quarta-feira, 29 de maio de 2019

Mata-Morte

e em cada um de nós
que partiu,
um bocado de nós
levou.
envelheci outro tanto
e com tenra idade
já clamo por um
fim sereno.
a saúde neste terreno
e as lágrimas
para irem semeando
esperança.
estou demasiado velho
pelos que foram.
não voltam
e a memória também
já não melhora nada.
hoje morri de novo
e fiquei mais outro tanto
de velho.
de podre.
de cheiro
a morte.
ainda não choro
e a verdadeira tristeza
anda a monte.
já não sei ser fraco
quando a ocasião
assim pede.
cada um perde
como pode.
mas morre
como todos os outros.
uns mais cedo
outros mais tarde.
uns de morte
e outros com uma vida
inteira.
Justiça?
ter vindo à vida.
o resto arde!

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Amor de Sangue

Era esta a aventura
que me arrebatava
e no entanto não chega.
Não chego a sentir
nada.
Ou assim tanto.
É inverno o desalento
e desesperançada a época
alta.
Não me atemoriza assim
tanto a mudança
e a bonança
é um estado de espírito.
Mas há dias em que ela
surge mais decidida
do que eu.
E assusta para mudar.
Mas não é de mim
que tenho medo.
É de quem amo
que sinto sem braços
para lutar
e para a segurar.
A juventude escapa-me
e as forças esgotam-se
no perdão
e no tempo.
Esgoto-me sem soluções.
Mas jamais
neste meu amor
de sangue.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Não devo Nada!

É aqui que posso
mandar tudo à merda.
É aqui onde o karma
não entra nem deixa
de entrar.
É como horóscopo
só interessa
se interessar.
É aqui que posso
mandar tudo à merda.
Posso mandar este
poeta de volta para
a sua terra.
Mandá-lo pastar
com as boas maneiras
e as pessoas de bem
e toda essa lenga
lenga do equilíbrio
e das merdas.
É aqui que posso ser
humano e mandar
qualquer um à merda.
Ser poeta mais do que
alcoviteiro.
Ser mais empregado
do que mal empregue.
Ser mais pai
do que filho
da puta.
O que interessa é que
cada um ande na sua
luta e se safe.
Que abafe o próximo
e mande a empatia
à merda.
Mandar a osmose
à merda.
Mandar o carro
contra um muro
porque as vozes
que vêm do céu
querem-me fazer de burro.
Fiquem com tudo!
Fiquem com o bem
e o mal
e tudo o que vos pertence.
Só não ficam comigo.
Nem céu
nem inferno,
nem amor
nem sexo
nem desamor.
Tudo fica comigo
quando eu desaparecer.
Porque mando tudo
à merda antes
de relembrar ao mundo
o que vos quis ser.
É aqui que posso
mandar à merda
toda essa coisa bonita.
Gente bonita e de bem
fazendo
como lhe parece bem.
Melhor.
Nunca pedi para se colocarem
no meu calçado.
Eu é que estou cansado
de o fazer.
Medir e pesar
tudo.
Nem quando me ameaçaram
de morte.
Nem quando me ameaçaram
de se irem.
Nem quando deixaram de
falar.
Nem quando deixaram
de eu vos poder falar.
Deixar cair a chamada.
Não atender a chamada.
Insultar-me.
Fazer-me sentir
nada.
Pois eu desapareço
e ficam sem nada.
Mesmo a merda
para a qual vos
mandei.
Nem essa merda vale
alguma coisa.
Vale exactamende nada.
Posso mandar
até a minha pessoa
à merda.
E aí é que ainda vale
alguma coisa.
De resto
posso mandar tudo
à merda.
Não devo nada!

terça-feira, 21 de maio de 2019

Perdidos

Partilho o mesmo espaço
com o louco.
Ele fala para ninguém.
Ele fala para alguém
que já cá não está.
Alguém chega para
o salvar.
Mas não quer ser.
Ele morreu com
a outra pessoa que já
cá não está.
Ele vive mas
no meio das dívidas
que as putas lhe lembram.
Ele não se lembra
de nada.
Ele não quer
se lembrar.
Ele não sabe quem é.
Ele é um louco
que como este outro
também se perdeu
um dia.
Que morreu
um pouco
com os outros
que se foram.
E ali foi ele
na minha perdição de
um dia.
Quem fui?
O que perdi?
Espero ninguém
me retornar amor.
Perdi-o nos actos
de louvor a quem partiu.
Espero
correndo daqui para fora.

