domingo, 30 de dezembro de 2018

Meio Mundo Inteiro

Vim ao mundo
aparentemente
inteiro.
Talvez o mundo
e eu durante uns
tempos
nos tenhamos convencido,
inteiro.
Mas também devo
ter finado
a meio da outra
vida
e assim, meio
me consegui aperceber
a meio da vida
que levo agora.
Sou meio
de tudo o que os outro
dão por inteiro.
Sou meio para
chegar aos outros
inteiros
de outros inteiros.
Sou tantos meios
para me convencer
inteiro
e vejo
que entre os bocados
todos
a vida que ficou
do outro lado
nunca será recuperada.
E olho e vejo
todos celebrando as suas
inteiradas sortes
e agradeço
como quem vê
um filme de si
e das limitações
com que veio a este
mundo.
Sou fragmentos
de uma vida que conheço
e somados
sou ainda assim metade.
Julguei-me culpado
mas a pena de morte
jamais me levaria
à outra vida
que apenas desconfiara.
Resolvi ficar por aqui
feliz pelos incólumes
meus,
aos quais completo,
ainda não sou bastante.
E só consigo ser
feliz assim
ou meio triste
para não desistir.
Para não perder
a única metade
que apenas
e ainda conheço.
Talvez me reste uma meia
vida.
Talvez viva para ver-me
inteiro como os outros
ou nos outros
inteiro.
Ou já sou neles
inteiro
e a culpa
de ter morrido
ainda não a ter
cumprido por inteiro.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Fim. De Tarde.

Aceitar
fechando um capítulo.
Capitular e deixar
o tempo correr
até estagnar
sem que nós
estejamos presentes.
Sem que possamos
ser os pretendentes
de mais.
Lutar é um gesto
nobre se sobrevivermos.
Não podemos.
Não posso
e tu és imensa.
E eu tão pouco
de ti
e demasiado
para mim.
Tenho de me dividir
multiplicando-me
em vidas
e noutros tantos
em que me desconheço.
Não peço.
Não espero.
Não quero.
Só desaguo.
Corro lento
por dentro
para o mar de um
mundo de lamento
e no entanto
também em contentamento.
Bipolar ao quadrado
infinitamente
fora do quadrado
libertado no espaço.
Estou livre
mas agarrado
à impossibilidade.
É tarde
e sempre serei
sol de fim de tarde
que aquece mais
a esperança
do que o dia
seguinte.
Pedinte
de finais
felizes
e de locais para
definhar.
Acordar caindo
como orvalho
que seca
de repente.
A maior felicidade
é conseguir
chorar
e no entanto
sou foz
e voz
dos contrários.
Estreito os ovários
e dou à luz
de novo
a esses fins de tarde.

domingo, 23 de dezembro de 2018

contas de natal

deixei de ver magia no natal. sobretudo pela hipocrisia e o consumismo. as fotos de instagram a propalarmos a nossa gula pela fome no mundo. guardei na inocência das crianças alguma utilidade da época. jamais lhes diria que não existe o natal mas dir-lhes-ia que a Coca Cola faz mal e um dia saberiam que desejar feliz natal seria um aviso para o absurdo da época, sobretudo representada por adultos. um dia saberiam por si dar de comer a quem tem fome. e aí as luzes brilhariam no sítio certo. não nas árvores mas nos olhos alimentados de quem não sabe acender uma luz.
não nas árvores porque assim elas não no-las pediram.
e jamais nos olhos de quem tem demais para ver. fartura de pobres de espírito e a reserva de que um dia nada disto nos serve. aproveita-se o momento para desejar aos que mais se ama esperança e a inocência duma criança.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Ponto sem retorno

seguro o telefone
diante de mim.
resumo
o dia desgraçadamente
enquanto definho
na lentidão da mudança.
uma santa aliança
corrupta
e que faz de todos nós
alvo de chacota.
prefiro gritar em vez
de rebentar em lágrimas.
não há amor.
não há horas
de sono
que acalmem
o espírito.
um corropio de emoções
hermeticamente
guardadas
para não matar
o tempo
e a possibilidade
de voltarmos a
ser.
pauso.
faço-me ansiolítico
e droga recreativa.
faço dos outros
tema de conversa
e do mundo
com eles
e com o resto do mundo.
e com o resto
que ainda existe dele.
os valores caralho?
não em numerário
nem em pressuposto
de poder.
os valores
que não nos deixam
morrer nos olhos
do mal?
os valores caralho?
nem amor
nem o caralho.
nem ninguém para foder.

nem presépio
nem mulher.
nem mãe nem
pátria.
só párias
e o "salve-se
quem puder!"

não tenho mão
para isto nem
vontade.
queria dormir
e nem sonhar.

e os nossos filhos
que precisam
mais do que
só se sustentar.
e os valores
caralho?

o que vão eles
fazer com os que
lhes demos?

isto está a acabar
e ninguém se importa.
vamos
escorregando
em tapete rolante
para o engano.
para o último
ano
dos nossos dias.
tenho as mãos frias
e o corpo quente.
febre.
peste.
fere.
agreste.
fim.
ponto.
(batemos no fundo
com estrondo)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

casa

preciso de acalmar
os meus fantasmas.
tranquilizá-los
após tentativas
vãs de os deixar
debaixo da cama.

habituaram-se a viver
cá em casa.
deixei de lhes dar
importância
(como as alcunhas
que nos querem colar
e não chegam
a ganhar pé).

deixei de dormir
tudo
para lhes fazer companhia.
eram os cá de casa
e que desfeita
seria não lhes
dar atenção.

apoderaram-se
disto
ignorando que eu
deixava.

no amor passa-se
o mesmo
e a casa
é um abrigo,
para qualquer um
de nós fantasmas.

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Sou o amor de todos

não são essas
caras todas
nem esses corpos
mais ou menos
lascivos.
nem tão pouco
a variedade
que este mundo
oferece em espécies
à nossa animalidade.
é a humanidade
que me resta
desse amor
contínuo
por tudo
o que mexe
com vida
e beleza mundana.
mesmo
as coisas
inertes
que me fazem movimento
na letra
e na palavra.
que forma cantilena
e me agarra
à aventura
de continuamente
me perder
na rua
dos outros.
eu sou rua
e movimento
a rodos
e no silêncio
sou todos.
e amo o mundo
que me ama tão
pouco num(a) só.
somente
tudo em todos
até ficar só
e morrer de novo.

(antes morrer de novo
do que morrer
de velho)

domingo, 16 de dezembro de 2018

bondade ou bondage?

sofremos.
todos temos contos
e contas a desajustar
a história
que nos foi contada.
a minha experiência
é tão inútil
quanto à do próximo.
tão irredutivelmente
desnecessária
e anónima.
chora-se agora
e daqui a pouco
de orgulho.
desenquadrei-me dessas
histórias tão certas
para os outros.
ousei ser eu
e acabei comigo.
para mal dos meus pecados
e por amor a eles.
deus os livre de serem
livres.
sejam a história
dessa glória
e penitenciem-se por
nós!
por já não termos voz
para agradar o além.
e a ninguém melhor
do que a nós
como gente menor.
sois melhores!
haja gente límpida
para preencher
os céus
que dos pecados
sei bem dos meus.
o dos outros?
pois bem,
não sou deus
nem merecedor
dos seus louvores.
fico-me com os meus
horrores
e a sua tão afirmativa
certeza.
a beleza da sapiência
suprema.
cá me aguento
pequeno e terreno
na mesma.
as pessoas
e os seus temores.
os passados
e os tremores.
sem futuro
e os amores.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Jogar Dominou

querendo ou não
demonstro aqui
quanto folgo e desejo
que o arrojo
tenha trazido tão pouco.
esses poucos
que em tantos
se dividem.
multiplicar horas
de sono
e sonhos
são pratos servidos
de cozedura lenta.
fome de tudo
e engolir-te em seco.
peço-te que não sei
quem és mais do
que a mim próprio
possa tentar saber.
mesmo tu que sempre
aqui estiveste
desde antes
ter conhecimento
de em mim sentir.
sei lá o que sou e o que
sinto
se ninguém que eu veja
se assemelha a mim.
e ainda bem.
e ainda mal
porque eu só sei
imitar de muitos
para ser um pouco
de mim.
eras capaz de amar
alguém que não conheces?
e eu que ainda
sei tão pouco assim.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

pássaros livres

no céu passeava
a ave pelo dia a noite.
eu adormecia
sem saber
quais as minhas horas
de descanso.
nas asas estrelas
e nas penas
a negritude
de quem se assume
na luz.
e eu sem saber desligar
tanta luz
na negritude
dos outros.
revirei os olhos ao pecado
e fitei a morte.
tudo por atacado
comprei
um pássaro
para o soltar.
amor é isso.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Além Sempre

Recebo-te agora e para
sempre.
Todo o tempo
de um mundo
e mais além,
além do que realmente
vemos.
Além de ti e de mim.
Mas sobretudo
além de ti.
Eu não peço nada
senão o que quiseres
de mim.
Ama-me com todas
as tuas forças
para esse "sempre"
ser aquele que imaginas
e para além
do que conheces
em ti.
Sempre te irei amar
senão o que conheço
do além
(que não conheço bem)
mas que me fazes
ver. crer. me perder.

E se te foste embora
amando-me
mais fui eu
amando-te.
Apostando nesse além
que ganharia ao sempre.
E foram os dois além
do que sempre
não sabendo onde acaba
e onde começou.
Este amor
nunca foi mais do que
além
mas foi mais do que sempre
e eu não se idar menos
do que a vida
mesmo que tenhas ficado
com a tua.
Sobreviverias a mim
por teres a tua vida.
Muito mais de sempre.
Além.
Além Sempre.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Suspensos rápidos

ficámos a meio.
separados um pelo
o outro
do outro lado
um do outro.

ficar seria pior.
ficar seria melhor.
errar seria certo.
é certo que voltaria
assim ser.
ser o amor separado
pela mesma pessoa
multiplicada
em dois.

foi.
será.
não parece ter fim
mesmo do outro lado
que definha
mas que é melhor
não ver.

que definha deste
lado
mas é melhor não dar
a perceber.
será tudo.
será nada.
mais do que alguém
foi mais do que é.
será.
será sempre até
que alguém
faça melhor com menos.
e que passe o tempo
e esse menos seja
mais.

