Deixas-me para as mesmas paredes
olhar.

Quinto quanto mais te conheço
a outra reconheço.
Há uma que me ama
e outra o avesso.

Sexto do sexo.
Morro por de tão bom.
Porque o coração me apertas
e inflamas desconexo.

Sétimo deveria ser o céu.
Que me dás e tiras.
Atirando-me às profundezas
pelo jeito como de mim te recrias.

Oitava é a voz
que me canta ao ouvido
inebriando os sentidos
para logo depois,
apenas em sonho poder ter mantido.

Nona é ser ela.
E ela ser minha.
Tão minha que nunca dela terei
mais do que esta cantilena
e este fatídico destino.

Dez vezes dez.
Que pela última vez me partirás
o coração. Porque deixarei.
Porque partirás sem o teu
sequer ter beijado.
Mas porque és tu.
Porque este foi um amor por ti
inventado.
Deixa-me apenas este décimo,
que me lembre um dia
alguém ter amado.
A ti, neste nosso
amor velado.

Vaz Dias










Norte americana rua

Balançaste-me.
Surgiste da conveniência
da noite.
Esses compassos "jazzísticos"
que me ofereces
só têm significado
na poesia que tenho
de te entregar em caixa
de um qualquer
instrumento de sopro.
Sopra-se um sax daquela esquina.
O único que testemunha
o nosso pecado.
Instrumentista de sombra.
Conivente criminoso suave
que fala as nossas línguas.
Os ritmos desconcertantes
são do frenesim
somado da urbe metropolitana.
Película americana.
Guitarra tocada de mão latina.
Jazz no segredo de um Santana.
Do estilo matemático
e o calor que se combina
como em nosso
tórrido encontro.
Seguro-te pela cinta
encosto-te firme
a esse muro de secreta esquina.
Gritemos quase mudos.
Toquemos os sons que na rua
se escutam em surdina.
Um felino que corria
e se detinha.
Era em nós,
animal em selva urbana,
que agora às escuras
de uma perdida metropolitana
rua,
arranhava suave como tortura,
a nossa desconcertante
postura. Toca-me de novo
a tua doce agrura.
Gata quente.
Suave jazz.
Escondidos em
uma qualquer
norte americana rua.

Vaz Dias


Queixume...

Esta onda de queixume
nada me agrada
mas agrava-se
como cardume
que nada em onda
coordenada
de desinteligência
no meu mar de acalmia,
agora arrebatada.

Até eu agora
me acuso queixoso
dos queixosos.
Sou o maior da minha vaga.
O verdadeiro estupor
que agrega e vê
somada,
tanta ignorância propalada.

O rico que se queixa
para de remediado
se fazer passar.
O constituinte que do
governador se queixa
sem ter ido votar.
Os dias de inverno
que de sol presente
fazem do frio constantemente
criticar.
E do sol demasiado quente
quando o verão chegar.

Venha também o
burro se lamentar.
Que nem velho nem criança
o carregaram,
porque em nenhuma
aldeia,
houve tamanha inteligência
para a tal conclusão
chegar.

Só os burros se devem queixar!


Vaz Dias


sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Escultural Candura

Escultural.
A arte de fazeres
o corpo passear-se
tanto num tapete vermelho,
na escarpa agreste
ou num areal.

A beleza que em ti nasceu.
A elegância do teu ser
que transborda.
Labora este produto
afinal.

Mas decides manter
a imperfeição.
De te fazeres junto
dos outros corpos,
casual.

A tentativa é superflua.
Nem o sol
em todo o seu esplendor
e distância,
consegue se esconder
por detrás da lua.
Nem a sombra
esconder a beleza
e pureza
de ti, minha bela musa,
nua.

És a mais bela escultura!
A que guardo na minha
laborada candura.

Vaz Dias

Um dia serei feliz

"Um dia serei feliz!"
Um dia para fazer uma vida.
Fazer de um encontro
uma despedida.
Num dia.
De te conhecer,
o mais que puder,
e te dar,
o mais que puder.
Num dia ter-te
como minha mulher.
Mais do que isso,
esperar podia.
Mas para quê esperar
quando temos
passos a tomar?
Num só dia.
Ter-te e perder-te
e reconquistar-te.
Teres-me e perderes-me
e eu reconquistar-te.
Falar, calar e gritar.
Silêncio, sussurro e grito.
Saíste dum quadrado
já de si rabiscado
e descrito.
Inventaste outros
mas abertos,
para todos conhecermos
e criarmos.
Criaste-me novidade todavia.
E despediste-te.
Amor de uma vida,
em quadrados abertos,
num só dia.

Vaz Dias

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Dança-me ao ouvido

Reduz o volume
da canção que te distrai.
Baixa o tom
dessa alma que grita.
Vem dançar.
Baixinho, canta-me
ao ouvido.
Fiquemos por aqui
enquanto essa melodia
perdurar.
Um tempo.
A possível eternidade.
Deixa-me soprar-te
um aroma morno
ao ouvido também.
Dança comigo
neste conforto.
Enquanto fechas os olhos.
Enquanto do coração
a vigília provém.
Enquanto te deixes por perto.
Enquanto o amor nos distrai.

Vaz Dias

Aluga-se tempo

Adormeces
com a nuca em mim cravada.
Não fui eu que te
beijei,
foste tu por mim beijada.
Não matámos o
passado.
Deixámo-nos correr para
o outro lado.
O tempo foi o leito
onde nos deitámos
num lugar distante.
O teu corpo era o meu sonho,
o eleito,
para no futuro despertar.
Acordei.
(de rompante!)
Não estás aqui.
Estou eu cá,
para nos tentar.
Neste tempo
que temos para alugar.
Beijo-te o pescoço
para te fazer voltar.

Vaz Dias