quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Boca mordida

Um dia tudo será
Mais fácil.
As dores de hoje
Serão suportáveis
Pois as conhecemos.
Convivemos tanto com
Elas
Que os medos
Deixaram de ser
(Também eles)
Uma morte.

Conduzia e fiquei
"Chapado" de lágrima
Com a notícia do Zé.
Bateu forte
Ser do rock
E ser perto dos bons.
Há tons de cinza
Com confeti
Atirado por doidos
Sem saberem o que fazem.

Despeço-me de mais
Um amigo.
Não há abrigo
Nem colchão
Para amparar a queda.
Merda.
Tudo morre à volta.
Ou ganha vida.

E cai mais uma lágrima
Enquanto desço aquela
Avenida.
Ferida
Está a boca mordida
De não querer
E ter de ser.

A vida é fodida.
E eu obrigado a lhe
Pertencer...

VAz Dias
#palavradejorge

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Virei para este cantinho

Virei aqui para
Este nosso cantinho.
De mansinho
Escrevo-te este poema
Como quem te toca
De lúbrica intensão.
Uma rapidinha
Como naquelas tardes
De verão.
Fazer o tempo estender
Como se aqueles
Minutos prevalecessem
Por cada uma outra estação.
E prevalecem.
Faz frio
E aqueceste-me a saudade.
Escrevo-te por não a ter
Porque estás sempre
No meu corpo
Tatuada de poema.
De extrema tesão
Mas mais de
Canção
Que ecoa o tempo
Que não é.
Não é lamento
É convicção
E amor ao que não há.
Não se vê
Deixa lá.
Num próximo, verão!

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 26 de novembro de 2017

Colisão

Há névoa nas gentes
Perdidas entre si.
Caminharam em sentidos
Opostos
- ou assim julgavam -.
Os encontrões
No meio do nada
Seriam apenas
Acidentes de quem
Afinal se queria
Encontrar.
Deuses brincando
E lançando
Dados para o entretém
De quem
Nada sabia o que querer.
Agora,
Porque sempre cantaram
Hinos de certeza.
Os deuses devem estar
Loucamente
Roucos de tanto rir
Desencontros
Que se fazem
Em colisões.
Coliseus de risos
Em redor de um palco
Construído com tempo.
Chegará o momento
E a vontade de rir
Como um deus
Sucumbirá ao prazer
De te ver
Querer.
Colisão por querer.

VAz Dias
#palavradejorge

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Por entre os pingos da chuva

Por entre os pingos da chuva...

Há um encanto
Naquela rua.
Encanto de tanto
Tamanho
Quanto a luz
Da lua
Com que me entretenho
E a luz do dia
Que brilha como sua.

Bela, belinha
Tem a beleza de um doce
Que se traga
Pela boca
Com celeridade pouca
Como se minha fosse.
Não é
Mas fica um sabor
Aguado como a chuvinha
Que lava as flores da rua
E a beleza de volta
Que ela nos trouxe!

Bela, belinha
Da nossa rua
Que mais brilha
E a luz que ela de volta
Nos trouxe!

VAz Dias
#palavradejorge

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Palavras de Pretérito Pertençam

Não há nada que te
Escreva.
Que por seu
Tão abenegado propósito
Se te mereça.
Ficaram as palavras em ti
E no tempo que nunca foi
Nosso.
Um colosso de tempo
Daí para trás
Se deixou
E da memória
Desapareça.
Não te mereceu
Por não te conhecer.
Afinal,
As palavras eram de si
Próprias
Pois em ti
Não há poesia
Ou ode que a elas
As convençam.

Palavras de
Pretérito Pertençam.

domingo, 12 de novembro de 2017

Repleto Reflexo

Estava no reflexo
Da janela.
O meu mais ardente
Desejo sobressaía
Sem que nela
Se sobrepusesse
O meu ensejo.
Palpitava o nervo
Endurecendo-me
A carne.
"Ela que me desarme!
Que note o que em mim
Encante".

Queria que ela notasse
Pelo reflexo
Do seu próprio desejo.
Um beijo no vidro
Que me desse um sinal.
Paixão longe
De um final feliz.
Esse seria
Começar uma casa
Pela janela.
E não!
Só paixão no chão
Do quarto dela.
Se ela notasse.
Se quisesse.
Se também não quisesse
Amor.

Que o crime seja
Não nos termos visto
Refletidos no vidro.
No desejo.
No beijo
Que chegaria
Do ângulo onde no ardor
Dela
Eu também existo.

VAz Dias
#palavradejorge

Falar Mata!

