sábado, 29 de abril de 2017

Palavra Viajada

Sinto as palavras
A repetirem-se.
Sinto que elas
Findaram um propósito.
Escrevo estas, quase
Por um qualquer óbito
E em que elas
Encontrem uma última
Morada.
Não sei se virão
Doutra forma.
Se eu aprenda outras
Novas
Ou se elas necessitam
De ser caladas.
Preciso de saber
Viver sem elas.
Um poeta só sobrevive
Da palavra porque
Nada mais tem.
E eu, como convém,
Preciso de purgar,
Com viagens diferentes
A minha existência.
Não sei se escreva cartas
Para mim,
Para não me perder da palavra,
Mas preciso
Que ela se esqueça
De mim por uns tempos.
Da maldição que por vezes
Em mim
Se faz abater.
Preciso de viver
Para alimentar outras ou estas.
Preciso de saber
De outros poetas
E outras pessoas.
Outras palavras.
Preciso de guardar estas.
Ou que as guardem por mim.
Ou que as enviem
Para o mundo,
Talvez assim,
Se as encontrar por aí
As veja diferentes.
As veja novas.
As veja.

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Brisa

Brisa.
Sempre soube que eras
Uma brisa
Que passa como veste
Lisa e
Suave,
Que os sentidos
Despe
Com a facilidade
Da respiração.
Ofegante
Tenho a sensação
Que era a maior
Rajada que de ti
Pudesse sentir adiante.
Roupa interior de seda
E pele
Que escorrega entre
Nós dois.
Passaste e ficou assim.
Serás ar de alguém
Respirar depois.
Mas a brisa que me beijou
De primavera
Foste tu
E essa primavera repete-se
Na minha pele.
Respira.
Inspira.
Exala-me o perfume
Brisa que a ti
Me impele.
Descamo sabendo
Que a primavera
Some.
É sede e fome
Que se mata com tempo.
Venham outras primaveras
Antes que o amor
Me tome.
Antes que a primavera
De novo uma brisa sopre.
Antes que te ame.
Uma brisa some.

VAz Dias

#palavradejorge

Agitação é a Palavra

Agitação!
A impossibilidade de ti
Cheira à certeza
De estares perto.

Da distância,
Aproximar-te.

Ai agitação que não me
Larga!
Que me abana
E me larga
Abandonado
Num canto de estrada.
Sou um um boneco de trapos
Nesse teu silêncio
Assistido.
Nesse teu querer
De vir
E também me ver
De ti perdido.

A impossibilidade é uma espada
Colhida da brasa
Para rasgar da alma
Ao coração
E um tremor de terra
Que abre uma fenda
Deste mundo
A uma outra galáxia.

Agitação marítima
De onda encrespada,
Na rebentação vive
A rocha dura e na terra
Cravada
Sofrendo a erosão
Profunda da era eternizada.

Ai agitação
Da mulher num homem
Só por estar calada
Da agitação por ela calada
Num silêncio ruidoso
De parecer que não
Quer nada
E saber que tudo
Se agita quando
Quando exista nem que seja
Uma única palavra.

Agitação é a palavra.

VAz Dias

#palavradejorge

Além-Medo

Digo-te ao "ouvido"
Que os sonhos nunca acabam.
Por isso ainda aqui estar.
Vim do futuro
Para te dizer tudo isto.
No meu sonho
Reside o futuro.
Um, onde sozinho
Posso tudo.
Posso inclusive
Voltar ao presente
Para te encontrar.
De lá, mais perto da morte,
Mas ainda mais perto
Do Sempre,
Descobri que o Medo
Desiste das pessoas.
Que a beleza da vida
Irrompe dos últimos dias
E descansa as nossas almas
No Sempre.
Vi que te viria resgatar
Não apenas à vida feliz
Que tens
Como dizer-te que não acaba
Na restante,
E para lá dela.
Morri e renasci para além do
Medo.
Vem que a nossa vida
Para além
É ainda mais bela.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Passou um rio...

O que acontece em menos
De um ano?
As pessoas que se nos
Atravessam
E nos ganham.
A tua pessoa
E o meu engenho
(Algum para a arte
De me apaixonar
Com poemas
Por pessoas
Como tu).
Não foi mais do que
Isso.
Era só isso então.
Então foi tudo.
E tu
És um mundo repleto
De tanto por dar.
Senti isso
E agora vejo isso
A se passar.
Estás enamorada
E que belo é ver.
Estou rendido
À evidência
Do que deve ser
De um Ser
Que me prendeu
A atenção.
Beleza e um coração.

VAz Dias

#palavradejorge

Dança no Vento Vazio

Eu sei que sou
Autista.
Único na condição.
Busco nas pessoas
O que elas têm
Quando não estão.
Deixo nesse vazio
Uma arte de se gastar
Rápido.
Por mais que persista
Em me normalizar
- de me tornar mais
Humano -
Perco-me neste desengano.
Elas não virão buscar
O que não precisam.
É um amor em saco
De plástico.
Sopra o vento
E dança a sós.
E realizo mais uma arte.
Os filmes para autistas
Com caixinha da tradutora
De linguagem gestual.
Asmático,
Respiro ansiedade antes de ar.
Depositei oxigénio
Naquele saco de amor.
Pensei que estando no vazio
Do vento
Precisasse de viver.
Dança um saco mudo
E eu confundo
Tudo o que o mundo quer.
Não sei onde comecei
A deixar de respirar
E comecei a soprar
Para dentro de sacos de
Plástico.
Preciso de ar.
Preciso de acabar
Este metragem.
Este meu vazio
Dos outros.

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Actos espontâneos

Ele nunca tinha tido jeito para actos espontâneos. Lia livros que deixava a meio. Desistira de lutar por amor. Ainda assim ela o arrebatou. Cada vez que dizia que iria embora mais o agarrava e puxava. Parecia querer-lhe sacar a espontaneidade à porrada. Ela sentia o seu ponto morto e desejava-lhe dar vida por ali mesmo. Era também o que lhe criava ainda mais desejo. Ela tinha vida de sobra. Tanta que se guardava para aqueles momentos (tinha-lhe confessado que não era nada assim, tresandando o hálito a cerveja, gin e traição). Ela fugia para onde ele queria. Para onde desejara um dia. Mas tudo nele havia mudado. O desejo era muito mais que mecânico. Tinha envelhecido de morte doutro amor. O contexto madrugador criou a soberba dos dois às horas. Incautos deixariam a hora certa passar. Nunca mais o momento teve aquela espontânea vontade. Dela nele e dele... quase reanimando. Mas cicatrizaram desse fogo. Um dia talvez se encontrariam. Um dia talvez ele acabasse os livros todos que deixava por acabar.

