terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Cinzento, Branco e Azul escuro Negro

De coros
Que pintam com ecos,
Fica a distância
Em que neles se estendem
As saudades.
Irrompe um sinal de ti.
Essa saudade
Que já foi uma canção
E agora
Se esconde por entre
Copas altas
E troncos revoltos.
Sai de dentro
Um murmúrio
Que que faz coros
Com eles.
Transpiro
Seiva natural deste tronco.
Cola de estagnar
O sangue que me esvai
De ti.
Da vida que me deste.
Sou um bosque
De todas essas canções
Perdidas
E das esperanças
Que por aí se perderam
Em outras tantas
Árvores ardidas.
Deflagraste-me a saudade
Em cinzento,
Branco
E azul escuro negro.
Deixaste-me com ecos
De ti
E de tudo a que não chego.
Cantaste-me
Num subtil sopro
De desespero.
Fiquei quedo,
Esperando que fosse
Uma brisa
Que as copas dança
De uma canção
Que alcança
O que de ti espero.
A mesma saudade.
A mesma cor
Que canta coros
Ao amor
E de um dia,
Contigo,
Perdê-lo.
Ecos de canções
Num bosque
Cinzento,
Branco
E de azul escuro negro!

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 29 de janeiro de 2017

Rei de manto rasgado. Cavalo branco.

Porque me fizeste
Isto poesia?
Porque entraste
Retumbante
E de repente
Com repulsa me desnudaste
Em frente de toda
A gente?
Agora estou nu
Do que naqueles
Instantes
Era para nós a paixão
Em viagem
Cavalgante para o amor.
E a tua poesia
Abandonou-se-nos
E armadilhou
O passo que me fez
Cair desse cavalo
Branco.
Esse intrépido esperançoso
Que não tem amarras
E é do mato
E depois das clareiras.
Caí de quatro
Sem beira.
Chapado e nu.
Vergonha
De ter acreditado em tudo.
Isto sou
Eu mudo.
Chorando no chão
Todas as dores de um mundo.
A culpa não é de ninguém.
É dessa paixão
De beleza equídea
Que nos leva sem destemor.
Que te levava nua
De seio belo e firme
Como a vontade de irmos.
Findos são os seus
Intentos
Quando lhe apetece
Brincar com os nossos
Destinos.
Ficámos a meio
De tantos destinos.
Éramos
A viagem cavalgante
De juntos irmos.
Destino...

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 28 de janeiro de 2017

Cego é ver-te...

Formei-me como massajador
De coração alheio.
Terapeuta do ego
De quem
Pertence ao bem
Mas que passou
Pela tempestade.
Lá pelo meio.
Sou metereologista
Do futuro
Dizendo que o aguaceiro
É tempo de dança
Quando o pé descalça
E pisa o verão rasteiro.
Sou um ladrão do tempo
Que chegou primeiro
E ficou por isso
Mais velho.
Tenho mais do que a idade
De qualquer tempo
E isso traz-me
O conhecimento
Mais belo.
Sou escultor
E cego.
Apego-me ao teu traço
Sem querer
Vê-lo.
Faço tudo para que desapareças
Porque se chegas
E se te perco
Também perco a idade.
Morro.
Porque serias o fim
Do tempo
E a morte do velho
Sem idade
Que por ti
Seria qualquer coisa.
Um encantador de mulher,
Um poeta em contra-mão
Ou só
O momento certo.
Sou tudo
Cada vez que te escrevo.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Sei que te vou perder...

A culpa é minha
Por falar tanto.
Escrever tanto.
De sentir tanto.
Sei que te vou perder
Sem nunca te ter
Tido no entanto.
Sinto-me envergonhado
Por inventar-me poeta.
Para te parecer
Melhor oferta.
Vou perder-te
E ficarás liberta
Para as prisões que
Mais te despertam.
Sou uma merda!
Um ignóbil tonto
Que com tudo
Me sinto seduzido.
Ando perdido
E vou perder-te.
Uma vez mais
E não páro de o repetir.
Se calhar adoro perder.
É isso!
Sou um fraco...
Um entusiasta do perder.
Neste mesmo momento
Estou a fazer tudo
Para que volte a acontecer.