De raspão.
Largam-me da intensidade
A que se esconderam.
Ou éramos todos diferentes.
Depois veio
O universo.
Esse ditador
De me calar.
De me pôr no lugar.
Fui eu que me culpei
Por tudo
Porque ninguém
Se chegou à frente.
E então se não sou
De bem aos olhos
Dessa infâme gente?

Somos todos tão bons
Quanto incoerentes.
Bradamos de borla.
Cavamos a cova
Para atirarmos
O pecador fora.
Mas também queremos
Viver.
Ser vividos.
Criticar qualquer pessoa.
- Se ateia um fogo
Ou se vestiu de feia -.
Apontem-me um dedo
De hipocrisia
Pela falta de coragem
De colocarem em causa
A vossa bíblia falada.
Desgraçada de tão sagrada.
Língua ardente
De limonada.
Hiperventilados
Que nunca usaram a boca
Para a carne.
Para tapá-la
De sabores e pecado.
E humanidade consagrada.
Apóstolos da dor de cotovelo.

Gosto da dor
Da glande.
De a esfregar
Como a boca que se agrade.
Comer e comer
E ficar farto.
Raios vos partam
De boca moral.
De rouquidão mortal.
Venham-se mas é!
Juntos. Ou sós.
Uns com outros
E após.
Mas venham-se
E regozijem-se sem
Culpa.
Isso é de quem não tem
Nada
Senão palavra.
Palavra sem tesão
É mudez
Em grito sem convicção.
Façam da erecção
E da pluviosidade
Corpo a que dão a cara.
Falar mata!

VAz Dias
#palavradejorge

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Rasgo de um mundo

A metamorfose.
O devir.
Dividir
E separar.
Apartar
Para mais além
Reunir
E encontrar uns nos
Outros
Os nossos melhores
Nós.
Saudade de mudar
Para melhor.
De nos reencontrarmos
Além.
Mais à frente.
Maiores.
Melhores.
Mais velhos.
Mais sábios.
Menos perdidos
Uns dos outros.
Sei que para aí
Volto.
Espero ver-vos por aí.
Faço votos.

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 5 de novembro de 2017

Titãs do Nada

A seriedade do que
Nada devia ser.
Sermos uma quantidade
De seres desprovidos
De sentimentos profundos.
Tudo deuses gregos
Em olímpos de cal
E ninfas em águas estagnadas.
Para quê tanta febre
Em sentir as ausências?
Eu sei o que é ausentar-me
Para nada sentir.
Recuperar poder
De nada me afectar.
Pois é um erro!
É a mediocridade de nada
Sermos.
É um crédito
Anabolizante.
Um soporífero
De dormir de olhos
Abertos.
São umas pálpebras cerradas
De olhos pintados
De estrelas.
Enganos.
Manipulações
Que espetamos
De chicote nos outros.
A vingança e o eterno
Mal
A se fazer por intermédio
Da nossa fraqueza.
Da nossa humanidade.
Somos fracos não por a sofrer
Mas por queimarmos
Em brasa
No canastro
Dos que nos querem.
Dos que nos querem bem.
Um poder de merda.
Um gáudio sinistro.
Um intervalo
De bestas quadradas.
Fracos na perda.
Fracos!
Fracos de merda!

VAz Dias
#palavradejorge

sábado, 4 de novembro de 2017

Terra Chorada em Mar

Do deserto para o vale do verde e desaguar em esperança.
Choro rio para a foz.
Foi do amargo
De boca
Que se calou a voz.
Cada pinheiro
Como de uma pessoa
Se tratasse.
Não por serem menos
Do que nós
Mas por mais se perceber
Aos seres racionais
A tragédia
Que essa bandidagem
Nos trouxe.
Não tenho provas.
Só tenho um nó na garganta.
Um cemitério
Prestes a se tornar
Num deserto.
Vive um vale
Que escondido e húmido
Se sobrou.
O riacho que levou a morte
De um carvão
Até ao mar.
Esse eterno retorno
Que é a mágoa
De se desaguar.
Um choro meu
E de todos que em cada
Árvore
Perderam um ente querido.
Um pinhal perdido.
Um choro
Contido
De esperança de mar.

VAz Dias

#palavradejorge

Racional Emocional

Essa estranha vontade
De seres amarrada
No ser,
De me quereres
Animalesco e fora de mim
Funciona.
Funciona na distância.
No olhar.
No distinto prazer
De te deixar estar.
Não consigo ser
Esse abrupto tipo
Que das gerações passadas
Gravou no teu código
Genético
Essa falta de jeito.
Na inconveniência social.
Na bizarra forma
De nos amarrármos
Fisicamente.
Da luta dos corpos
Em oposição à liberdade
De querer.
Ferve e eu como homem
Tenho de me reservar.
Deixar a delicadeza
Da brutalidade
Para os outros.
Esses confrontos
Primatas
Não acolhem
O que quero do teu corpo,
Mente e prazer.
Somente.
Não sou bicho,
Sou animal emocional.
Lamento não ser
Conveniente.
Lamento.