Flamingo

A bailarina do voo.
O incêndio das almas
e da carne terrestre.
Os homens que se limitam
ao movimento pedestre.
As mulheres que invejam
as asas
da bailarina celeste.
Do fogo que cobre os
olhos e o fogo doutros
tão fortes.
Mas não celestiais.
Guardas segredos
nas asas.
Guardas segredos
na carne.
E se o segredo
é seres além-mulher?
Um touro da terra
que voa graciosamente
como um flamingo.
Sinto o fogo
que chama
e o calor incidindo
sobre as núvens
em labaredas.
Serão deuses rendidos
à terra
que voa nas suas imediações?
Serão eles quase humanos
nestas condições?
O teu segredo é voares
tão alto junto aos deuses
e voares tão à superfície
dos seus corações.
Voa fogo
voa touro
voa flamingo
voa bailarina
voa o céu e as labaredas
das nossas íntimas explosões!

Terra Molhada

um beijo nos lábios
como advento
do futuro.
um momento
de genuidade,
um puro-sangue
que corre em liberdade.
a mulher que deixa
os sentidos
tomarem conta
da cidade.
tomar conta de tudo
o quanto controlamos.
deixamo-nos
ao impulso
que está em desuso
e percorremos
as ruas, beijando-nos.
chuva que nos beija.
sol que nos deixa
derreter as razões.
corremos pois
para termos tempo
para parar.
deslizar para debaixo
da pele.
respirar o mesmo ar
e voltar cada um a
ser seu.
voltarmos ao céu
do voo independente.
de repente sou eu
o teu beijo
e tu o meu abraço.
o teu corpo
desenha o meu traço
e a arte corre nas veias
como esse puro-sangue
que em mim
desassossega.
que me leva da intempérie
à terra molhada.
tu minha terra molhada.
tu manhã das minhas noites.
tu que te deitas
debaixo da minha pele.
eu que me ergo
na tua.
deita a lua
e acorda em mim
a tua rua.
a terra que faz de mim
ser mulher de ti
debaixo da pele nua
e tu homem de mim
que a pele
não confunda.
quero-te por um instante
de um tempo indeterminado.
quero-te lua,
rua, nua
manhã, noite,
teu, tua,
tudo,
tanto,
tanta
terra
puro-sangue
que corre
e ser seu céu
deseja.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

não há amor

a cada hora que passa
nesta vida,
a cada momento
em que se escreve um poema
e se descreve o amor
menor é a probabilidade
de se acertar,
de se tocar
o infinito.
hesito em escrever mais
uma palavra que seja.
o amor apaga-se do papel
a que foi anunciado.
e eu sou tão poeta
como amante
se assim for.
não há palavras
nem probabilidades
suficientes
para descrevê-lo.
não há amor.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

fogo miúdo

ele desfazia-se em ciúmes.
era eu 20 anos antes.
aquela energia
de tanto querer alguém.
era apego desmedido.
ela amando-o mas sendo
livre.
vendo os olhos dos outros
que nada lhe são,
senão testemunhas da sua liberdade.
e ela quer "fugir"
mas nunca sair deste amor.
vê-se que ela tenta tranquilizá-lo
mas não sabe.
na beira de desistência
e de lhe querer tanto.
tanto que eu perdi
e que ganhei ao longo do tempo.
vivi essa beleza
da nossa imperfeição
de miúdos e aprendo mais um pouco com o fogo que me queimou.
e o amor que passou
porque a energia
era do calor dos dois.
amor demais
para dois.
amor demais
para um.

