domingo, 28 de dezembro de 2014

Rica vestes, pobre despes.

Tenho posses,
mas não as vês.
Sou muito mais rico
do que isso
a que a sociedade
te ilude a teres.
Veste esse fascínio.
e dos valores te dispas.
Embarca nesse consumo
contínuo.
Paga o tempo
e gasta os créditos.
Andas perdida de amores
pelo tipo
dos cartazes.
Aquele que vem fazer
uma presença 
numa qualquer discoteca.
É o mais bonito dos rapazes.
Vestes o teu melhor traje.
Polvilhas-te da cosmética
que ao sonho
à tua realidade traz.
És feliz e incapaz
desse teu figurino
mudar.
Pagas o sorriso que tens
até a fortuna gastares.
Lá no fim,
quando um pobre avistares,
sou eu,
nu, mas rico se gostares.

Vaz Dias

Disfarçadamente sorriste

Façamos de conta
que me conheces.
Mesmo que não,
convence-te!
Vou fazer de ti
o meu segredo.
Secreto momento
de desejo.
Com olhos que invejo
as formas
tomar.
Quero desenhar-te
nas palmas da mão.
Quero ser a água
que em cascata
te acaricia a linha.
Quero num alpendre
o teu sorriso disfarçar.
É segredo.
Eu sei o que dele
deixas escapar.

Vaz Dias

Ego_senti_mesmo

Ego.
Essa alma pérfida
que buscamos.
Essa calma tépida
que encontramos.

Ego.
O apogeu do caminho
solitário.
O que decresceu desse
infame itinerário.

Ego.
Viagem espiral
ao centro do meu desencontro.
Destruição gradual
de ti comigo em confronto.

Ego.
Orgia das minhas idiossincrasias
em banquete.
Masturbação espiritual, a terceiros sem convite.

Ego.
Tão sozinho das companhias
que carrego.
Para onde se foram,
os meus mais chegados?
Eram meus. Estavam bem guardados.
Os meus "eus".
O de semblante mais carregado.
O do tempo mais castigado.
E o feliz, incauto?
Para quem foi ele?
Agarro-me a este que sobra.
Com todo o meu apego.
Somos dois.
Eu e o resto.
A este me presto
com a pouca honra.
A que sobra.

Ego.
A amizade entre dois
"eus".
O que pensa e o outro,
o que cobra.
Eu e a consciência
que me corrobora.
Ego senti mesmo.


Vaz Dias



Descamar

Vou ali já venho.
Farto de te parecer
um estranho.
Da imensa vontade
agora me diluo.
Em camadas transparentes
me vou recolhendo.
De ti desaparecendo.
Vou ali me encontrar.
Em preto e branco
me deslindar.
Vou ali só.
Descolorido.
Recolhido.
Continuar...              


 Vaz Dias

sábado, 27 de dezembro de 2014

Voluptuoso Mar

Não sei como combater
esses vossos silêncios.
E se algum vez descobri
como o fazer,
cansei-me de tão
hercúlea empresa.
Não me prendo a esses convénios
de diálogos mudos,
recheado de argumentos
calados e palavra presa.
Não me interessa!
Ou pelo menos refuto
essa vossa intransigência.
Não tenho paciência!
Nem de amor inundado
pode um homem
bracejar em tão voluptuoso
mar.
Tanto rodeio
confunde o energúmeno
homem que tem de repensar.
A inteligência que necessita
esgota-se em apenas uma volta.
Tanto rodeio
e a estupidez em si brota.
Talvez a ignorância
seja o caminho
que ao sexo oposto convém.
Meio animal e meio homem,
meia inteligência
e meio desdém.
Sejamos totalmente
cretinos
pois bem.
E em silêncio também.
Como convém.

Vaz Dias



sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Verdade e Nada

Enquanto me sento,
vagarosamente,
como num filme
de época,
a câmara lenta
regista
o efectivo movimento.

Avisto-me de fora.