VAz Dias

#palavradejorge

Ai dos que se apaixonem!

Tenho a certeza que
Que se me apaixono
Tudo perde sentido.
Todos os erros
Passados
Passam a ser esquecidos.
Que o coração acelera
Sem sentido
Mas na direcção
Certa
(Mas tão errada!)
"Vai dar merda,
Tu sabes,
Vai dar merda!"

Então fico aqui de longe
A ver tudo a passar
Sem fazer nada.
É melhor!
Há de nós a quem o amor
- Que vem das paixões -
Precise do sumo
Antes do fruto.
Que a seiva se produza
E que a planta
Cresça por si.
E depois de tanta
Experimentação,
De tanto fogo,
Perdi.
Perdi-me.
Encontrei-me
E não foi nesta ou naquela...
Nem em ti.
Apenas me vou perder.
Se for para perder
Que seja agora
E assim.
Sem fruto.
Sem planta.
Sem amor.
Só paixão de perder
Tempo
E ganharmo-nos pelo fim.
Só pelo simples ardor.
O orgasmo.
A leveza das coisas.
O sorriso da tarde.
A dança da noitada.
Morrem muitos pela manhã
Porque o dia
Traz só gente que ama.
E isso é para outros.
Não para mim.
Gosto que me levem
Tudo
Mas que não me deixem
Com quase nada.

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 25 de abril de 2017

UniVerso-te

Quando viajo
Viajo para dentro.
Não tenho alento
Igual
Como ver outros lugares.
Viajo por ti aqui
E encontro esses lugares.
As cores que fazes
Refletir
São filtros conduzidos
Numa paleta que desdenho.
Não as cheirei.
Não as respirei.
Sou simples
De ficar parado descobrindo
Universos à velocidade da luz.
Desse modo lento
De viver eternanente
Neste momento.
Comprimo-te em anos-luz
A distância que aos mortais
Seduz.
Não te terei
Não por seres inatingível
Mas porque os nossos
Mundos distam
Dentro.
Viajo repleto de coragem
Mas acabo sempre
Por seguir noutra viagem.
O universo é imenso em mim.
Nunca me conhecerei
Para te reconhecer
O suficiente.
É distante
Mesmo
Que um beijo seja sempre.
Ainda sinto ecos
Duma estrela que morre
Antes desse sabor
Chegar de novo
De repente.
Passarei uma vida sem todo
De mim.
Agora sou um poeta.
E tu um amor
Que viaja nas minhas palavras.
Tão longe
Aqui tão dentro de mim.

VAz Dias

#palavradejorge

As costas de ti Mar Meu

Eu sou a terra
Que a tua orla
Abraça.
Mar de mim
E terra adentro.
Paz é um lugar
Onde a costa muda
Num contínuo lento.
Seja por cada maré
Seja pelo tempo
Que passa.
Abraça-me e beija-me
A nuca.
Nunca te convenças
Que não és mar de mim.
Sou terra
De me banhar em ti.
Fica,
Balançando lentamente
Sem fim.
Abraça-me!
Preciso de ti
Em mim.
Metamorfose de nós.
De viva voz
Em surdina da espuma
Que na areia
Nosso descanso combina.
Serena
Este bocado comigo.
O tempo passa
E a pele da tua pele
Todas as camadas
Trespassa.
Descansa no leito
Duma cama
Que nos abraça.
A tarde cai
E a maré acalma.
Devagar.
Devagar...
Anda.

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Sou Livre, Sim!

Livre de tudo.
Livre da morte.
Livre para mim.
Para ti.
Para quem vier
E for
E voltar
Ou nunca mais for.
Foi.
Não foi.
Decidiu ser livre
Longe.
Isso foi hoje.
Amanhã não sei.
Sei que tudo
Está bem.
Bem como quem quer
Bem.
Quem tem
Não tem.
Quem não tem
Tem tanto para além.
Volta
Quem quer.
Quem pode.
Quem não pode.
Faz a liberdade
O obséquio
De se fazer tarde
Ou cedo
Ou nunca.
Arde.
Congela.
Rebenta
Iça a vela.
Apaga a chama.
Chama a ela
O amor da tua
Cama,
Camada de amor
Que descama
E se entranha ao tutano.
Vem daqui a um ano
Ao conhecimento
Ou ao engano.
A fundo perdido
Ou ao fundo ganho.
Liberdade é um conceito
Estranho
Para quem chegou do engano.
Simples.
Aceita!
Rejeita quem não tenta compreender
Com a compaixão
De pertencer
Aos bons do coração.
Liberdade vem da cabeça
Mas vive no coração.
Cravo amor
Na lapela
Do teu corpo
Minha Nação.
Sou sem-terra.
Sou sem-ti.
Sou meu.
Sou livre.
Sou livre, Sim!

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 23 de abril de 2017

Escuro de Fundo

Fico reduzido
Aqui neste ponto escuro.
Este é o tamanho
Profundo, descendo,
À memória do que escrevo.
Tantas as palavras
Que podem alicerçar
As paredes de um espaço
E a distância que de mim
A ti se alonga.
Assumes nesta escuridão
Uma postura que perdura
No tempo
E na curta distância
Que entre ti e mim
Não chega.
Aproxima-te!
Aproximo com a leitura
E o conforto de uma música.
Um piano,
Uma voz que podia ser tua.
Uma distância tão curta
Quanto uma vida
Nos chame.
Ou me cante.
Ou se encante
Do destempo.
Tento que o tempo
Não me perturbe.
O que distende esta escuridão
Até devolveres sinal de ti.
Sou perdido de todos
Quando aqui te "encontro".
O nosso tempo
Sem nós.
Sem ti de traço,
De corpo
E daquele abraço
Que faz os nossos corpos
Correrem.
Febre de morrerem
Nos bocados da sombra
E dum piano
Que vem à tona
Respirar o que sua.
Transpiro a água tua
Que corre para um mar
De noite estrelado.
Lembras-te no futuro
Termos lá estado
Abraçados em silêncio,
Não havia fronteira
Entre mar e o céu
Da lua?
Na areia,
No meio da rua,
Engolindo a brisa
E as promessas
Do amor em estrelada
Terra escura?
E no fundo do quarto
Mantenho a esperança
Daquela canção te trazer
Tão desnudada
Como a vontade
De me envolveres de noite
E céu
Numa luz que apenas dentro
De mim
Se acentua.
Espero sem tempo.
Toca "Quando, quando, quando?"
E escuro não é só o quarto,
É não ver fim no espaço
De entrares a tempo
De seres maré
Da luz que apaga
Tanto.
Vou-te amando
Contra a luz,
E a escuridão
A si se prepetuando.
Desnudei-me
Aqui neste pequeno
Escuro momento
Sem fundo
Do tempo.
Reduzido a ti
E a tudo o que não vem...
O tempo vai, demorado,
Passando.
E não vens.
Fica um piano.
Uma voz de veludo
E o escuro
Como pano de fundo.