VAz Dias
#palavradejorge

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Mar Negro

Quando despertou
Ela não mais ali
Se encontrava.

Ela teria despertado
Aos poucos
Antes dele.

Foram mais do que
Minutos, horas.
Teria sido nos últimos anos.

Ele deixara de acordar
Com ela.
Deitava-se mas já não eram
Corpos do mesmo leito.

Não eram olhos
Do mesmo descanso.
Como se fazia um leito
Ter a distância de um oceano?

Chorando cada um
Para o seu lado em silêncio.

Um mar negro de pranto
E de silêncio profundo.
Águas paradas e sem retorno.

VAz Dias
#palavradejorge

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Amor duma Nação

E no peito rebentam
As balas de uma nação
Inteira.
O amor não devia
Lembrar guerra.
Mas ele implode agora
De tanto.
De demasiado.
De a todos
E a todas.
Só Deus deveria amar
Assim tanto.
Nós os deste terreno
Somos fracos demais
Para aguentar tanto
Que dói.
Hoje dói
E sinto o ar colado
Até à garganta.
E só consigo gritar
Assim.
Escrevendo.
Esperando que se morrer
Que seja de ataque cardíaco
Por uma nação!

Um último suspiro.

VAz Dias
#palavradejorge

Bando

Um desviar subtil
Do telefone.
A voz que ao telefone
Escolhe ser cínica
Para não transbordar
Verdade.
A voz que diz a verdade
Nas costas
Dos nossos olhos.
A vergonha
Tapada com ironia
E desplante.
O silêncio
Dos culpados
E do concluio
Que os faz unidos.
A honra que existe
No defeito
E o defeito não ter
Honra nenhuma afinal.
O atraso que conhecemos
Do cansaço e da tristeza.
O aviso que não vem.
A soberba de achar
Que não vemos.
Não ouvimos.
Não percebemos.
Que não enganamos também.
Enganar com a verdade
É dançar com o inimigo
Para lhe antever
A mentira
No passo.

Ser justo
É esquecer?
Ser justo
É diminuir o erro
Dos outros
Ao tamanho das acções
Por si cometidas.
É compaixão
Para ser compreendido.

É fácil ter asas
Num bando que se desloca
Para onde há segurança.

Voar na intempérie
É ter mais que asas.
É decidir rotas.

VAz Dias
#palavradejorge

As horas que se deixaram à solta

As horas
Que se deixaram
À solta um do outro.
Teria sido para a
Saudade.
Teria sido para
Adensar um calor
Que se esmorecia.
Deixaram-se à solta
Pelo que não se vivera.
Uma tristeza comparada
Com a vida dos outros.
Os pressupostos
Que chegam
Da vida passada
E que se detêm
Nos outros.
No que não se acabou.
No que seria.
Inflizes eram
Por não serem
Para além do amor
Que se tinham.

Eram apenas felizes
Pelo mais
Simples das coisas.
Não tinham
Arriscado
A infelicidade
A sério.
O medo ainda
Não se soltara.

Deviam um ao outro
A felicidade
Que se deitava consigo.
Do futuro
Que ambos
Perspectivavam.
Da sorte.

Faltava descobrir
A morte
Antes que pudessem
Dizer "Felicidade"
De novo.
Devia a infelicidade
Antes que acabasse
Ou se tivessem
Verdadeiramente conhecido.

VAz Dias
#palavradejorge

O toque que mate o tempo que resta

Baque!
Campaínha
Que ressoa
E conivente do achaque.
Anseias a chegada
De alguém.
Dela de quem
Já nem o nome sabes.
Enferrujaste da espera.
Sólido te julgavas
Das fundações
Mas o batimento
Foi-se perdendo da espera.
Raramente sentiste
O resgresso à vida,
À excitação
Que deixara de ser construída
À mão de semear.
Paraste.
Tudo pela espera
E a fatal perda de memória.
Baque!
Nem reparaste
Que a espera te mudou
E com isso ela.
Outra.
Mudou
Mas porque tu não eras
O mesmo.
E nem sabias mais o seu
Nome.
Pobre prédio
Abandonado em que
Te tornaste
E a única coisa viva...
A campaínha que em
Ti ainda sobrava.
Baque!
Morreste do engano
Na porta.
Era o número do lado
E tu perderas tudo
Pela espera
E uma campaínha
Que só tu ouvias.
Morreste no dia
Em que começaste
A espera.

O toque que mate
O tempo que resta.

VAz Dias
#palavradejorge