domingo, 30 de outubro de 2016

Não é o que não nos deixa dormir que incomoda é sim o que sublimemente queremos para nos manter despertos. Os sonhos não resolvem. Despertos é que decidimos sonhar. A excitação é essa. Depois disto tudo adormecemos...descansados.

VAz Dias

#palavradejorge

Palavras Caladas

Ser-te de silêncio
É a tortura mais dilacerante.
Sendo das palavras
E sabendo que as melhores
Te adoecem,
Para que te serve um poeta?
Como se faz um poema
Com silêncios?
Sem palavras?
Sem te ter?
Como se faz para deixar
De ser poeta
E falar-te
Sem morrermos os dois?
Sei que sentes a minha falta
E eu nada posso fazer
Para te dar vida...
Morro de saudades.

VAz Dias

#palavradejorge

Tudo menos o amanhã

Mudar o decurso
Dos acontecimentos
Como busca constante
De encontro
De nós em tempo
E parte certa.
Somos o que destino
Desperta
E o que dele semeámos.
Fez-se fruto
E nova descoberta.
O que desejamos profundamente
Também muda connosco.
Já não amo como queria.
Já não amo quem queria.
Deixo-me levar suave
Em tempos conturbados.
Vou saborear a solidão para sempre
Porque me quero esse bem,
Porque quero que esse seja o bem
Que livre permita quem queira chegar
E partir de mim
Quase tudo levar.
Tudo menos uma vida.
Tudo menos um amor
De ontem.
Tudo menos o amanhã.

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 29 de outubro de 2016

Asfalto e futuro

Encruzilhei e segui
Na estrada de quem acelera
Em motor a diesel
Dos viajantes solitários.
Não sei quem são as minhas
Companhias.
Não sei se há uma que seja
Tão amante de solidões
E de encontros
Como eu sou,
Mas vou ganhando terreno
Ao medo.
À morte.
Ao amor.
Não sei se isso te faz feliz.
A mim faz.
Faço-me à estrada
A cada desencontro
E sigo solto.
Cada vez mais.
Asfalto
É realidade de deixar marcas
De pneus para trás.
Cheiro a borracha para quem fica.
Sabor a vento
De quem se enamora do futuro.
Vou.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Livro-te de mim

Fecha-se a noite em mim.
Busquei-te sem saber.
Nesta, naquela
E nas demais caras.
Todas passavam
E eu ria-me
Da vergonha que é ser
Assim.
Somos todos
Quando nos buscamos
Uns aos outros
Suponho.
Mas desfolhei um livro
E nele também existias.
Nos desencontros
Do autor
E num amor perdido.
Somos tudo daquele livro
E da noite
Onde todas as caras
Se pareciam contigo.
Volto a casa
Esperando que saias
Deste quarto.
Aqui onde tu és ainda mais real
E onde rezo
Para que vás
Se for para estar
Só a sonhar-te.
Ou escrever-te.
Ou apenas a desfolhar-te...

VAz Dias

#palavradejorge

Não faças vida de mim

Quero o teu corpo.
Se há coisa que quero mais
É perder-me nele
E tão longe do teu espírito.
Desejo que saibas
Que o meu
É terra frutuosa
Mas de alma perdida.
Estás em casa
Na viagem que tens de seguir.
O espírito
É coisa séria
E de cada um.
Deixa o corpo envelhecer
No meu umas horas
Ou minutos (tanto faz!).
Deixa água do suor
Da intensidade
Da vontade.
E depois deixa-me
Como à viagem que tens de seguir.
Sou pensão, amor.
Não faças vida de mim.

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Incorruptivelmente Falhando

Mantive durante anos
A castidade da boa aventurança.
A que me mantivesse
Incorruptível
(Se isso fosse possível!)
E que só agora me lança
Para perfazer a minha humanidade.
Ser de humanizar.
Humanizar o ser
E deixar-te entrar.
Tão incorruptível
Quanto pecador.
Tão perto de ti
E ainda mais do amor.
Perdi tempo imaginando-me
Higiénico nas emoções,
Borrei a pintura
E fiz arte de viver.
Vem ser a minha musa
Se corrupção
Fôr te viver.
Vem quando vieres,
Se vires,
Assim como o meu
Querer.

