terça-feira, 27 de maio de 2014

Espiral ate à alma.

Na profundidade do teu olhar
me deixei descer.
Em passo de caracol
lentamente me permiti
te buscar.
Em cada andar do teu ser
me detinha.
Sentava nesse último degrau,
buscando em cada recanto,
fitando com espanto,
o que de bom e de mau
meu ser se permitia.
Só desceria,
se desse andar
meu ser acreditasse.
E com a lentidão
de quem te queria descobrir,
em cada degrau,
em cada andar,
mais o desejava,
mais insistiria.
E da insistência,
proveniente da vontade,
minha e tua,
desci dessa altura.
Puro de intenção,
que o tempo depura,
assim desci ao alto
da tua candura.
Inocência descoberta,
minha e tua.
Se soubesse,
que não soubesses
dessa também minha candura,
não teria descido
até tão baixa altura.


Vaz Dias

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Voz desmaiada


Prende-se-me na voz
como rosa desmaiada,
de caule perfurante.
A garganta tomada.
De beleza morta,
como defunta me deixaste a palavra.
Assim, desmaiada.
Que me ensanguenta a boca.
Assassina que maltrata,
a beleza que morre.
Que desmaia.
Me mata...incolor.
Desmaia,
morre!
Sem beleza.
Morre!
Rápida e indolor.

Vaz Dias

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Sombra

Escondo-me nesta sombra
de saudade.
Aqui o tempo parou.
Como eu, se fez esquecer
do que passou.
É verdade. Passou.
Mas aqui também me lembro,
por muito que não queira,
a expressão na tua cara,
a imagem que me era tão cara.
Caramba!
Nem nesta sombra
a saudade pára!
Se se desapega do tempo.
Parado em mim.
Parado.
Não me convenço...
És uma sombra em mim.

Vaz Dias

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Quem és tu?

Quem és tu?
Cruzas-te assim,
sem que nada te impeça?
Confessa.
Havia em ti
uma obstinada urgência
de te insinuares.
Vem subtil senhora
menina.
Ou vem voraz menina 
senhora!
Porque seja o que te traz,
mais de menina
ou de senhora,
faz o que me apraz.
Mas faz!
Eu que não te impeça
se é o fogo que te comanda,
ou mesmo ar que te sopre.
De fogo queimaremos
a alma até à noite.
De ar me farás arder
para além dos dias.
Mais suave ou mais forte,
vem fogo menina.
Ou então sopra quente
este ar senhora.
Vem! Fica!
Ou vai. Mas leva-me.
Queimemos os dias
e inspiremos as noites.
Vem! Leva-me!
Assopra! Queima-me! Excita-me!

Vaz Dias

Arrepio Caminho

Arrepio caminho
nesta imensidão.
Conexões despertas
pela manhã. Aurora
da morte cerebral de ontem.

Arrepio caminho
com a sensação
que ainda há tanto a fazer.
De contigo me comprometer.
Aceitar este fardo.
Aceitar este fado
de para o mundo escrever.
Manter,
partilhar
o que de mãe e natureza
se inciou. Se deve dizer.
Ou se pode.
Ou de silêncios se escrever.

Arrepio caminho,
porque por Deus,
cada vez me vejo mais sozinho.
Não por pena de mim.
Sem a tua pena.
Mas esta vontade engrena
algo que me acompanha.
Já cá estava e me desafia
a esta nova campanha.

Arrepio caminho,
porque para trás
as mortes ficam.
As da vida.
As minhas cerebrais.
Frio, não quero mais.
Aqueço-me com as vossas "friezas".
Pois imagino uma solidão menor
se tu me leres.
Se me quiseres.
Se tiver de ser. Se fôr.
Aquece-te comigo então.

Vaz Dias

A fauna em mim

Da frescura matinal
emerge essa planta.
De firme caule
abre a flor.
Me encanta!
O caule firme se ergue.
De tão natural
e não menos erege.
Acorda a planta fresca
os sentidos deste autor.
Bom dia à flor
que da seiva se alimenta,
de tão firme quanto grotesca
verticalização
dos caules desta natureza.
Ahh quão fresca!
E de tão natural
como inocente beleza,
instigam a fauna em mim!
Sim!
A fresca flora emerge
e a fauna viva em mim reage!
Cresce em natural ultraje!
A natureza animal
cresce em mim.
Que ultraje!