é um desejo.
um enviado
cortejo
ao destino
para se fazer valer.
ou eu para
descrer de tudo
e desaparecer de mim.

voltar apenas
quando estivermos
noutra vida.

quando a vir feliz
sem mim.
melhor.
imensa
como sempre a
conheci.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Na sombra da luz

fui dar uma volta
em mim.
dizia-se ser
uma época especial
e fui ver como
era esse lugar
luminoso.
já não sei o que é
essa luz.
esse imenso sabor
que a luz traz aos demais.
havera um tempo em que
encantado
e infantil
apreciava essas sensações.
mas perdi isso
ou talvez tenha
me resguardado da plasticidade
do artifício
que vem do mundo
para pintar-nos
uma ideia de felicidade.

virei para dentro
e até na penumbra
podemos encontrar conforto.
fazer das penas
descanso
e recobro.

mudei.
deixei para as crianças
essa luz
e dando-lhes um pouco
de luz natural.
deixei a criança de mim
brincando com elas
e presente
ser o da esperança,
deles num futuro
real.

fui dar uma volta
em mim
e lá encontrei as urnas
onde enterrámos
as luzes que desligaram.
ou fugiram para o céu,
para lhes inventarmos
brilho nas estrelas
e não desligarmos
logo também.

desliguei do artifício.
da correria
e de cortar árvores
e de inventar as de plástico.
desliguei a luz
para ver pela que existe.
seja mais feliz
ou triste.
vi pela noite
e dos dias solitários.
onde nos encontramos
e perdemos.
onde o amor só vale
se se não se vir...
mais do que lhe
prender entre mãos
com luzinhas intermitentes
criando sensação.

fui afastar-me de tudo
para ver as luzes
ao longe e vê-los
contentes.
descrentes quanto
presentes desta minha
inibição.
projectei para bem
fundo o que poderia
ser desilusão.
mas não!
escolhi ser assim
porque desliguei
[intermitentemente]
quando se ligaram
as luzes do artifício,
do alheamento,
das compras
e da televisão.
quando essas luzes
enfim,
também se desligaram
de mim.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

da boca as palavras voaram

um dia levo-te ao céu.
ao céu da boca
onde as palavras do futuro
vivem. onde para te encontrares
basta voares
com as tuas asas. onde para
seres beijada os lábios
são o dono das tuas palavras.
o teu único dono. ou dom. ou voo.

domingo, 2 de dezembro de 2018

Insípida

Vem um mal da alma
e um sabor a nada.
Bebo como se tudo
fosse água.
Como se nada
valesse a preocupação.
(Afinal vamos morrer).
Mas viver se calhar
é para sentir e sofrer.
Fazer bem e
sermos tomados como
água,
insípidos e vastos.
Fazermos mal
e sermos lembrados
de ressaca.
É da parca presença
espiritual
de se ter tomado tudo
e isso ser reprovável
ou como ensinamento
de perdão.

"Perdão? Não cortaste
tu a linha de comunicação?"

E o mal dos outros
é aceitável.
Como água que vai
e na estória do karma
voltará.
Mas o quê?

"Querer-te mal pelo
bem que não me fizeste.
Pelo vendaval que
engolirás em chuva
que aí vem?"

Não existe justiça divina
nem a humana
vem a tempo
ou tu da minha.

Que falta de estima.
Que falta de gosto
a minha.

Dores de alma
como quem bebe água
é um fim a que
ela se destina.

Bem e o Belo

A beleza não vem de dentro.
Ela cultiva-se pelo que vimos de fora.
Ela vem do bem dos que nos querem bem.
Ela reencontra-se no bem
Que o coração tem para ser belo.
O bem e o belo encontram-se.
Tens bem e belo.
Para mim, meu bem, esse é o mais belo.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Descontínuo

estou perdido
neste nosso Sempre.
sabendo de início
que tudo seria
possível
e que tudo
é efemero.
e lançámo-nos.
fomos corajosos
em nos juntarmos
das extremidades
em que nos conhecemos.

e nunca fomos estranhos.
e nunca desdenhámos
a possibilidade
de o fazermos em
conjunto.

mas ganhámos
ao tempo,
à velhice
e quiçá,
à intemporalidade.

protelámos.
protelámos com o dever
de fazer o outro
melhor
e assim foi.
foste melhor
nesse aspecto
e eu seria tão bom
no sempre
e mais além.
no além-sofrimento
de que te resguardei.

sei que ninguém
morre por amor.
sobrevivemos
e alcançamo-nos
sempre mais lá
adiante.
mesmo nos olhos
dos outros
que te façam
melhor.
que te façam
como desejas.
como mereces.

e depois desapareço
para dar lugar
a nós mais
do que nós
num suspiro
(tão superlativo
quanto infindável).
como aquele
primeiro beijo...
aquele nosso
primeiro
beijo.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Do fim da vida

acabou-se!
terminou tudo
isto.
não há virtude
nem virtuosismo.
nem existe
vontade de iniciar.
acabou-se o que dá
lugar à poesia.
o que a poesia
pode fazer
por mim.
por eles.

acabou-se o placebo
e o cancro.
estávamos
nos paleativos
e todos franziam
a testa.
"É o que resta!
É desta..."

acabou-se
e não posso pôr um
fim.
tenho uma dívida
com a vida.
com a esperança.
com o amor
(que não conheço)
- só conheço o amor
do fim -
e o da outra vida.

acabou a minha
veia poética
da vida deste lado.

vou escrever
para a beira dos mortos.
dissecar o que perderam
e o que ganharam.
perguntar se o amor
lhes valeu
a vida.

e no canto da cama
deitada
ainda com vida
vives ali em mim
despida.
sem um beijo
de despedida
e um filho.

um filho da mãe
um filho de mim
e uma morte
assistida.
vale uma vida.

fim

domingo, 25 de novembro de 2018

[um zero]

[um zero]
ou a equivalência
de um ser
nada ser.

ou ser tudo
num todo
que nada parece
ser.

um no meio
da multidão
amado
até à invisibilidade.

perdido no meio
de todos
os que queria.

perdido porque
era ali que se encontrava.

por vezes lá
voltava ele.
a ser mais um da multidão
tão igual
como perdido
de si.

]zero um[

a importância de ser calado

calei

        -me

na distância
a que me remeto
de a mim
para me ver.

calei

        -me

na ignorância
em que me desconheço
por em ti
me ver.

falei

calei

        -me

padeço

             ... morri.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

era [1vez] em...

ouvi um fado tocado.
era numa guitarra de blues
com a tristeza
de um mar de lés
a lés.
na única terra onde
um português não colocou
pela primeira vez
os pés.
mas também tinha
balanço de havaiana
e da ternura dum
recém-nascido que dorme.
choro de alegria
do retorno
a quem fomos
numa terra que
não é nossa.
era uma vez Portugal
e tudo
que de outros
lados se produziu
em remessa.
fizemos tudo à pressa.
fizemos tudo à pressa.
só que ficou o fado
em todo lado
mesmo em quem
não sabia.
tão grandes com
tão pouco
tão pequenos
perdidos
em cada porto.
era uma vez
amor
que deu para o torto.
um rectângulo
quase certo
e desviado
a nordeste.
safamo-nos
da peste
mas ficámos
com isto.
com este
"Era uma vez
Portugal"
e tudo o que poderia
correr bem
do que não correu tão
mal.
amor de um fado
universal.
nosso tão malfadado
amor e tal.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Luz Fria

não vou deixar
que o mal do mundo
- do meu mundo -
me convença que sou
mau.
sou sim, pequeno.
ínfimo.
diferente.
e pode vir o fim
dos tempos levar-me.
mas
não vou deixar
que me mude
mais do que já mudei.
se é o karma
que me lançou um mau-
olhado.
se foi meio mundo
que mo lançou
ou se foi só o karma
a ser si próprio...
que me interrompa.
mas nem morto
estarei calado.
nasci desbocado
morrerei desbragado.
se nasci para errar
cá andarei errante
até que acabe.
sou só isto.
orgulho de poeira
cósmica.
cospe-me para a atmosfera
e eu voarei.
serei estrela do nada
e verão que brilho
mais que um pirilampo
em tempo de acasalamento.
luz fria do meu
invento
e do meu desmembramento.
sou pequeno...
lamento.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

auto recato

vi estes traços

- cicatrizes do tempo -

fazerem-se uma vida
até este momento,
num suspiro de segundo.

morre-se no olhar,
daquilo que se deixou
para trás.
confundo-me com um garoto
e com o velho
que em mim habita
como destino último.

se não morrer mais
e definitivamente.

domingo, 18 de novembro de 2018

a Empatia

saí.
fui
para não sucumbir
ao desprazer
de te fazer só.
de te fazer
sentir menos.
a puta da empatia
com que nasci
me fez assim.
só posso ser pouco
para não sentir
tanto esse mal
do mundo.
saí.
fui
perder-me em palavras
onde mais
me encontro.
sou mais empático
com palavras.
e mesmo
quando me calo
no escuro
elas vêm
para me lembrar
a puta da empatia.
eram para ti
e é o que há.
como nada
num domingo
choroso
que cumpre
as despesas
por mim.
é isso.
a culpa é da chuva
que cinzenta
é mais empática
do que...
do que...

não interessa...

nunca interessa.
fica a empatia para
contar a história
do cinza
que cobre
as palavras.

sábado, 17 de novembro de 2018

reza pequena

são os sons.
os pequenos movimentos
que eles perpetuam
numa onda.
uma torrente contínua.
um deus que aceitámos
depois de conhecermos
deus.
o pecado de ser feliz
com um bocado.
a infelicidade de ser apenas
isto
e isto ser tudo.
uma onda que expande
o som como
espírito
perpétuo.
amém.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

À segunda as dores doem mais

Como das dores
Que me apanham
As costas
A nuca
E o céu da boca.
É assim que as palavras
De conforto me saem
À dor de não te ser
Completo.
Mas sou até ao presente
Momento.
Mas não te completo.
- um problema de todos
os amores, julgo -

E carrego essa cruz
De culpa antes de a ter
Ou mesmo de me ser
Atribuída.

Já sabia antes de saber
E a idade veio
Assinalar.
Com todas as quebras
As frustrações
A morte.

Sobrevivi
Com traços do tempo.
Facilitei à vista de todos
Como da minha.
E agora só sinto
Terrivelmente
A dor dos outros.

E de ti, só de ti,
Porque não sei fazer
Ninguém inteiramente
Feliz
Como eu não sou inteiro.
- não me acho despedaçado
e remendado -
Mas não cresci tudo.
Ou talvez sim
E já sou mais velho
Do que de mim.

Amo-te como me amo
A mim
E à minha...
Mas não chega.
Nunca chego a ser
Tempo dos outros
Por ser pouco
De tantos.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Cinza Viva

Tantos são os que vejo
Sem amor.
Caminhando no deserto.
Andando às voltas
De si e duma nova noção
De felicidade.
A comiseração
A debilidade
A tristeza que escorre
Por tudo e por nada
Pela cara
Directamente
Para um coração sem fundo.
Que já teve tudo
E agora sobrevive
De verticalidade
Quando o corpo só
Quer estar deitado.
Sozinho a tentar saber
De quem é.
Se é.
Se algum dia será
De si próprio
E de alguém...
Ou ninguém.
Choro que fica no meio
Dos papéis do trabalho
Do soluço calado
A meio da noite
[Ou da tarde].
A fogueira que arde
Mas não acalenta
Nem esfria.
Está ali como um tipo
De companhia
Que se esvai
Como o sangue
Que é de um coração
E se engole em si
Infinitamente
Como a dor que não passa.
Um túnel que não acaba.
Um amor
Que trespassa o tempo
Para trás e mata
Mais para a frente.
Carcaça.
Pão que diabo amassou
E ainda faz graça.
O único
Que se conhece
Para além
Da fogueira que se acende,
E vivo,
Lembra-nos que morremos
E somos a cinza
Do fim
E suspiro
Da única luz que ainda
Nos faz acreditar.
Que não morremos
Em vão
E que podemos aspirar
Subir por aí acima
Desse coração.
Desse fim
Que tudo pode
Trazer de novo.
Renascer das cinzas
Da fogueira de um diabo
E da fome
Que um dia se engoliu
Desse mesmo coração.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Mata Mundi

Cresce um tumulto em mim.
Um horror ao degradante mundo
Dos governantes
E do poder que toma
Conta da mente
De quem toma conta de nós.
Fujo.
Vou para onde está
A nossa mais animalesca
Forma de estar
Mas sem matar.
Pelo contrário.
Cobrir a terra de caça
Ao amanhã.
À sobrevivência
Pela sobrevivência
Dos nossos iguais.
Fujo.
Para perto dos nossos.
Dos ossos
E os mortos
E os poucos que restam
Vivos.
Dos que como nós
Só vêem igualdade
E razão de viver.
De amar
Para além do fim.
Fujo
Para dentro de mim
Esperando que a poesia
Me salve.
A carne.
O amor.
Algo de normal
Nos salve.
Que alivie as dores,
Rancores e ódios.
Odes.
Faltam todos
Os amantes
E os poetas
E os meliantes
Às políticas degradantes.
Antes que acabe
Que se ame
Mais um bocado.
Ame-se
Mais.
A todos.
A todos nós!