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Perdoar e Perder

Esta é a guerra a que nos
Devotamos.
Deixam-nos a sofrer
E depois matamos.
Por dentro.
Por querer.
E depois sem a querer.
A guerra.
Odiamos os irmãos
Porque são os que nos conseguem
Pior fazer.
Sabem onde nos magoar.
E não sabemos perdoar.
Vamos à guerra para perder.
Para os perder.
Para os perdoar
A destempo.
Que sofrimento!
São os nossos
E depois os desconhecemos.
Desconhecemo-nos.
Crescemos
Para nos corrompermos.
E os perder.
Perdão. Não sei o que fazer...

VAz Dias

#palavradejorge

Assim próximos

Também por todas
As piores razões
Me fazes te escrever.
Pelo pior do que te faço
Relembrar quanto à tua pessoa.
Há quem pudesse ver isso
Como mau.
Péssimo até.
Isso relaciona-me a ti.
Encontro-me nas minhas fragilidades
Contigo.
Sim, esse mau feitio
É fragilidade de sermos
O pior de nós.
Desamar faz-nos mal
Mas depois faz-nos serenar.
Quero que saibas que
Vai passar.
Mesmo que nada querias de mim
Senão o silêncio
E eu seja o inconveniente ruído
Que despoleta essas memórias
Do passado.
Que não sejas minha
Por tudo o quanto te queira.
Mas que o mal
Seja só passado no futuro próximo.
Sejamos para já
Assim próximos.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 23 de outubro de 2016

Terra e Ardor

Sou via láctea
E corrente que desaba
Em ti.
Criaste as profundezas
Da terra
E eu mar que se engole.
Sal de ardor
E prazer de estancar.
Universo.
Leite.
Mar.
E dor.
Prazer que fizeste
Desaparecer no outro lado
Do mundo.
E eu sou tudo
Enquanto tu me quiseres.
Sem ti apenas infinito, sou.
Eternidade frígida
De desamor.
Dá-me terra e profundidade.
Dá-me um fim.
Uma nova explosão
De tudo começar.
Alimento e fertilidade.
Gravidade zero.
Terra e ardor.

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 22 de outubro de 2016

Mudez e Musas

É castigo vos digo
Amar de poema.
Ser poeta é divórcio
Do objecto do amor.
É assumir distanciado
A dor
Com sorrisos de rimas,
Prosas rimadas e
Palavras perdidas.
É aceitar inquieto
Que a musa
Não exista na carne
Duma vida
E ser nossa.
É sua e nossa
Apenas por se encontrar
No tempo daquele poema
Iludida.
E nós ainda mais.
Perdidamente iludidos.
Preparamo-nos para lhes
Tomar o gosto em eternidade
E fica sempre para tarde
A palavra certa
Ou o desejo de lhes
Cumprir a vontade.
De se fazer esse voto
De celibatário de vez.
Não foi deste vez.
Nunca foi.
Foi musa da falta de palavras
Do poeta
E da discrepante mudez.
Mudo,
Mas ainda não desta vez.

VAz Dias

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sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Para onde a bela olha não é o que a embeleza, é como olha. De branco se veste o que se olha e de negro o que se imagina. Como nos seus olhos.

VAz Dias

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quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Desprendimento. Desapego. Fechado

Sou eu que não quero.
Este desprendimento
A que me apego
Bem mais do que
A alguém.
Ele surge após essa paixão.
Esse sentimento
De perfeição estúpida
A que todos os humanos
Intimamente
Criam.
Depois vem o amor
E a desilusão.
A incapacidade de a dois
Estarmos a par
De cada um e
À projecção do outro.
Um com vida
Outro morto.
Sai sempre alguém mais
Acabado.
Sonho agora intimamente
Que a perfeição
É de somar desistências.
As mínimas e tantas!
Parto com outra que sonhe
Parecido.
Ou que nem sonhe.
Ou que de ideal de perfeição
Também já se tenha
Perdido.
Num quarto.
Num tempo.
Nenhum sonho.
Só realidade de pequenos beijos.
Verdadeiros até
Que chegue o fim do tempo.
E quando ele chega
É desapego aperfeiçoado.
Seja para mais vida
Ou o último lugar
Antes de olhar para o passado.
Fechar olhos.
Fechar tempo.
Fechado!