Despertenci-me

chegamos sempre tarde
uns aos outros.
quando cheguei
já estavas com alguém
que não te faz feliz.
quando cheguei
estavas amarrada
e juro que senti
que tínhamo-nos
encontrado noutra vida.
deixámos de ser um
do outro e ficámos
perdidos em alguém
que estava ali.
eu segui.
morri.
quando acordei de novo
e dei por mim
estavas por perto.
sentia-se!
estivemos para ficar
um com o outro.
mas não nos vimos.
eu chegava e tu tinhas
partido.
um dia dei por mim
e afinal tinhas chegado.
estavas comigo
quando eu já tinha partido.
afinal tínhamos
sempre pertencido
ao tempo juntos.
mas eu já tinha partido
porque afinal eu,
eu já
não era de mim próprio.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

A razão de não falarmos a mesma língua

A razão de não
falarmos a mesma
língua.
A língua que fala
poesia e do amor
a esta nossa língua.
Uma relação que
se estende pelos
anos e as décadas
e que me traz mais
do que um matrimónio.
O antónimo da solidão
acompanhada.
O sinónimo
da palavra amada.
Da minha amada
em cada momento.
Sofrimento e distância
Ilusão condecorada.
Por isso não posso
meu amor
mostrar mais amor
por falarmos uma
língua desterrada.
Desirmanada
Fazemos sons parecidos
mas as figuras
do meu estilo
destoam das tuas cores.
São outros amores.
São doutores
doutras línguas.
Mas a minha é de amor
incondicional a esta.
Passou a ser a que veio
de mãe e passou a
filha.
Passou a ser a língua
dos sonhos nesta
parte da vida.
Nós somos o que lemos
e as canções
que no colo ouvimos.
Fomos à escola
e pedimos para perceber
isto tudo.
Conquistámos tudo
de tão pequeninos
Grandes.
Esta é a língua que tanto
amo e que só na poesia
se sabe,
como te amo.
Como canto
quando apareces
cantando a mesma canção.
Amo-te tanto
poesia portuguesa
do meu coração!
Sou uma aberração
como todos aqueles
que não são
e que aos olhos
doutros da mesma
terra não se emocionam
na mesma nação.
É uma língua
que amo
mas sem a vossa razão
que nos atiram denominando
como "aberração".
Que seja amor a esta língua
essa imensa terra
que se separa na língua
numa mesma nação.
Num amor diferente.
Mas é minha convicção
que a poesia
não fará frente a ninguém
e que afague com canções
de quem também
tem um colo de mãe
e um sonho cantado
para ser escutado
e crescer consigo
também.
Venha amor
à lingua mãe
e à poesia
de quem ama.
Venha
e cresça
e se faça amor
na diferença de mesma terra.
Venham línguas
de fogo
encher o peito de razão.
Sapiênca no coração!

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Pétala do dia

é dessa delicadeza.
dessa suavidade de pétala
que se segura
estoicamente à flor
que é também a minha
fantasia.
abre-se luz para mais
um dia.
faça-se sonho se
o poeta acredita.
se te desenlaças
de braços abertos
como pétalas
então também crê.
qualquer outro elemento
na natureza também

que os bons corações
são cúmplices
e que os corpos
lhe dão movimento
dançando à sua mercê.
és bela,
belíssima,
de delicadeza que me despoja.
me desarma
mas comprova
que o bem
e a paixão
são sempre uma
boa nova.

domingo, 12 de maio de 2019

Aleg(o)ria da Caverna

Sinto-me gordo. Redondamente incapaz de gostar de mim. Forço a mão para que gostem de mim por outras vias. Desculpo-me. Desculpo-me com esta visão social do perfeito ser saudável. Do saudável ser argumento para a vaidade. De ter beleza interior capaz de embelezar os olhos de quem sabe ver "saudavelmente". Para lá dessa plasticidade embrulhada em blogue de "wellness".

Culpo-me por estar sempre próximo desse epíteto e depois deixar-me levar pelas condicionantes da vida. Das escolhas. Dos erros e das virtudes de fazer por mim... ou pelo melhor... não sei. Amar e desamar devia emagrecer-me e tornar-me esbelto aos olhos desses e dos meus. Mas engorda-me. De açúcares e de algumas corridas para a serotonina que se revelam ineficazes dada a fome que tenho de vida e de comida em seguida.

Das conversas lúbricas para me provarem vivo e a outros a loucura a se evitar. Engordo com a culpa de não saber amar quem me quer. Engordo com a paz de me deixarem em paz. Sou gordo aos olhos dos perfeitos e magro aos olhos das avós. Sou um achado de pecado, como o melhor roteiro para o turismo do sexo de slogan apropriado "o segredo mais bem guardado desta visita!".