Vaz Dias

Saúde à doença!

É neste intervalo
onde a saúde descansa,
para se compreender e reflectir
através da doença.

Não há tempo
que me convença do contrário.
Não é pensamento arbitrário.
É fruto das enfermidades
provocadas.
Auto-infligidas.
Inconscientemente buscadas.

Talvez as senti do meu pai.
Grande experimentalista
dessa dor que à saúde
tinha de contrapôr.
Ou da minha mãe,
que de menos aventureira,
lá se rendeu à doença 
sem outra opção.

Ela sim deu à vida
a saúde que a doença levaria.
Do ventre fez trazer
dois filhos vivos.
Mais um nado-morto
e outros nada. Pronto.

Ela experimentou a saúde.
Ela viveu a doença.
Quer isto dizer,
que a sorte me acompanhou
e a saúde é minha pertença?
Ou deveria ser feita de ausência,
por quem dela mais procurou.

Jogo e brinco à vida.
Abuso da saúde,
como se de herança celeste
me tivesse sido oferecida.
Busco na doença,
nessa peste
que é a minha guarida,
a verdadeira noção
do que é mais importante.

Se é ter saúde sem compreensão?
Ou se é melhor então, morrer de doença de coração?

Vaz Dias

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Passo a palavra à emoção

Desafio a palavra resolver,
o jeito intrincado
deste meu pensamento.
A suavizar o tormento
que é a sua composição.
Mesmo em justaposição
ou até contraposição.
Preciso que a palavra
melhor expresse
o que de invento,
ébrio investimento
ou um qualquer jeito
adquirido em a-dê-en,
para à própria
fazer a justa vénia.
Palavra de Pensamento.
Palavra de Jorge.
Testemunho que nenhuma
é tão justa até ao dia de hoje
como a da eterna.
Aquela que por entre
a razão,
clarifica e desloqueia
essa terrível incompreensão.
A que era do bom senso
antepassado,
e que por este meio deposito,
humildemente assino,
testamento
para de futuro, pensar menos
e de escrever mais,
por muito mais, de coração.
De futuro,
desafio o meu pensamento
ser escrito por razões da emoção.
Senão de que vale
tanta arte?
Apenas para linha se traçar
e calcular o valor dessa emoção?
Alma à palavra que se fez de compreensão!

Vaz Dias

Voámos de vida em vida


Conheci-te por aqui.
Eras-me apenas mais uma.
Uma pessoa. Uma possibilidade.
Não sei bem porquê,
Amigo de ti me vi.
Em tua alma me reconheci.
Já nos conhecíamos. Certamente!
Já vivemos juntos. Ah sim!
Só pode! Definitivamente.
Vivíamos juntos na simplicidade.
Voávamos juntos.
Lembras-te? Éramos cúmplices.
Eu pensava, tu dizias.
Tu cantavas, eu ouvia.
Passámos juntos essa vida.
Reencontramo-nos nesta.
Sentiste o mesmo querida?
A tua alma reconheceu esta.
Uma vez mais a tua bondade
E clarividência,
A tua honestidade e consciência,
Uma vida a mais me ofertou.
Porque temos voado de vida em vida.
Porque nas tuas asas
Pairo, e abundantemente atravesso as terras,
Os mares. Compenso-te,
Para mais vidas por nós conquistares.
Tens mais de um nome. Tens tantos
Como as vidas que em nós depositaste.
Tu és vida. És mais! És todas as nossas vidas!

Vaz Dias

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Poeta tem dom de alma

(em resposta ao dom da palavra)

Ser poeta é ter alma. 
Para quê escrever sem a ter?
Fala, grita ou com calma aguarda. 
A tempo à alma, seus males espanta 
e poeta também tu és, 
sem que para isso tenhas de escrever. 
O dom é ter alma, 
não palavra, 
para neste mundo se fazer perceber.

Vaz Dias

quinta-feira, 8 de maio de 2014

AMAR JÁ!

Desejo não te ter.
Prefiro ires me tendo.
É só isso que pretendo,
se é que me faço entender.

Para quê ter tudo
quando tudo pode nada valer?
Aproveita, estou a oferecer.
Agora é melhor contudo.

Amanhã podes mudar.
E depois fui eu,
apaixonado que amoleceu.
Seja agora para aproveitar.

Entreguemos o bastante
se amanhã acabar.
Tanto quanto amar.
Agora é melhor, estou confiante.