VAz Dias

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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Um poeta para amar

Porque serei eu
O único que de facto
Acredita que teríamos
Futuro?
Este optimismo
De nos inventar
Estórias.
Embelezamento
Do que a carne
Gosta de tramar.
E no fim fica
Um poeta no imaginário.
Um sonhador
De futuros.
Um solitário a mais.
Costumo dar sorte.
Vou sonhar outros sonhos.
Vou escrever outras estórias.
Vou inventar-te
Um melhor poeta
Para amar.

VAz Dias

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terça-feira, 18 de outubro de 2016

Os méritos de um homem comum

Sempre tive esta sensação
De descaber nos lugares.
Nos sítios onde as pessoas
Ruidosamente intervinham.
Peça desconfortavelmente
Posta e reposta
Para conveniência geral.
Temos de caber
Onde nos deixam.
E o pior era não haver
Outro igual a mim.
No máximo tão diferente
Quanto eu
(Ou nos repelíamos
Ou nos cabíamos)
E fazer pelo melhor.

Invejava esse tipo
De mérito do homem comum,
Tão enquadradinho,
No lugarzinho,
Das pessoazinhas.
E no amor vê-los
Construir caminhos
Que dão para a felicidade
Com arroz a chover
E badaladas atempadas
Ao passo ante passo
Para mais tarde.
Desmereci esse tempo
E essa ansiedade.
Desisti da condecoração
E da idade.
Vivo destempado
Arreigado
Ao lugar de onde não se está.
Vive-se em plano
Paralelo respeitando
O mérito dos outros.
Os que fazem a realidade
Em que sobrevivo
E apelo
Ao bom-senso
Do meu desmérito.
Incomum
Homem
Sem terra nem tempo.
Estes são todos
Os méritos do homem comum
Onde não me integro.

VAz Dias

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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Viagens no tempo de crescer

Sermos da mesma idade
não faz de mim mais novo.
Faz de ti
a pele que se sustenta.
A minha por enquanto aguenta,
mas não interessa.
É a alma minha
que caminhou para o futuro
e se conservou
nesta viagem de anos-luz.
Por ser da tua idade.
Porque tinha de te viajar.
Mas amadureci
e tu não queres saber.
Tenho de viajar com outro ser
de viagens.
De pessoa que não envelhece
de tão jovem.
Mesmo que a pele seja
suave menos que firme.
Mesmo que não seja como tu,
tão menina!
Tem de ser sabida
de vida.
Ter viajado vidas
e ainda mais
anos-luz
até outros pontos de partida.
Aprender a ficar velha
como eu.
Aprender a morrer descansada
como eu.
Ter vivido o que tu
não sabes ainda.
Mas és bela demais
para qualquer sábio
não ver a sua viagem no tempo
como perdida.
Apenas saber
que há quem mais saiba
viajar pelo tempo
numa vida.
E essa é a sua beleza
mais infinita.
Um dia viaja.
Pode ser que nos vejamos
ainda.
Boas viagens menina!

VAz Dias

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Matemática de te querer

Tecnologia
Que me repete
Em catadupa que és tu.
Apareces.
Reapareces
E desapareces
Menos vezes.
A tua cara que me sorri
Sem que sejas tu.
Quero sair daqui
E volto para te encontrar.
Mesmo que não estejas.
Deixei um rasto
De palavras de volta
Para te encontrar.
Mas a tecnologia
Com a sua metodologia
De matemática
E estatística
Traz-me de ti
De volta.
Relembra-me que mesmo
Lá atrás do palco da memória
Existe uma história
Onde nos cruzámos
As vezes suficientes
Para as máquinas não me
Deixarem mentir.
Tento desistir da tua memória,
Mas as máquinas querem-me contigo.
Eu queria-me contigo
Se quisesses comigo
Escrever história.
Não há tecnologia
Para te fazer querer.
São só contas
Da história descrever.
Do meu acaso
De tanto te querer.