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 22 de abril de 2017

Cartas Perdidas

Escrevo-te de igual para igual.
Despido de arrogância.
De alguma experiência.
Do avanço
Que assume todos
Os avanços e recuos
Da vida até aqui.
Que esperas de mim
Se eu nada posso dar
Senão o mesmo que a todos?
Não somos todos
Especiais?
Não somos todos iguais
Ainda que uns amem
Mais uns do que outros?
E se eu só te amasse assim,
Tão na totalidade
Dos outros,
Faria isso de nós dois
Menos especiais?
Sou e sempre fui igual
A mim mesmo.
Mesmo que isso pareça pouco.
Nunca me dei bem com
Hipérboles
Mesmo que elas me queiram
Muito...
Somos exagerados
E eu quero ser verdadeiro.
Leal.
Real.
Tão especial
Como os demais.

VAz Dias

#palavradejorge

Cegueira Partilhada

Fiquei à espera do amor.
Não o vi.
Não sei ver.
Ceguei.
Só consigo ver as formas.
Uma miopia
Que engana de fogo.
Olhos ardem de ti.
Não de não te ver
Mas do choro
De não saber
Amar como tu.
Porventura não sabemos
Os dois
E cada um da sua maneira.
Uma outra forma
De cegueira.
Abre os olhos
Como quem os fecha.
Sente nada.
E fiquemos juntos,
Olhando para o nada.
Mas juntos
Como aquele gente
Amada.
Ou um tipo de não-amor
Por nós inventada.
Veremos.
Veremos minha
Não-Amada!

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Um dia noutra vida

Por vezes perco-me de ti.
Deixo que te resolvas
Às tuas coisas
(Que não venhas...
Que não existas...
Que nunca tenhas sido).
E eu encontro-me
Nas minhas coisas.
Queixo-me por desabafo
Mas não sabes
Que a escolha é minha
De estar aqui.
Perder faz-nos fortes.
Amigos de nós próprios.
Livres de prisões
Que nos queiram
Por tanto nos quererem.
E mesmo que não,
Livres,
Para deixar passar o que
Nunca foi nosso.
Todas elas jamais foram minhas
Mas levaram o que podiam
De mim... e não foi pouco.
E foi dado de coração...
E foi o que foi.
Contemplo os dias assim
Com estes meus silêncios
Rasurados em pensamentos
Escritos
E perdidos pelas horas.
Acordo comigo de ti
Desencontrado.
Um desejo almofadado
Em esperanças de garoto
Pouco rodado
Às coisas do amor
Duma mulher.
Ser surpresa e delícia.
Ser novo.
Ser para sempre.
Se um dia vieres e se eu
For diferente
Seremos uma novidade.
Uma vida nova.
Um para o outro
De forma conivente.
Seremos amor de gente
Fora do papel,
No leito da manhã,
No abraço da noite
Que adormece em nós.
Um dia noutra vida.
Um dia.
Quando quiseres minha vida.

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 19 de abril de 2017

A Terceira

E se o mundo acabasse
Entretanto?
Este onde os homens
São seus e de ninguém
E se fazem desaparecer
Uns dos outros?
E se nós não tivessemos
Tido tempo para amar,
Para termos tentantado
A vida juntos,
Teremos morrido sós?
Morreremos sós é um facto
Mas morremos antes vivendo
Sem nos termos
Amado.
Que morte!
Que desastre!
Que mundo acabado!
Vem aí uma guerra
E em que lado estaremos?
Em que amor acreditaremos?
Vou morrer amando,
Porque não tenho medo
Do fim.
Tenho receio
Isso sim
Por acabares só.
Por desapareceres
Antes de nós.
Venho em paz.
Vem que o tempo definha,
Não volta para trás...
Vem para a vida
Desta que cada vez mais
Se mostra atroz.
Para a morte.
Para essa maldita sorte.
Ela anda a farejar-nos
A pequenez.
O ego distraído
Do que junta todos nós.
Andámos distraídos,
Rendidos à importância
Desmedida da nossa irrelevância.
Preguiça.
Inconstância.
Vem aí os dias do fim
Do que fomos.
Seremos novos
E eu vivo para acreditares.
Porque já morri.
Renasci do outro lado do medo.
Não tenhas medo,
Nem pena
Pelo desmazelo
Com que todos nos tratámos.
Somos pequenos
Senhores do nada
Proprietários do tempo
Futuro acabado.
O amor é tudo
O que não se vê
Quando se perdeu tudo
De o que se não crê.

Estarei do outro lado do medo meu amor.

VAz Dias

#palavradejorge

Amor Próprio ao Próximo

Sei que não deva esperar.
Como eu, tu
Tens sempre onde ir
Primeiro.
Entendo.
Andamos nas prioridades
Tão nossas,
Tão necessárias.
Nas sustentadas
Impossibilidades
A que todos nos devotamos
Uns e a outros.
Franja entre egoísmo
E amor-próprio.
O que é isso que mais
Parece egoísmo
Ou é o inverso?
Um universo imenso
Que nos afasta um dos
Outros
Para que tudo esteja resolvido?
Uma vida inteira de preparação
Para os outros.
Uma morte que chega precipitada
Antes de outra vida.
Se morrermos antes,
Como teremos direito
A outra vida?
Ao amor?
O amor-próprio é nada
Se não o formos trabalhando
Em comum.
Amar em partilhada caminhada.
Aprender por nós.
Com o outro
E cada um.
Amar a caminhada.
Amar na caminhada.
Sermos Um
Sendo cada um.