Sei que te vou perder...

A oportunidade perdida

Vejo-te a despir-me
A garra.
Do corpo sai maré
Levando consigo
Tudo o que tenho
E não tenho.
Não pára!
Nunca posso dar-te
Tudo o que queres
Porque é tão pouco
No que concebo.
Mas é bastante destes
Todos.
Sou um tolo
E em ti vou ver
O amor esvair-se
Para o teu mar.
Há dias que sentir amor
É tão grande
Como a morte.
De forte fica fraco
Que descorre
Que uma oportunidade mais
Houve.
Como mar
Foge-me.
Mais uma oportunidade
Que morre.
Sinto tudo
E nada fica.
Tudo foge!

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Amar um livro aberto

Continuo a não perceber
Nada disso
Que a grande maioria acredita
Como sendo
O amor.
Mas a cada pessoa
Que me deixou,
A sua pele em mim
Deixou.
Pele da capa do livro
De poemas que estava para ser
Escrito.
Ficaram alguns poemas.
Ficaram algumas palavras.
Ficaram muitos silêncios.
Mas disto que não percebo
Sinto que devo complacência
E retorno...
E consciência.
Amo-vos como um livro
Por escrever.
Amo-vos como se soubesse
Escrever.
Amo-vos como soubesse
O que é amar.
Talvez um dia aprenda
Desse vosso amor.
Talvez deixarei de preencher
Esse vossos vazios
Como autista que aprende
A sequenciar letras
Em ideias que vêm do coração.
Este amor que escrevi
Num ou outro livro
É de autor amador.
É da tentativa
De dar tudo com
O pior e o melhor
Que sou.
Honesto e um cabresto.
Mas se isso é um tipo
De amor
Continuarei a assinar rimas.
Desconjunturadas estimas
A transeuntes da minha inabilidade.
Amar
Um livro aberto
E em branco!

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Poeta sem razão

Estou a ficar velho
Para esta merda.
Sonho em voltar à bebida,
Ao fel da vida
E ao tabaco
Por consequência.
Abre-se ferida
Se não tiver consciência.
É para isto que serve a paixão.
A crença desmedida
E chapar duro
E rude no chão.
Num chão de betão da razão
E onde o amor
Seguiu.
Via rápida para outro
Lugar.
O mesmo de sempre,
Ou seja,
Longe de mim.
É assim, e fica o homem
Atado ao poema,
Feito poeta enclausurado.
A liberdade de sofrer
Alheado
Do que o comum mortal
Tem gratuitamente bafejado.
Sangue da terra
E fogo por todo lado.
Ardeu.
Perdeu-se
A razão que por ele
Se tinha apaixonado.
Morre o homem por outro lado,
Esvaindo-se em fé
Pelo concreto
E pelo mesmo fado.
O canto do cisne
Nesse canto
Do mundo desligado.
Sangue pisado
Pelos que amam cinicamente.
Esses são os donos da razão
Que querem lá saber
Do que vem do coração.
São crescidos
E os poetas
Umas crianças neste mundo cão.
Morreu o homem
E o poeta sem razão...

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 22 de janeiro de 2017

Coração de respirar

Ele era ar.
Rodeava-a por todas
As fronteiras epidérmicas.
Resvalava o encantamento
Pois não se conhecia
Sólido.
Ela era a diferença dele.
Compactava-se no seu peito
E ela tomava-o como garantido.
Ele só podia existir
E ela estar.
Estava ela fitando a vida
Que existia nas coisas.
Tudo se rendia à beleza
Do seu olhar.
E ele existia ali e em toda
A parte deste mundo.
Ela respirava e ainda buscava
A maior beleza nas coisas
Não desconfiando
Que ele ali
Lhe repousava.
Terra fértil d'ele
Se materializar,
Visão da beleza das coisas
Direccionar.
Por uma vez que fosse
Queria ele ser seus olhos,
Perceber o que lhe era
Motivo de se inspirar.
Ser seu
Para além da vista.
Pele, pulmão.
Ar, visão.
Respirar.
Respiração.
Estar.
Compreensão.
Fecha as pálpebras
E respira com o
Coração.

