quarta-feira, 30 de abril de 2014

Cansado é o sonho

O cansaço toma conta de mim.
Ocupo-me e esqueço.
Lembro e precipito-me
para mais uma tarefa.
Não durmo.
O cansaço é tanto.
Mantenho-me desperto,
quase delirante.
Insano.
Não te quero por perto.
O pensamento
de ti, distante.
Me engano.
Com trabalho,
arte e engenho.
Proponho ao cansaço
o sonho.
O descanso instantâneo.
Só dormindo me recomponho
mas de exaustão,
fatigado.
Porque se me lembro de ti,
mais tarde 
ocupas-me o sonho.
E acordar depois
é nunca ter descansado,
é ter dormido acordado.
Seres de sonho,
só acaba comigo,
e real
ainda pior castigo.
Prefiro cansado acordado,
do que pior,
ter de te sonhar.

Vaz Dias

terça-feira, 29 de abril de 2014

A menina dança?

A menina dança?
Convido-a
neste pequeno momento
a um passo tomar.
Seu jeito,
seu trejeito,
minha vontade
a fez convidar.
A menina dança,
ou quer esperar?
Eu fui esperando
pelo melhor momento.
Dei tempo ao tempo.
Tomei um passo
para, elegantemente,
assim esperei eu,
interpelá-la e juntos
dançarmos.
Com seu consentimento.
Claro!
Não nos vamos precipitar.
"O senhor me convida?"
Pois se a menina aceitar.
"Dancemos pois.
Não mais tempo devo esperar,
do que este pequeno momento.
Quem convida,
não deve uma vida esperar.
Dancemos pois.
Seja a nossa vida a dançar."

Vaz Dias

amizade perdida

Perdemos os dois.
Perdi a paciência.
Tu perdeste-me.
E depois?
Que te interessa?
Nunca esta familiaridade
te assentou.
Nem nunca te chegou.
A estima que por ti tinhas,
era tão cêntrica
que de tão boa
te envenenava.
Defendi-te de ti
e do mundo que contra ti
se manifestava.
Mas nunca me chegou.
Porque seria,
nem que fosse,
o último,
aquele que contigo esteve
e chorou.
Perdemos os dois.
Perdi a inocência
e tu, o amigo
que sempre em ti acreditou.
Este não te chega,
porque fácil é cambiar.
Que o veneno
não apodreça as amizades
nem a boca
que tão duradoira
me enganou.
Perdemos os dois.
Perdi a amizade.
E tu, perdeste-me.
...nem quero acreditar.

Vaz Dias


quinta-feira, 24 de abril de 2014

Morre de novo...

A invenção é sublime.
É a união de dois seres
que num
e num momento,
sublime nanosegundo,
materializaram o ser.
A vida.
Um novo caminho.
Um destino traçado?
Um traçar novo de destino?
E quantos destinos?
E quantos novos?
Sim porque nesse caminho,
quantas vezes morremos?
Quantos perdidos destinos?
Quanto de velhos morremos?
Não é preciso ficar velho,
para de velho sofrer.
Não é preciso ficar de novo
para de novo morrer.
A reinvenção, precede a sua mãe.
Renascer dessa morte
de novo.
Reinventar um novo
antes de caquético.
Reformular
e dar solução ao nosso final.
Afinal, quem melhor
deslinda essa equação,
morre descançado
e avança para a nova invenção.
Sublime.

Vaz Dias

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Amigo livre


Meu amigo de tanto anos.
Há quanto tempo não me vês?
Mas deixaste-me o bem.
Deixaste-me também
as palavras,
emoções emprestadas
em frases.
Os "tudos"
com teus deliciosos "quases".
A vontade de voltar,
ler e poder,
quiçá,
lá te entregar,
umas tantas,
humildes quantas,
palavrinhas
de muitas emoções
grandes e pequeninas,
singelas frases
das amizades
criadas
dessa nossa infante,
crescente e predominante,
para sempre amizade.
Me sinto em ti livre,
meu caro,
distinto
e para sempre,
amigo livro!

Vaz Dias

Meu mundinho...


