quarta-feira, 31 de maio de 2017

A natureza das coisas por si

Não é só esta música.
Há outras.
Tantas.
Todas por onde
Redescobri a audição.
Há sons na natureza
Que passam
A ter vida
Depois disso.
Há plantas que nascem
E outras que se vão
Dissipando
E oiço tudo.
Ganhei sentidos
Porque houve coisas
Sentidas
Porque há coisas
Perdidas
E depois estas todas
Que me estão a ser dadas.
Tarda.
E depois canta.
Mesmo que a voz
Do que nos queira
Apenas sorri.
A natureza das coisas
Por si.
Por ti.

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 30 de maio de 2017

Mar de Sol

Vertigem de cair
Nesse teu ser.
Mar de sonhos
Que banharam amores
De todos os tempos.
Foste outro amor.
Eu também.
És mar e eu outro mar
De te preencher.
De me preencheres.
Somos a água
Que arde com o sol
Que no futuro
Se estende.
Ainda não sabes
Que sou mar
Desse sol?
Não sabes que Futuro
É o que quiseres
Do Sol?
És Futuro se Quiseres!

VAz Dias

#palavradejorge

Verteu

Foram os dias
Que deixaste verter
Por aquele canto
Afunilado do mundo.
O nosso tempo escoou
Como se na beira
Houvesse fundo
Mas não há fundo
De verdade no universo
Que regresse
De passado.
O tempo foi por nós
Escolhido
E tratado como melhor
Daria a cada um.
Sem queixumes
Nem saudosismo.
O tempo foi um sismo
Que partiu daquele lado
E como não parte
Também nós não
Partimos.
Nunca chegámos a experimentar
O céu
Quanto mais
O mundo!
Seguiu-se o desejo
E foi futuro.
Sou futuro.
Somos outros agora.
Outro futuro
Nos convoca.
Outro desejo
E tempo nos provoca.
Partiu o tempo
Connosco
Na sua frota.

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Ar de Fogo

O que é tempo
Se ele nos quer tanto?
É portanto
E pelo estritamente
Oportuno
Deixá-lo ditar
A velocidade.
Enquanto este lume
Arde
E as labaredas
Nos consumam
Para o sempre
Ardes-me
Quando eu precisava
De ar.
Dá-mo
Para de vez deflagrar!
Ardes-me tanto.
Ardo!

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 28 de maio de 2017

Mar é Céu da tua Terra

Os olhos que
Se encostam de pálpebras.
Os medos que vão
E vêm com a maré.
Os segundos que passam
E a calma que se instala.
O chão que é areia
Do mar que beija os pés.
Mar que beija
O chão
Que dá pé
De quem tem
Arrebatado o pulsar
No coração.
Beijo-te e sou mar.
Sereno de maré
Que te vai dando pé
De te ergueres.
Com calma.
O mar estende-se para
O céu.
Para o tempo
Que não desespera.
Apenas brilha
De quem nele se deita
E deita fora medos.
Deixámo-nos quedos
E abraçados.
Sou mar e tu és terra.
O tempo o céu
Que de nós
Não se desespera.
Um beijo de pálpebras
Fechados são quimera
Despertos
São os beijos do meu céu
Na areia que se estende
Em toda a tua terra.
Beijo
Mulher
Bela!

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 27 de maio de 2017

Simples é o Tempo

Deixo o que não preciso
Para trás.
Os pesos do passado
E as vãs esperanças
Lá da frente.
Talvez me engane
Ou me engane menos
Do que o antecedente.
Ou se me enganar
Terei sido o mais lúcido
De mim
De sempre.
Nada perderei senão
O entusiasmo que me balança
Em frente.
Estou diferente.
Estou consciente de como
Sei perder
Mas também do que posso
Vir a não perder.
A vida é leve se descarregarmos
Ilusões em poemas.
Se lhe aceitarmos
A nossa diferença.
Tenho um sentimento
De pertença a ninguém.
Apenas à liberdade
De darmos tempo
Do tempo a nós oferecido
Por aquele alguém.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Espécie em Extinção