VAz Dias

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domingo, 16 de outubro de 2016

Carta perdida

Repito movimentos
Dos que tive contigo.
Estás longe.
Tão longe quanto
Uma vida inteira que nos
Separava.
E assim se mantém
De um amor que foi curto
Mas tão mais longo
Do que muitas vidas.
E noutras vidas repito
Movimentos de nós.
É segredo que guardarei de ti
E a elas.
Tenho de enganar a distância
Porque para aí definho.
Morro se te sonho.
Morres se me descobres este segredo.
Talvez o seu universo
Seja de ser descoberto
Pelo seu próprio movimento.
Repito-o para te ter
Sem te ter.
Segredo.
Para nunca mais te perder.

VAz Dias

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Cabo do medo

Ofereceste-me o impossível.
De todas as manifestações
Do universo
Escolheste esse imenso
Manto da rejeição.
E rejeição é algo
Que não me alfige.
Porque o tempo muda
As pessoas imutáveis.
As pessoas mudam
Porque os contextos mudam.
As necessidades são imperiosas
E mantêm-nos cativas
Dos seus ditâmes.
Mas esse impossível
É o cenário que desenhas
Para ti.
Para que nenhum outro homem
Se abeire
Do cabo do medo
Que és agora.
Não é rejeição que em mim
Depositas, que faz o medo,
É sim a impossibilidade
A que te ergues
E que te amedronta aos que te querem,
Resvalando de ti.
És ainda a última impossibilidade.
A que dobraria essa tormenta
De ventos gélidos de passado
Com correntes marítimas
De levar em diante.
Resvala tu também de pedra dura
Em viagem solta.
Há quem voe de rocha
E mergulhe no futuro por ti.
Senão eu,
Todos os que morrem de impossibilidades
Por te tentarem viver.

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 15 de outubro de 2016

Viver para sempre

É lá nessa idade futura
Que te assusta
Que comigo te cruzarás.
Eu já lá não estarei por muito
Porque lá não pertenço.
Morri as vezes necessárias
Para ser imortal.
Serei mais novo do que tu
Pela idade que agora
Partilhamos.
Sim tenho mais rugas
De expressão do que tu.
Chorei mais vezes.
Sorri mais vezes.
E sofri a intempérie
Das estações.
Pensei que querias futuro.
Esse anda ao contrário
Do que te ensinaram.
Do que nos ensinaram.
Agora sou livre
Se quiseres renascer.
Agora sou livre
Porque te posso levar.
Vem beber da minha fonte
Onde o tempo não existe
E a felicidade brota
Constante.
Anda se não queres morrer
Bastante.
Anda viver para sempre!

VAz Dias

#palavradejorge

Novo Riquismo do Nada

Somos tão sociais.
Reais peões da nossa liberdade
Buscando liberdades.
Buscando experiências
Para que a velhice
Se depare tarde.
Mas fazemos igual,
Noite após noite.
Dia após noite.
Noite após dia.
Sociais noctívagos
Que vencemos o breu
Com luzes
E luzes em movimento.
Som de animar.
(Pr'ó momento)
E que a ilusão alumia.
Que interessa o agora
Vezes o infinito
Se na verdade agora é nada?
Anulando-nos
Para aprender nada.
Vestimos roupas baratas
Que parecem abastadas,
Tiramos fotos
E arrumamos para o passado.
(Mais uma memória queimada!)
Para assim preenchermos o vazio
Com mais nada.
E multiplicamos
Subindo a parada.
Somos sociais
De um novo riquismo
Do nada!

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Da mesma água, sedentos.

Ouvi um poeta
De longe mas que pisa
A mesma terra.
Somos pensadores
Que trazem na boca
E na mão
O que o coração toca.
É um vento
Que por entre florestas
E terras abertas
Comungam da água
Da mesma fonte.
Mesmo que em falas diferentes
Por cima de rios
E falsas gentes
Traçamos pontes
Das terras
E de culturas distantes
E ainda assim bebendo
Da mesma água, sedentos.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Estou só com tanto

Estou só com tanto.
Com quanto me possa
Ir contentando.
Contando que o tempo
Me possa presentear.
Somente isso, portanto.
Um convénio
De me agradar
Com pouco
Para mais tempo
Por cá andar.
Convidando-te
Se assim se proporcionar.
Até à próxima
Palavra de se recriar!