Tinha-me vestido de pai
natal. Não por mim.
Por elas. Sim.
Pelas crianças. Eu era agora
um "crente".
Dava-lhes as prendas
e as gargalhadas.
Uma sacada enorme
para uma noite de consoada
e outra tarde bem passada.
Dos outros anos, diferente.

Recebo nessa película
o que me podem dar.
Sinto-me dos mais velhos
como esse velho,
cansado e desesperançado.
Olho para a minha sacola
e também lá elas me deixam
como as crianças algo,
a verdade, julgo.

Umas com a infância
a espontaneidade.
As outras com mais idade,
apenas isso, a verdade.
Com o tempo,
o preto e o branco
distinguem as cores
que tantos nos dão
e que nos tiram mais tarde.
Uma sacola cheia de nada
e outro tanto de verdade!

Vaz Dias

Infinitamente pintando

Acorda a manhã
na esperança dos meus olhos.
Seja mais um dia
de mudanças.
Que venham as cores novas
enfeitar o olhar.
Mesmo que as velhas
não ficando para trás,
das outras
se façam acompanhar.

Sou o arquiteto do meu destino.
Desenho o percurso
com o que consigo.
Imagino.
E traço a grande obra
em cada centímetro,
a cada metro
de um novo perímetro.
Venha o espaço!
Venha o infinito!
Tenho as cores todas
para as ir pintando.
Terminado um
inventarei novas.
Porque lá,
serei eu também
as cores todas que pinto.

Vaz Dias

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Atempadamente, não!

Perdemo-nos na possibilidade
do momento.
Não tivemos tempo.
Nem lugar.
Nem muito menos atrevimento.
Que interessa agora
contar os segundos?
Que todos juntos
e seguidos
não fazem uma eternidade
de paixão.
Pois só para isso servem.
Passarmos juntos
mesmo que apartados.
Mesmo que não.

São as circunstâncias porventura.
Mas quem de nós
desejaria o horário,
a agenda?
A adenda,
o relatório?
Era aventura!
Pura e simples! Não?

Inventei-te!
É o que fazemos
quando fraquejamos
por alguém.
Inventamos nela
algo que da perfeição
desejamos.
E ela de acordo
com o ímpeto
nos vai contemplando
com essas alvíssaras.
Como convém.
Como deveria ser de justiça.

Mas não é assim.
Enfim!
Vamos saltitando
de um olhar,
para outro calor.
De um amor
para outro par.
Fazendo dos nossos tempos
o império do câmbio como premissa.
Onde trocar
soma "perfeições",
as suficientes para podermos
aquilatar.
As suficientes para ao nosso
ser,
não pesar.

E nós não fomos
senão um tempo
que se inventou de si próprio
e que seguiu perfeitamente
distanciado
da nossa imaginação.
Impróprio e sem distinção.
Seguiu.
E nós não.

Vaz Dias

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Beleza de Época

Tenho celebração em mim
para te ofertar.
Simples por apenas
te contemplar.
Seja tão belo o Natal
como a beleza que pela terra
distribuis.
Seja tão verdadeiro
e profundo
quanto a bondade
que tal beleza me
leva a imaginar
e ao coração do poeta
prediz.

Vaz Dias

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Vagueio na imaginação do destempo

A arte.
O dom de falar-te
neste tempo.
Convenço-me
que ele estagnará.
Que do teu olhar
meio vago
mas de esperança,
cheio,
te toque já.
Que fiques por cá.
Mas não.
É para lá que tens de voar.
Para a saudade
aqui comigo ficar.
Quero mais do que amor,
falta de ti, sentir.
A arte
de não te querer,
para,
para sempre te ter.
No tempo em que voámos juntos.
Começo-me a convencer.

Vaz Dias

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Bom Natal é todos os dias

De "males materias"
nos vejamos despojados.
Revistamo-nos da paz
que em todo ano proferimos.
Escrevamos em maiúsculas 
e em negrito
em tamanho de cartaz
o que um pelos outros sentimos.

Não penduro luzes
nessa árvore da época.
Espero que abuses sim
da minha amizade
e predisposta oferta.
Sejam os dias
em que o nosso coração
balance nos compassos
e na métrica.
Que se harmonize
no meu amor por vós
de forma poética.