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Pausa

Pausa.
Estar longe de tudo
E os pensamentos
Serem os próximos.
Há proximidade de ti.
A longitude de ti
E latitude de nós.

Pausa.
Pé de dança.
Café que alcança
O nervo que mexe
A imaginação.
(Ou vice-versa)
Temperança.

Pausa.
Nervo.
Conservo a
Aventura de correr
Mundo em mim.
Encontro-nos
Em "bilboards".

Pausa.
Alarme da viagem.
Despertam-se
Os sentidos.
Dois.
Ida e volta.
Pausa.

Pausa
A causa deste
Chorrilho
[Vendaval]
De viagens cruzadas.
Velocidades
Extremas.
Paradas.

Pausa. Passa.
Causa. Caça.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Ser Mar e Infinito

Há tantos de mim
Que nem sei por vezes
Se me perco de um
Todo desarranjado.
Levo como arrastão
Rede de levar
Peixes de mim.
Lanço-me ao mar
E a viagem faz
O que sou.
Sem uma definição
Sem uma razão de ser já.
Vou sendo tantos
E com gosto
E prazer
E curiosodade.
Aceito um quadrado
Por agora
Mas entretanto
Sou desalinhado
Nas pontas.
Saio a descobrir
Tudo o que já sei
E vejo com novos
Olhos.
As pessoas mudam
As pessoa novas chegam
As velhas ficaram velhas
Mas há delas que são
Sempre como eu
Novas.
(Estas às vezes
Também irreconhecíveis...
Mas sinto-lhes a pele
Nos olhos
E sei que são tão
Iguais
Como diferentes
De mim.
E logo me alegro
E me sinto menos
Só.
Menos só
De um dos de mim.
Gosto de ser
Vários de todos
Porque o meu mundo
Não acaba noutro.
Há universos pelo
Meio
Como mar que se precipita
Em queda da água
E se faz chuva
Noutro mundo
Que se faz mar
Que desaba noutra
Queda.
Um infinito de vida.
Assim serei
Eu como fui
E foram as gerações.
Se morri
Estou aqui vivo
Para ser o arrastão
E o peixe
E a vida
Das vidas
Que ainda não conheci.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Soma

Estou onde tenho de estar.
Menos famoso
Ou mais íntimo.
Mais meu
E tanto dos meus.
Não tanto assim
Como eu desejaria.
Tomam-me o que não lhes
Desgaste.
E está bem assim.
Sem pena
Nem perdão
De algo a desculpar.
Ser remediado de mim
É melhor
Do que ser um pobre
Rico de tanta coisa vazia.
Nem pobretanas
Da ignorância.
Ser cheio de quase tudo
É a minha mais
Feliz forma de quase ser
Tudo.
Mas hoje chorei
Como a criança que em
Mim sentia essas coisas.
Era a criança ao meu lado
Que ali estava
Como eu.
E do outro lado
A serenidade
Da estupefacção.
Que o gelo derrete
E que o pouco que sai
Não sai tão pouco
Quando multiplicado
De todos.
Derreti-me de tantos
E tantas perdas.
De tantas noites passadas
Com dias perdidos.
Eram a morte
Enquanto sobrevivia.
Odeio os que como eu
São nessa altura.
Odeio resignadamente
Esse de mim.
Esse paternal perdido
De mim.
Essa maternal despojada
De mim.
Sou demasiado pequeno
Num só.
Somado
Pareço ser mais de mim.
Mesmo quando choro
Aos bocados.
Mas hoje chorei
Por inteiro
Com o amor por perto
E eu pequeno
Por distância.
Mas eu em tudo fui
Um pouco maior
Do que a soma das partes.
E sou onde quero
Estar agora.
Neste ínfimo segundo
De todos os segundos
Que sou para todos
Os mundos.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

As crianças com mãos de revólver

Não me abstenho
Da diferença.
Abstenho-me do ridículo
Dos factos
Acertados para encaixarem
No argumento
Do prolífero
Entretenimento
Daqueles que não querem
A nossa fala.
Dirão que é a razão
E não a falha.
Tentarão falar por
Nós.
A gralha!
Mais palha
E uma acendalha.
Inferno
De argumentos
E horrores nos aposentos
Dessa gentalha.
Não os calaremos
Porque o seu ruído
Os ensurdecerá.
É ralé de pouco
Se ralar com o bem
E o mal dos outros.
Aceitam o horror
Por ser dito de verdade.
Saber com o que contar
E contar as mortes.
As crianças com mãos
De revólver
E a saúde de ter
Segurança em casa.
Morreram em casa.
Mas nada se põe em causa.
Gente louca
Mas não falsa.
São o horror
E nem se disfarça.
Bem-vindos ao dia
Antes do dia dos mortos.
Preparem-se para morrer
Com barulho
E a boca amarrada.
Gritos engolidos
Para a canalha desta terra.
Canalhas!

domingo, 28 de outubro de 2018

A Terra do Mar que Abraçamos

Onde te deixei
Perder de vista
Quando apenas um mar
Nos separava?
Um olhar que ficou
Longe
E um abraço
Que teve de ser resgatado
Ao passado recente.
Repete-se a história
E caem lágrimas
Iguais às
Dos nossos
Pais
Dos nossos avós
E da terrível empatia
Que sentimos pelo
Mal feito entre nós.
Ficou um olhar perdido
De um abraço
Que tinha mar
E a nossa terra por debaixo
Dela.
Somos dessa mesma
Terra
E dos homens que se
Assustaram com a profundidade.
Choramos
Mares.
Choramos passados
Mas prendemos
A respiração
- como num abraço -
Para nos vermos
Livres no futuro.

Para nos vermos.

Para não termos
Perdido lágrimas
Por desuso.
Perdemos as diferenças
Num olhar
E o tempo passou
E a história
Que os usou.
E a descrença.
E o desespero.
E parece que nada mudou.
Só a empatia
De quem não esqueceu.
Um abraço
De cá para lá
Com a profundidade
Do mar à nossa terra.
À que nos faz os mesmos
Mas diferentes.
Resistentes.
Sempre!

Velocidade dos Astros

A velocidade dos astros
Que nos regem.
A lentidão com que
Embato nos outros.
Depende. Depende
Do contexto,
Do bem...
Do mal-entendido
Perdido nos olhares
Que se esperam
Iguais.
Com a fragilidade deles.
Com a dança
Das pernas que reaprendem
A caminhar.
Os que tiram proveito
Das nossa inequidades.
Que abusam de nós.
E nós pelo bem
Perdemos.
E se ganhamos
É na velocidade que
Nos fugiu para longe.
O retorno espera para
Outro embate.
Embate de alma
Ou desistência
De sermos iguais.
E no entanto
Agradecidos pela
Diferença que nos faz
Iguais.

sábado, 27 de outubro de 2018

Narciso no lago

Narciso caiu no lago do seu reflexo
Afundou-se em si de tanto
Admirar o seu traço.
Traçou o destino
E uma vida de beleza
Fútil e sem nexo.
Convenço-me que um espelho
É acessório,
A fotografia uma memória
E o ego
Nada de se deitar fora.
Apenas de se esbater
Pelo tempo.
Convenço-me.
Tento.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Zero Tudo

Estou tão perto
E tu tão longe.
Um sonho
Que nos separa
As vezes todas
A que nos desejaríamos.
Quebra-se um beijo
Metade na testa
E a outra
Nas vezes que se perdeu
Nos olhos desligados.
Liga.
Desliga.
Não estou.
Estou.
Pela calada faço
Todo o barulho
Que desarrume os lençóis.
Sabes que mais
Vou acordar-te
Vou saltar fora deste sonho.
Quero-te!
Em silêncio
Zero Tudo.
Quero-te gritando
Mudo.
Gritando-te um mundo
De mim
E desnudo-te.
Só assim...
Para cairmos
No mesmo sonho.
Juntos.
No mesmo segundo.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

O Gosto pela Inquietude

A inquietude a que me deixo
Devotar
Mais não é
Do que espremer
O fruto do sabor que lhe
Conheço.
Onde fica a surpresa
Do primeiro trago?
Onde fica o sumo
Que percorre
O corpo e remexe
Os sentidos?
Inquietar-me com o que
Já não faz surpresa
É pedir ao mundo
Para não me decrepitar.
É voluntariamente
Fazer-me parecer
Arrogante.
Distante disso.
É ser infante
E tomar o gosto
Primeiro sempre.
Inquietude mais do que
Um prazer
É um gosto.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Sem Rascunho

Deixo-te em rascunho.
Dificilmente arranjo
As palavras certas.
As melhores.
As que escondem
As piores
Do que também podemos
Ser.
Somos elementos
Agitados no meio
Do "sempre"
Acabando por ficarmos
No "nunca"
E nos "entretantos".
Agradecemos aquilo
Com que estamos.
Estou com rascunhos
E alguns destes poemas.

Rimar alfazema
Para lavar os pecados
E para levar
A bom-porto
Os barcos atracados
Da nossa perda.
Da nossa perdição.
Águas profundas
Da nossa
Condição.
Mas só eu desci
À légua.
Desenrolei a língua
E a espera.
E escrevi-nos
Rascunhos
Deitados na corrente.
Alguns chegaram
A ti e outros
Serão nossos
Como o nosso para
Sempre.
Vai numa centena.
Sempre sem tema
E sem ti.
Pena de morte
E dobrado o cabo
Rebentamos com o saldo
Negativo
Do desencontro.
Torrente contínua
E forte.
Para além do globo,
Da possibilidade de nós
E da nossa sorte.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Convicções da Terra a Céu Aberto

Apaga-se uma pálpebra.
A outra escorrega
Com um cansaço
De velho.
Estrias que se alongam
Ao teto
- um céu aberto -
Que ecoa o silêncio
Da penumbra Sempre.
Fere a gengiva
Que sente rasgar
O solo
O manto
E o caroço
Duma terra que é peito
E na outra metade
É querer.
É não saber
Para mudar
E mudar
Sem saber se não estava
Melhor quieto.
E o céu
Atento
Não quer saber de mim.
E eu dele
Que lhe adormeço aos
Pés mais perto
Do osso
E disso
Que me fere
O jeito
Como o peito se
Oferece ao Nada.
Escrevi embriagado
De "ontens"
Sucedendo
À atenção dos "amanhãs".
Dói-me quase nada
Mas mais
A velhice que vai chegando
Nesta miudeza de mim.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Tanto de Mim

É mais do que
A carne
E eu sou tão
Físico.
É mais do que futuro
E eu sou tão
Do agora.
É mais do que a
Viagem
E eu sou tanto destas
Ao profundo de mim.
É mais do que a emoção
E eu que me tornei
Resiliente.
É a simplicidade de tudo
O que fazes.
De tudo o que és
E do que ainda
Não somos.
É essa pessoa que tu és
Que me deixa ser
Quem eu sou.
Mais de mim do que
De nós.
E nunca alguém me teve
Tanto
Porque eu nunca fui
Esse tanto de mim.

domingo, 14 de outubro de 2018

Núvens de Algodão

Mas as palavras que se propagam deixam sempre um vazio
no papel branco,
que guloso,
pede tanto quanto tu,
de mel,
de pele e da alma que se perde por tanto que impele.
Chama-me se no leite que te deita no leito falta o mel,
o poema,
o homem que a mulher deseja.
Fecha a porta atrás de mim.
Deixa que a corrente seja a sanguínea que rectilínea se desfere ao coração. Fecha a porta atrás de nós.
Deixa a voz lá atrás.
Ou no mel.
Ou no leito.
Mas grita no peito a viva voz.
Coração!