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 21 de janeiro de 2017

Meu Poema

Começo a ficar
Sem palavras.
Levá-las-ás
Mesmo que fiquemos.
Porque já eram tuas
Meu amor.
E nem és minha
Porque ninguém
Se pertence.
Mas sou-te.
De repente passei
Por uma naturalidade
E somos naturais
Um do outro.
Mas as palavras
São tuas.
São da tua pertença.
Elas andavam livres
À tua espera.
E agora são livres
Em ti.
E eu não preciso mais delas.
Porque sempre foram
Tuas.
E isto não é mais um poema
Porque tu rimaste-nos.
Tu é que és um
Poema.
O meu.

VAz Dias

#palavradejorge

Segundo da vida

Segundo
Da vida.
O sangue nas veias
Palpita.
Circulação interrompida
E perigo.
A defesa do culpado
E a inocente
Investida.
A amizade é a nossa
Medida.
E depois o castigo.
Onde fica a justificação
Plausível?
Amigos e amantes.
Nada como dantes.
Tudo perdido.
Num segundo és amor
Noutro és segundo.
Por isso sê tempo.
O amigo e o amante
Passam a ser
Do tempo
E do tempo perdido.
Aprende-se.
Habitua-se uma pessoa
Às perdas constantes.
Passa do tempo
A nada saber como dantes...
Convicto!

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Linhas ténues de céu

Ténues são as linhas
Que lá de cima
(Lá de longe)
Se tocam
No firmamento.

Nos teus olhos
Um sabor
À linha ténue
Dos meus lábios
Nos teus.
As cores que neles
-Ténues-
No céu se confundem
Com os nossos anseios.

Desejos pacíficos
De azul
Com desejos de
Cores quentes.
Ficaram no passado ardentes
E no futuro
Das estrelas.
Fomos ao céu
Entretê-las
No seu passado distante.

Ténues são as horas
Passadas contigo no céu
Com as cores que se tocam
Connosco.
Como nos tocámos.
Inventámos as cores
Para serem ténues entre si.
Entre nós.
Eu de ti!

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Espero por ti adiante

Os segundos agora
São intermináveis.
Cada micro-segundo
Uma eternidade.
Fomos feitos
De invisibilidade
Pelas outras vidas
Para nesta porção
Ficarmos assim expostos
Um no outro.
Nunca mais vens
E eu vejo-te aqui.
Nunca mais tens
De esperar por mim,
Porque te vejo aqui!
Ganhei visão.
Iluminou-se o caminho.
Vejo-te,
Vem,
Beijo-te!
Tão longo quanto essas
Porções todas juntas
Em diante.
Nunca mais chega
Mas estou confiante.
Acho que és amor...
Nunca vem tão facilmente!

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Borboletas Amor

Como pálpebras
que se beijam
elas se beijaram entre si.
As minhas e as tuas.
E os pontos de luz
voaram pelos
tetos da cidade
como elas.
Assentaram as résteas de calor
que o inverno
ainda tem em si.
Elas também são assim.
Trazem algodão de casulo
na asa.
Calor esvoaça.
São borboletas mulher.
O fim de tarde que também
por mim passa.
São borboletas amor!
E a pálpebra
É bater de asa
Que te leva
E da próxima te traga.
Seja amor
Ou só asa.
Mas seja viagem
que nos satisfaça!