VAz Dias

#palavradejorge

Seremos mar

O desapego é a fonte
Que brota amor contínuo.
Que se desinteressa
Se quero ficar contigo
Ou que queiras comigo
Partilhar um destino.
É deixar a água correr ao mar
Mesmo que nem toda
Possa lá chegar.
Há mar nas pessoas,
Nos campos
E na terra que recolhem
A jusante o seu bem
E a montante também.
Se nunca fomos mar
Fomos água de desapego,
Que lava a alma mesmo
Que não se tenha quedado.
É amor que passa
E fica guardado.
É a vida de quem não tem medo
E se deixa ser corpo
De mar.
É saber amar
Salgado ou adoçado
Do que deve ficar
Ou seu caminho
Num oceano de futuro desaguar.
Fomos desapego
E seremos mar.

VAz Dias

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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Serenei, tão somente.

Serenei. Aprendi que
Todo o amor e fogo
E ardor do amor
Não cabe numa só pessoa.
Mal cabe em mim ainda.
Afastei quem me amou
Porque o que mais sobrou
Foi fogo
E incendiei em carne
Quem eu mais queria.
É demasiada a dor
Para se dar numa vida
A outro amor.
Serenei. Estanquei a dor.
Não perdi fogo.
Nem amor.
Passei a separá-lo
E partilhá-lo num mundo inteiro
De coisas pequenas.
Muitas.
As suficientes para nelas colocar
A inquietude do meu sentimento.
Como um pão novo
Com semente que mordo.
Oiço palavras novas
De pessoas novas
De terras novas.
Amo tão somente
Encontrar e tocar.
E ser tocado.
E que a quem quero
Saiba o quanto guardo
E que procuro
Para sempre!
Serenei, tão somente!

VAz Dias

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terça-feira, 11 de outubro de 2016

É mais do que saudade

Não é saudade que por ti sinto.
É algo mais.
Se pode um ser sensato pedir maior sentimento por outro a quem nunca tocou a carne?
Sentiu o aroma do seu falar? 
A vertiginosa queda pelo olhar ao coração? 
Que não tenha sentido no abraço todo o calar de um coração que se encosta no nosso e assim se afaga? 
Como podem dois seres passar numa rua e se cruzarem e de repente tudo estaria ali num sorriso que seguiu? 
Isso sinto por ti. 
A saudade de já ter passado por ti e esse sorriso ter ficado duma vida inteira anterior. 
É mais do que saudade...
é uma vida inteira no teu sorriso que seguiu com o meu para sempre!

VAz Dias


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Sejamos a cicatriz da mesma carne!

Surges como se fora eu
um alvo de por ti
ser inflingido.
Sem protecção
e do teu lado
esse mesmo silêncio
onde apenas se ouve o ar em
movimento frio.
Rasgas-me profundo
até ao âmago da carne.
Lá onde a palpitação
faz correr o sangue
e tu por dentro deste amontoado
de cicatrizes abras sarcástica
sem convite.
Haja coração
que tanto sangue
a morte evite.
Hajam cicatrizes que te
lembrem que a nossa carne
é o limite.
Rasga-me do passado
isso sim.
Que o teu coração grite
em silêncios
ou comigo sangre.
Sejamos a cicatriz
da mesma carne!


VAz Dias

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Escuridão de luz

Neste preciso momento
Quando fito o escuro,
Quando tudo parece
Tão turvo,
Expande-se em mim lucidez.
Capaz de me serenar
Perante a maior intempérie.
Minimizá-la ao ponto duma brisa,
De seguro,
Caminhar como quem pisa
Cada nuvem,
Com asas nos pés.
Não me falta terra
Se o céu me abarca
Um mar de tranquilidade.
Mesmo no breu.
Mesmo sem figura
De palmo em diante.
Palmilho de olhos fechados
Com a luz que sei
Que tenho cá dentro.
Virá comigo quem acreditar
Não cair
E voar em frente.

VAz Dias

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segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Reserva de tempo

Nem a eloquência
Quebra o tempo que de mim
Para ti se alonga.
Nem o lirismo suaviza
A pedra dura
Que agora tens de ser.
Nem a ternura
Te convida a sentar
E soprares esses ventos
Frios que ainda
Fazem inverno em ti.
Nem o amor que tenho
Guardado no futuro
Te cativa
Do que em mim há de mais
Belo.
Sou velho das horas todas
Que esperei por ti,
Mas a pele em mim
Sabe toda a pele de ti
Afagar, quando
Para esse futuro caminhares.
Está lá no futuro
Mesmo que não seja
O teu caminho
Para me te entregares.