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Entardece

Às vezes basta uma rua
Inclinada.
Um algo que fuja à
Normalidade.
Um pensamento que te deixe
Nua
Um poema que incite à
Proximidade.
Mulher que te passeias nessa
Calçada
Que trazes nesse peito uma beleza
Abraçada
Uma brisa que deslize por ele
Convidada,
Porque te dás ao condão da minha
Imaginação?
Porque és sem seres
O passeio que faço nos versos
Duma canção?
Nem sequer sei
Cantar
Nem sequer tenho voz desse
Artesão.
Mas a beleza é mais do que se

É a arte de passar sem
Passar
De provocar a
Invenção
De ser corpo que se
Apaga
E surge no tempo de um
Poeta.
(Pelo menos este assim crê).
E quando o poeta
Desaparece
Ficaste a ser beleza
Eterna
Dum poema que nunca
Desvanece.
É chama que se

É vida para além da morte que
Acontece.
É invenção.
É imaginação
É de ti esta canção.

É por ti
Que a beleza
Entardece.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Morte ao Ódio!

Dos que te são próximos.
Dos que se afastam
De tão próximos.
Dos que longe
Se querem aproximar.
Dos que tão distantes
Do teu Ser
Se aproximam de te
Serem.

Essa desigualdade
Que nos comunga.
Esse igualdade
Que nos desnuda
E o amor que salta
E desbarata
Por entre estes todos
Que nós Somos.
Temos de Ser juntos.
Aproximar-nos
A partir das diferenças
Até às nossas mais
Ínfimas similitudes.
Mas romper com o mal
Que está a tomar conta
Da nossa avarenta sabedoria.
Está a fazer-nos ignorantes
Do coração.
Sem compaixão
Nem empatia.
A matar-nos como
Seres.
A ironia perante
O absurdo da nossa
Elevada existência.
Somos uma praga de nós
Sem dó de nós mesmos.
Uns pelos outros.
O amor a fugir por
Entre os dedos.
O ódio a fazer-se
Companheiro,
Filho
E amigo do alheio.
Se é para matar
Que se atente
Sobre esse demónio.
Morte ao ódio!
Morte ao ódio!

Morte ao ódio!

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

As Mulheres que sou para Ti

Em quantas mulheres
Posso eu me multiplicar
Para ser o homem certo?
Em todas elas
Eu tinha a consciência
De quem queria ser.
Do que cada uma
- diferente da outra -
Poderia ser.
A (in)compreensão
E infinitude de cada um
Desses universos
E eu neles
Para melhor servir.

[ o segredo reside em melhor
conhecê-las a todas,
em mim
para te espelhares
cosmicamente ]

Sou um lavador
De pés do próximo,
Daquela que existe
Em mim,
E que serve o universo
De quantos lhe
Peçam.
Sou amante
Da solidão da noite
Onde resplandeces
Pelo dia
E da água em que,
Brilhando de ti,
Me revejo.

Estão lá todas.
E a luz que habilitas
Para me fazeres
Encontrar.

Refeição

Não há dor.
Não há murmúrio.
Só um barulho
Que posso ou não desligar.
O orgulho de tomar
Uma refeição nas nossas
Palavras.
E o mundo parece
Desabar
E na outra ponta
Aqueles como tu e eu
Semeiam bondade.
Deixei de querer saber
Tudo.
Apenas vivo as pessoas
E eu nelas.
O que sou em cada uma
Atempadamente.
Um devir
E significados simples.
Sem respostas fechadas.
Abertas vão as nossas
Conversas
Para que nunca acabem.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Acabrunhado Sorriso

Acabrunhado
Por vezes sorrio.
É nesse meu sem
Jeito.
Nesse meu parapeito
Onde descanso os olhos
Nos braços
E no descanso de ti
E dos teus olhos
Sorrindo-me.

Amor de gaiato
E de senhor.

Um alfaiate
De costuras requintadas
No desenho de ti.
Lembro-me sempre
Do último sorriso
E como pregá-lo.
Melhor que padre
Melhor do que marceneiro
Melhor do que fadista
Ou taberneiro.

Falo em tom de tasca
E de quem pesca
Umas rimas
Na mesa.
Garoto sem modos
E sem modas.

Puro.
Genuíno.
E puto.
Astuto apenas
Para brincar.
Com os olhares
E a falta de jeito
Do saber estar.

Vi um louco
Em cima do banco.
Saltimbanco da caneca
E o meu passado.
Vi um pouco do que não
Quero para lá voltar.

Mas é esse miúdo
Que em mim
Vive
Quando te escuto
E me fazes gargalhar.
Os dois e só tu
Para te saberes enquadrar.
Nem que seja
Por rires sem pensar.
Fazeres-te de desentendida
E um enamorado
Como eu nunca
Se olvidar.

No meio destes
Meus dois
Nós os dois
E dias de invenção.
Dias de brincar ao amor
E dias de o fazer crescer.
Mesmo antes
Da bota bater
E fazermos continência
À incontinência
E à terceira idade.

Que seja já assim
Tão tarde
Como as vezes
Que reencontras em mim
Um desejo que sempre
Arde.

Amar-te de criança
A velho
E pelo meio ver no que dá
Se riso, se gargalhada,
Se preciso,
Se amada,
Semeada
Sem nada
Ou com tudo
Para tentar.
Amanhã
E depois de amanhã.
Talvez vá.
Vamos?
Vá lá?!

És um Homem ou és um Gato?

Um não poema
De versos intercalados
E sentidos despertos.

Interpõe-se o teu olhar
E o argumento do tanto
Que há para fazer.

Tento não ligar ao estratagema
Do gato escaldado
Ou dos factos concretos.

Interpõe-se o teu vagar
E nem o meu espanto
É suficiente para te convencer.

Arrependimento é de vidas
De gato e das vezes
A que se pode dar a esse aparato.

Gato é felino e felino
É a parte que um ser
Se dá ao disparate
De ignorar tal facto.

És um Homem ou és um Gato?

domingo, 7 de outubro de 2018

Verdade ou Consequência

Não e Sim.
Os dilemas da certeza
E a inquietude
De estar do lado errado.
Queimem-se
As bruxas em praça pública.
Invente-se bruxas
Enquanto um homem
Viola ou faz amor.
É consentimento.
Não, é com sentimento.
Mesmo que sim
Mesmo que não.
Dá errado acertar
E só se sabe o resultado
Depois de dar
A opinião.
De forçar a mão.
Um contra um
E ganha a força
Ou a insinuação.
Defesa do ladrão
E a caravana passa
E ladrão o cão ou a cadela.
Mas já se julgou
Quem não tem
O condão
Da deliberação.
Culpa ou Inocência
Será de quem merecer
Sofrê-la
Ou rendição de uma culpa
De quem nem sequer
Querer vê-la.
O silêncio e a verdade
Ficam nas mãos
De quem não tem nada a
Ganhar
E quem tem a perder
Que se defenda
Ou acuse
E deixe o tribunal
Reconhecê-la.

sábado, 6 de outubro de 2018

Morrer Descansado

Sucumbo ao bem.
À harmonia de além-Terra
E pré-Universo.
Por vezes acredito
Nisso tudo
Como substituto de Deus.
Por vezes
Deixo também de acreditar
Nos céus.
E menos nas coincidências.
Nas aparências
E ser apenas meu.
Com todo o erro que daí
Advém.
Tão somente eu
Sem sorte ou acaso.
Nascer da multiplicação
Crescer sem perder
Fazendo pelo melhor.
Acreditar na morte como
Fim
E pelo meio
Não estragar muito.
Sermos todos erro
E a coisa dar de si.
Cortar o ciclo
Do supra entendimento
De que tudo tem uma
Razão de ser.
Não tem!
Somos um erro
Que tenta dar o melhor.
Até acabar.
Pelo meio
Inventamos amor,
Explicação
Fundamento
Para percebermos.
E não percebermos
E evitarmos
Coincidências
Cósmicas
E porque éramos
Para ser?
Suspeito
Que não sou
Antes de ser.
Assim morro menos
Vezes
E sei que quando
Acontecer
É a sério.
E fico descansado.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Quantos somos?

Quantas horas há num
Dia se sou tantos?
Se desses bastantes
Apenas chegam as
Partes de um todo?
Nunca me acomodo
Senão pelo fim do dia
Onde levo todos
Os
Outros meus a deitar.
E o corpo esfalece.
Carece de energia
Que compete a um corpo.
Mas sou mais do que
Esse corpo amorfo
Que adormece
Enquanto todos
Os outros acontecem.

Agarrei num telefone
E chamei até ao silêncio.
Busquei nele
Um barulho
Diferente
Diferente dos outros.
O mesmo silêncio
Deste todo.

Como?

Como se quer
Que um todo não seja
A soma das partes?
Mesmo que algumas se anulem
Por se tratarem
Dos mesmo polos.
Das mesmas energias.
Das mesmas heresias.
E santificadas companhias.
Um anjo,
Um santo,
Um lutador
E um pecador.
E tantos que ainda não sei.
Faça-se o gosto
Aos outros
E eu morto em pé.
Candomblé
De escravos de mim.
De pretos de mim.
De orixás.
De África e já agora
De cá.
Cá me guardo ao desejo
De unidade
Como a sede de nos reencontrarmos.
Lanço uma magia
E sou nada.
Apareço
E convenço-me
Que mudo. Mas nada.
Tudo na mesma
De tanta gente
Em mim separada.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Está bem!

"Está bem!"
Acenamos com a cabeça
Concordando
E deixando o apelo
Dos olhos
Ao resguardo dos desatentos.
As pessoas falam na rua
E o ruído é apenas
Uma frequência
Na qual te perdes.
Despertador que toca entre sonos.
Sinos que já não ouves
E o último sono
Ficou por provar.
O último corpo
Por culpar.
A pele envelhece
E a espera não é mais
Do que a consciência
Da morte.
As coisas que se fazem.
As agendas.
Os propósitos e os argumentos.
A ficção que se faz realidade
Dos outros.
As insónias dos outros.
"Insônias" é sotaque de quem
Está acordado quando
Ainda dormimos.
Está bem. Está sempre tudo
Bem!
Aceitar é o mesmo que não.
Espernear ou estancar dá
Para o mesmo.
Gritamos ao dia
De boca molhada.
Cuspimos os olhos
Ao céu inadvertidamente
E acordamos Deus.
Deus às vezes dorme
Se alguém acredita nesse céu.
Se não se acreditar
Também dá.
É uma picardia
Tão usual entre humanos
Que se vêem.
Mas do céu vem água.
A única coisa puramente
Física de quem não dorme
E que se vê.

[Toca o despertador de novo]

Nos sonhos o céu não
Existe e Ele não estava.
"Está bem!"