Palavra a palavra
Segundo a segundo
Matando o vício
Do tempo
Que me mata primeiro.
Exagero!
Ou assim me quero.
Ou o que posso.
Não me troco.
Só e com troco
Para quem der valor.
Nota mental.
Manter a autenticidade.
Espécie em via de extinção
Porque um dia nos vamos
E e eu sou da melhor
Espécie.
Neste mundo de apenas um
Que se eleva
E quebra em solo.
Canto em solo
Se não te quiseres juntar.
Mas seria uma cantiga
Melhor.
Fiz uma poesia
Para te ires embora
Tranquila.
Ou ficasses por perto.
Ninguém por amor morre
Mesmo que o amor
Seja parecido.
Mesmo que eu não saiba
Melhor.
Fizeste-me sentir melhor.
Simplesmente.
E eu a ti.
Mas se não der
Não há dor.
Há um sorriso cúmplice
De quem espere pelo
Melhor.
Desejo-te amor.
Desejo-te!

VAz Dias

#palavradejorge

Copiar Colar Amar

Devolvi-te a caneta.
Rabisquei
Passados teus
Por ela escritos.
Desenhei a papel químico
O amor que já tiveste.
Sabes que eu nunca
Soube amar.
Aprendi a repetir
Pela ponta da caneta.
Pela história.
Pelo passado.
Mas sou original
Por isso mesmo.
Nunca ninguém
Quis saber tanto
Do teu amor.
Quando saíste
Não fiquei só.
Passei a ser um poeta.
Com amor para copiar
Para quem
(Como eu)
Nunca o soube descrever.
Devolvi-te a caneta
Para te lembrares
Como sempre soubeste
Amar.
Melhor do que eu.

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Casa vazia

Não resta mais
Do que trouxemos
Para a mesa.
Ficaram as migalhas
E as rezas
A que obedecemos.
A fome divide-se
Pela pobreza distribuída
Pelas bocas.
Como fazemos
Para as alimentar?
Para as calar
De tão ôcas
Que vêm de lá do fundo?
Combinámos
Enfrentar juntos o mundo.
Desistimos das ladaínhas
Que nos passaram
Sem fundo
De verdade
Senão aquela
Em que nos devotámos
Cegamente.
Temos fome
E não temos
Mais olhos que barriga.
Mesa de migalhas
De pouca gente amiga.
Ficámos reféns
Do futuro
Pensando que faríamos
Rica
Pelo menos a tentativa.
Temos fome e não sabemos
Como tapar a fome.
Como tapar a boca
Dos impropérios
A que nos devotaram
Os tempos.
Os desejos.
A crença.
É desavença adiada.
Malfadada noite
De ceia sem nada
Para comer do prato
Senão aquelas migalhas.

Ficámos juntos
Chorando esperança.
Amanhã vai ele
Trabalhar.
Ela também
E os filhos esperando-os
Com algo mais
Do que raspas de pão
E esperanças.

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Ao que se destina

Tenho tido o silêncio
Como meu companheiro
Da viagem ao fundo
De nós.
Ao tempo em
Que, compassado,
Veloz,
Se faz alucinante e
Lento.
Este é o silêncio
Do diário.
Das palavras que te
Entrego, pelo contrário,
Das outras viagens.
Desenhaste-me este itinerário,
O invento que quero
Real,
Verdadeiro.
Se for para me perder
Que seja contigo.
Procuramos um caminho
De volta
Com palavras
Ou recusando-as.
Temos muitos mais silêncios
Para descobrir
Ao virar duma esquina.
Temos tempo
Para as palavras
Versadas em teu nome.
Quero dar-te os silêncios
Primeiro.
Os beijos
E os regressos.
O amor que não peço
Mas que com o teu
Combina.
Sejamos um do outro
Se o caminho em que
Nos perdemos juntos
Assim se destina.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 21 de maio de 2017

Caixa Altifalante

Retumbante.
Vive o tambor
Da minha caixa
Altifalante.

Brada do peito.

Acelera
E ruído da savana.
Vem de lá a minha
Calma
E todo o fogo
Que não me cala.
Sou África
E é retumbante
O amor à queima
Roupa.

Bala.

Resvala na curva
Do meu pensamento.
Não durmo.
Tento.

Abrasas-me!

Mas és tu
Que me desarmas
E fazes de mim
Um instrumento
Da natureza
Que ama.
Que ecoa na savana
A animalidade
Que corre no meu sangue.

Vem.

Vem grande compasso
Retumbante
Do calor
Que é o meu
Peito tambor!
Percussão
Da minha insolente
E descarada pena
Para o amor.

Retumbante.