VAz Dias

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Chove em nosso lugar

O mundo é aterrador lá fora.
Que chova na terra
E o cheiro da água molhada
Acorde os bons de alma.
Que bata no vidro
Enquanto acordas.
A beleza com que te debruças
Faz parar o tempo desde lá.
És bondade
E a terra o teu lugar.
A água tua irmã
Que te chama devagar.
Eu sou o amor de te
Lá levar.
Lúcido sopro o vento
Junto à têmpora
E ao tempo
Que te fez descolar.
Saudade e medo
Deste tempo e outro lugar.
Dorme agora com
A chuva que cai
Em nosso lugar.

VAz Dias

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Se eu tivesse uma eternidade esperava o teu silêncio.
Morro entretanto. Entretanto tu também.
Aí sim podemos dialogar silêncios.
Que tal comunicarmos antes do entretanto?

VAz Dias

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domingo, 9 de outubro de 2016

Faz Bem

Faz bem
Esse bem que enviámos.
Mais do que o conforto
E o bem-estar
É a bondade que circunda
No ar.
O que nos liga
Mais do que o mal
Que nos separa.
Não quero ficar dependente
Do bem fazer
Pelo regozijo.
Apenas sinto
E repito
Que faço parte duma comunidade.
Sou passagem
Dessa bondade
Que não é minha
Mas de todos
E também dos que foram
E os que virão.
Somos um todo de bem
Mesmo no meio de mal.
Esse que também nos tinge
De negritude
E que respondemos
De inquietude.
O mal inquieta-nos.
O bem não.
Harmoniza-se no nosso ser.
Faz bem.
Irmão faz o bem
Porque assim deve ser!

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 8 de outubro de 2016

Horóscopo errado

Alinharam-se as estrelas
E eu com atenção
À geografia inter-estelar
Uma vez mais tentei
A minha sorte.
Uma vez mais, pobre
Na abordagem sobre o fardo
Que cobre
A audácia.
Rendi-me uma vez mais
À falácia do tempo
Que em mim corre para trás
Enquanto morre para a frente.
Falta de jeito
E de perspicácia.
Tonto perdido
Mas insistente.
Até impertinente
E conivente da tentativa
E o horóscopo da felicidade.
Sou fraco na verdade.
Limitado ao que mais
Pode um homem
Singrar.
Sangrou até tarde
Esta veia que ainda arde.
Tentei de novo
O que estrela alinhada
Com a outra estrela
Convidara.
Não é essa a verdade
Na verdade!
Acho que sou mesmo eu
Um fraco.
Fracassado.
Desesperado.
Menino de homem
Enclausurado.
Enquanto na veia
Do teu sangue em mim
Arde!

VAz Dias

#palavradejorge

A morte não existe

Não sou o que queres
Que eu seja.
Não sou o que
Nem sequer te importes.
Sou o que se cruzou contigo.
Vivo das emoções fortes
Enquanto te vejo
E mais alguns por aí
Subjugados ao desnorte.
Morrendo das emoções fortes.
Não quero a tua admiração.
Quero que me entregues
O teu corpo.
É nele que trabalhamos
Enquanto a vida se refaz.
O corpo não é um templo.
É tempo.
A alma não fica lá dentro
E ultrapassa o tempo.
Anda fazer velho o corpo
E ensino-te a não ter medo
Dele.
Do tempo
E da morte que não existe.

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Prefiro

Acho que prefiro
Que me digas não.
Que te deixes desse silêncio
Conivente com a polidez
De político arranjando
Tempo para uma desculpa
Melhor.
Não sejas política.
Sê incorrectamente atroz
De sinceridade.
Fá-lo por ti.
Estou acostumado
À hipocrisia.
Ao interesse de momento.
Neste momento sê
Aquilo que perdurará pelo tempo.
Mesmo que não sejamos nós.
Mesmo que sejas só tu
E só eu.
Prefiro assim,
Se me deixas gostar de ti assim.

