domingo, 29 de setembro de 2019

Causa de morte: Doença prolongada

adoeço da falta de ti.
se o cosmos interfere
tem-me ferido de morte
a cada dia que passa.
a dor que te evitei
- que faço aos que quero bem -
adoece-me a cada dia.
se é para aprender
já sabia antes do fim e
a dor é a replica
diária após o fim.
e julgávamos após esse fim
que tudo terminaria,
não podíamos estar mais
enganados.
mais apartados
e com a aguda ruptura
a apertar
e este o amor que te
tenho e a todos.
se houve um filho
do pai na terra
então sinto essa ínfima
materialização.
essa história de dádiva
mesmo com o desaparecimento.
e se o amor me rogou
uma praga morrerei
com mais dores
do que o mundo viu
pois elas perduram
muito para além do fim.
e se amar dói tanto assim
desejo que ninguém ame.
que ninguém adoeça assim.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Indelével

Passei
passarei
permanecerei
indelével.
Invisível ao cuidado
abstracto convidado
na vida dos que
entrei.
tenho de passar
nos mil e tal
para uma pessoa
ser minha de tocar,
de eu ser tocado.
sou foz ao mar
dessa gente toda.
padeço nuns
e germina-se a palavra
em poucos.
um fundamentalista
do retorno...
eterno retorno
de a mil e tal
volver um,
dois.
nós os dois de cada
vez.
são mais as marés
do que posso
merecer.
indelével não é
prepotência
e a cadência com que vos
quero
e a vida me dá de volta.
aquele que não nota
e mais outro
e outra
e outro
e outra
até que invisível
amor brota.
e o amor volta.
e o amor nota-se
indelével.

Chovem Abraços

este é o abraço
de um todo
multplicado
em pequenas partes
de reverso.
de retorno.
de um universo em transtorno
e os olhos que assentam
noutros universos
que compomos.
um toque que não
doa,
não morda como
os dentes que acariciam
quando a paixão
comanda.
que venha paixão
e abraços
apertados
de querer dar.
(essa é a demanda!)
de espremer
a dor para fora
em reciclagem
desse plástico amor
que se mantém
como garrafa perdida
no tempo.
decompondo-se lentamente
e sem água.
dilua-se a mágoa
em abraços
de lábios e do tempo
lavado
em chuva celestial.
sejamos menos corpos
e mais líquidos
quando o mar se encontra
com os rios.
os rios com céu
o céu longe do
inferno.
seja inverno o abraço.
seja eterno enquanto
durar
sabendo que tudo se transforma
desde que líquido
sejamos nós
e o nosso abraço.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

sorriso de tolo

cada vez mais sozinho
sendo de todos.
cada vez mais alegre
como o são os tolos.
e assim sou eu
conhecendo-me
pelo inteiro
de cada parte.
não fui feito desta
matéria
e sou de tão mau
como de mediano
como de louco.
tão bom
de tão pouco.
o mais novo
dos novos velhos
dos miúdos
que recebo nos meus
meandros imperfeitos.
olham-me os olhos
atentos.
e vendo-me.
vendo tudo com outros
olhos e vendo-me
por caro
como do mais barato.
uma pechincha
que incha desincha
e passa como o meu
velho dizia.
uma razia de tudo
conquistado
e fica sempre o mesmo
fado de recomeçar algo.
calo-me mas não me
silencio.
sentencio o meu futuro
como tudo perdido
por tudo ter que ganhar.
e não parece nada
senão tudo o
que foi já conquistado.
já fui amado
e já fui a nenhum lado.
agora estou aqui
no meio de tudo
sozinho
melhor que acompanhado
sem saber se isso
é melhor.
talvez.
amanhã é outro lado.
é outro estado.
é a minha vez.
talvez... não estou interessado.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

os teus Desejos

Há um retorno
nesta minha animalidade
carnívora do desejo
contigo,
um regresso teu
que busca mais poesia.
Mais desejo
em surdina
que me dita as palavras
para te seduzir.
Mas isso é um tipo
de amor.
Mas isso é um tipo
de dança.
Sim quero voar
secretamente contigo
mesmo que a tua boca
não grite
o mesmo desejo.
Mesmo que ela
me beije e me cale.
Mesmo que os lábios
se contorçam
nos meus ouvidos
e aí verdadeiros,
secretos,
me desejem,
ou me amem as palavras.
Como não amar
os teus desejos?