Garanto que desta
Não sentirei dô

Dor.

Está feito.

Estou mais que morto.

Vi

Vi

Vivo. Pronto!

VAz Dias

#palavradejorge

Baía de Chamas

É corpo e desalma-se
O ser.
Quero me perder
Nesse corpo
Que da minha alma
Nada parece
Querer ter.
O corpo serve
Para isso.
Gastar.
Perecer.
E vestir alma.
Mas depois.
Quando se apagar
A chama.
Por agora
Sejamos fogo
Do corpo arder.
Sejamos um pouco
Do que a alma
Esquecer.
O teu corpo
É a minha desculpa.
É a minha ilusão.
Chama-me
Ou vem no meu lume
O teu corpo
Ser mulher.

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 20 de maio de 2017

Voz em Linha

Acordei enquanto
Me atendias o telefone nos sonhos.
(A tua voz era tão real!)
Resolvi saber se cá estarias.
Se querias acabar
A conversa de começar
A conhecer.
Afinal, éramos desconhecidos
Apesar de chegados.
Ainda não tínhamos partido
Apesar de termos chegado.
Apeados em cada lado
Da linha.
Olhávamo-nos.
Mas só eu te via.
Tu não vinhas.
Cada vez que queria chegar
Ou comboio que se interpunha
Ou tu não querias.
Resolvi telefonar.
Era sonho.
Tu não vinhas.
Respondeste
E lembrei-me da tua voz.
Foi a coisa mais real
Até voltares.
Se eu cá estiver.
Se não for o fim da linha.
Vou na voz
Que segue com a minha.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Sorriso Incauto

O fim do início.
O retorno do agastamento.
O sentimento perdulário
De deixar ir.
Ficar só para não ficar
Demasiadamente cheio.
Não creio no amor
Porque ele desistiu
De mim.
Amo aquela música
E aquele amigo.
Amo a filha do primeiro
Amor.
Antes do amor ser
Este amor.
Mas amar agora
Convinha ser amor do dela.
Do amor após o amor
Do dela.
A vida revela traços
De malvadez e o requinte
É o incauto
Sorrir-lhe ordinariamente.
Sou um nóctivago
Despojado dos artifícios
Dos seus melhores
Representantes.
Sou matutino de ficar
Na cama.
De dia cheguei da noite.
Estou fora do "certo"
Por incerto que seja
O incesto da noite com
O dia.
Mas o amor
É uma fantasia que apraz
Quem lhe faz a vénia
Devida.
Estou farto de me dobrar
E ser tomado
De assalto.
Ainda não gosto.
Ainda não estou farto
De sorrir
Incauto...
Ainda tenho o amor
À perna.

VAz Dias

#palavradejorge

https://m.youtube.com/watch?v=eM_R2oi3l_s

Perdi um pedaço de céu

Cai do meu imenso ser
Todo um céu
Feito em mar.
Uma dor aguda
Por perder parte
Duma vida.
Ver a vida a definhar
Enquanto nos mantemos
Meios vivos
Evitando a morte.
O amor
Esse salva-vidas
E a indolência
Das fantasias
De sermos felizes
Antes de voltarmos
A ser chuva.
A única verdadeira
Aspiração
De um ser.
Ser mar de céu
E à terra voltar
Como vida que chora.
Perdi um amigo
Como se perde um amor.
Vida que desaba em aguaceiro
De dias a fio.
Tenho frio
E não sei para onde ele foi...

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Mensagem de Voz

Quantas vezes pode um
Homem amar de verdade?
De ser tomado a sério
Por si próprio
E lavado das paixões
(Ah essas arrebatadoras
Tentativas de amor
E de desencontros!
Dessa aceitação da perda
E da perda em que nela
Um homem se encontra!)
E perceber se fez tudo
A contento de si,
Este mundo não quer saber
De ninguém.
Só queremos saber de quem
Nos interessa.
Enquanto formos mutuamente
Interessantes.
Quantas vezes deixámos de
Amar?
Quantas delas eram
Apenas fogo dum lado
E amor por dentro
Do outro?
Quantas vezes pode um homem
Se enganar?
Acertar e isso ser amor?
Quantas vezes pode
Uma mulher se perguntar
Isto tudo
E nunca ter tido a coragem
De lhe perguntar?
Pode uma mulher
Amar sem se apaixonar?
De arder na calma
Do lume brando
Que o tempo vai
Queimando?
Pode uma mulher
Ser tão sua
Como dele?
Pode?
Podes me explicar
Mulher?