Ama-me agora e eu a ti já!
Já que amanhã porém,
o amor procura outro lado
para se alojar,
e de menos um, nos veremos
diminuídos,
para no "sempre" acreditar.
Fica! Porque logo, é amanhã.
E amanhã já foi. E o amor também.

Vaz Dias

Comboio Trilhaalinha

Surge-me a tentação.
Mais umas ideias desfiar.
Dar linha ao que devo escrever.
Página abro,
e em branco solto
este rabisco torto.
Não se nota,
mas na minha imaginação
as linhas não têm direcção.
Muito menos se organizam
nesta imensidão
de explosões sinápticas.
Vão-se constituindo,
intercalando,
desorganizando,
abrindo, 
fechando.
Respondendo ao comando,
(simpaticamente falando).
Mas lá se organizam por fim,
para alguém as decifrar.
Que de outras linhas
viajem até mim,
com contra-informação.
Que registem com mais razão
o que desta cabeça se criou,
se desmontou (tenho essa sensação).
Sou um brinquedo partido.
Comboio meio arranjado,
fora de circulação.
Tentando trilhar a linha
com a ideia mais definida.
Mais rectilínea. Com direcção.
Mas sem sentido,
pré-pensado. Organizado.
Puxem vós o fio
do comboio desarranjado.
Inventem a linha
para a ideia que lá dentro vive
em cada vagão.
Senão será apenas brinquedo,
quedo,
ali no canto,
ganhando pó
e ideia sem razão.
Brinquedo esquecido,
perdido 
ali no canto sem atenção.

Vaz Dias

Falo-te de mim

Queres saber do que sei? Aquele menos que nos toca.  A santa ignorância que nos aproxima. Aquele desleixo que nos diz para dizer que sabemos da nossa vida. Que nos faz apregoar leis humanas que interessam mas nada ensinam iluminados. Interessam-me. És menos interessada. És como eu, do povo. Não queres saber de governos ou problemas. Queres ignorantemente escolher. A tua sorte. A minha e o arbítrio de comigo talvez partilhar. Eu sei que não sabes. Fui eu articulosmante que te manipulei. Queria-te tão "não sei o quê". Queria eu, eu sei lá o quê! Para quê? Eu também achei que trazia algo .Nada! Justamente o tempo para aprender. E se hoje fosse outra sendo a mesma? Não mudou nada. Eu é que mudei e nada posso fazer por esse de ti. Eu afinal perdi, tempo que depois descobri que ainda vá eu a tempo para alguma coisa descobrir. Vou a tempo? Talvez. Talvez sim. Não foram eles, mas talvez por eles alguma ignorância me vi livre, afinal eram de mim.

Vaz Dias

EgoTrânsito

Viajo assim sozinho. Pensando que o mundo é pequeno. Do tamanho de mim. É mais fácil assim. Diz o inculto da natureza informada. Sou da natureza criada da simplicidade alheia. Contente da possibilidade moderna. Ainda não consegui essa clareza de viajar pobre... ricamente falando. Vivendo o sonho do "exo"e(x)sterno. Os que podem e me podem alegrar na interna. Nesta menos de culturas. De diferenças. De crenças. De posturas. A culpa é minha de não ser moderno. Este meu externo é viajante do meu de dentro, este covarde viajante interno. Sou feito da arrogância pouco viajada. Da inércia da poupança acumulada. Gasto para aqui entender. Podia fugir para melhor compreender. Quando é que fugir não é melhor que tentar entender? Escolhi esta forma mais simples de lá chegar. Não é estar, bem entendido. É vontade de esperar a melhor altura para fugir. Se calhar viajo, se calhar fujo, senão cá me fico transitando em pensamento.


Vaz Dias

terça-feira, 6 de maio de 2014

Perfeição suspensa

Suspenso no ar
almofadado em sons.
Música que me envolve,
que me devolve
esse sentimento
de leveza.
Paz momentânea,
consentânea
com a busca constante
da eternidade das coisas boas.
Que sejam tangíveis,
que lhes toque
com a audição.
Enquanto essa canção toque
enquanto essa sensação me provoque,
ficarei aqui suspenso.
almofadado ao som,
levitando ao tom,
da eterna busca da perfeição.