Vaz Dias

domingo, 21 de dezembro de 2014

Enquanto o fogo respirar

Quero-te este bocado todo.
Antes que o dia acabe.
Antes que o "nunca"
se sobreponha ao "sempre".
Façamos a eternidade perdurar.
Nos aqueçamos do próprio fogo
que nos consome.
Enquanto fôr para sempre.
Assim,
de repente.
Cicatrizemo-nos ardentemente.
Enquanto der.
Enquanto o fogo respirar.

Vaz Dias

sábado, 20 de dezembro de 2014

Concórdia

E eis que a época
se glorifica
no coração
dos gélidos!

Que de novo
não só aos infantes
se preste primazia
da ocidental esperança.

Onde as pessoas
nas suas simples
e complexas inter-relações
descobrem pequenos milagres
do dia-a-dia.

Onde a amizade
e o bem querer
se traduzem na melhor oferta
desta época e do ano.
E dos anos.
E um pouco mais do que a década.
E das décadas, convenhamos.

A melhor é aquela
que do nosso ser
se fez a sua própria.
Com o esplendor e o
milagre da vida.
Destinada. Devida.
Melhor oferta que nos
poderia ser dirigida.

Mas nesta hora,
devo a palavra
àquela amizade.
À sorte de uma pessoa
de família outra,
se tornar também minha.
Por me querer o bem
que intimamente guardo.
Nada demais.
Sou das coisas simples, grato.
Mas é-me gratuitamente
semeado,
como a nossa familiaridade.
Distante de sangue
de velho tempo, sagrado.

Deixo por ti, amizade,
esse livro se escrever.
Como da semente
a árvore se erguer.
Se o tempo quiser.
Se a intempérie
não a privar de ao céu tocar.
Seja o que o destino quiser.
Pelo menos metade
do que tu
nestes anos todos
me fizeste lograr.

Que as primaveras
se antecipem destas épocas
para nos lembrarmos
que às famílias devemos.
Todas. As mais que pudermos!


Vaz Dias

Livro-te do amor

Ofereci-te as linhas.
Presunçoso roubei-te
as primeiras.
Eram o meu sorriso.
O eu físico.
Do ser que não viste
de mim
mas que ali se refletisse.
Escolhi em detrimento
do aroma que ficasse
por aquele tempo.
Mas escolhi
eternidade.
Linhas e folhas
brancas
para escreveres.
Ou nada.
Apenas olhá-las,
voares e te perderes.
Nessa eternidade.
E na canção que acompanha
o aroma que cantava
naquelas linhas.
A voz era tua
e a minha.
Como amor que fica no papel.
Outro.
E que voa por fora.
Onde não há tempestades.
Voa livre!
Esta canção é tão nossa.
Vou tocá-la esta tarde
numa feira.
E vou fazer sorrir as pessoas.
Elas sentirão essa liberdade.
Esse amor.

Vaz Dias

Aveludado caminho

De volta se faz
o teu caminho.
De passo lento.
Aveludado.
Felpudo.
Roças-te em cada
cantinho.
Fazes esperar-me
por longo período
a tua chegada.
Perigosa gata.
Deliciosa felina.
Com os opostos
combina
o trato que
à devassidão leva,
a minha.
Mas depois,
amansas.
Encostas no meu calor.
Ronronas de mansinho.
Sugeres-me o conforto.
Gata maliciosa
de doçura felina.

Vaz Dias


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Onde o sol se estende

Cara donzela,
de cara tão bela.
Que faz tão sedutora
beleza em tão
árido campo?
Quem lhe indicou
o caminho que a trouxe
a cruzá-lo entretanto?
(Ahhi!) neste campo
cinzento a côr se revela!
Que passasse como luz
e todos os tons de uma tela
o pálido em alegria
se reproduz
e o sol da planície fria,
degela!
Que bela! Que encanto!
Eu sou o campo
onde o sol se estende
e o calor se passeia.
E tudo por causa dela!
Cara donzela,
de cara tão bela.


Vaz Dias

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Memórias vivas. Estórias.