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 15 de janeiro de 2017

Cortejo fúnebre

Seguia a fila de lágrimas.
O cortejo era ainda
Mais fúnebre
Que outros cortejos.
Faltavam tantos anos
Ainda.
Não era a altura.
Não era aquele o momento
Certo.
Só Deus para guardar
No absurdo
Aquele acontecimento.
Que percebemos nós
De compreender?
Vemos boa gente a morrer.
Nem tempo lhes foi
Dado
Para os outros preencher.
Só esvaziar com lágrimas
Cortejos
De fazer as pessoas
Também elas morrer.
Morremos com a salga
Da dor
E da água que deixamos
Pelo caminho correr.
Para quê?
Por quê?
Pela fé?
E se de repente formos
Só corpos que vivem
Um pedaço
E acabam aos pedaços sem
Razão?
Então levem-nos o coração
E isso que chamam a fé.
Seguiu triste
Ainda mais triste
O cortejo
E ainda os que se mantêm
De pé...

VAz Dias

#palavradejorge

Carta da Morte

Um dia destes morri.
E falo-vos do futuro
Onde passei a existir
Como nada.
Para mim.
Para vós já o era
Pela liberdade.
Pela liberdade partilhada.
Fiquei invisível
Porque é um valor
Que não sabeis materializar.
Nunca haveis contabilizado
Nos amores
E nas fortunas que vos deixei
Em vós criar.
Estive lá nessa porção
Que vos rodeia no ar
Nos abraços.
Nas oportunidades.
No futuro.
Venho agora depois
De definhar do outro lado
- no nada -
Vos mostrar essa
Invisibilidade que agora podem
Ver.
Podem ver o futuro
Na ingratidão,
Na ignorância...
No homem rico morto.
Morri na carne
Porque antes de tudo
Era já nada.
Nada cobrado.
Nada no amargo de boca.
Nada na generosidade.
Defeito é ser tudo de nada.
Em nada vos dei tudo.
Como o futuro
Que agora aqui lavra.
Como para além da morte
Morre um homem
Sem vós.
Sem nada.

(Ass. Teu pai)

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 14 de janeiro de 2017

Tempos Segundos

Amo a liberdade.
Ofereço segundos
Porque aprendi
Que sempre fui
Melhor segundo
Do que um péssimo
Primeiro.
Caminhamos para desvendar
Quem somos.
E este sou eu.
Um poeta amante
De segundos
E relatador de amores
Terceiros.
Mesmo que em alguns deles
Fossem desejos meus
De primeiros.
Sou melhor nos desejos
E no tempo...
Segundos.

VAz Dias

#palavradejorge

É disto, meu amor!

Acordo por entre sonhos para te soprar um lume brando.
Beijo-te a têmpora
E olho para o descanso
Que nos teus olhos
Se vão deixando.
Desperto um pouco
Contigo aqui
A meu lado.
Como se fosse verdade
Como se fosses voltando.
Fazes-me arder
Em lume brando
Como em labaredas
Noutros momentos.
Não é só o teu corpo
- Que nem avisto-.
É disto!
Como se fôssemos
Um do outro
E tudo é tudo.
E para sempre.
Um sonho
Que sonhes comigo
Ou que a realidade
Invente.
Acordei por entre
Sonhos
Para te beijar a têmpora
Brando
E lentamente!

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Carne do meu sonho

Que sonho
De mais carne
Do que osso!
Existes no tempo.
Do passado
Ao sempre
E onde a minha carne
Reage.
A minha alma reage.
De repente estás
Em toda a parte
E os meus sentidos
Tomaram
Conhecimentos novos.
Quero-te conivente
Mais do que tudo.
Mas o teu corpo
Dá corpo
Ao pouco de tudo
Que amo ser.
Que prazer!

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Chá quente, coração ouvinte

Se pudesse roubar-te
Para a liberdade
Por esse infinito
Que um chá ferve.
Tudo o que o tempo
Nos deve
E que a atenção
Nos pede.
Tenho saudades
De sentir o que és.
Mas amo mais
No que me tornei.
Nunca poderei ser aquele
Miúdo.
Nunca se volta ao amor
Que mudou tudo.
E demos voltas ao sol
Sem nos vermos
Até o dia se lembrar
De nós.
Conta-me tudo
Enquanto te dou ouvidos.
Faremos os segundos
Perdidos
Ser infinitos
Em chá que nos acompanha.
Traga-se
Enquanto a vontade
Se embrenha.
Tenho saudade
Do que daí
Ainda venha.