Vidas Sumptuosas

ainda cresce
por entre fendas no betão
o optimismo.
aquele de desgraçado
que encontra pão no lixo.
que encontra água
esquecida e relegada.
(ah houvesse crise dela
e andava toda a gente
a ela agarrada!).
aquele optimismo de ver
na mudança
um passo para outros
problemas diferentes.
seria de sábio soubesse
eu minimamente o que
aqui estou a fazer.
imagino-me a fazer
uma caminhada para apenas
aprender a morrer
em paz.
fazer os outros sorrir.
pintar-lhes com luzes
ilusões, optimismos vãos,
para que nada lhes falte.
e a mim falta-me este tudo.
esta inconstância
que busca uma regularidade
"menos má"
e desbravar silvas e urtigas
para me sentar no cume
do fim.
queria eu ter riquezas
para morrer mais tarde
e repleto de sumptuosidade.
para quê?
morrer mais amedrontado
com a morte?

domingo, 22 de setembro de 2019

lua minguante

vem jantar comigo
vem fazer um poema na areia
um beijo à lua minguante
um abraço nas estrelas cadentes
depois do sol poente
e a noite de repente
fazer igual em diferente
aqui e ali
atrás e à frente.
pretendente.
presente e distante.
avante se é para soltar
o beijo na poesia.
a poesia no desejo
de aproveitar a noite do dia
e a palavra da musa
que agora me distraía.
me embebia
e agora deve ao universo
um sorriso dos dias
passados em diante.

sábado, 21 de setembro de 2019

Garças

Provoca-me!
Provoca-me vida nesta
alma putrefacta
de vidas passadas.
De carne que pela
minha carne pelou.
Pelo o amor
à vida dá-me razões
para um dia morrer
e não ir para o céu.
É longe e o infinito
é demais.
Sou tão mediano
que nem lá cima nem
no fundo do oceano.
Só por aqui
com as vidas passadas
as almas
encostadas
e a morte para os bichinhos
mundanos.
Posso voltar a ser árvore
se é que é para ser mais
próximo de um deus.
A elevação de quem
sucumbe e planeia
não ser mais alto do que
isso.
Provoca-me a chegar a ti
como os ramos ao céu.
Sejamos dia de ramos
e de darmos graças
às garças que voam
e a ti por saberes
provocar.
De graça e de me elevares.

Certo e que não volto para trás

desapareço da vista de todos. aqui onde nem eu sei quem sou e nem me desejo ver. poder de transformação que me leve a ser o quiser de mim. arte de morrer e retornar aos olhos de quem sabe corrê-los para ir adormecendo. limbo de não distinguir realidade e transe. eu não sou eu e o monstro que paira nas minhas palavras é uma fantasia bem real que vem do artista. ele que me inventa nas suas canções e eu uma representação de mim tentando ser real. caem-me as lágrimas nas conversas com quem falo e que amo à distância dos dias que passo longe e calado comigo. escrevo isso tudo. relato-me essas coisas tangíveis mas que apenas toco com memórias ainda por criar. será que quero? será que isto me merece um olhar atento ou nem o desejo me quer para ficar? sou os contrários e o que ainda não sei ser. certo é que não volto para trás.

domingo, 15 de setembro de 2019

Sabor da Boca

É desse saber
não ser quem sou
em cada momento
que me faz mais certo
desta minha realidade.
Da realidade por onde
andamos a caminhar
cheios de relflexos.
Sei que nesse jogo
de espelhos eu
sou a carne viva
que reproduz esses eus
todos.
Mas também sei que
em todos eles
existe alguém que amei.
Neste que aqui se
perfila existe apenas
o sabor certo e
Bom na boca.
O da tua.
E a saudade
não ma rouba
nem ma faz esquecer.
Nem que para isso
me acorde no meio
do sonho.
O sonho
é ter-te ainda
no sabor da boca.