Não consigo ser o peso ideal de mais este verão. Não sei se quero. Já fui tão amado por ser só isto tudo por dentro. De me parecer e a essas a pessoas mais bela do mundo. Porque vinha sempre de dentro e se notava por fora. Mas porque porra temos de parecer bonitos até a nós próprios? Cada vez mais inútil e castrador. Como se separássemos esses novos personagens "os esbeltos" dos "coitados" em hierarquia social. Onde teremos Berardos que injectam prota para manter poder e onde os outros nem sabem o que é isso da prota.

Venha uma marca de merdas para alimentar a indústria dos fortes e fazer acreditar alguns fracos que um dia podem. Ou que nunca poderão. Tudo a alimentar uma ideia saloia de beleza revestida de marketing saudável.

Sinto-me gordo por isso. Parece que nem posso respirar bem só para estas roupas de agora me aceitarem. Se calhar não sou tão gordo quanto isso  Se calhar os outros gordos estão como eu e já se aceitaram. Ou desistiram. Ou desistiram de ser gordos. Ou desistiram de alguma vez serem magros. Ou esbeltos. Ou felizes. Ou ficarem com aquele(a) tipo(a) que é o(a) mesmo(a) das várias salas de chat porno.

Não era o sexo o objectivo final dos corpos? Para quê amor se temos sexo e corpos esbeltos, certo? Se podemos rolar os corpos "tindermente" e sair a compatibilidade do "n" de vezes dessa rifa "amorosa"?

Descobrimos como ser das cavernas de novo porque a preguiça e o sedentarismo nos fez gordos. E amorosos. E os fracos na luta do mais forte.

Casa de Mim

Cai uma parede
e outra em seguida.
A caixa a que nos
permitimos aprisionar
também implode.
É a mente destemida
que consegue do
peito desligar.
Fazer de quem não nos
quer libertação.
Quem quer é quem
pode e só porque
um destino "quisesse"
não passa de quimera
que queimasse
a alma.
Que arda o teto e o céu.
Que venha a boa nova
com breu das noites
sonhadas
e a luz que deitou
as cinzas ao mar.
Não há parede
nem teto nem nada teu.
Há paredes novas para
edificar.
Há outras viagens
para rumar.
Lamento mas esses muros
que levantaste
fui eu que os mantive
por nós.
Agora vou ser eu.
Um "teu" de alguém
mesmo que esse
seja só a casa de mim.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Vale Encantado

no canto
do vale encantado
brota e vive altivo,
no seu tamanho
ainda que mínimo,
as exéquias do amor.
ele que perdurou
às intempéries
e à minha fuga.
à minha desamparada
memória futura.
lá onde o sol
se faz presente
menos tempo
que a humidade,
vive orgulhosa a
planta verdejante.
renasceu dessa morte
e passou a ser
uma outra vida
e um amor para lá
do amor.
para lá de nós.
para cá
nesta voz.
sou esse amante
para lá do tempo
e do alarmante
poema de não te
ser como
conveniente.
e a resposta vive
em si.
orgulhosamente
presente.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

A leste de um poema

Massagei-te o ego.
Era a epiderme em
inúmeras camadas
até chegar à alma.
Mas como em medicina oriental experimentava chegar à raíz,
ao teu núcleo,
como amante das belezas
que não se vêem.
Da beleza que me faz adivinhar
tudo o que é perecível
como o corpo,
a juventude
e a beleza dessa juventude.
Mas só dá para sempre
se massajarmos o amor
com prazer de ali flutuarmos
num Sempre.
Lembra-te que um poeta
pode ser as palavras de um outro homem.
As tuas escondidas num espelho
que anseia a tua felicidade
ou os sonhos que se deitam
na tua almofada contigo.
Há amor nas palavras
como no Sempre!

Amor-Memória

Faltou a luz.
Fiquei sem memórias
de ti
e no entanto
as máquinas que caem
obsoletas
não sabem o que é
amor na memória.
E tu não sabes
que nunca te esqueci
apesar da história
escrita
ainda esteja por se revelar.
Só os poetas como
os loucos por esta vida
têm direito
ao amor por chegar.