Tenho memórias.
Ficam-me de cada uma.
Na tristeza são tormentos.
No presente, presentes.
No passado distante,
memórias vivas.
Estórias.

A matrícula da côr do carro.
O lugar onde ela o estacionava.
Onde vivia.
Os ventos se acotovelavam.
Esmurrando-me o peito
enquanto a mirava no passado.
No parapeito.
No cheiro do cabelo
e do casaco.
Do bafo do cigarro
com a bebida que agora tragara.
Era da outra.
Memória ida. Voltara.
O abraço que em cada
um damos
no-la traz. Quedamo-nos.
E outra.
E uma mais.
Por vezes se soma.
Outras vez subtrai-se.
Depende se contamos.
Se vamos no bom caminho.
Ou perdidos.
Vai-se.
Vai-se andando.
Criando novas memórias
com o que nos resta.
Vamos a uma nova festa.
Inventamos outras histórias.
Ouvimos novas canções.
Deitamo-nos noutros colchões.

Ou ficamos por aqui.
Satisfeitos com o que se tem.
Acreditando numa ressurreição.
Numa vida além.
Onde fazemos tudo de novo,
mas melhor.
Eu acredito que não.
Quero aqui. Neste turbilhão
de cores, matrículas e cheiros.
Quero antes de acabar,
ter-vos!
Nem por menos
nem por meios.
Quero momentos cheios!
Memórias vivas.
Estórias.


Vaz Dias



quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Casa

Queixemo-nos do silêncio
alheio.
Não pretendamos
ignorar
as palavras todas
que por lá se escondem.
Não é pela casa
se encerrar
que nela as gentes desabitem.
Eu grito
e queixo-me,
por em minha casa
a porta sempre
se ter mantido aberta.
De lá dentro grito
para que o silêncio
se faça!

Vaz Dias

Com arte, rebela-te!

A arte convém-me.
Ela é a representação
fiel do que o amor
me compõe.

Ela é como deseja.
Eu desejo-a também.
Como a projectei.
Como ela me propõe.
Permite-me
acreditar que sou eu
quem detém
o sentimento e a primazia.
Que ingenuidade
útil!
Que ignorante
benção!

Mas livre porém!
Que alegria!

Somente eu e ela.
Ela, de todos
e eu de ninguém.
Dela nos vemos, livres,
quando dela,
nos cativamos.
Quando por ela
nos reconhecemos.
De solidão,
menos.
De futuros, esperamos.
Ou vamos.
Tanto faz!
Desde que com ela
estejamos.

Faz e não penses nela.
Sente e revela-te.
Seja a arte
quem és
e o que fazes dela.
Com arte, rebela-te!


Vaz Dias



sábado, 13 de dezembro de 2014

Chega-me!

Chega célere!
Na tua pele
que ao meu corpo
impele
aproxima-se o momento.

Chega rápido.
preciso do contacto
do teu corpo.
De assinar o pacto
e ser teu firme instrumento.

Chega-me.
Porque o tempo
se escoa e condena-me
à sua recolha.
Quero-te!
Da alma ao ventre.
Da cama ao firmamento.
E isso chega-me!


Vaz Dias


Fogo com Fogo

Fogo com fogo.
Queimas-me
de gelo com esse teu jogo.
Jogas o teu desejo
ao nosso braseiro.
Queres o comando
e do receio, 
o controlo.

Do tempo sou o dono
e imperador do nada.
Se não foi entretanto
poderá ter sido 
para outras núpcias
a chama convocada.
E se não?
Sigo livremente contente
sem alma congelada.
E tu à minha liberdade
irremediavelmente "condenada".

Fogo com fogo
queimo-te com língua
que ao teu corpo
cobre.
Chama a chama
que em nós arde.
Só por hoje.
Mesmo que seja tarde.
Somos calor
que o frio não desarma.
O conforto
do outro elemento.
Se do nosso tempo
o dono for nada.


Vaz Dias



sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Tempo Animal

De segundo
em segundo
bate o ponteiro
a caminho da tua 
morada.
Bate mais profundo
o impulso
de te descobrir.
De te tocar a cara.
De te descobrir a silhueta.