VAz Dias

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Desejos em surdina

É esse o caminho seguro
Que escolheste
Que me fez nunca te conhecer.
Porque todos os desejos
Guardados em mim
Em surdina
Eram mentirinhas
Que partilhavas
Em voz baixa
Para te ouvires desejar.
O frenesim da "montanha
Russa"
Passou a
"Nem que a vaca tussa"
E assim em lugares comuns
Te encontras hoje,
Vendo-me a passar só,
Amando a aventura.
Viajas mas o prazer
É sol de pouca dura.
Logo voltas para a realidade
Do caminho seguro
Que te acompanha de aparente
Acalmia.
E pensas para ti,
Que talvez um dia
Voltes a viver tamanho
Prazer pela vida.
Não é vaidade minha.
É memória de quem
Te escutava claramente
Em surdina.

VAz Dias

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Matando o tempo

A demanda.
A devassa de vida privada.
A abertura para alguém se buscar
E a deixar entrar.
A perda antes do encontro.
Partilhar um caminho
Torto à nascença.
A desistência.
Por tudo ser tão igual.
As pessoas que não
Se "encontram" de facto.
A diferença que se quer
De tão igual.
Ser amante da solidão partilhada
É mais sensata
Do que do acompanhamento cínico.
Passamos um pouco de tempo
Deste tempo curto que nos
É emprestado.
Morremos sós.
Não ao lado de ninguém.
Isso era estória de fazer acreditar.
Fosse importante
E acontecia hoje e amanhã.
Caem os dogmas
E histórias de encantar.
Vive-se os desencontros.
Os encontros casuais.
O sexo.
A derradeira asfixia dos corpos
Buscando matar tempo
Enquanto vamos morrendo.
Caminhamos
Nos perdendo.
Por aí e a contento.

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Coleccionador de silêncios

É no poeta de mim
Que surge a inquietude
Do silêncio
A que as mulheres
Devotam o homem.
Vidas cruzadas de fins
E começos
E entretantos
Em que andam todos.
Tantos!
Tantas!
E todos diferentes
Com os silêncios
Que recebem dos outros.
Iguais
Que partilham
Como presentes envenenados
E a ignorância
/despeito
/desinteresse
Com que os embrulham.
Recicla o poeta.
Come a merda
Que o diabo amassou.
Sorri com a esperança
De mais alguém
Mostrar genuína diferença.
Temperança
Que logo esmorece
Com mais silêncios
Que gritam dores.
Fica o homem com os humores
E o poeta com o silêncio
Dos melhores coleccionadores.
Mais uma se cala
De perdidos amores.

VAz Dias

#palavradejorge

Desacelerado tempo compassado

Vais surgindo.
Por entre um gosto
e uma perdida poesia.
Em todas elas ali te encontras
como o caminho que ainda procuras.
Eu sei que a ressaca de juras
e descontentamentos
fazem ainda estes dias
de velados lamentos.
No poema de um desconhecido
se familiariza
o que lá nesse profundo
está escondido.
Desprotegido
e magoado.
Triste fado
que pesa
aos desenamorados.
Aos que ficaram agarrados
ao amor não correspondido
do outro lado.
Vem o poeta
o mais martirizado.
Vencedor da rejeição,
que canta o coração
e o leva a ser salvado.
Afilia-te
e comunga para resolver
o que ficou destroçado.
Resolve com tempo
e a contento.
Desacelerado tempo
compassado.

VAz Dias

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Poema sem facto

Impera a acalmia.
Emperra a palavra que vinha
esguia.
É tal o cuidado
que parece cristal.
Mas é de carne e osso.
De torção de braço
e no futuro de esforço
para aturar.
Sim, porque ninguém se convença
que seria um mar de rosas.
Aquelas doces faces
(com ardor
à mistura com o despeito)
rebentam com um homem,
apenas pelo que lhes sai
das bocas.
E dos silêncios.
Esses autêntico compêndios
de códigos
que nos fazem sentir
o mais energúmeno
dos seres.
Há delas que metem medo,
pelo o que se calam.
Ou da nossa sensibilidade
de homens apaixonados.
Uns nabos!
Uns atrozes calhaus
com dois olhos
e um falo.
Falo do que sei.
Não sei...
falo.
Até que só, torcido,
sem qualquer propósito
me calo.
Um depósito
de vergonha,
de coragem remetida,
de tudo e nada
por ela sentido.
Nem sei como este poema acabo...
acabado!