VAz Dias

#palavradejorge

https://youtu.be/IOspC5B69L4

Transplante de Coração

Um dia vais passar por mim
e eu nada te poderei ter dado.
Sempre me deixei
à insanidade de experimentar
o tempo contigo.
Bem sei que o teu tempo
era de outro
tempo.
Que infringimos as regras do universo
e nos olhámos.
Precipitámo-nos para dentro
um do outro
sem sequer
termos passado da epiderme.
A carne teria sido
o nosso compromisso.
E o espaço um detalhe
que o tempo
permitiria.
Mas sei que nunca foi feito
senão para essa aventura
de nos acharmos imortais.
Um dia vais passar por mim
e eu terei ido no amor
experimentar o meu tempo
no tempo de quem me quis
para além da imortalidade.
Sim, ela será nesta vida
e se eu desaparecer um dia
não terei vivido
uma fantasia.
Terei dado tudo o que podia
porque me permitiram ao seu tempo.
Por fora por dentro
deslizando em epiderme
para o profundo
fundamento,
Ser feliz com quem quis
o meu tempo.

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 16 de maio de 2017

Passaste

Passaste.
E eu sem saber se
A vontade
Era de ficares.
Foi o tempo
Que se foi intrometendo
Nas tuas indecisões.
E eu fui-me deixando
Livre.
Prisões são as que muitos
Querem
Para partilhar
E eu sou de partilhar
Liberdades.
Livre sempre foi
Quem mais de chegar,
Quis mesmo ficar.
Sou livre de mudar
Tudo
E mais livre
De mudar
Por quem quis
Ficar.
Passaste
E ficou uma fragrância
De Para Sempre.
Até sempre
Porque fui eu
Quem sempre quis
Ficar.

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Cartas Perdidas

Não interessa o que se perde
Quando o que se colhe
Com tempo
Se produziu da fome.
Da poupança.
Da exultação
E depois das outras perdas
Todas.
Se não fores tu
Não faz mal.
(Mas serias tão bem!)
O mais que suficiente
Para um perdedor
De ganhos temporais.
Perdi-me e encontrei-me
Sempre onde devia estar.
E agora
Serás que és onde
Devo estar?
Não estou só de passagem
Mas se fôr
Passarei
Para ir com um pouco menos
De ti.
Mas levar-te-ei
...

P.s. Já alguém te levou onde
Devias estar?

VAz Dias

#palavradejorge

Próximo

Estamos tão perto.
Tão próximos em cada
Lado do tempo.
Sei que invento amor
E talvez
Até calhe desta vez.
Sei que não sabes quem
Sou
Mas já me conheces.
Eu te conheço
Do outro amor.
Dos outros deste tempo.
Também lá estive
Com os meus.
Perdi-me e viajei
No tempo.
Para trás e para a frente.
Para cima e para baixo.
Em todo o lugar
Sempre lá estiveste.
Aqui e acolá.
Na esperança e no ânimo
Que se alimentou
De si próprio.
Das horas que adormeci
E das outras onde fui
Acordando.
Estamos mais próximos
Se deixarmos mandar o tempo.
O mesmo que nos fez
Esperar
Para um dia nos termos,
Amando.
Deixemos passar o tempo
Que estamos tão próximos.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 14 de maio de 2017

Privação de Sono

Oiço canções dentro
Do meu ser.
Acredito que possa
Estar prestes a acontecer.
Infinito retorno
Da perda
E do ganho.
Sereno
No meio da privação de sono.
Corri tanto
E agora um encontro.
Uma simplicidade.
Um encanto.
De tantos.
Da aventura da vida.
Da crença
E da tolice.
Quem disse que não se pode
Acreditar depois
Da morte?
Quem duvida
Que quem tem alma
Sobrevive?
Chega devagar...
Se calhar,
Mas é vida e música
Para sonhar.
Desperto para a nossa
Privação de sono.
É possível amar.

