terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Modernos.

Sento-me no mesmo lugar
Que é o mesmo em tantos
Anos.
Os mesmos quadros
Que não sabem a nada
As toalhas de mesa
Parecendo de velhas
Desde sempre
Mesmo agora sendo elas
Velhas.
A mesma velha que mantém
Polida a palavra
Mas plástica a presença
Uma casa de chá
Onde não há nada senão doçaria
Para levar.
Ninguém quer aqui parar
Muito tempo.
É a mesma coisa
Do mesmo tipo de pessoas
Desde sempre.
Mas essas gostam de novidade.
Das linhas modernas
E minimalismo
Para pensar direito.
Sem bibelôs
Sem candelabros imitando
Nenúfares
Sem quadros pintados por outros
E copiados para estas paredes.
Só açucar e regalo à vista.
Tudo o que faz mal
E menos mal.
Sento-me bebericando
Um não café
Um pouco café
Um descafeínado.
Sou aqui tão genuinamente
Nada.
Como se apraz ser aqui.
Lá fora sou tudo
Mas aqui resumo-me a ser
Um ornamento da casa
Envelhecendo
Com o tempo que também
Já passou.
Aqui sou velho.
Sou o Billy Idol que passa
Na rádio
Há quase quarenta anos.
Como este mobiliário.
Como isto que é tudo tão igual
Como as pessoas que já aqui
Não estão.
Estão na inauguração
Deste estabelecimento
Noutro local da cidade qualquer
Neste tempo.
Locais que imitam modernamente
Este.
Mas mais.
Muito mais minimais.
Mais modernos.
Não tão velhos.
Modernos.

VAz Dias
#palavradejorge

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