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Já não somos Tempo

Podes fazer do silêncio
a tua fuga.
Desapareceres da cara desta
que agora sorri para mim.
Podes achar-me um idiota
porque não tenho essas
cores que encandeiam.
Podes ter razão.
Mas posso nunca me
esquecer de como me olhaste.
De como a beleza dum
universo inteiro rasgasse
o tempo e para-lá-da-vida
na centelha desse teu olhar.
Posso mesmo dizer
que por isso já fomos
e voltaremos a ser.
Se não nesta vida
nessa outra que virá ou foi.
Já não somos tempo.
Somos para lá disso.
Somos o que seremos
e sempre fomos.

terça-feira, 7 de maio de 2019

MAGNÉTICOS

MAGNÉTICOS DANÇÁVAMOS
EM TEMPOS DIFERENTES.
ESTAÇÕES OPONENTES E POLOS EXTREMOS OPOSTOS.
PASSÁMOS MILHARES ANOS-LUZ APARTADOS
ATÉ NOS CRUZARMOS.
DISPARÁMOS PARA DENTRO UM DO OUTRO
ATÉ NOS DEIXARMOS DE VER.
UMA DANÇA DE PERDA
E RETORNO.
UMA LEMBRANÇA DE UM  TODO
UM NO OUTRO.

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Meia Totalidade

Adornei os momentos a sós com a lembrança de ti.
Sempre soubeste Ser
sem precisares de Estar.
Cultivo o silêncio
como as horas que
repousava a teu lado.
Como as horas que repousei
sonhando com o encontro
de alguém como tu.
E encontrei-te.
E perdi-me.
Sou esta inconstância
e estóico lutador
pelo bem maior.
E acredita que não sou eu.
Mas devo-me algo
que ainda não encontrei.
Talvez a busca da solidão total.
Talvez seja a busca
a única felicidade para mim.
E no entanto,
tu foste a outra metade
de mim quando fui meio.

domingo, 5 de maio de 2019

Sou-te amor para lá da inverdade

Sou-te amor.
Tudo o que conheço
em mim
até tudo o que desconheço
em ti.
Sou-te amor.
Venham os tempos em
que vivemos tudo.
Desde a pipoca
em dia de feira
até para lá do luto.
Sim porque amo
com a desilusão
e o fruto.
Expando a verdade
e a ilusão.
Há também razão
no coração
como intensão de me dar
todo
até te descobrir tudo.
Tudo menos que é só
teu.
Não quero saber desse teu.
Não amo o que não é
meu.
Amo os bocados de mim
que sabem dar amor.
Também os bocados
que não sabem.
Até amo os que em
mim me fazem menos.
Mas só este meu somatório
me permite o preparatório
para um dia te perder.
Se formos tudo
seremos também os melhores
quando cada um de nós
se tiver de separar.
Não mintamos às estrelas
em dia de amor.
Sejamos tão verdadeiros
como a morte chegar.
Amar até que a morte
nos separe.
Seja na morte ou na vida.
Mas amemos as partes
a que a vida nos levar.

sábado, 4 de maio de 2019

Horóscopo da debandada

Poema, poemazinho.
Homem, homenzinho.
Futuro, sempre sozinho.
Passado abre um vinho.
Bebe devagar, devagarinho.
Morre, mortífero
do amor conduzido
à loucura.
Desmaio sem solução
nem cura.
Sem vontade mais
do que ficar com
a tua memória defunta
aqui às escuras.

Fazes-me existir nunca.
Nem fomos convidados
pela lua nem nada.
Não arranjaste testemunha
tão aperaltada.
A lua e a sua vizinhança
estrelada.
Obrigado por fazeres
de mim nada.
Serei então uma pedra
no sapato que desconforta
mesmo aí não estando.
Fica pronunciando
esses teus dogmas
a troco de dinheiro
e reduz seres humanos
a peões para
que te dê jeito.
Como podes tu
encostar a tua moral
de noite no travesseiro?
Sou o mal que tu
me passaste a apresentar
como tal...
tal e qual a nada.
Por isso mal por mal
fica à tua responsabilidade.
E a toda a tua constelação de
moral.
Nós humanos ficamos
por aqui no pecado.
No desejado fortúnio
de não ter,
não ser
nada.
Zero.
Quero de ti
Zero minha desamada.
Minha universal negritude
esburacada.
Quero de ti um total
e redondo nada!