Sou-te indiferente. Sim tu o pequeno mundo ao qual me dou ao respeito. Mas não me torces. Não me dobras. Porventura era eu menos sabido desta imensidão de nadas e tudos, descobri que não me amassas. Não mais me ridicularizás! Pois eu, este pequeno eu da imensidão, sou tão tanto como tu. Só desisti de ser vaidoso, ancioso e manipulador de outros para poder ser mais eu. Pequeno mundo, descobri que há tantos que como eu, que andavam a tentar gritar estes gritos mudos, e que hoje GRITO! Grito de riso. De pequena grandeza desmascarando gargalhadas. Achavas que eu não podia? É isso que esperas de nós pequenos? Sorrirmos de empréstimo? Eu jamais me deixarei enganar dessa tua patranha, falsa companhia daquilo que tentando, agora nunca mais me engana. Apanha. Apanha com esta minha artimanha. Mais veradadeira que essa façanha do cume mais baixo da alta montanha. Desprezo-te mundinho, que me sorris de inveja, porque me esperas perdido. Ver-me-ás morto e eu a sorrir. Vivi mais do que tu até na minha morte do que tu em toda a tua vida invejando-me. E ainda assim de morte te sorrio perdoando, sabendo que tu mundinho, lá te verás chegando perguntando, "posso entrar?". E nós no mundo eterno te dizendo, "este será sempre o mundo dos que mesmo agora chegando, pequeno ou maior, todos cá cabemos." Mas eu sei mundo pequeno que só lá nos encontraremos, grandes ou pequenos, e assim mesmos iguais. Porque assim sempre te aceitei...GRANDE, pequeno mundo mundano!

Vaz Dias

E no vento ficaram as palavras.


E no vento ficaram as palavras.
E no ar a ideia,
que se o silêncio imperasse,
nem a tempestade as arrancaria
nem tu, todavia
as guardesses.
Mas por muito que o tempo passe,
não existe melhor panaceia,
que de ti
para sempre tive,
nem que fosse,
apenas a minha alma
que assim acreditasse.
Foi-se o que para sempre,
em eternidade,
se perdeu,
mesmo que eu esperasse...
e apenas do sempre
me contentasse,
enfim...
do que nunca chegou a ser meu.

Vaz Dias

Empedernido


Saio empedernido desse passado.
Saio metade, do todo que sei que posso ser de novo.
Mas menos suave.
Menos flexível.
Menos amistoso.
Sou eu o empedernido, que de vontade da minha protegida bondade,
saio mais suave,
mais flexível
e ainda mais amistoso de coração.
Porque o que trago de lá é perdão,
a ínclita razão que me fez esquecer a traição.
A amizade que o amigo se esqueceu no seu coração,
ou talvez não,
permito que para outro a tenha encaminhado,
mesmo que tirando de mim assim se fez assinalado.
Guardo, na memória e na história o que em conjunto foi conquistado.
Mas empedernido e de mal amado,
trago para o futuro essa bomba que à pedra um dia de novo se fará estilhaçado.
De tão crescido órgão e de assim,
amor aumentado...acrescentado!

Esta terra que para ti caminha


segunda-feira, 21 de abril de 2014

segundo eterno

No meio deste meio,
deste tempo
por vezes tão a destempo,
encontro momentos de serenidade.
De puro desfrute
da realidade.
D'entre essa velocidade
a que passam os segundos
do meu tempo,
segundo-me da sensação
da primeira impressão.
Apaixono-me por esses momentos,
esquissos
e belos quadros.
Traços da beleza humana
e do mundo rodando.
Enamorando-me.
Alumiando
de virtude rara,
o encanto por esta vida.
Deslumbrado,
apreciando o segundo
que nunca acaba.
Sorrio e assim
me deixo,
repousadamente,
eterno.

Nada me abala.
Nada!

sexta-feira, 18 de abril de 2014

(des)Entendimento no amor

Procurei uma vida inteira te encontrar. 
Busquei te entender, antes desse encontro. 
Encontrei-te e voltei a encontrar.
Mas conhecer, 
entender,
ficaria sempre
para outra de ti.
Mas nem assim.
Se de cada uma das tuas partes levei,
para no meu recôndito ser
te treinar e ser,
Mais de mim
todas vós fizeram desaparecer.
De entendimento, claro está!
Porque de vontade,
de treinada vontade de amar,
nem Deus me despojaria
para a ti voltar a retornar.
Entendo-te menos mulher
mas que se dane!
Quero lá pensar 
em como melhor te dar.
Quero é viver
e deixar-me
a ti mulher, amar!


quinta-feira, 17 de abril de 2014

Meus olhos teus.

Como os teus olhos
me vêem!
Como os teus olhos
me falam!
Assim os meus
se crêem.
E como se calam.
Porque já vi o que vês.
Já senti o que te dói.
E como me corrói!
Porque destes meus
olhos, teus.
Meu Deus!
Minha menina dos olhos!
Não chores.
Não triste os molhes.
Porque se viste a dor,
a dor em mim senti.
Porque meus olhos, teus!
Não doas!
Não chores! Por Deus!
Porque se molham
já aqui,
teus olhos, meus!

Pára! Não esperes!


Espera! Devagar pondera!
Se esperar deve,
por princípio
ser o que te leva.
O que te encaminha
para lá. Para aquele
novo destino.
Mas com espera?
Ou com acção?
Com furiosa
autoproclamação de signo.
Espera! Quando tens de te refrear.
Rebela-te de farto esperar!
Sê o que és
e transforma-te no que tens de ser!