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Mais do que Nada

É volúpia
É vontade
É a noite em dia
E o dia
Encarnando
Sangue que corre
Para onde não estás.
É a procura de ti
Porque quero estar perdido.
Continuar sem saber
Onde estás
Mesmo que sejas tu.
A aventura de nunca
Sermos
Até nos perdermos
Um no outro.
E a vida ter sido
Reencontros.
E nós mais do que carne.
Mais do que nada.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Manto Branco

Branco.
Vejo tudo branco
E da cor
Que faço ser
Como da vida
De um saltimbanco.
Estanco por enquanto
Porque toda a corrente
Disparou para um flanco.
O externo encheu-se
Em demasia
Do que o desejo
De menino queria.
Foi assim um dia
E agora sou tanto de
Encarnado
Como de transparente.
De repente
Morri e vivo
No sonho de mim mesmo.
Amo-te tanto
E o peito tem um externo
Materno
E outro de um bando
De passados
Com futuros por encontrar.
Pode tudo mudar.
Mas ficar velho é opção...
Só se a Deus
Achar que não.
Mas até isso mudou.
Externo ateu
E crisma em branco
Ajoelhei num banco
E Ele deixou-me ir.
E fui.
E encontrei anjos
E a ti.
Eu reflectido em ti.

Estou vivo
Enrolado num manto.
Sagrada ou não
Foi o que céu
Me mandou de ti
Encomendada.
E eu o que sei
É que não sei nada
Desde que o peito morreu.

domingo, 30 de setembro de 2018

Uma Janela de Todas as Cores

Ficou uma janela
Aberta sobre
A memória.
Lá onde passam
As correntes
De ar
Que levam e trazem
Os sonhos.
Os que sonhei
Antes
E os locais por onde
Acabas por parar.
Eu sonhei
Isso tudo com as mesmas
Cores que trazes por essa
Janela.
E só é suportável
Porque tenho
O dom de sonhar.
De sair fora e chegar
Ao mundo
E a qualquer parte de ti
Sem me perder
De mim.
De me perder do meu
Mundo
E do meu amor por ti.
Sou a viagem por entre
A janela
Como o ar que não se vê.
Não me importa
Se não me vês.
Sonha-me quando não estou
Porque estou
A descobrir as cores
Todas
Para as teres.
Um dia.
Uma janela
De correntes
Desacorrentadas
De nunca.

sábado, 29 de setembro de 2018

Hoje!

Hoje não é o dia!
Nem todos aqueles
Em que há contrariedades.
Nem que seja
Um erro de perspectiva.
Ou até o ego
Ou a puta que pariu
Esta merda toda.
A vida é injusta
E essa santa aceitação
É história para a paz
Quando temos dias
Melhores.
Assim é fácil
E hoje não é o dia!
A compreensão para com
O próximo
Ou a sensatez
É coisa de acomodado
Ao pouco.
Aos preguiçosos
Da aventura.
Aos que arriscaram
Apenas a sair de casa
Para trabalhar
E voltar com um salário mísero
E vão até onde dá.
Viajam até ali.
Preenchem os dias
Com banalidades.
Mas hoje não é o dia!
Aqueles que desconfiam
De tudo e de todos
E que me fazem quase
Cair na mesma armadilha.
Só quem caiu e saiu
E caiu
E saiu à exaustão
Teve mão e pulso
Para esgravatar as entranhas
Do impossível.
E onde andam os diferentes
Iguais desta luta?
São poucos
E assusta.
Temos de andar aqui
A navegar neste mar
De tranquilidade
E um copo cheio
De tempestades.
Mas hoje não é o dia!
Esse dia do desprazer,
Do argumento para inglês ver,
Da falta de nervo,
Dos amansados no sofá.
Hoje é o dia
Para ir cometer o erro.
De voltar ao miúdo espontâneo.
À genuidade de tragar
O mundo numa só dentada.
De amar o corpo
A cara
E a alma toda.
Do desconhecido.
Da noite que vai para
O dia.
Da perda
E da conquista.
Da música alta e um pé de dança.
De fazer da doença
Uma risada
E morrer de seguida.
Porque a vida não é
Um emaranhado de coincidências.
É uma passagem
Onde nasces,
Vives o máximo
E desapareces.
Desapareces entendes!
Por isso
Hoje não é o dia
Para morrer
Nem ir morrendo.
Amanhã talvez,
Mas só sabes disso
Depois de fazer
A merda toda hoje.
Hoje é o dia!

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Ver é ter-te!

Olhar-te é ter a certeza.
É ter a consciência
Que esta leveza
Vem de mim.
Pois aprendi a ver
Por mim quando
Não enxergava.
Não sabia ver a beleza.
Quando passei a ver
Vi tanto do mundo
Quanto se pode aprender
Das cores.
Depois olhei-te
E percebi mais do que
De beleza.
Tive a certeza que contigo
Aprendi
Como não deixar de ver.
Sei que se cegar
Terei visto
Tudo para sempre!

Palavras a Mais

Como eu gosto
De me perder
Nas palavras banais
Dos outros.
Aposto que não ouço
Mais do que
A beleza em que te
Reencontro.
Aposto que hoje
Te encontro nos meus
Silêncios propalados.
Aposto que não sei
Melhor do que
As histórias
Dos grandes poetas.
Mas o que interessa
A minha experiência
Ser mais pequena
Do que a sua
E as minhas palavras
Menores
Se para ti
Estes meus silêncios
Te chegam?

[Queria fazer quadras mas tenho palavras a mais. Estes são os silêncios que se expandem por demais. Lamento mas não me lamento.]

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Trago-te no Olhar

Bebo o meu café
Com duas mãos.
Seguro de um lado
A pega
No outro afago com
Dois dedos
Como que resguardando
O calor entre mãos.
Tu mordes o lábio inferior.
[É como olhas.]
Mesmo que não estejas,
Perdura assim
Pelo tempo
Até este calor que busco
Quando aqui não estás.
Não me esqueço de ti
Pois trago-te comigo
Como saboreio
O café.
Quente e com sabor
Mesmo sem estares presente.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Espelho Espelhado de Mim

Vagarosamente
Os dias precipitam-se
Em direcção a ti.
Olhas-te ao espelho
Com as mãos segurando
O que é real,
Mantendo-te vertical,
Direito,
E as rugas a cavarem-se
De erosão
Como pediste.
As de expressão.
As de desilusão.
As do coração.
Em todas elas agora
Sabes que as pediste.
A luz fluorescente
Adensa mais a felicidade
Do que és e não foste
E o que querias ser.
Tudo atrás de ti
É plateia que não se vê.
Como nos sonhos
Em que sais à rua nu
E onde ninguém se importa
Senão tu
Que não tens pejo
De te expores
Em qualquer situação.
Mas tens um armário
De higiene
Onde guardas todo o material
De te limpares,
De te tratares
E de te redimires.
Penso rápido.
E logo se passaram 20
Anos.
Perdi menos do que ganhei.
Caminho a passos largos
Para o fim
E ainda não vou a meio
Da caminhada.
Aqui onde faço rugas
Porque ali onde sou
Espelhos
Espelhados sou infinito
Para desaparecer
Na infinitude de mim.
Nas rugas que se estendem
Numa luz tão
Dissidente de mim
E da escuridão que me envolve.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

A Túlipa do Sol

É só de mim
Ou o sol brilha
Cada vez que
Outra pessoa
Para ela também
Mira?
A beleza que se evidência
Num olhar
Atento,
Mas equidistante
Dos dois tempos?

Há beleza em
Quem tem palavras
Para descrever
Em verso
O que traz de berço.
A poesia é feita
Para jardineiro
Que afaga a túlipa
E que por si
Tem sol aceso.

Mas há beleza
Em quem
Perfuma de pétala
O brilho do sol
Aos que,
Poetas se achando,
Colhem o aroma
Como quem traga
E engole
O manjar de quem
Se vê no mesmo tempo.

domingo, 23 de setembro de 2018

Um gosto em desconhecer-me

Inconformismo.
Terapia da palavra
Como obscuro
Exercício
De me conhecer
A mim mesmo.
Os outros em mim.
O corpo,
Torpe,
Sabe mais do que isto.
Exalta-se de querer
Tudo.
Fome de tudo
E de engolir ainda mais.
Refreia-se.
A mente
E o bem seguram-no
E eu só já não
Quero ser o mesmo
De ontem.
Do que já tinha conhecido
De mim próprio.
Lanço impropérios
E divago na minha
Humanidade.
No destemor
De ser fraco.
No passado
Ao qual já não volto.
E lanço-me para lá
De mim
Sabendo que de lá
Voltarei
Alguém que queria ser.
Da minha qualidade
Em desconhecer
Os que sou.
Todos eles
E a aventura de viajar
Nessa minha incógnita.
Um gosto em desconhecer-me.

Cores quentes e verdejantes

Cai a tarde no rosto
E no esquecimento
Do cansaço.
O sol avista-se ao longe
Pintando copas
E soprando em
Brisas
Os beijos que me deixas.
Sinto-me fim de verão
Na paz de ti.
Sem invernos de descontentamento
Nem sol que se esconda.
Porque é em cada
Fim
O início dos tempos.
E um só dá lugar
Ao outro.
Como tu,
Que me deixas em mim,
Poeta
Dos teus inícios.
E ainda temos
Esse grandioso verão
Para os nossos serões.
Cais-me bem
Em tarde
E no amor
Que me descança.
Nas cores quentes
E verdejantes
Em que nos reencontramos.

sábado, 22 de setembro de 2018

A beleza dos fortes

A beleza que esta terra
Filma.
As histórias que se apagam
Da memória
De "um dia".
Fala-se em sedução
Enquanto os ponteiros
Avançam.
A urgência que pede
Pele.
As mulheres que ainda
Não sabem da sua maternidade.
A maturidade a escapar
Como areia entre dedos
Para se voltar
A verões passados.
O amor à flor
Da pele.
A paixão que se vem
E desaparece
No chuveiro.
Lava-se a humanidade
E a animalidade.
O desejo de replicar
Perdido na sobrevivência
Do ego.
O desespero.
O exagero.
A depressão.
Há cada vez mais beleza
À vista
E cada vez menos para ficar.
Todos a correrem
Atrás de todos
E a terra é ainda uma selva.
Não é o mais belo
Que sobrevive.
É a mais forte.
E todos se vêem
Em documentário
Replicados uns nos
Outros.
Menos dos fortes.
Dos desenganados.
Dos realizadores.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Fazer Amor de Sonhos

Não te encontrei
Quando os olhos
Tombaram sobre
O dia.
Não quis que ele
Começasse como
Poesia.
Deixei de te fazer
Musa e celestial
-Quando me pareces
Mais do que real
E tão vívida-.

Sei rimar
De noite.
Quando a carne,
Voluptuosa, busca
Conforto na escuridão
Que se aloja atrás
Da luz que descansas.
Guardo-me.
E da distância
A que me alcanças.
Quero ser mais do
Que escrivão de ti.
Ser real
Que agarra na caneta
Ou no teclado
E te canta de respiração.
Sem esforço
Nem presunção.
Só serenidade
De te ser parceiro.

Armei o corpo
Que se espreguiça
Para além de mim,
Na ideia de ti.
Na ausência
Que presenteias
As horas
Que ocupas os dias
E as noites em mim.

Acordei de ti
Porque a pele ainda respirava
A tua pele.
O sabor
Era de doçura
De açúcar tomado
Na pequena
Mas enorme
Presença tua.
As papilas são gustativas
Porque passaram
A degustar
Sabores
Como o amor pela
Primeira vez.