VAz Dias

#palavradejorge

A virtude de uma mulher

A virtude de uma mulher
Casada.
A que acredita.
A que estóica
Vive abraçada
Aos filhos
E ao amor de um dia
Prometido.
Os votos
Como de todos os devotos
Devem cumprir-se.
Nunca ela se terá reduzido
Ou desaparecido.
Ela casou fardo
Com fado.
Ter um dia se apaixonado
E manter o seu futuro
Ainda hoje assegurado.
Mas é luta duma geração
Em confronto com as outras
Todas.
Admiro a mulher que concebe
E ainda é esteio
Do edifício conjugal.
Um romantismo
Que se esbate
Com este tempo
Que corre rápido
E seu próprio.
Ela multiplica-se
E por vezes fica
Só.
O amor devia
Ser artigo no feminino.
A vida só não chega.
É demasiado
Pequeno.
Ínfimo.
Esta é a virtude da mulher,
Seja casada ou não.
Ponto!

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 8 de janeiro de 2017

As virtudes da partilha solitária

Páro o carro na berma
Do gelo que lá fora
Se acentua
Nas noites de janeiro.
Cá dentro
- Quente -
Deixo a Ella cantar
E o jazz recosta-me
A um silêncio perfeito.
Armstrong rasga com papel
De poesia
O desajuste das coisas
Perfeitas.
Canta-se amor.
Canta-se harmonia
Do monstro e da bela.
É reconfortante
O trompete
Que se ri das tristezas
E "sacana" diabrete
Dos momentos tórridos.
É arte de se estar
Tão bem acompanhado.
É tique social
Para dar o toque.
Um fraco truque
Das virtudes fracas
Do que melhor temos.
Mas é diferente.
Podia ser uma foto de mim
Para tu cá vires ter.
Vem se vieres.
Eu vou acolchoando
Os movimentos
Neste prazer
De te aqui ter tão longe.
Vem Ella e ele.
E o trompete
De entreter.

VAz Dias

#palavradejorge

Não posso voltar a amar-te

Não posso voltar
A amar-te
Por exclusão do mundo.
Vais desaproveitar
Este sentimento todo em ti.
Por birra,
Por te fazeres menor que ele,
Por me quereres igual
À tua idealização de amor,
Por tudo
Ou por nada
E não posso eu amar-te menos
Que o mundo inteiro.
Fico sozinho
Com ele por inteiro
Que fico bem.
Ficaríamos imenso
E agora como
Nos compenso?
Amo cada um dos tantos
Deste mundo?
Talvez não o vá amar
Completamente.
Há muitos que não merecem,
Não querem
E não suportam
Amor tão intenso.
Reduzo a chama
E chama-se os que têm
Coração de tudo.
Só alguém que ame assim
Poderá perceber
Que isso ultrapassa a vida
E eu também quero isso.
Grande como o mundo
E para lá da vida.
Só isso...

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 7 de janeiro de 2017

Certidão de vida

Certidão de óbito
Que livremente
De ti aceito.
Fui morrendo de ti com
Tempo.
Sim,
Nunca me deixaria ao
Teu desaparecimento
Da noite para o dia.
Teria sempre que te
Dar luta.
Mostrar-te que alguém
Impõe nessa demanda
Alguma labuta.
Mas não como estás habituada.
Não como estavas à espera
De me ter.
- Comprometido com o futuro -.
E assim me quiseste
Desaparecido
Da tua vida
Sem nunca te teres
De facto oferecido.
Preferiste assinar
A certidão por amuo.
Mas não te morri logo.
Mostrei-te que em vida,
Enquanto eu tiver força
E este sangue
Que me cavalga as veias,
Que serei eu quem decide
Como hei-de viver.
Serei eu a decidir
Como hei-de morrer.
Se isso não for exemplo
Para ti
Vive plena na mesma.
Já morri bem mais
Por bem menos.
Passaste-me uma certidão
De vida
Sem saberes.
Agradeço-te
Para melhor viveres.
Passa bem...