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Miúdo da ruga



Sinto-me "cansado"
deste rejuvenescimento constante.
Deveria cansar-me
do amadurecimento resultante,
dessa coisa
"dos anos a passar".
Devia cansar-me naturalmente.

O pelo que não agarra.
O dente que adoece.
A pele que amolece.
A expressão que enruga.
A lembrança também já se esquece,
mas o pensamento
que crescendo,
às vezes também esmorece.
Mas embirro
e não me deixo vergar.
Não sei se é da merda da natureza,
ou da puta da vontade,
mas o espírito envelhecer
e aceitar,
como um condenado à morte
o fatídico fim,
jamais me convirá!

Sorrirei ao fim
com o princípio do cansaço.
Deste que o aceita,
não por embaraço do tempo,
mas sim,
por se cansar de tão novo crescer
para enfim,
uma nova vida nascer.
"Condenado" a uma nova vida.
"Cansado", apenas de tantas vezes
renascer!



E ainda assim,
O tempo me vence.
E o mundo me convence,
Que o caminho é geriátrico,
Que é melhor tornar-me apático
Cada vez mais estático.
E eu feito louco
Encontro-me no meio dos putos.
Estou onde me convém.
Não sei se mal
Se bem…
Talvez por ser maduro
Não me deixem sentir assim.
Talvez por ser jovem
Me atirem para o fim.
Mas é a vida que procuro,
Mais jovem ou mais maduro,
Eu quero-me assim.
Ruga na expressão de miúdo,
Espontaneidade na experiência do mundo.

Poemas alados

As palavras que me assaltam.
Que de pensamento em riste,
esteja eu mais triste,
ou contente,
me fazem querê-las mais!
E quando a dúvida me assalta,
que algum dia me faltem,
elas me interceptam.
Raptam-me,
tomando comando.
São os sentidos,
os desejos,
os encontrados
e os perdidos lampejos.
Secretos desejos,
e mais mundanos
desabafos.
Palavras transformadas em beijos,
beijos em palavras.
Comunicação do vosso,
meu agrado.
É assim o meu fado,
que sem ser cantado,
na voz travado,
voa por versos,
palavras
e poemas alados.


Um dia a voz ensurdece...

De que me vale a voz,
se não te posso chegar.
De que me vale falar
se lá não estás,
se não te encontras,
para me ouvir.
Ainda oiço a tua,
nos meandros da memória
a me seduzir.
Não!
A tua voz atormenta-me.
Rebenta-me os tímpanos
do sentimento.
Lamento! Não!
Agora falarei, para não te ouvir!
Gritarei até que esse meandros
se ensurdeçam,
até que outros corações mereçam
a delicadeza do tom,
desse som,
que emana do pulsar
do meu coração!

dia (des)namorados


terça-feira, 15 de abril de 2014

Eternamente a dois tempos


Os tempos em mim chocam.
Sofro os embates,
Da novidade
E da enferma idade.
Os que me colocam
Com o corpo
Para lá da validade
E a mente não obstante, infante.
Invejo o sorriso político
Desses novos.
Aceitam-me na sua tribo
Como se eu nunca de lá
Tivesse pertencido.
E doutros, jocosos,
Me fazem excluído.
Envergonho-me junto
Dos meus coetâneos.
Amadureceram as palavras
E os seus actos,
Mais do que os meus, consentâneos.
Onde está a minha tribo?
Ou sou de várias?
Sou um, ou muitos?
Ou tantos?
Mas quantos como eu
Aí existam?
E se existem,
Onde estão? Como persistem?
Raça livre.
Diferente.
Desapegada e distante.
Partiram.
Foram.
Para lá do horizonte. Distante.
Passaram a ponte.
A norte do infante.
A sul do sempre.
Para sempre
E permanente.
Os como eu,
Aqui não ficam.
Vivem para sempre,
No distante permanente.
É para lá que caminho.
Inteiro,
Infante,
Velho
e Eternamente!

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Beija-me


Beijo este sonho.
Toco os teus lábios
não conhecendo
a tua face. 
Como que,
de repente te encontrasse.
Será que já me existes
e ainda não te vi?
Sonho esse beijo
e os teus lábios
em mim
talvez pousaram.
Talvez falaram.
Ou então em silêncio,
à minha alma sopraram.
Beija-me.
Não percas tempo!
Nossos lábios assim sonharam.

Mulher


Serias tu?


Sei que num dos teus
Meu olhar se tocou.
Intimamente se alentou.
Serias tu?
Ou serei eu,
Que de tanta vontade
em encontrar a visão,
me cego com esse
teu coração?

Verso teu sonho


E por cada sonho
Que viste adiado,
Do despertar
Em nova realidade,
Cada verso aqui componho.
Também sonho.
Voando, com essas asas
Que não tenho.
E quem terá,
Senão a esperança,
De levitar e pender
Nas nuvens dessa
Sonhada
Felicidade?