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 18 de abril de 2017

Escarlate

A pele vestiu encarnado.
Escarlate de mulher
Sem tempo.
Intemporal ruborizado
Do fogo que arde
Em silêncio.
Passa o tempo.
As vidas
E a magia
De quem nestas vidas
Todas
Também te tem encontrado.
Fogo com fogo
Deste calor todo
Que passou
Do gelo.
Ruiva amêndoa
Dos olhos.
A madeira e o céu
De fogo
Com pano de fundo.
A beira-mar e o fresco
Que balança tudo.
A ponderação
E a elegância.
O sereno extremo
Do fogo em lume
Brando.
Fui te encontrando
De vida em vida
Durante tanto tempo.
Há vento e sopro
Em que o lume
Se vá alimentando.
Brando
E bravo
Vem o céu de fogo
No firmamento.
Uma nortada.
Fogo polar
Que queima de gelo.
Bravo e brando
Como escarlate
Encarnado
Do meu encanto.

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 17 de abril de 2017

A que sabe a tua voz?

A que sabe a tua voz?

Atrás daquela chamada 
Onde ecoa o vento da foz?

Foi para lá de mar.
Foi para lá de nós.
Uma chuva
De molhar beijos
Que correm rios.
Que colhem frios
Na barriga.
Vento que exalta
A memória
Que nesse eco
A tua voz
Beija.
De beber esse beijo
Eu consiga.
Fala-me de novo
E o beijo é água
De correr um ciclo.
Um mar.
Um rio.
Somos nascente
De beijos chovidos.

Molhado é o sabor
Da tua voz
No meu Ser colhido.
Saudade é o sabor
Do teu Ser
Se ter rendido.

Chove um beijo.
Do coração,
Fala-me ao ouvido.

VAz Dias

#palavradejorge

Adormece-se um Pequeno Sonho

Imagina uma rapidinha.
Uma daquelas
Secretas fugidas
Para a nossa cama.
Não é a carne
É o corpo que se ama.
Beijar-te.
Sussurrar-te ao ouvido
Banalidades
Num misto de promessas
Veladas.
Rápidas.
Adormecemos para uma sesta.
Uma daquelas nossas
Qualidades.
Deixar para depois
O lascivo desempenho.
Adormece o amor
Que por ti tenho.
Um sonho pequeno
Que se tece
Com engenho.
Beijo-te as costas
E a nuca.
Tudo no seu mais devido
Tempo e tamanho.
Pequeno sonho
Que por ti tenho.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 16 de abril de 2017

Monólogo

As tuas fotos... meu Deus! É-me impossível dissociar o teu íntimo da tua beleza. Desse traço que faz fotografia e poesia nos de si já loucos. Esses poetas da plástica fraqueza à linha que os trai do que conhecem. Não me interessa quem te ame. São loucos. E com razão. E eu mais fraco. Mas feliz de insanidade. Vê-se a tua felicidade. Quem me dera ser fotógrafo. Sou apenas poeta...ou isso, louco!

VAz Dias

#palavradejorge

Interrompido

Interrompido...

Toque contínuo.
Num e outro dia.
A vontade amordaçada.
A pessoa do outro lado
Da chamada.
A vontade controlada.
O toque.
O teu no meu
Do meu no teu.
O toque que morre
Em cada sinal
Interrom...
Pi pi pi pi...
Do.

Hoje renasço de novo.
Um dia em cada
É oportunidade.
Mas antes morro
Por interrupção.
Não era minha vontade
Criar comoção.
Mas também foi nossa
A intenção.
Vontade que dá sinal
Até à próxima.
In...terrom...
Terrom...
Terrom...
Pi

Pi

Pi




Pi









Pido...

VAz Dias

#palavradejorge

Silêncios de viagens ao interior

Silêncios de viagens
Ao interior.

Observo-te nas paragens
Do mundo.
As cores que trouxeste
Para pintar os meus olhos.
Enriqueces-me muito
E as palavras também.
Minha guia,
Minha viajante bonita.
Estímulos que não sabes
Que viajam
Ao centro de mim.
Viajas lá dentro
Sem saberes
(Ou sabes!)
És a viajante de terras
E de cores
E das coisas que se encontram
Por serem descobertas
De mim.
Dou-te a mão
E levas-me.
Vamos ao centro de um
Vulcão.
Pode ser o teu
E sentir o chão
A palpitar,
Um coração que estremece
Pelo teu se deixar
Levar.
Damos uma volta
Ao mundo cá dentro.
Faz-me viajar!

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 15 de abril de 2017

A Casta do Tempo

Sempre que escrevo
Alivio essa expectativa
De te ter aqui.
De te trazer para perto
De mim.
Claro que quero
A tua carne,
Senão amava o ar
Ou nada.
Mas trago-te sempre
Com as palavras
Que são tuas.
Trago-te como o vinho
Que não posso.
Mas trato-te como
Um sonho que se espalha
Pelo sangue.
Faço-te física.
De carne.
Embriago-me de ti.
Do prazer que me dás
De aqui não estares
Estando espalhada
Pelo meu todo.
Ponho-te um "gosto"
Com um poema.
Não é um aplicativo
Igual ao dos outros.
Sou eu e tu.
E o que fazemos
De aproximação.
A beleza de te ver
Na imaginação
E fazer-me real
Na tua imaginação.
Sou real mesmo
Não estando no nosso
Beijo.
Mas ele existe
E não é o tempo
Que o faz perder.
É ele que o amadurece
Como vinho
Com que te trago
Para o nosso próprio
Tempo.

Um beijo amadurecido
Contemplo.

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Pausa dos deuses

Pausa o tempo
Como se fosses mesmo
Dono do Tempo.
Pausa como se um deus
Tivesse o poder
De pausar aquilo
Que deu à criação.
Pausa tudo na riqueza
Dos pobres.
Dos pequenos ínfimos.
Dos microscópicos.
Do tão eternamente
Pequenos que somos.
Tudo num beijo.
Numa pausa do tempo
Que anda lentamente.
Mas à velocidade
Que deve andar o tempo.
É o beijo
O contentamento.
O prolongar do momento
Que cremos ser
Pausado.
Nosso
Pequeno e único
Grande momento
Lado a lado.