VAz Dias

#palavradejorge

Segundos Sozinho

Fiquei sozinho
De tão bem assim me
Comportar.
Deixei-vos todos juntos
Julgando melhor
Não vos importunar.
Mas o que fazer
De ser simples
Se não sei
Simplificar?
Primeiro todos os meus
Estarem entre si,
Passarem a ser seus
E eu me resignar
Às coisas serem assim.
Este foi o meu tempo
De reclusão
Com a vossa vista
E desatenção.
Estive sempre aqui
À espera de um novo
Coração.
Ainda vem descongelando
E eu habituado
A vos ver bem.
Convenci-me que me aguentava
E lá vem frio
E sem convicção
Dos seguros.
Fico aqui vendo-vos bem
Com futuros
E eu prometendo
Ao futuro que mesmo
Sozinho
Ou segundo
De alguém primeiro
Que ficarei bem.
A vida são só segundos
E vocês os meus primeiros
Meus Bens!

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 13 de maio de 2017

Pronto de Exclamação

Se calhar é assim tão simples.
Mesmo para não ficar.
Não me defendendo...
Sem expectar.
Só azul
Dos desejos
Serenar.
O que sentes
Se não há nada demais
Para esperar?
É simples de ficar.
De ir nos detendo.
Falo no meio do sonho.
Acordado
O desejo de ser feliz
Reponho.
Pronto se fôr agora
Estou pronto.
Se não fôr não me apoquento.
Estou pronto.
E isso é contentamento.
Pronto
É o nosso momento.
Pronto
É final
Do início novo.
Pronto de exclamação
Por ti!
Pronto.

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Fermentada

Não posso ler.
Não posso passar
Por esse compromisso
Com mais mundo
De cores e a paleta
Inteira
Que me preenche
De alegrias e
Horrores.
Vacilo a cada vez.
Tento não responder
E ficar calado.
Como que em paz
Depois da missa.
Como velho
Que aceita a premissa
De que vai morrer...
Mais cedo ou mais tarde.
Nós vamos morrer
Mais tarde.
Não aceitamos isso
Da paz por compromisso
Com o tempo que escoa.
E lá volto ao dilema
Que percorra
A minha vontade
E o respeito
Pelo o outro poeta
Ou autor.
Ou um criador
Tão mais vasto do que eu.
Não posso deixar
Mais lume
Arder-me do consumo
Que já tenho.
Morro entretanto.
E não quero.
Quero ser mediano
E comer tudo
O que vejo.
Ser pequeno homem
Apenas animal.
Não está mal.
Viver só da paixão
E deixar o amor
Para quem não tem tempo
Para estas coisas.
Artistas.
Semi-artistas.
Semi-deuses de nada
Ter senão uns aos outros
Em levedura.
Bebida criada para tragar
Depois da morte.
Infinitos ninguéns
Para se ler de enfiada.
Sucumbir à vida
E engolir tudo e não deixar
Quase nada.
Apenas palavras
De morrer por mais.
Não posso ler
Que escrevo
À parva!

VAz Dias

#palavradejorge

Nave Espacial

O Universo que se afaste
Porque me tem de ter
Longe.
Eu que me arraste
Até aos dias de hoje
Com a convicção
Que não caio
Nem desisto.
Sou um pouco daquilo
E muito disto.
Sou meu
E de quem me quer bem.
De quem me quis viajar
Num universo imenso
Também.
Ofereço uma nave espacial
E tempo a quem
Gosta da aventura de não
Ficar parado.
Fui Universo para outro lado
E fui ver como
É o meu
E quem sempre quis
Ter viajado.
Fui, sem tempo
E sem pressa
Para outro lado.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 7 de maio de 2017

filho da Mãe

Não me lembro
Dessas datas.
Dos pressupostos
Que deve uma pessoa ter
Para se lembrar.
Escrevo-te todos os dias.
Escrevo através de ti.
Escrevo porque já não escreves.
Sou a mão direita
Da tua que já cá não está.
Escrevo de menos
Do que eras de mais.
Passaste primeiro
Para me ofereceres vida.
E aqui a ostento.
A ti! De ti! Por ti!
Tenho orgulho de escrever
E que sou
Filho da mãe.
Teu filho.
Seu perdido e por amor
A tudo o que ainda vem.
Um dia,
Tu sabes,
Um dia escrevemos um poema
Juntos...
Tu sabes Mãe!

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 6 de maio de 2017

Nunca nasci

Nunca nasci.
Já existia nos meus ancestrais.
Morri nesta vida vezes sem conta.
Morri de amor.
Morri por amor.
E renasci da intemporalidade em que nunca nasci.
Quando me vires morrer não desapareci. Apenas fui viver para os meus poemas onde tu também lá estás.
Sou livre.
Sem hora de morte ou para nascer.
Nunca nasci.