VAz Dias

#palavradejorge

Calo-me. Porque este é o silêncio que quero partilhar contigo. Amanhã meu pai vai nascer apesar de ter partido. Deixa-me enterrar a morte aqui calado. Olhemos as tardes de brisa na face como o futuro próspero.
Agora sim, calo-me!

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Um universo teu mundo meu

Tens um mundo inteiro e eu um universo imenso para te mostrar.
Mas é no interior desse teu ser
Que se perde um universo.
Que se desencontra
Se o não quiseres receber.
Há estrelas que se valham
Se mundos não lhe transladarem?
Penso que não.
Aceita esta eternidade de mim
De perder nos teus mares.
Que o manto teu
Me cubra
E esconda a luz
Nas tuas profundezas.
Sejamos escuridão
E façamos luz
Das nossas fraquezas.
Sejas um universo inteiro
Por me amares.
Sejamos o que em mim
Completares.

VAz Dias

#palavradejorge

Não me calo mas também não te grito

Nem sabes quanto te quero.
Quantos pedaços de ti
E a soma multiplicada
De suspiros
Por ti em mim aplicados.
Estremeço
E reparo
Que ainda não reparaste em mim.
O que faço?
Anuncio a minha chegada
A trote como que montado
A cavalo,
Cheio de peneiras
E sem medo de cair
Estatelado?
Ou deixo-me de veludo
Ir-te convencendo da minha
Existência
Passando a tempo
Da tua conveniência?
Há tempo com tanta gente
Se interceptando,
Se dando conta da existência
De outros
Por tantos trompetes romanos,
De explosão de informação
E promoção do ego
E do visível,
Que me amarro.
Mas não me afasto.
Não sei estar calado
Mas também não quero gritar.
Sabes que te quero?

VAz Dias

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domingo, 2 de outubro de 2016

Mesa Larga

Produz-se o som
Na envolvência dos olhares.
Palavras que se cruzam
Como se fossem
Tambores.
Retumbantes são as nossas
Palavras como as nossas
Esperanças
Em pulsação.
"Badum badum badam"
Aperta-se no lábio
O coração.
"Ta tara ta ta"
Olha a vontade por quem
Cá não está.
Voa o tempo
Na distância das conversas
De agora.
O telefone toca
E o coração para lá volta.
"T t t t t t"
Nega o apelo da razão.
Está longe ela.
Tão longe do outro lado sentada.
Tão longe mas de lado do outro lado
Do telefone.
Mas venha a audácia
Que do poeta se tome
E se agradeça
A posição que ela subtilmente
O homem "informe".
Mas é essa romântica
Que da palavra tatuada
No tempo
A palavra contorne.
Que alimente o ritmo de um coração
Que a vontade come.
Fala-se numa língua disforme
A mesma
Que a outra engole de prazer,
De aprender...
De desmesurada fome.

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 1 de outubro de 2016

Tristes Poderosos do Nada

Não precisamos uns dos outros
Para rigorosamente
Nada.
Usamo-nos mutuamente.
Gastamo-nos nos tempinhos
Em que somamos
Para inventar um ideal de eternidade.
Somos um pouco da maldade
Que odiamos.
Somos poder partilhado
Com esses outros tristes,
Que como nós,
Agora abusam da bondade alheia.
É assim,
Este sentimento se supremacia
De pobre se achando
Classe média-alta
Mas nem um chavo
Para mandar cantar a cegueira.
Poder ôco
Que esvazia lentamente.
Balão que vai perdendo
Ímpeto.
Desistência para um futuro
"O melhor possível"
E nunca merecido.
Imerecidos da dor passada.
Poder que vale nada.
Enche um balão
De esperança furada.
Tristes somos
De dominar rigorosamente nada.
Morremos
E desvanecemos
Sem fazer outra pessoa
Verdadeiramente amada.
Mas já não sofremos.
Somos dominadores
Da supremacia propalada.
VAz Dias
#palavradejorge