VAz Dias

#palavradejorge

Monólogo de Ti Acompanhado

Enveredo em monólogos
Contigo.
Assisto à tua solidão
Acompanhada
Pela minha distância
Aproximada.
Sei que estás aí
E não te vejo.
Percebo os sinais
De busca.
Farol em nevoeiro
Cerrado.
Estou a teu lado
E em todo o teu
Redor.
Toco-te como ar.
Respira-me que não
Me importo de ir falando
Sozinho.
Desde que acompanhado.
Esvazia o ar.
Inspira-me e deita
Fora devagarinho.
Sou reciclável.
Volta que eu volto
Quando não houver
Nada mais para amar.
Devagarinho.
Devagar.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Puro Sangue

A postura.
Retilínea.
Esquadro de
Noventa graus.
A sela que abarca
A anca.
A compostura
Com que dança
E a graciosidade
De como se move
No flamenco.
Uma rosa na orelha
E o palco,
O campo imenso onde
Um cavalo branco
Trota.
São as imagens
Que saltam ao meu
Invento.
A paixão nova
Que no meu ser
Desponta.
Alentejana alma ibérica,
Passo a passo
E dança eterna
Dos corpos.
Os minutos são poucos
Dancemos todos.
Aceleremos o passo,
Compasso seguro
Que registe
Como é puro o
Sangue.
Como o teu fogo mande
E a dança flamenca
Faça correr nas veias
Um cavalo branco
De puro sangue.
Baila morena
Este meu ser de vontade.
Cavalo que corre
Livre para o fogo.
Corre mas arde.
Puro sangue
Que por ti flamenca dança
Arde!

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Casa de Música

Bate tranquilo
O coração desprendido.
Em cada batimento
Ecoa nas costelas
Um xilofone de tons.

Ton ton tooon...

Casa de música,
Caixa de sons.

Tac tac taaaac!

Bate em seco
Quando te vejo por perto.
Ou me assaltes
O pensamento.
Se te chegas perto...
Ataque
Cardíaco
Que a minha paz rebate.

Tuf tuf tuuuf
Um arrepio,
Um agudo,
Um médio
Que o ritmo
Reproduz.
Grave é não ter-te.

Têr têr ter-te!

Pulsação
Bate o coração forte
A perder-te de vista.
Gravo o ritmo
Numa pista e só se ouve
A tua voz.
Ficou no peito
Que ecoa
Até onde distas.

Pum parrum Pum
Pum pum

Alvoroço de som.
Batida.
Frequência cardíaca
Perdida de tons.
Acelera.
Desacelera.
Guina
E vira para dentro
Onde me rebento
De borboletas
De asas abertas
Subindo da barriga
Ao peito.

Pei pei peito
Aberto
Com amor de te ter por
Perto.
Tenho uma batida
E é tua.

Tu tu tuaaaa
Tu tu tuaaaaaaa...
Tu tu   tu        tu
Tum
tum

tum

Tum...
Tu
Tua...

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 11 de abril de 2017

Coração de Fogo

Porque ainda escrevo?
Porque me mostro tanto
E me desnudo em poesias
Que não me levam a ti?
Quero acabar com
Isto tudo e ficar contigo.
Impensadamente como
Aquele rapaz que fui.
Ser ingénuo é maravilhoso
Quando se é bom,
Faz-se bem
E depois fica-se só.
Fui rapaz fui.
Mas cresci para ti.
E para ti.
E para mais quem veio.
Mas és tu,
Tão tu que me arrebatas
E me fazes colocar as mãos
No fogo.
Sei o que queima.
Sei estar no lume.
E sei refrear.
Tenho mãos de fogo
E se colocares lá o teu coração
Eu guardo-o.
Não o queimo,
Só luto fogo com
Fogo.
És coração ou fogo?
E se fores ambos,
Quem mais tem mão
Neste incêndio
Descontrolado?
Vem para o meu lado
E eu escrevo
De amor
Como nunca havia
Encontrado.
Vamos arder
Lado a lado,
Mão de fogo dado,
Coração de fogo
Ateado.

VAz Dias

#palavradejorge

Poema do beija-flor

Colhi uma flor
Que tão inocente
Se entregava
À palma de quem
Primavera lhe trazia.
Não queria mais do que
Senti-la.
Pétala beija-mão.
Boca beija-flor.
Fizemos amor
Antecipando o verão.
Foi uma brisa
Que nos juntou.
A beleza pueril.
O tempo que não revolve.
Como se devolve à terra
O que de lá pertence
Sem que na memória
Tanto amor no coração
A lá ficar
Nos convença?

VAz Dias

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Ahhhrde!

A porta daquele banheiro
Que quase se fecha.
A tua mão
O movimento refreia.
Incrivelmente
No meio de tanta gente
Não há gente
Naquele intermédio momento.
O olhar que lançaste parou
O tempo.
Foi há algum tempo
E no entanto
O movimento
Permanece em câmera
Lenta.
O teu olhar ainda é verde
De blusa esverdeada.
A tua mão era no meu pescoço
Crivada
Sem sequer me tocar...nada!
A mesma que a porta segurava.
O olhar tão perto.
A mão tão convidativa.
O corpo que se interpunha
Entre o pecado
E o tempo que na memória
Se escondia.
O nosso momento mais
Lúbrico.
Mesmo mais do que
A vez que me atiraste
Para ti.
Aurora e rua quente.
E tu entre mim
E a entreaberta porta.
Tudo reporta aos tempos
Em que esse corpo
Em nós se transforma.
Verde é o olhar
Que nos meus sentidos
Desponta.
A memória volta.
E eu não entrei em ti
Nem através daquela porta.
Garanti o tempo
E a impossibilidade.
Escrevo para morrer
Esse momento
Tarde.
Pela memória
E o nosso desejo
Que ainda
E lentamente...
Ahhhhh...
Arde.
Foi o teu olhar
Mão que ainda no meu corpo
Agarre.
Me puxe e me trave
De contradição.
Sussuro o teu nome
Para dentro.
Fica no teu ventre
E um vento de verão
Que passou por entre uma porta
E o tempo
Do passado em frente.
Ardo!
Ahhhrdo
De ti pecado ardente.
Verde foi o olhar
Que fez de mim
Demente.
Agarrado a um filme
De ti em câmera lenta.
Tão lento.
Arde a película
Permanentemente
No meu ser.
Nos meus sentidos.
Naquele amanhecer.
Arde.
Ahhhhrde.
Ardentemente o nosso
Prazer.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 9 de abril de 2017

Limbo Lambo

Minutos
Que

Vão

Caíndo.

...

Um
Por

Outro.

Vou desistindo
De sonhar contigo.

Estás aqui

Em cada

Minuto que  vai      passando.

Tu és ruído.
Rrrrrrruuuuuuí.......................do.