O coração dispara.
A razão diz "pára!"

Sigo o natural decurso
do que nos completa.
O relógio que o ponteiro
acerta,
e a batida forte
da ansiedade e da
demorada espera, conte.

Quero de olhos cerrados
ignorar a hora
e descobrir-te 
com tempo.
Ser audaz e ainda
jogá-lo fora.

Bate furiosamente
o ritmo cardíaco
e que aos sentidos
namora.
Eu sou a fauna.
Tu és a flora.
Eu animal
que o teu corpo devora.
Que à eternidade arreganha
os dentes
e ao tempo ignora.

Tornemos o tempo animal
e a eternidade uma escolha.


Vaz Dias

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Abraça-me antes de partires

Não te afastes porque
me desejas
além do desejo.
Quero-te pelo tempo
que te deixes ficar.

(Um beijo!)

Mas fica porque te agrada
aqui estar.
E não te afastes
porque pretendes mais do
que o meio.

(Olho-te de desejo)

Esse sentimento existe
no eterno.
É-me externo.
Pode ser em ti.
Mas que sei eu dele?
Por aquilo que vivi
é melhor o meio
do que o fim.

(Coro sem jeito)

O fim é demasiado
absoluto.
Não há jeito
de a ele remediar.
Mas como efeito
o meio,
o desejar sem freio,
é o melhor sentimento
antes de qualquer um
se afastar.

(Outro beijo!)

Fica só aqui
por agora.
Se não fores embora,
também não será o fim.
Veremos se em boa
hora,
o meio és tu
e o tempo,
eu e tu aqui.

(Abraça-me antes de partires)


Vaz Dias


Com vida. Com paz. Compay.

Desculpa!
Não te quis ofender.
Nem pelo mínimo
do que se possa entender.
És-me próximo
e afastas-te.
Contrastas comigo,
mas ao abrigo
de sangue
convido-te a me
aceitares.
Como o faço contigo.
Aprendi que era
a melhor forma de te amar.
De me respeitar.
De tentar entender-te
da melhor forma
que consiga.
Há tanta palavra
deitada fora.
Perdida!
Aceita-me meu querido.
Na distância
de nossos mundos,
a paz nos convida.
Aceita-me e desculpa
irmão de uma vida!

Vaz Dias

domingo, 7 de dezembro de 2014

Multidão de beijo

Descobria-te no meio
da multidão.
Beijar-te-ia!
Escondidos no meio
de toda aquela
agitação.
A busca da suas felicidades,
alheadas das nossas
vontades.
Ali onde o tempo
estagna
e nós dele fugimos.
E mais ninguém
se engana.
Fomos.
No tempo paralizado.
Seríamos.
No tempo perdido.
Mas ali,
aos olhos de todos,
escondidos!

Vaz Dias

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Salto Alto

Salto alto.
Assalto.
Devassidão.
Devassa
assim não!
Dás cabo da minha
calma.
Do meu jeito
distanciado.
Desapego-me.
Mas tu não.
Não desistes de me pisar
de submissão.
Sangue pisado
de prazeres
pesados.
Tatuada na carne
com o meu nome,
tratas-me
como teu animal de estimação.
És doente!
E eu mentalmente
renego-te.
Mas o meu corpo
é mais doente
que tu,
e rende-se à ordem
anti-natura
do teu mal.
Na minha curvatura
a aceitação animal.

V.D.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Guitarras soaram

Na guitarra
se alvitra
os tons dos nossos
beijos.
Os sons que os nossos
desejos tocaram.
Alguma vez as cordas se tocaram?
Não.
Como nós.
Mas da acústica
nossos prazeres soaram.
Nossos corpos suaram.
Nosso êxtase prolongaram!