VAz Dias

#palavradejorge

Tatuador de Poemas

Um dia tatuo-te
Um poema nas costas
E depois vimo-nos.
O que ficará para Sempre
Não será o êxtase
Daquele
Momento
Mas a Intemporalidade
Do poema
Que me fizeste
Escrever.
Um dia
Hei-de te amar
Com o mesmo
Fogo do momento
Como o amor
Que chega desse
Sempre.
Quando fôr
Sempre foi
Mesmo que não hajam
Relatos da sua existência.
Mesmo que o único
Testemunho
Seja um orgasmo
Ou um poema
Que te quer
Intemporal!

VAz Dias

#palavradejorge

Há Alma!

São os seus corações
Que ambos empinados
Para o céu
Fazem bater
As constelações de um
Universo.
Um regresso
De luxúria
E de voltar a ser carne.
A mulher
É mais que universo,
É fogo
Que não se acalma.
Ela é carne de fazer
Um poeta se perder.
Não há calma.
Há querer!

Há Alma!

#palavradejorge

Um céu de ecos abandonados

Gritei para o céu
Vazio
Tudo o que te queria.
Tudo o que queria
Era que me ouvisses.
Julguei que por o fazer
Me ouvisses
Em qualquer parte do
Mundo.
Ecos do meu
Querer
Que chegavam de longe
E de dentro.
Lá tão longe por tão
De mim
Dentro.
Estavas cada vez mais
Longe
Pela repetição da minha
Voz
De volta.
Como uma chamada
Que toca
E não toca.
Não deixas tocar.
Foste para longe
Para meu pesar.
Não te fiz mal
Senão querer-te bem,
Apesar
Dele não te aprazer,
Não vem.
A tua voz não vem
Desse eco de longe
Onde te encontras.
Onde te encontras
Meu bem
Que me desencontra
Tão mal?
Que mal fiz eu
Para não te pertencer
Nem no eco
De um céu
Que nem conheço
Bem?
É o céu do retorno
Da minha voz.
Cada vez mais veloz
O tempo que se
Vai queimando pela frente.
Sem a tua voz.
Sem o nosso tempo.
Um eco atroz de lamento.
Estou a ficar sem voz.
Lamento...
Uma voz que se vai perdendo...
Atrás...
No tempo...
lamento...

VAz Dias

#palavradejorge

Lume Brando

Fogo médio
Lume brando,
O amor que
Nos quer tanto
Não nos acalenta
No entanto.
Porque não há ar
Que me sopres
Nem fogo
Muito menos.
Lume brando
Dos dias
Que vão sem chama
Passando.
Mas quero-te amor...
Tanto!

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 4 de maio de 2017

No teu siso

Há momentos
Que só a simples presença
A teu lado
Apresenta a felicidade
Duma vida.
Imaginemos a vida
Numas horas
E elas serem plenas.
O que é mais necessário
Se tens o sorriso partilhado?
A gargalhada
Despregada?
A aventura desatada?
Se a frase sai de duas bocas
E se emoção
É toda ali encontrada?
Há plenitude no vento de um
E na brisa experimentada.
Há calor
No fresco do outro.
Há diferença
Partilhada.
Há lá melhor plenitude
Do que a vida
Em pequenos nadas?