Despertei de mim
Num dia
Que não se queria
Mais poesia
Do que de ti.

A poesia que limpa

Escolho a poesia
Para me ocupar
A terrível passagem
Do tempo.
O intervalo entre nadas
A que estamos destinados.
Viver
Como se de um propósito
Isso se fizesse parecer
Para crermos.
A poesia
É o que alguns
Têm como fé.
É para onde eu vou
Depois de morrer...
Quer me porte bem
Ou não.
Já vou para o "nada"
E de lá vim.
Se calhar vim
Da poesia
E para lá volto.
Ou vou por uma nova
Que inventei
Para mim
Na sublimação
Desta sujidade
A que nos sujeitamos.
Como uma criança
Que brinca e se suja.
Brincamos
E sujamo-nos.
Inventa-se algo digno
Como a poesia
Para se desaperecer
Com dignidade.
Um asseio
Que depois não vemos.
Uma higiene
Para os outros.
Ficarmos
Com a folha limpa.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Viagem no Tempo

O tempo que foge do tempo
por não ter idade de compreender
e por saber que se escoa.
E tudo o que o acompanha
pelo meio.
E eu como ele
sou engano de mim próprio
E o próprio caminho
De descoberta.

E pelo meio os outros
- tudo e todos que nos acompanham -
Que nos fazem distanciar
Do tempo
Ou de a ele voltar.

Tal como o tempo
sou eu também percepção
de mim
e da equidistância dos outros.
da felicidade
e da ruptura,
da rotina
e da aventura.

Será que o tempo
Tem a noção da sua
Infinitude
E da criança em nós?

sábado, 8 de setembro de 2018

Sem freio

Sei que é
Não ter-me no todo.
Sei que não é
Querer-me todo.
Sei que não
Me conheço
Tão pouco.
No todo.
E cai-te uma lágrima
E o meu mundo
Cava uma tempestade.
O teu queixo
Que treme
Porque arde.
Porque há-de
O teu mundo
Todo doer assim?
De perder ou
Não ter de mim?
É tão pouco
Acredita em mim.
É a parte do meu mundo
Que corre sem freio.
Sem medo do fim.
Não é ter medo
Nem receio.
É ir.
Ir com tudo
O que se tem
Nesse pequenino
Mundo dum
Universo sem fim.
Sem medo.
Sem receio.
Indo!
Acredita em mim.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Um só peito

Somos gente
Que se cruza
Com ânimo
Que se vai perdendo.
Os sorrisos
Que vão escondendo
Não sermos
Para sempre.
De sermos diferentes
E bons e maus.
De sermos expoentes
Máximos
Da experiência da
Nossa humanidade.
Se perdemos
Ou se ganhámos
Do que perdemos
Ou só ganhámos
Agora aprendemos
Coisas novas.
Cruzamo-nos
Com pessoas.
Silêncios.
Poemas
E esperanças.
Sorrimos
Do que nos lembramos
Sorrir.
Sorriem-nos
E nós levamos
O que podemos.
Se pudermos.
Se quisermos.
Deitamo-nos de mãos
No peito.
Guardando
Um coração
E a vida que ainda queremos.
Cruzamo-nos.

Apneia

Só me apetece
Adormecer de mim.
Tentar calar os
Musculados detratores
Que tenho nos outros "eus".
Os ateus das religiões
Que fui criando para mim.
Os descrentes
Que deixaram de amar
Como eu
E que me tentam
Ruidosamente acordar.
Este sonho é meu
Mesmo que dormindo
Aos cochichos.
Se tiver de amar assim
Contra mim
E contra os meus "eus".
Sou um nicho de mim
Mesmo ficando a sós.
E todos nós
Lançaremos fogo
De artifício
Dos nossos sonhos
Frustrados.
Uma festa de final
De sonho.
E no final era só sonho.
Era só ser dono
De sonhos de mim.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Desavergonhada Poesia

Por hoje
Desenvergonho-me
Da poesia que corre
Em mim.
Que se esconde
Nas pessoas
E nas pessoas
Que me são estranhas.

- No que não conheço -

Mesmo naquelas
A quem fui dado
A conhecer.
Na heresia de ser
Tão imperfeitamente
Eu.

No desastre
E na glória das minhas
Perdas.
Faltam-me metáforas
Que tão bem outros
Desenlaçam.
Foi a vontade de ser puramente
Original
Que me arruinou
O projecto.
Ou então o subterfúgio
Da ignorância
Casada com a preguiça
Dos nossos tempos.
Sou demasiado impressionável
Às coisas
Mais pequenas.

Vivo fora dos livros
Mas preciso das palavras
Para fazerem sentido.
Mesmo não percebendo.

Onde ficou tanta
Vergonha por crescer?

A poesia escondeu
Isso de mim.
E foi o melhor que fez.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Salga em mim

É salgada a tua pele.
É mais do que
De mar
E salga dela.
É mais do que terra
E de areia nela.
Ela é das mãos
Que puseste
Na labuta.
É da pele 
Que sua
O que dás de
Coração.
Se hoje chove
Chove o sal
Que a tua pele
Transpirou.
É a terra que
Volta ao céu.
É a beleza
Do teu tom de pele
Que arde
Dos dias quentes
Que desaparecem.
Que se guardam
Nas rugas
Que expressaram
O que a vontade
Impele.
Pelares
É mudares de estação.
É apeadeiro
De mim
Esperando por ti.
Em cada dia
De ti.
Em cada
Mão de amor
E trabalho
E luta
E conquista
E perda
Da pele que salga
Em mim.

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Caos!

O mundo está louco
E eu sou um dos seus
Piores.
Nada contribuo
Para o melhorar
E sinto-o
A desmoronar-se.
O mundo está ôco
Por dentro
E cheio de vento
Por fora.
Soprámos tanto
Com todos os nossos
Abusos
Enquanto isso
Somamos eufemismos
E sobrepomos
Filtros à exaustão
Até já não sabermos
De que cor somos.
Eu, na posse
De todas as minhas
Faculdades de louco
Puxo mais um
Pouco das pessoas.
Sou um louco
E as pessoas sentidas,
Perdidas,
Esperando melhor.
Vamos multiplicar-nos
Para depois nos dividirmos
E deixarmos as coisas
Ao infinito.
Nunca mais acaba
Esta falta de fé.
Esta crença em nós
Mas só na imagem,
No sorriso falso
Que fazemos
Enquanto encolhemos
A barriga
Ou tomamos as drogas
Para emagrecer.
Ou para pensar.
Ou para não sentirmos
Mais dor.
Estamos a acabar
Com o nosso mundo
E o planeta a
Divorciar-se de nós.
Que amor
Tenho pelos meus
Se os vou perder?
Vamos desaparecer
E não nos vamos
Encontrar além.
Além disso,
Quantos de nós
Ficaremos belos na hora
Da morte?
Do fim dos fins
Sem eternidade à vista?
Que triste vista!
Não há pista
Nem peste,
Há desmoralização
E desamor.
Há dor em filtro
De sorriso
De cônjuge traído.
Há cada vez menos
De nós
E mais de fim.
Não há paixão.
Há fins
Que se precipitam.
Há músicas lindas
Para o nosso funeral
Mas ninguém estará
Cá para orar
Ou ouvi-las.
Fim!

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

As Atenções do Amor

Atente-se!
O amor é coisa séria
Mas leve.
Leve para casa
Ou para a rua.
Exprima-o.
Ponha-o em causa.
Deixe a ladaínha
Da princesa e do princípe
Do rei à raínha.
Do reino
E de quem nada tenha.
Perca-se tudo por amor
E pelo amor
Perca tudo o que tem.
Mas mantenha-se seu ou sua.
Por vezes falta espaço
Para os dois
Ou ame a dobrar.
Isso!
Muscule o coração
E corra a dobrar,
Daqui ao céu e
À lua.
Se perder
Nunca perdeu.
Se ganhar
Nunca perdeu.
Ame em casa
Ou na rua
Mas saia,
Do conforto
Ou da expectativa sua.
Ame com tudo
Se for a única
Coisa que possua!

VAz Dias
#palavradejorge

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Lábios Savana

Os teus lábios
São silêncios
Que falam segredos.
Neles os lábios
Do mundo beijam-se
Para os saber.
Saber o sabor
O ardor com que
O olhar alcança
O coração de uma savana
A lança.
Dançam os felinos
Correndo atrás de
Gazelas indefesas.
Proezas de sobrevivência
E a ambivalência
Da beleza
Entre a caça
E ser-se capturado.
Aí está o segredo
Maior
Dos silêncios
Em segredo
Dos teus lábios.

domingo, 26 de agosto de 2018

De um varandim

De um varandim
Avisto as sombras
Que como ecos
Aqui deixaram
Cantados.
Os perdidos
Em busca de tudo
Sedentos à nascença.
Os filhos do absurdo
Com a morte lenta.
Os Para Sempre Gaiatos
No tempo de tudo
Efémero.
Mortes fulminantes
A quem sobreviverá
Por nem ter morte
Como descanso.
Nem excitação
Na meia-vida.
Ou pior...
Na meia-morte.
Por aqui passam os Efémeros
Que chegaram
Uma geração depois.
Só uma geração depois.
Uma meia-geração.
Só imaginação
E criatividade
Para plastificar
Os sentimentos.
As feridas de pais ausentes
E da troca por presentes.
E na toca ficam
Pendentes
Os anseios
E a expulsão
Dos precedentes.
Deste varandim
Me atiro
Em queda livre
Para mais meia vida
Com o sentimento
De meia morte.
É janeiro e as temperaturas
Acima da média
Fazem estrangeiros
Falar a mesma
Língua que não a daqui.
Deste varandim
O mundo é pequeno
E com tantos iguais.
Foi para isto
Que vivemos.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Das esperanças caídas

A necessidade
De nos contemplar
Sabendo que seremos

Aguça-me o desdém.
A perda duma identidade
Conjunta.
Desconstruir
Até à nossa nascença.
Sermos do mundo
E viajarmos
Dentro um do outro.
Sermos amantes
De tantos de nós.
Perdermo-nos um
Do outro
Até que nada
Mais reste.
De não sermos nossos
Senão um do
Outro.
Sermos o fim
Para que nos perdemos.
Sermos pó
Do mesmo

Que trilhou as montanhas
E as escarpas
E a pele que trocámos.
Sermos um só
Que nasceu noutros
Corpos
E que aqui se apresentou
Assim.
Imperfeito como tão belo.
O tempo
Que nos cicatrizou
E enrugou de velhos.
Marcas de expressão
E marcas na estrada.
Uma chiadeira
De bradar aos meus
E aos teus.
Não quero ser teu
Muito menos
Aceitar que esse é o meu
Fatídico destino.
Lutarei com todas
As minhas forças
Para que nos separemos
Desta pele
Que antes era nossa.
Desconheço-nos
De antes dessa passagem.
Desse sonho interrompido.
Somos a terra
Que mordemos
E as vicissitudes
Para aqui chegar.
Ganhámos a nossa liberdade
Um do outro
E reencontrámo-nos
Sabe-se lá porquê.
Se foi Deus
Não o reconheço.
Perdi-me dele.
Se calhar ainda existe
E olha para mim a
Balbuciar estes mimos.
Se calhar
Foi o diabo
Que me amassou em
Pão
Ou o tempo
Que me fez chão
Por todos os que me pisaram.
Fui caminho
De tantos
E passei a ser
O meu próprio destino.
Surgiste assim
Tão tua
E tão destinada
Ao melhor.
E encontraste este
Perdido de ti.
Que falta de sorte.
Antes a morte
Ou a viagem
A Marte.
Amar-te é uma verdade
Sem fim feliz.
É um início
Do que haveríamos
Ter sido.
É não saber nada
Disto
Senão como o
Testamento
Dum velho decrépito
E sem senso
De si.
Um agarrado
À morfina
Dos dias
E das esperanças caídas.