Que preciso para

Poder

Cair

No sentido para
                     lelo

Do meu leito. (Leite)

De gato lamber os bi-god-es.
Gata vem. Adoro quando me acodes.

Não nos acordes.
Deixa ficar neste l    m       ooo...
                                 i       b

Aposto que podes.
Apostadores sem horas.

Vamos indo
E ganhado valores.
Contentores de índios.

Setas para o ar
Com asas de dar amor.

Contentes.
Sem dores.
Índios indo de amores.

Sonho contigo. É l      m       ooo...
                                  i         b

VA
     z Dias

#palavradejorge

Vala Comum

Sinto-me emparedado.
Tudo tem brilho
Mais do que exagerado.
Exagerado sou eu.
Tento eufemismos
Desta ou daquela,
Arredado.
Tento eufemismos
Em vez de ficar calado.
Já soube ser
Dono do tempo.
Já soube não querer
Saber nada dos seus
Méritos.
Falo, escrevo, penso...
Penso, escrevo... falo.
As pontes que me querem
Calado.
Já sei que poetas
Morrem em qualquer lado.
Na vala comum
De quem tudo deve ter
Amado.
Ou ter amado
Algo com tudo.
Morro surdo
De nada ter escutado
Ouvi um dia o Amor.
Disse-me para estar
Calado.
Sempre fui desobediente.
Sempre!

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 8 de abril de 2017

Ela.

Tenho de me desprender. Efeito contínuo de regresso a um novo eu. Sei que isso para muitos não existe. Somos apenas nós próprios com a nossa vida única. Paridos de pai e (mais) de mãe pelas únicas dores a que cada um obrigou a progenitora a sofrer.
Sofrer?
Quantas vezes eles se enredaram de prazeres até eu surgir para a possibilidade? Ninguém quer saber do amor dos pais na concepção. Na dura ventura da repitição a que se sublimaram. Sou prazer agora pelo prazer deles anteriormente. Não falo em vão, mesmo eles não estando. Deram o prazer e a vida. Viveram e morreram, para eu ser um ser.
Um ser?
Serei pela matéria provavelmente Um. E a minha multiplicação? A prova de que sou como eles. Que sou mais do que um. Criação. Acto de um deus. Se Ele existe e nos criou a todos, então deve nos ter oferecido o condão dessa imensa potência. Infinitos de ser.
E o prazer d'Ele?
Orgasmos elevados ao infinito do gozo imagino. Calhou-nos um pouco. Uma ínfima duma raíz quadrada dessa ínfima razão. E alguns de nós morrem por esse prazer. Tantos! Outros porém, multiplicam-se. Fazem filhos. Tornam-se deuses e progenitores da vida. Deuses!
E eu? Um pai. E um solitário descobridor de outros "eu". Sim. Longe da matéria e até quem sabe também com ela. Mudar. Transmutar de um físico meu para outro. Mudei. Larguei dependências que me fizeram mais velho do que agora. A pele que se enrugou e se tornou idosa. E o agora que regenerou noutra pessoa, sendo eu todavia. Mas outro. Regresso ao que sentia ser para mim. Um ciclo mais. Um novo caminho. Outro eu. Regresso àquele passado em que todos dizem "tivesse eu aquela idade sabendo o que sei hoje". Sei e tenho a idade que me apraz. Só quem morreu sabe como se faz.
Reerguemo-nos.
Vamos à luta do que queríamos e encontramos a criação dessa aventura. Quando a matéria desistir eu já terei vivido mais vidas do que a única que me foi conferida. Serei o morto mais feliz. Estarei na boca dos beijos oferecidos e roubados. Estarei no ouvido de uns fados. Estarei no peito tatuado de brisa. Estarei na filha. Estarei nos netos se ela for deusa com o amor dela. Estarei na vida deles e dos que me quiseram como matéria e palavra. Estarei noutra vida desmaterializado.
Mas fui eu e outros de mim.

Viajo dentro de mim. Encontro sítios que nunca vi antes. As pessoas são os meus novos sentimentos, emoções, cheiros, sabores. Serão toque e palpitação. Serão a novidade que nos faz diferentes nesses novos lugares. Como quem vai mesmo viajar noutras terras desta matéria. Já viajei também a alguns desses lugares. Nunca me pude lá deter tanto tempo. Mas mudei um pouco por lá. Mas nunca para a nova pessoa em que me vou encontrando. É cá dentro que eu mudo. Às vezes tão profundamente que a cara e o corpo são doutro. Eu, mas outro.

Quero pensar que sou agora Amor. Mesmo não O conhecendo bem. Sei porque a minha filha existe e no seu olhar e nas suas palavras uma grandeza de espírito se transcende em tudo. E em mim também, suponho. Vejo-a de longe, desagarrando-a da minha vida com essa força. Deixando que a força da vida seja a dela. Que ela seja ela própria. Várias "elas" se assim quiser. Vejo de longe e abraço de perto. Quero que ela se habitue a ver-me de longe. Porque mudo muito. Porque vou muitas vezes para tão longe. Mato-lhe a saudade aos poucos esperando não levar o Amor pelo mesmo destino. Acho que é por amor que o faço. Sou. Reajo a mim e o que ela é da materialização do amor. Mas acho que ela é mais. Essa alma que vou levar comigo quando eu tiver também de ser apenas alma. Quando a minha matéria "desexistir". Desistir. Com esse erro que somos. Como esse erro que todos somos. Apenas não existe um erro. O que somos nos nossos filhos. E como humanos somos matéria de Deus. Pequenos deuses a existira pelo prazer. Pelo amor de sermos tantos nós.
E depois eles quando nós já não formos matéria. Ou eles antes, e isto é um eterno regresso, e eles nos deixaram ser. E eu tantos. Os meus pais, os pais deles e toda a vida que existia. Mas também ela me deixar ser todos os meus outros eu, até descobrir o Amor que regressa a Ela.
Ela.

Partidas

Rebolo no argumento
Em como te chegar.
Assino acordos
No meu íntimo
E acordo sem despertar.
Trato-te como um sonho
Evitando que sejas real.
E quando te chego
Tu partes.
Fazes pior do que eu
E partes o meu desejo
E foges para o meu sonho.
Fugimos para o mesmo
Sítio.
Mas em tempo irreal.
Desfasado.
Tudo é certo de mal.
Desencontros
Que estimulam o encontro
Ocasional.
Esqueço-me de ti.
E fazemos bem assim.
Devíamos ser só criaturas
Da carne.
Instintivos e de chama.
Não haveria eu de falar
E tu serias dona
A espaços
Da minha cama.
És realmente um problema
Que gosto de ter
Na minha vida quotidiana.
Mas um problema.
E tenho de te fazer
Esquecer
Por mais uma semana.
A oportunidade soberana
De alguém como tu
Entrar.
Que seja daqui
Ou disponível.
Que me empreste o teu corpo
Em memória
Ou vença com a sua própria alma.
Fazer-te passar para lá
Da Taprobana
E fazer-nos ficar para lá
Da história.
Que passe mais uma semana.