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Carta de Apresentação

Devíamos sempre que pudéssemos
E sempre que a outra pessoa
Quisesse
Dar-nos a conhecer numa
Carta de Apresentação.
Mas num poema.
Num simples sistema
De não deixar quaisquer dúvidas
De quem somos em cada
Instante.
Do que a outra pessoa
Pudesse tomar como bastante.
No meu poema
Eu sou um poeta.
Sou um poeta por fraqueza
De amor.
Desse que leva as pessoas
A juntar trapinhos
E um dia (quem sabe? ter filhos).
Com franqueza
Tenho ciclos
Onde me vejo
A reproduzir noutro ser
Com alguém.
De nesse ciclo transformarmos
A nossa cumplicidade
Num ser.
Dele ser alimento e ar
Que complementa o alimento
E ar
Que somos um para o outro
Do nosso (tão nosso!)
Alimento e ar.
Noutros sou tão meu.
Perdido e reencontrado
Em paixões.
Na amizade dos que
Um ser ama.
No amor e paixão que me
É oferecido.
Julgo sempre que vou ficar
Só.
Mas sem drama.
Já acreditei no Sempre
Para Sempre
E Até Que a Morte nos Separe
Como princípio.
Mas a vida e esse amor
Muda-nos.
Temos coragem para mudar,
Para morrermos
E reinventarmos
Um melhor "eu".
Acreditei e morreu.
Acreditei mas não acreditou.
Era para ser e não foi.
Quiseram e eu não pude.
Quiseram-me e pude.
Por um tempo.
Por muito tempo.
Por nenhum tempo.
Mas sou de ser
Se a oportunidade
Prevalecer.
De sermos os dois.
Até ser.
Talvez ainda vá ser.
E se não for?
Aceitamos de novo morrer.
Viver para lá da morte.
Há amor mais forte?
Saberei se for
O momento certo.
Se quiseres.
Senão estou por perto
Nos corações de todos
Ainda que longe.
Um dia destes faço-nos
Um poema.
Num altar
E se não numa praia
- sem problema! -.
E se não farei em algum
Momento que celebra.
Farei um poema por dia.
Um livro
Duma árvore se a plantarmos.
Faremos poemas
Calados.
Faremos um livro
Para os nossos amados.
Um dia.
Se formos um pelo outro
Encontrados.

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 2 de maio de 2017

Espelho de casa de banho

Entre a busca,
A reservada ida em tua
Procura.
O silêncio com que me detenho.
A impossibilidade
De haver Nós.
Sei que te colocas nessa extremidade
Da clara e objectiva
Decisão
De não haver qualquer abertura
Para nos deixares entrar
No teu sistema.
Racional.
Eu animal.
Dura.
Eu sonhador.
Expectante
E eu audaz.
Não vai haver nada mais.
Eu sei.
Mas tento a improbabilidade
Desta forma tenaz.
Sou louco por ti
Mesmo que por Nós
Sejas incapaz.
Masturbação holística.
Só eu vejo isto tudo
A acontecer.
Não somos só a soma das partes.
Somos um todo
Em que eu acreditei
Contigo pertencer.

Lavei as mãos.
Passei-as pela face.
Esfrego o cránio
Incompreendendo
O que é simples.
São as mãos que tocam
O que o peito sente.

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Culpa

Pensas que me humilho
Quando é apenas
Toda a vontade
Que de mim
Se oferece à vida?
Foi a vida que ma ofereceu.
Tenho de a libertar.
A chamada
Que não atende.
O telefone
Que não entende
A urgência
Desta vida.
A morte está à porta
Se não nos detivermos
Para nos darmos vida.
Dormem as horas
Nossas,
Demasiadamente calmas.
Elas ainda não sentiram
A urgência
Do fim do princípio
Dos fins perdidos.

Eu sei que sou tolo
Por acreditar na oportunidade
Inoportuna.
Na sorte.
Nesse milionésimo
De podermos.
Mas o fogo é nosso.
Ainda arde.
Se podemos,
Porque não posso?

Antes que a morte me leve
Fica a confissão,

Amo-te!

Não sei se deva

Não sei se deva
Não sei porquê da
Minha intempérie
No teu solo seco.
Árido e quedo.
Sopra um vento mudo.
Está húmido o ar.
O céu está limpo
Mas vem lá escuridão.
Brota na linha
Do horizonte
Uma imensidão de nada.
Um prenúncio
De tempestade
E cega és tu
De não me ver.
Vai chover.
Vai navalhar a terra.
O chão vai tremer
De tanta saudade
No teu corpo
Se abater.
És tu que te colocas
No limiar da seca.
Da morte.
Da desnutrição
Que a fertilidade pede.
Vou molhar o chão
Que me pisou.
Vou dar mais
Do que sofri.
Sofri esquecimento
E solidão.
Sou vento que se abate
No pulmão.
Não sei se deva.
Não sei não.
Uma intempérie
Que me assola
E na palma da tua
Terra
Me vejo sem mão.
Sem pé.
Sem motivo de perdão.
Só o breu
De um céu aberto de ilusão.
Não sei porquê
A terra vai engolir
Um mar caído do céu
E no meio do bem
Sentirás o mal
Que do corpo provém.
E no meio do mal
Sentirás o bem
Que um coração sustém!

VAz Dias

#palavradejorge