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 19 de agosto de 2018

Oração pagã

Sabe-se lá
O que nas leis
Do desejo
Deve o Ser ser.
Parecer-se ser
Um crente
Ou ser demente
De amor.
Onde vieram os
Homens inventar
Eternidades?
Crenças e desavenças
Pertenças estranhas
E patranhas
De para Sempre
E do conveniente.
Fazemos coisas
Juntos.
Somos felizes com tão
Pouco
E fica um louco
Feliz de quedar-se
Com o pouco
Que quer ter.
Todas essas paixões
De terras longínquas
De dias
Que não se farão iguais.
Ser como os demais
E aceitar tudo
Como certo.
Não me presto
A tais formalismos
Nem preciso
Dos preciosismos
Do politicamente
De bem.
Poeta é solidão
De cuspir na mão
E plasmar na outra
Uma oração dos
Homens e as mulheres
No pecado.
Sermos só convidados
E gastarmos
Do que tivermos
À mão
E na boca os beijos
Para bom trato.
Gastar os corpos
E aprender a libertar
A razão
E esses pressupostos
De união.
Morremos sozinhos
Com uma mão à frente
E outra atrás
Mas antes demos
Uso à tesão.
Muita...
Toda...
Até que morramos
Como possamos.
Mas de corpo usado
E paz no usufruto
Da nossa missão.
Somos corpo
Para gastar.
Somos o corpo
Do outro
Para nos perdermos
Sem remissão.

VAz Dias
#palavradejorge

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Por outras palavras

Por outras palavras
Se deve um monção
De vales e afluentes
De significativa
Gente
Que passa pela gente
E garante que nada
É nosso
Ou se faz
Passar por nosso.
Como posso
Agora por outras
Palavras
Assumir que nada
Posso fazer senão
Permanecer
Nesta natureza
Que me faz ir.
Volto quando for
Altura
Ou tiver estatura
Moral para ser
Incólume.
Colo-me ao melhor
De mim
Ou ao raio que isso
Signifique.
Divagar é de letra
Encontrar é a palavra.
Ah amantes que
Se desenham por si
Em telas!
E é vê-las a sucumbirem
De falta de jeito.
Ou esperando
O príncipe perfeito.
Ou não ser
O instigador dos
Amores imperfeitos.
Bem me quer
De mal me quer
À raíz
Do que está à flor
Da pele.
A vontade que impele
A descobrir
O que ainda
Falta
Do humanismo
E falta de rima.
A primeira vez
Que escrevi
Doía-me mais a mão
Do que a falta de jeito.
Quer para o parapeito
Da sua graça
Quer pela vontade
De lhe saltar
Em cima.
Ou a graça
Que me consigna
A tal.
Mal por mal
Vai disto
Ou galanteio
Por outras palavras.
Ou palavras
Parvas que se juntam
Neste nosso bailarico
De convívio
Que agora somos.
Dignidade
É coisa de ócio
Para quem possa
Ou não se importe.
Seja o espírito
Tão forte
Como nervo.
Por outras palavras...
Escrevo.

VAz Dias
#palavradejorge

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

A Existência de Ti

Indago a razão
Pela qual
O rio se ri para mim.
Porque há sal
Em sol poente
E a água é límpida
Aos teus olhos.
Abençoada és
Pelo rio correr
Para ti
Como os meus
Salgados olhos.
Sou a paz
Que distribuíste pelos
Dias
E pelas crianças
Que se banham
Sem medo de desaguarem
Na foz da idade.
E nós somos
O sol para o qual
Se nasce todos os
Dias.
Como a sorte em
Te ter.

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 5 de agosto de 2018

Crivo livre

Sobe-se uma serra
Alivia-se a crença
Das descidas
Urgentes aos medos.
A liberdade com
Que se brinda
Quem ama.
Dança e uma venda
Que tapa os
Olhos de quem
Quer ver mais além.
Um passo
Desfilando o céu
Por entre o desejo
De quem vê
Sem precisar de olhar.
Descansar na liberdade
De ter ao pé
De nós
Quem se sente livre
Mais do que cativo.
Desfolham-se mais
Do que as páginas
De um livro.
É um crivo
De quem na
Vida é bordado
Com as suas limitações.
Ficar sem asas
Faz um de nós
Subir lá ao cimo
Bem junto do fim
Do mundo
E a eternidade
De sermos
Quem quisermos.

VAz Dias
#palavradejorge

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Uma ponte e o desejo

Não sei se é na pele
Se no cabelo,
Que solto,
Me acaricia a vontade.
A verdade é que a carne
Que toco timidamente
Esconde
Um prazer que se quer
Solto.
Volto a não ter
Mão em mim
E dentes afiados
Para te deixar
Morder
O prazer
De sermos assim.
Carne e fogo
Cabelo solto
Em aroma de jasmim.
Carne e sexo
Magia e pozinhos
De perlimpimpim.

VAz Dias
#palavradejorge

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Um olhar que havera perdido

E de todos os corpos
Eles não chegam.
E de todos os olhos
Eles não se perdem.
E foi assim que quis
Nos primórdios
E perdi
E ganhei depois
Por ti.
Por não querer saber
E o saber querer a mim
Quase tanto como tu.
Quase tanto como
Eu de ti.
Sou só olhos
E corpo
E poemas de ti.

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 29 de julho de 2018

O corpo do teu vestido

Quando envergaste
Esse tecido sobre o teu
Corpo igual
Não me satisfizeste só
A mim.

Tinhas-te esquecido
Dele
Um pouco depois
De quando te sentias
Mulher.

Voltámos a ver a
Mulher em ti.

VAz Dias

Oh dores da terra!

Quais serão
As dores que mais
Apoquentam
Os homens da terra?
As dos sonhos
Que não propiciam
As vontades?
As do corpo
Que lembram
Que nunca é tarde?
Ou serão as
De que nunca
Cicatrizam lá dentro?
Um invento de nós
Em plano maior.
Um esquecimento
Onde ficámos tão
Torpes.
Uma lembrança
De nos tratarmos
Bem.
De quem nos
Quer também.
Oh dores da terra!
E de todos os homens
Que se perdem
Pelas mesmas
Razões.
De encontrarem
Nas mesmas
Convicções
Razões mais
Do que suficientes
Para se encontrarem
Na saúde.
Saúde a todas
As dores da terra!

VAz Dias
#palavradejorge

terça-feira, 24 de julho de 2018

Sol de meia-lua

Espalmo-me num
Metro quadrado
De areia e
De ondas revolvendo
O imaginário.
Encomendo sol
A espaços
Com a inoportunidade
Deste verão.
Há gente que se perde
Na memória
E sóis acalentados
Pelas histórias
Que queimaram
Na pele dos passados.
Fardos e fados.
Tez de peles
Emprestadas que caíram
Na serpente
De sermos.
Revestimo-nos
Da pele que necessitamos.
Não somos
Sempre o que queremos
E por vezes somos.
Nos dias quentes
Que sobramos
Dos ventos
E das intempéries.
Ser sol em céu
De pouco verão.
Ser um sermão dos
Deuses à inconsciência
Como os deuses
Da inconsistência.
Paciência!
Há mais invernos
Por vir e ardores
Desavindos
Do que aventura
E paixão.
Fique o sol
De meia-lua
E um vento
Feito brisa
Como melhor opção.

VAz Dias
#palavradejorge

terça-feira, 17 de julho de 2018

Fi-lo Indiano

Expurgar esta vontade.
Transformar em letras
Que se perdem em
Versos
Ou pensamentos dispersos
Muito tarde.
Rimar ou deixar
No acaso a harmonia.
Dessintonia do merecimento.
Do que se quer
Com o que se queria
Do que mudou
E do que pendia.
Do que pedia.
Do que queria.
E mereci.
Desmereci.
Num ou outro dia.
Conto novenas
Em pensamentos
Mas não como aprendi.
Deus não esta ali
Nem no perdão.
A convicção de ser
Humano
É ser errado
E experimentar.
Errar
Até acertar ao lado.
Perto.
Certo.
Um aperto no coração
E um desaperto
No fecho.
Abro.
Fecho.
Acho que não acho
Senão depois
Com melhor sofisticação.
Hálito fresco
E o louco dança no meio
Dos universos
Dos outros.
A beleza pintada no chão
Dançando
Facilmente como
O sorriso de quem acabou
De chegar.
De ser o centro das atenções.
Ficaram as intenções
E os olhares dançaram
Para longe.
Foge!
O hálito faz-se de monge
E a boca está podre.
Já ninguém morde
Por prazer
De se deixar morder.
De se perder
No meio dos loucos
A tripar de viver.
Longe!

VAz Dias
#palavradejorge

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Fado no teu peito

Quem sabe
Se um dia saberei
Expressar-me tão
Eloquentemente
Como os demais.
Sobra-me a poesia
Dos desiguais.
A falta de jeito
Que tropeça na língua
E na boca.
A palavra ganha trejeitos
Dos enjeitados
E dos devotos
Imperfeitos crescidos.
Somos belos
Assim.
E chegou-me a tua
Beleza do fado
Que canta suave
Na minha língua.
Do torpor que mingua
A cada beijo teu.
Tu não esperas...
Vais andando mostrando-me
O caminho.
E se tropeço
Sorrio
E se faço um poema
Escuta-lo.
Porque a suavidade
Do teu fado
É o meu lado
Familiar.
Canto em tom falado
E na língua
Do teu amor.
A desgarrar
De falta de jeito
Junto do teu peito,
Do teu peito
Meu amor.

VAz Dias
#palavradejorge

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Ideia de Amor

Se a ideia fluísse
Como o amor
Que de si vive
Áureo,
Se a verve
Fosse irmã
Do saber do coração
Escreveria
Poemas de amor
E contradição.
Algo incorpóreo
E sem histórico
Para se delinear
Novos versos
E imaginação.
Tenho amor
À mulher.
Ao traço que dela
Plasma no meu
Anseio.
Planeio
Um serão
Com o vigor
Duma viagem.
Pasmo com a coragem
De me amarem.
Quem tem tanto
De aventura
Tem de bagagem.
Se a ideia fluísse
Era amor
Nessa viagem
Da poesia
Ao interior
Do que queremos
Ser.
Do que nos podemos
Comprometer.
Ah se a ideia
Subsistisse!

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 8 de julho de 2018

Acidental

Cinzentei.
Acidentada colina
De mar a descolorar.
Leves estocadas
De azul desmaiado
E verde queimado
Pelo tempo.
E perde-se na memória
A lavagem
Ao cérebro
Do impossível.
Da beleza com que se perdem
Sonhos
E os estranhos
Retornos
Como a maré
Do contentamento
D'agora.
Vou para fora tenho frio
Entro
Um calor
Sem ninguém lá
Dentro... nem eu.
Acidentei a cor
Porque no peito
Revolve o passado
Com espasmos
De sonhos.
Espuma para amaciar
A rudeza do cabo.
Deu-se cabo
Disto tudo.
A culpa é do fogo
No peito.
No fundo.
Em tudo!
Cinzentei...