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Silêncios de mim XXX

Como se manda
Uma mulher à merda?
Como se faz tal
Alarvidade sem se perder
O que de digno
Um homem pode?
Insulta-me
O cavalheirismo
Senhora dona
Da falta de honestidade!
Tenha tino
E tenha tento na língua,
Que as bocas fechadas
Também elas têm
Tendência a acumular
Muita sujidade.
Beleza gritante
Com tanta pouca dignidade.
Cale-se!
Mesmo antes de abrir
A sua boca tarde.
Como evito descer
E respeitar
A redução senhorial?
Como me calo
Com este tipo
De gente?

É tempo

Não esperes.
Segue fazendo
O que te espera.
Não desfazendo,
Mas és terra
Que o mar regressa.
Faz-te vida
Enquanto lento
Vem aquilo que esperarias.
Veio vento
Que espalhou a semente
E o mar,
Pode sempre ser rio.
Água de alimentar
Ao rebento.
Fez-se vida
E a espera deixou-se sempre
Esperando lá à frente.
Criou-se o invento.
A vida,
O vento
E a terra
São o teu movimento.
Não esperes,
É tempo!

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Dono do tempo

Acho que se pudesse
Ser dono
De algo
Escolheria
Ser dono do tempo.
Não para lhe impor
A minha ditadura
Mas para lhe conhecer
A paciência.
A surpresa.
O amor.
Se fosse dono do tempo
Não mudaria nada.
Não correria com ele para
A saudade
Nem avançaria
Para onde ainda
Ninguém sabe.
Manteria assim tudo
E deixá-lo-ia
Tomar conta de mim.
Se fosse dono do tempo
Ficar-lhe-ia grato
Por me fazer melhor.
Mais humilde.
Mais cheio de amor.
Se fosse dono do tempo
Dava-lhe ainda mais tempo
Para que eu ainda
Aprendesse melhor.
Mas não sou
E aceito-o todavia.
Que o tempo dê
O que ele entenda melhor.

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Silêncios de mim XXIX

Recomendaram-me escrever menos.
Que amordaçasse
As palavras que saem das minhas

Mãos.

Impediriam o caminho que tenho
Destinado para mim.
De voar com esperança nos meus

Pés.

Sabem lá o que foi cair.
Sim, cair do amor às profundezas
Do inferno em segundos sobre estes meus pobres

Joelhos.

Levantei-me! Com curas estranhas.
Com excitações aberrantes
Que deixei de sentir como dantes.

Sexo.

Cuspi e vomitei em palavras
Tristes de volúpia, de amargo
E deseperança de

Boca.

Estranho-me nesta escrita
De resolução pouca. Ou aos poucos
Enquanto resolvo isto tudo que vai na minha

Mente.

Amanhã volto a não saber se ajo
Em rima com o que se me destina.
O que me quero destinar. Sigo vagarosamente.

...

Silêncios de mim XXVIII

Um vento estagnou
Aqui onde o rio
A meu lado se deita.
Serenou
Nesta noite maldita.
Furacão no meu coração
Avisou
"Ela é louca!"
E a outra que faz
De mim pouco.
Tão pouco quanto
Louco
(Mas não deixo!)
Esse passado para lá ficou
Ou desaguou
Num mar outro.
Outro vento me trouxe
Até este ponto.
Onde sou livre.
Onde não amo.
Onde não estimo
O futuro.
Um filho.
Um ano.
Um dia.
Um castigo.
Um sonho.
Perdido.
Ponto.