Viesses tu para a minha
Vida quotiduana.
Fazeres merecer o fim
Por seres normal.
Por seres intragável.
Por seres uma chata
De primeira.
Seres tóxica
E arranjares maneira
De matares este bicho
Que me torna
Animal.
Luto com o pensamento
E a ansiedade.
E o sexo.
E a vontade.
E a verdade é que te quero.
Experimentar
Até ver o que desespero.
Pôr-lhe um fim
Ou num amor de ti
Tê-lo.
Mas não vens já.
Vens vindo.
Vais indo.
E eu aqui sem saber
Se tive algo de ti
E se enfim
Chego sequer
A perdê-lo.

Arrumo o teu cabelo
Dessarumo a cabeça
E o corpo fica
Perdido.
Fazes de mim
Um manípulo
De mim próprio.
Ajeito,
Desajeito
E assumo o contraste.
Não sei por onde entraste.
Que desastre!
Um acidente
Que marra no meu equilíbrio,
Desequilibrado.
Tu és ainda mais desequilibrada
Do que eu.
Sim, quando me encontraste.
No resto,
Mascaras bem na rotina.
Fazemo-nos mal
De bom.
De superlativo.
De fim das coisas sãs.
Sabe tão bem
Saber que isto vai correr
Tão mal.
Um fim anunciado
Do que nunca foi normal.
Se é que foi algo.
Se é que...
Sexo.
E matamos o bicho
E uma relação que antes de ser
Já era terminal.

Assino acordos
Nesta minha insistência
Mental.

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Senhora Nossa da boa Hora

A pele.
As costas profanas
Duma capela.
A noite
Que se destapa dela.
Ela é dia
E o espírito nunca
Dantes teria amado
Àquela hora.
A pele.
Leite que por ela
Derrama.
O corpo chama
E urge
Para que se guarde
Ali naquele local
A alma.
A pele.
O beijo que se estende
Para além da hora.
Do tempo
Em que é nova.
A hora que é jovem
E o dia que irrompe
Dela na minha hora.
Em boa hora.
A dela.
A pele.
Desliza sedosa.
Bela nova.
Senhora
Nossa
Da boa hora.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Linha Curva

Linha curva
Que te cai tão bem.
Lembro-me do olhar
E do desejo
Que tão bem
Me fazem tão mal.
Quem te mandou
Ser-me tão igual
No olhar
De tão indiferente
Depois.
Sua ébria!
Mesmo quando sóbria
Me provocas
Uma hérnia discal.
Devia ter sido
No leito da minha cama
Ou da tua
Ou em qualquer outro local.
Não foi. Faz mal.
És demasiado séria
Para gozar comigo.
Devias ter gozado
À séria comigo.
Depois devíamos ter falado
Até adormecer.
Um concurso de pálpebras
De flamingo
A asa bater.
Um final de tarde
De cores quentes
E rosa roxo
Azul escuro
Entardecer
Até à noite.
Com as estrelas
Fazer amor
E contigo foder.
Vermos estrelas
E virmo-nos
Nas linhas
Arredondadas
Do teu corpo
E me fazerem desaparecer.
Caiu-te tão bem
A linha arredonda
Na minha cara metade
De prazer.

Amanhã é um bom dia
Para mim também.

Vem cá ter.

Mesmo antes de nos
Entardecer.

VAz Dias

#palavradejorge

Favoritas

Como podes tu ser a
Minha favorita?
És tantas ao mesmo
Tempo.
Faço um pé de vento
Ou invento uma nova
Estima.
Vem mais uma para
A velha rima.
Favorita
Tal qual a que
Agora se aproxima.

Cala-te!
Não vês que é egoísta?

Egoísta da minha parte.
Quero-te em todas.
Que te reproduzas
Em cada hálito,
Em cada beijo molhado.
No corpo dobrado
Sobre o meu
Nu e enrugado.
É da jovialidade
E do favoritismo.
Da multiplicidade
E do erotismo
Perdido.
És a favorita do
Impressionismo.
Faz-te impressão?
É um aneurisma
Que eu também ultrapassei
Ficando aqui pendurado
Olhando para o nada.
Estou só
Aqui olhando
Porque razão
Alguém deve ser favorito
Se todos temos
Mais cores juntos.
Quero-te de lado,
Pintar-te as costas
Com as minhas cores.
Não quero que me vejas.
Não me quero como
Teu favorito.
Quero estar aqui calado
Sozinho contigo.

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Olhar proíbe-se!

Proibi-te ao nosso
Olhar.
Remete-te para as tuas
Coisas.
Disfarça-te de mundano
Com anseios espirituais.
Tens tudo nele
Que não o meu olhar.
'Tás segura.
Imponente na tua redoma.
Fui eu que te olhei
De pecado
Enquanto procuravas
Fugir.
Não é culpa,
É fado de quem
Não sabe fingir.

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 4 de abril de 2017

Perdas Caladas

É no silêncio
Que vou fazer por te perder.
Ou melhor,
Que me vais perder
De vista.
Isto claro,
Se tens olhos nesse teu
Coração que me dista.
Perco sempre por
Aclamar as virtudes
De quem amo do nada.
É um exagero bem sei.
Mas sou eu o exagerado
Também da resiliência.
Da paciência que tenho
À impaciência
Do mundo às minha ínfimas
Buscas.
Mas também tenho súbita 
A mudança brusca
De opção.
Vou calar-me por ti.
Para que te vás embora
Em paz.
Sem levares palavras minhas
De peso.
Se é para nos perdermos
A sós,
Seja connosco mesmos.
Amar-te-ei de silêncio
Até que não te lembres
Que existo.
Desisto
Mas com mudez precisa.
Ninguém necessita
Doutro
Que nem no silêncio
Se precisa.
Vou.
Decidido.
Não preciso disto.