VAz Dias
#palavradejorge

quinta-feira, 5 de julho de 2018

A nossa Paz

Há amor nas fileiras
Da guerra interior.
Solta-se a paz entre
Os homens em mim.
Os dos devaneios,
Os dos senhores da
Vertical rectidão
E da outra.
Da mulher em nós.
Das mães e avós
E a voz da consiência
E da tesão.
Da vontade que grita
E a outra calada.
Mas não sinto nada.
A culpa é da paz
E um amor
Que junta todos esses
Homens
E das mulheres
Que nos fazem capazes
De sermos irmãos
E pais
E maridos
E amantes.
Como dantes
E talvez de nunca.
Nunca mais nos vi no mesmo
Lugar
E a passar a ser
Menos mau.
Humano
Mas melhor.
E eu sou do erro.
Falta-me falhar tudo
O resto.
Será que mereço
Tudo isto a que me presto?
Só porque presto?
E de resto,
A paixão ainda me quererá?
Como o fogo
Que todos queremos
Do inferno que não existe
E da vontade que persiste?

Assinalei as tréguas
E deixei a minha humanidade
Devotada a todos vós
Que sou eu
E os outros tantos
Que me fazem tantos.

Fomo-nos amando
E na guerra
Pacificámos.

VAz Dias
#palavradejorge

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Não há terra para Velhos

Saber estar na solidão
É um recato
Que tem tanto
De pouco aparato
Como de pouca compreensão.
Os garotos deitam-se
Contando as dores.
Culpam o mundo
Menos a sua reputação.
Nós os velhos somos
Incómodos.
Um estorvo
Quando comparados
Com a sua razão de existirem
E se fazerem brilhar.
Fecundo foi
O chão
E os pais que deram
A esta geração.
Somos todos mal-entendidos
Ou mal-educados?

Quando éramos novos
Respeitávamos mais
Os velhos e os seus cuidados.
Sapientes
Deram-nos razões
Para silenciar as nossas.

Agora há para aí
Dos nossos
Que lhes dá a razão
Sem serem razoáveis.
E nós, os mais estáveis,
Passamos pela provação
De parecermos
Energúmenos.

Cavámos um fosso
E faço disso
Uma passagem.
Uma ponte de madeira
Suspensa no ar.
Mas não vêm do outro
Lado.
Temos de ser nós
A perfazer o caminho
Acham eles.
Sabem tudo
E nós ficámos
Velhos de saber.

O amor ficou-lhes
Na arrogância de mandar
E nós arrogantes
Não sabemos nada.
Nem da própria arrogância.
Não tem importância.
Morremos sós
E a espécie que se cuide
E o planeta
Continue.

Esta terra não é para velhos.
Trapos que nem se
Vêem ao espelho.
Mortos vivendo
De favor da razão
Informada
E desistente dos outros
Como nós.

Há recato
Quando nos deixam sós...

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 1 de julho de 2018

Desfolhada

Desfolho um a um
Elementos do passado.
Roda num imaginário
Um dado para cair
De pé.
Caí sempre ao pé de ti.
Caí em graça
Dum passado que
Resolvi.
E sorriste com os olhos
Que olhavam perdidos
Para todo o lado.
A beleza, estéril,
Passeava instigadora,
Doutros olhos
Vagueantes.
Vagueámos e caímos
Longe uns dos outros.
Dados que nem contam
Para estatísticas.
Para a auto-crítica
De fazer melhor.
Aprumamo-nos com teorias
E espiritualidade
E depois morremos
Todos os dias
Com pouco para sentir.
Ou demasiado
Drama por pouco.
Troco mais uma fotografia
Deste rolo.
Perco o fôlego
E penso que deveria
Dar um murro na mesa.
E mordo o maxilar
E ranjo os dentes
Que querem vida.
Carne ou amor.
Falta poesia.
Falta esteria por bem.
Falta muito de nós
Em tão pouco
Tempo
Para sempre.
Sempre será assim
E relato
O facto
De me ter sobrado
Esta falta de jeito
Para não escrever.
Desfolho folhas
De papel
Como rolos de imagens
Que se sentiam
Nas impressões digitais.
Sente-se na epiderme
E geme o prazer
De não estarmos
No mesmo espaço.
Faço mais uma
Fotografia
Do banco de memória
Que só eu conheci
Por ter escrito
Essa estória.
Agarrei-me a tudo
E a poesia é não ter
Nada.
Nem no futuro
Nem no Sempre.
Entre isso tudo
Prefiro isto
A que me devotaste.
Amar.

VAz Dias
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quarta-feira, 27 de junho de 2018

Poesia Amante


Venho a correr para ti poesia.
A minha musa
Mais que querida
E mulher de tantos
Amores.
Os tremores
E a paixão que em mim
Agitam vida.
Numa noite perdida
De dias desencontrados
Vejo nos meus
Amores
A vontade escondida.
Desnudados
Seremos co-habitantes
E amantes.
Corri para ti
Porque me adoras
Imperfeito.
Aqui me deito
E no deleite
Do silêncio
Não penso.
Não dispenso
O teu aconchego.
Somos enjeitados,
Imperfeitos
Em comum.
Um e outro
Sem fim senão
Adormecendo
No sonho de cada.
Acorda no meu
Enquanto acordamos
Não despertar.

VAz Dias
#palavradejorge

Cabelos brancos


Conto um cabelo
Branco
E outro
E mais outro.
Onde envelheci
Os meus costumes?
Com quem
Deixaste de contar?
Parei tudo
Porque do outro lado
Não havia tempo.
A labuta
E o intento não permitem
Parar.
Vou nas costas
Do bem público
E traço a luta
Enquanto crítico
O mundo continua
A rodar.
Desde o sangue
Até à morte.
E pelo meio o tempo
Que o tempo
Deixa.
Para além de ti
Só o tempo
De que a minha
Vontade se queixa.
Mas deixa,
Tudo há-de voltar.
Tu também.
Eu também.

VAz Dias
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segunda-feira, 25 de junho de 2018

Privo-me de ti enquanto amo o futuro


Podia eu privar-me
De te fazer o devido
Elogio?
Sentir-me perdido
De tanto de ti
Em simples tantos?
E volto para aqui
Onde me recrio
E tu nos porquantos
Da minha descoberta.
Mulher, perde-se em mim
A caminhada
Do deserto
E a página
Do livro que ficou em aberto.
Aquele onde os poemas
Todos de mim
Couberam no universo
Teu que não finda.
E eu ainda buscando
O que mais
Senão não te ter
Para ser sempre
Teu na descoberta.
Cada dia apaixona-se
Em mim uma parte
Desconexa
Que não conhecera.
Chegas e deixas-me
Ir.
Hoje não me deito
Ao teu lado
Porque não tenho corpo
Para ti.
Não tenho espírito
Enorme
Que em ti caiba.
Porque sempre serei
De me acercar
À nova descoberta.
À aventura
De te desconhecer
E amar para trás
Para correr atrás.
Como incauto
E arauto do amor.
Ser novo
A cada segundo
De me interpor
E te fazer vénia.
Que venha
O que quiseres de mim
Mesmo que seja perdição.
Mesmo que não.
Mesmo que seja
Um suspiro de ficar
Com o coração
Numa mão
E a caneta
De traçar um poema
Na outra.

VAz Dias
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quarta-feira, 20 de junho de 2018

Nata


És a nata
Do prazer.
O creme do creme
Que faz a gula
Sorver.
Engolir é pecado
Mas comer
É alimento e amor.
Traga-me o destino
Vezes inúmeras
De ti sobre a mesa.
Sobretudo
A palavra
Que fica na garganta
Presa.
Por mais que do linho
Se teça
Borda um destino
O pano que nos desnuda.
Sobre a mesa
Fique apenas
A vontade
E a falta de pressa.
Desnuda-te depressa!

VAz Dias
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terça-feira, 19 de junho de 2018

Esbato-me


Começo a desaparecer
De mim.
Lentamente esbato-me
De esquecimento.
Nunca fui tão bom
Quanto isso.
Nunca percebi os
Outros em lhes
Oferecer migalhas.
Engoli em seco
Uma e outra palavra
Ao calhas
Até que a hipocrisia
Fugisse de mim.
Não sou social
E odeio esse trâmites
Cada vez mais.
Amizades de se perderem
Com o tempo.
Resumir-nos à insignificância.
À subtracção de nós
Nesses grupinhos.
Sermos ninguenzinho.
É assim que a sociedade
Nos tolera. Arrumadinhos
E juntinhos.
Convencemo-nos de coisas
Combinadas
Que dão em sacos
De grandes nadas.
Falo da sombra do ser.
Do holocausto
De desaperecer
E na penumbra
De me esbater.
Desapareci
E ninguém veio ver.
Perdão!
Ninguém queria
mesmo saber...

VAz Dias
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segunda-feira, 18 de junho de 2018

Por entre estes corredores


Por entre estes
Corredores
Que se calam
Em sombras
E em abotoados
Lábios,
Perco-me no que dizer.
O desencantamento
Serve o amor
E o que a fidelidade
Deseja perder com o tempo.
Guardo em cada
Bolso um membro
Com o mesmo
Assombro
De não saber de ti.
Um dia quando fores
Liberdade
E eu Saudade
Talvez abramos portas...
Escancaremos
As nossas mais
Profundas escadas
De encontrar o Ser.
As apostas no amor
Vêm da paixão
E o sabor que ficou
No travo.
Travo-me de te
Dizer algo mais.
Só sei fazer poemas
Para me calar
E de te deixar ir.
De te amar.

VAz Dias
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sábado, 9 de junho de 2018

Somos Segundos


Inventamos encontros
Como se alguma vez
Nos tivéssemos conhecido.
Imaginámo-nos
A falar banalidades
E a trocar abraços
Com a certeza de sermos
Familiares.
Familiares um ao outro
E até na estranheza
Ficarmos calados sem jeito.
E até com algum jeito.
Inflamados
Somos desconhecidos
Que nos cruzamos
No barulho dos outros.
No ruído das pistas
Onde os outros dançam
Sempre mais compassados
Do que nós.
Sorrimos com devaneios
De felicidade
E na ilusão das conversas
Dos outros.
Somos sós
Masturbando-nos
Na esperança doutros
Como nós.
Orgasmos perdidos
E mãos despojadas
De amor.
Só esperanças
E aconchegos emprestados.
Olhares perdidos
E vagos,
Pedem o dia de amanhã
Chorando com razão
De não saberem fazer
Melhor.
Eles merecem amor
Porque saberão perdê-lo
Para depois reaverem-no.
Eles são os donos
Do futuro e de nada.
Eles somos nós agora
Que o presente passou.
Somos as mãos
E a voz
E o pé de dança
Das melodias que agora
Apenas ecoam.
Nós somos o trautear
Na esperança dos novos
Perdidos.
Somos o amor como pode
Ser
Sem o narcisismo
E despojados da foto
Elegante.
Do evento
E do instante.
Somos como se pode
E não como se quer
Porque não dá sempre...
Nem mais ou menos.
Somos os medíocres
E da lotaria
De acertar.
Acertámos ponteiros
Com o tempo que nos
Deixou.
E a cafeína
E a privação do sono.
Somos os menos
Belos e os bonitos
Por dentro.
As segundas escolhas
Desses magnatas
Da ocasião.
Os relógios de plástico.
Os fios de ouro
E a dieta.
Somos aqueles que menos
Acertam.
Somos o que podemos
Ser.
Somos os segundos
Que sempre apertam.
Somos segundos.

VAz Dias
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