Vaz Dias

Aperaltado lábio

E nos lábios
que tão aperaltados
de beleza,
os sorrisos guardavam
uma secreta promessa.
Eram tão verdadeiros
como se fossem
por si
a mim
(meu desejo secreto)
rabiscados esquissos.
Tendia-lhe do lábio
inferior
o prateado penduricalho.
Dava-lhe a companhia
do seu inocente
brilho.
Deixava-me embasbacado.
Como um menino
sem jeito. Ela era doce.
Como desejava que fosse.
Pintava-me deliciosamente
tão bucólico cenário.

Desejo-lhe o lábio,
o segredo.
Mas mais ainda,
o sorriso.


Vaz Dias

Gata em zinco ardente

Fala comigo de repente.
De quente.
Mesmo longe,
acerca-te.
Torna-te presente!
O meu presente.
A cada instante.
Mais premente.
Incisiva.
Derrete.
Quente.
Gata em zinco ardente.

Felina 
que em minha pele
suas garras criva
e minha alma
ao fogo destina.
Queimaste-me
felina contundente!


VAz Dias

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Amar com razão

De quando em vez
apareces-me.
Acelera o batimento
cardíaco.
Uma vez mais
julgo ficar feliz.
Mas não fico.
Mas também não
fico triste.
Fico saudoso.
Por momentos.
Lamento! Mais não posso!

Adocicas-me
o jeito.
Mas refreio
esse teu desejo de me quereres
de volta.
Dificilmente creio.
Mas podes ouvir
da minha boca
um desejo.

Não me tentes!
Nem que tenha de cerrar
os maxilares.
Trancados.
Trincando os dentes.
Não te odeio.

Mas desamo-te!
E com razão.
Com toda a minha razão.
Não te amo
amor de paixão.
És um engano.
Uma ilusão.

Prefiro gostar.
Entreter-me sorrindo.
Mas nunca a ti.
Jamais por ti.
Desamarei com todo o meu
desejo.
Felizes os que seguirão
no meu carnavalesco cortejo.
Felizes com pouco ou mais
do que de ti, sorrirão!
Ouviste amor de papelão?
Há de nós com sentimentos
de razão.


Vaz Dias





Escrevo a três tempos


    Escrevo a três tempos.

    O primeiro:
    a base. (infância)
    Simples ideias e lógica.

    Para quê nos exprimirmos
    em estéticas demasiado elaboradas
    quando escrevemos para nos fazermos entender?

    O segundo:
    o pensamento. (adolescência)
    Expressar a percepção .
    Como encontramos o mundo em nosso redor
    e como o entendemos.

    O terceiro.
    os sentimentos. (maturidade)
    Colocar em palavras o quanto sentimos
    por tudo e o que tudo nos faz sentir e pensar.


    Vaz Dias

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Encosta-te ao meu âmago

Adormeci em polvorosa.
Despertei a querer-te
o âmago.
O que são horas de
sono,
quando sonhar-te acordado
para junto de mim
te chama?
Vem,
acolho-te na minha cama!
Adormece-me
e encosta-te.
Descansa.
Fazemos amor
quando sonharmos.
Faremos amor
quando despertarmos.
Depois render-nos-emos
ao animalesco
instinto um do outro.
Cansaremos o corpo.
Para sonharmos de novo,
um do outro,
por mais um pouco.
Encosta-te!

Vaz Dias

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Provocar é poder

Não lhe ter
o corpo
é estar torpe.
Como o vulcão
que apenas ar cospe
no meio da lava,
quente e incandescente.
E por muito
que a provoque,
fico ardendo
por dentro.
O que é pior
porque,
derreto com o tempo,
lentamente,
perdendo o fulgor
que a si
apenas tal abrasamento
queimar por dentro
pode!
Que venha
e me provoque,
para mais do que
cinza
a montanha em mim
e em seu nome
violentamente expluda.
Que Deus nos acuda!
Provoque-me
como só você pode!

Vaz Dias

Rasgar o céu em verso

Porque a mudança
provoca receio.
Mas para o poeta
a escrita sem freio,
arde o medo,
e como um torpedo,
rasga o céu
em verso.
Rima chama
com palavra
e chama a palavra
acima.
...
livre no vento,
a palavra assina.

Sem medo
e controverso.
Sem freio ao universo.

Vaz Dias