VAz Dias

#palavradejorge

Fogo do Deserto

E pensas tu
Que o fogo com que me atinges
Não me queima mais?
Deflagro de dentro,
Entendes?
Fico mais magro
Desse teu ruidoso
Silêncio.
És mulher
E cobres-te melhor
Sem palavras.
Não desatas a tua posição
E eu que me aguente.
Espero que te fodas.
Sim e com muito prazer
Para teres em conta
A falta da que te dei.
Não te toquei suficiente?
Não te ofereci tesão?
Não te dei mar
Do rio que de ti corria?
Agora queres milagres.
Que eu desapareça
Para tua conveniência.
Espero que me fodas
Mas menos,
Muito menos,
Do que a vida
E a que possas.
Enganaste-te no fogo.
Brincaste com fogo alheio.
Não sabias que fogo que arde
De dentro
Queima
Quem é mandrião.
Mandriona
Senhora dona
Do silêncio.
Pensa rápido.
Penso-rápido
Não trata queimadura
Interna.
Não abafa o fogo
Duma terra.
Enterra agora a palavra
Enquanto eu ardo
Infernal
Do teu imenso deserto.
Não sabias tu
Que os maiores fogos
Sobrevivem
Em pessoas de largos
Desertos.
Continuo ardendo,
Por isso cala-te e fica perto!

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Ponte mais de Meia

Sabes mulher,
Já não me intimido
Com todo esse teu
Mundo de silêncios
E de incapacidades.
Não fomos nós
Que construímos pontes
Entre as nossas
Distantes cidades.
Tentei que fosse
Daqui em betão armado
Mas ficou para lá
Meio mais de caminho
Que ficou
No amanhã pendurado.
Vai a água passando
A caminho
Do seu natural fado.
Canto perdido
Pela foz e um mar
De saudade.
Uma ponte perdida
Amando o mar.
Que triste sina...
É verdade!
Mas há outras pontes.
Mulher há tantas outras
E não penses que não sei
Que te queiras lançar.
Construir-te até mim
Aqui meio dependurado.
Passa a água
Em branda velocidade.
Vou-me banhando.
Não te tenho assim
Tanto em falta.
És tu que não vês
Como se alenta
A ponte de uma grande cidade.
Banhada pelos anos
Dos ciclos.
Da grandeza
Das pequenas pontes altas.
Onde foste mulher
Perder a coragem
De me conciliares?
Porque te arrependes de ter
Querido?
Porventura serás mar perdido
Em rio que pouco
Desagua.
E eu canto
Contigo
Em mim nua.
De verdade dura
De não cá vires
Constriur pontes
Ou ser rio que em mim
Desagua.
Nem pontes,
Nem mar,
Nem a puta da vida
Que nos queira.
Escrever-te foi uma asneira.
Mas beijares-me
Foi a ponte
Que tu
Lançaste para a minha beira.
Agora és silêncio
Que para outra cidade
Se esgueira.
Vai.
E quando voltares
A resiliência é minha
Para te mostrar
Que nem leito,
Nem rio afoito
No seu caudal
Me desalentam
Do que é construir
Ou me deixar banhar.
Sou rio,
Ponte de cidade
Apontado para o mar.
Desagua.
Vai.
Espande-te.
Não tenho que te amar.
Bebo-te o sal
E cuspo-o para longe.
Não tenho de te amar.
Não tenho mesmo.

Não tenho...
De te am...
Mar.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 2 de abril de 2017

Sotaque

No meu corpo
Nunca houve fronteiras
Como tantas vezes
Houve no meu querer.
Mas o tempo
Diluiu as delimitações
Do amor
E do que era respeito.
Desrespeitei
Tudo porque me tingiram.
Como ela que
Se deixava tingir
Por todos os sotaques
E passava a cantar
Ao ouvido de quem
Tinha essa fronteira.
Desrespeitei-me
Porque não sei fazer-nos
De outra forma.
Tenho sotaque de ti
E não sei falar mais.
Porque me arrastas para aqui
Se só sei cantar
Com o corpo?
E o que faço com o teu
Sotaque
E aquele cardíaco ataque?

VAz Dias

#palavradejorge

Terra Maré

Pisei terra onde mar
Desaguava
Bossa nova.
Chegava e ia.
Como pessoas
De todas as terras.
E o meu olhar
Detinha-se
Na dança dessas cores todas.
Azul de alga.
Verde de balanço
Do violão.
Encarnado
Italiano e escaldado
De alemão.
Tudo estagnava
Enquanto eu mudava
De opinião.
Aprendia à velocidade
Das cores que mudavam
De lugar e ocasião.
E Caetano
Cantava lá ao fundo
Da maré dessa canção.
Terra maré.
E uma gaivota em pé
Ao pé da minha mão.

VAz Dias

#palavradejorge

Terra Corrida

E o mundo
Debaixo dos meus pés
Desata a correr.
Levando tudo o que é
Vontade
A despertar.
Não é amor.
Não é paixão.
É ir.
Não ficar parado.
Não sei se é o mesmo
Caminho
Que nos aparta
Ou que nos desata
À busca de nós mesmos
Um no outro,
Mas é terra corrida
Que não deixa os sentidos
Inertes.
Desperta!
Não esperes
Porque se é para nos encontrarmos
Foi terra da vontade
Que quis isto.
A tua e a minha
Na verdade.
És a mesma distância
De que de mim disto.
Vou encontrar-me
Enquanto a terra
Nos corre debaixo dos pés.
É nossa.
Não esperes!

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 1 de abril de 2017

Corremos toda a noite

Ando à volta das palavras.
Por agora fui
Ver das pessoas.
Andavam perdidas
Como as palavras
De mim.
Disse que estava presente.
Mostrei-me presente.
Pretendente
De um futuro
Sem concessão.
Sem a predilecção por finais
Felizes.
Só a palavra "finais"
Arruma com qualquer desejo
De ser feliz.
Nunca morro desses "finais",
Afinal,
Fomos feitos para continuar.
Quero continuar a viver
Depois sendo palavra.
Mas agora quero ser
Pessoas.
Ser a natureza do inóspito
Desconhecido.
Abrir uma auto-estrada
Do tamanho da vontade
E ir.
Como venho
Mas ainda sem mais freio.
Sem receio de morrer
Ou ver as palavras desaparecer.
Elas lá estão,
Mesmo caladas
Quando a viagem se nos oferece.
Corremos uma noite inteira
E o dia seguinte
Era chegada de partir.

Deixei lá algumas palavras
Para encontrares.

VAz Dias

#palavradejorge