sábado, 14 de setembro de 2019

Noites Desavindas Manhãs

dás-me o prazer
das noites desavindas
na manhã.
busco na poesia
que me dás
a inocência do pecado.
irmã do argumento
para no teu seio
ver-me inundado.
busco o teu lado
malicioso
que se esconde
na face rosada
da timidez.
traga-me tu à vez,
como se de velho
só sobrasse o tempo
que te venero
do cabelo aos pés.
quero todos os teus
pecados.
quero todos os teus
mais maliciosos
actos disputar.
quero ser pornográfico
e a arte fotográfica
do tempo estagnar.
fazer-te poesia
nos intervalos
doa nossos excessos
da carne.
o sexo ser a nossa arte
e a humanidade a nossa
arma
de atirar rosas ao mundo.
venho-me só
mas convicto que mexi
mais um segundo
no tudo
que tenho a perder
em cada beijo
e ensaio do nosso
prazer.
Ordena-me um pecado
teu para eu esconder
no meio da poesia
de te fazer perder!

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Estranha Forma

Escreverei como
o fado lhe sabia.
Cantar como
me perdia
e fui o que ele
ousou por demais
ser.
Sonhei um dia
ser assim,
maior do que o
mundo
maior do que a
mim.
Cantou-me o fado
a minha mãe
embalou-me de fininho
quando rezava
ou cantava
o milagre de ser
seu filho tão vívido.
Seu santinho de
ousar viver com o poema
e o cheiro a alfazema
da roupa lavada.
Senhora minha mãe
que amava
e trabalhava como
declamava a vida.
Declamava
o poesia e a letra
arranjada.
Hoje chorei o eco
do bem que fazia
por um fadista
sem o ser.
Outro que como ela
sobrevive
onde a saudade
o olhar consegue
humedecer.
De tristeza mas de amor.
Seja à mãe
a outro senhor ou senhora
ou só uma flor.
Hoje caíram-me lágrimas
de a ter encontrado em mim
noutro homem.
Maior que a vida
e maior do que a minha canção.
Hoje cantei o fado
sem nunca ter interpretado
a intençâo sequer.
Hoje a minha voz
calou-se desta solidão
que é estar onde não estou
de coração.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Imolados Imaculados

imolado e imaculado.
duas palavras.
imolado... imaculado.
imaculado... imolado.
nascemos limpos.
crescemos com o poder do fogo.
morremos aos bocados
do seu todo.
queimamos e voltamos
a um todo.
imaculado soldo
de uma vida que arde.
em que ardemos isolados.
reencontrados com as cinzas
dos nossos antepassados.
dos nossos aguardados
amores.
trabalharmos para sobreviver
e arder.
consumimo-nos na dor
e no prazer.
imolados para voltarmos
a ser imaculados.
desvanecer.
desSer.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Talvez de Novo

pedaços de papel
espalhados pelos
bolsos de tanta gente.
como se fossem
notas de vinte escudos
a que quase ninguém
daria valor agora.
o que eram esses vinte
paus em miúdo?
um sorvete.
uma delícia que se
deixa mas sem o valor
do próprio bolso.
essa imagem que foge
e termos um valor
ultrapassado.
venha uma moda
para alguém ser relembrado.
mas que não venha!
sejamos um sorvete
de frio soviético
que também já não se
lembram.
voltemos a ser
o que todos se esquecem.
se deste valor ao sorvete
se leste as notícias naquele
tempo.
se foste platónica
como a timidez que me fez
ler.
e ler para escrever.
e ver valor no que já ninguém
vê.
sejamos um tempo
qualquer
em que fomos juntos
num qualquer pedaço de papel
que te mandei
para namorares comigo.
sim.
não.
talvez.
Talvez.
Talvez de novo.