A elegância da masculinidade

Um dia insurjo-me!
Essa provocação
Ou falta de interesse
Aparente
Terá resultado a preceito.
Não sei se tenho direito.
Se a paz que respeito
(Em mim e nos
Que me rodeiam)
Distribuir,
Mas um dia insurjo-me!
Quereis porventura
Um animal
A que se acostumaram
Dessa repetição geracional.
Dessa masculinidade
Abjecta
Que vos recoloca num
Ambiente dito normal.
Haveis crescido a criticar,
A falar mal
Desse tipo de comportamento
E no entanto,
É esse que vos estremece
De loucura.
De temor e que julgaram
Ser aceitável.
Peço perdão pelos meus
Iguais de género
E diferentes de genteza.
Que pobreza
Acharem bem!
Isso não me convém,
Mas um dia insurjo-me!

Insurjar-me-ei de poesia.
De humanidade.
De respeito à vossa
Feminina identidade.
À força que a delicadeza
Merece
E da nossa posteridade.
Não sou mais homem
Por te reduzir mulher,
Por usar a força
Para te fazer obedecer.
Sou mais poeta
Porque como homem
Me fazeres te conquistar.
Te fazer a côrte.
Te tratar com a elegância
Que um cavalheiro
Te deite num leito
E libertar a tua animalidade.
Só isso,
E um dia insurjo-me
Com essa fatalidade!

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 1 de janeiro de 2017

Passe a catarse

Catarse da escrita
Com os dentes
Cerrados
Das cordas d'uma guitarra
Flamenca.
Arranha-se o que
Se dessentia
E desgarrada
Mata a vontade
De rasgar as mentiras
Com palavras.
Matas-me calada.
Arma baixa
De surdina mal passada!
Bato o pé
Passo ao largo de ti
Com esta dança.
Fica a canção
Que a minha companhia
Alcança.
E esta palavra é de cavalheiro
E não duma farsa.
Passa.
Ao largo do que a tua falta
Em mim alcança.
Passa.
Tudo passa.

VAz Dias

#palavradejorge

Mar Cinzento

Há um mar cinzento
Que te troca
O centro da terra
E te faz céu de constatar.
Promessa de sonhos
E de la chegar.
Desejos íntimos
De tudo mudar.
O mar engole lá no fundo
A cinza
Que estagna.
Nuvem que te carrega
No voto.
A esperança promíscua
De haver azul
Para lá.
Mentira!
Tu não mudaste!
Nem o mar é tão cinzento,
Nem o céu azul.
É tudo negro
Para te aperaltar
O seio
E a curva.
E lá dentro desse mar,
Nadas
Ou é profunda navegação
De céu tocar?

Mentias-me céus de te navegar.
Âncoras sem fundo
Para cair em mim.
Caí.
Hoje o céu é só
Cinzento
E eu mudei...

VAz Dias

#palavradejorge

Onde te alimentas fome?

Do que tenho eu fome?
Das pessoas.
De lhes acolher com o olhar
As palavras que lhes
Abundavam das bocas.
Da companhia que somos
Enquanto não somos
Apenas passagem
Umas das outras.
De lhes engolir num abraço
Todo um tempo
E sentí-las verdadeiras.
Tenho fome
De julgar que elas faziam
Um esforço de se encontrarem
Umas nas outras
E isso me saciar.
Isso lhes saciar a vontade.
Tenho fome do amor
Que nos faz passar horas
Alimentando-nos
Um do outro.
De quem quer que tenhamos sido.
De quem éramos
E poderíamos juntos
Ter sido.
Tenho fome sabes.
De mais.
Não só de falar.
De escrever.
Mas de ti.
Da tua fome
Enquanto loucos
Corremos
Para onde estaremos.
Tenho essa fome
Que apenas tu tens
Para apertar as mandíbulas
No fruto casto
Que se nos oferece
De doçura
Matando a agrura
De quem vive de barriga cheia.
Estou farto desses
Que apenas se alimentam
De tudo
Menos
Uns dos outros.
Salivo de saber-te
Das poucas que não quer
Um mundo com fome de nada.
Tens a fome
Que me alimenta
Mesmo que não traguemos
Practicamente nada.
Sim nada desse tudo de nada
De um mundo esfomeado
De vontade
E amor
E inquietude
Do que de facto a deixe
Saciada.
Tenho fome...

VAz Dias

#palavradejorge