Vaz Dias

Ela chama-se Bela Sempre

Que é do tempo
quando passaste?
Que interessa a
contagem,
a sequência
dos números
(uns atrás dos outros)?
Se não existes mais,
senão no tempo imobilizado
da imagem cristalizada,
para que serve esse tempo?
Prefiro-te assim,
bela para sempre.
Se o sempre é tempo parado
prefiro-te para sempre!


Vaz Dias

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Passeio de menina

Ontem passeei contigo menina.
Admiraste-me!
Simplesmente foste linda.
Simplesmente foste.
E eu, de tontaria,
fascino-me com a clareza,
com que tu menina,
te passeias assim,
descansada e
descomprometida.
Com a face corada,
brisa de frente,
assim te passeias,
livre,
desapegada...
indiferente.
Passeando vais
e eu entretido,
divertido,
fico com este sorriso
meio pendurado...
pendente.
Oh menina linda!
Fico para aqui balbuciando
como um tonto..
um demente.
Fico passeando em ti
o meu olhar
parvo,
no entanto,
encantado,
estupificado
mas contente.


Vaz Dias

Respirar vontade

Tentarei ser menos.
De exagerado então, muito mais.
De palavras, decerto!
De vontade?
Não me peçam o mundo.
Porque este pequeno, só esse barquinho sustém,
na linha certa que acerta o limite vertical.
Do fundo ao ar. Do silêncio e do falar.
Deixem-me de vontade expressar o que só agora me lembrei,
de à tona grito,
por poder respirar!


Vaz Dias

Mãe

Nem neste
nem naquele dia,
sou poeta ou filho
da mãe.
Sou só este que te
lembra
e se lembra,
da falta que me fazes.
A saudade que me trazes
nem a vida te traz
nem o tempo também.
Espera-me!
Irei!
Juntos neste
ou naquele tempo,
por ali ou além,
mataremos as saudades mãe.


Vaz Dias


sábado, 3 de maio de 2014

Forma-se o conhecimento

A vida vai-nos preenchendo. 

Disciplinando a nossa natureza, mais ou menos consoante a nossa necessidade de lhe resistir. 

Fui aprendendo que quanto mais lhe resistia mais as coisas me pareciam ter uma e apenas uma forma. Que a minha natureza estava ensinada e a minha missão era ensinar. A felicidade não era total e teimava em não me visitar cada vez mais. As formas das coisas, as "inverdades incontornáveis" e a vida tinham as suas formas a ensinar.

Cresci quando despertei da "sabedoria inata" que a minha natureza tinha providenciado. Afinal tinha tanto para aprender. Que todos os dias iria aprender mais uma coisa. Que em cada dia seguinte quereria aprender outra. Que nos restantes dias da minha vida buscasse como um tesouro a perspectiva dos outros, independentemente se fosse sobre a mesma forma das coisas ou mesmo outras.

O maior ensinamento até ao momento é que sou mais feliz aprendendo. Que essa natureza também é boa e importante quando colocada ao serviço da aprendizagem e na vontade contínua de partilha.


Vaz Dias

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Crítica

A crítica.
A capacidade de crítica.
A autoridade para criticar.

Saberá a maior parte, os dados envolventes a um assunto, para de forma espontânea e depois justificada, poder criticar?

Saberá alguém (mesmo tendo um gosto profundo por um tema), a realidade profunda, geral, histórica, etc. do mesmo?

Criticar muitas vezes apenas é reagir. Transformar em método racional/lógico uma impressão subjectiva.

Mas a crítica respeita um método. Um processo. Uma actuação que deve defender as partes (crítico e criticado) ajudar a melhorar os envolventes e/ou a temática trabalhada pelo criticado.

Criticar esquece a crítica leviana ao crítico subjectivo. Criticar admite a crítica e eleva a discussão e evolução dos críticos e dos criticados numa dada matéria. Pois num momento podem mesmo chegar a estar do mesmo lado da barricada se já não estariam a priori. Mas constrange-me quando no mesmo lado, a ignorância substitui a tolerância e o respeito. Quando a insensibilidade destrói outro que poderia bem ser o crítico num outro momento.

A autoridade para criticar assiste a todos. Mas a responsabilidade assiste a quem por dever se inteirou de tais matérias, ou seja, apenas a quem quer trazer discussão partilhada, busca da verdade e promoção da evolução.

O crítico é apenas o meio e nunca a figura central. O tema sim, criticável e por direito próprio, a figura central.

Vaz Dias