quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Soma

Estou onde tenho de estar.
Menos famoso
Ou mais íntimo.
Mais meu
E tanto dos meus.
Não tanto assim
Como eu desejaria.
Tomam-me o que não lhes
Desgaste.
E está bem assim.
Sem pena
Nem perdão
De algo a desculpar.
Ser remediado de mim
É melhor
Do que ser um pobre
Rico de tanta coisa vazia.
Nem pobretanas
Da ignorância.
Ser cheio de quase tudo
É a minha mais
Feliz forma de quase ser
Tudo.
Mas hoje chorei
Como a criança que em
Mim sentia essas coisas.
Era a criança ao meu lado
Que ali estava
Como eu.
E do outro lado
A serenidade
Da estupefacção.
Que o gelo derrete
E que o pouco que sai
Não sai tão pouco
Quando multiplicado
De todos.
Derreti-me de tantos
E tantas perdas.
De tantas noites passadas
Com dias perdidos.
Eram a morte
Enquanto sobrevivia.
Odeio os que como eu
São nessa altura.
Odeio resignadamente
Esse de mim.
Esse paternal perdido
De mim.
Essa maternal despojada
De mim.
Sou demasiado pequeno
Num só.
Somado
Pareço ser mais de mim.
Mesmo quando choro
Aos bocados.
Mas hoje chorei
Por inteiro
Com o amor por perto
E eu pequeno
Por distância.
Mas eu em tudo fui
Um pouco maior
Do que a soma das partes.
E sou onde quero
Estar agora.
Neste ínfimo segundo
De todos os segundos
Que sou para todos
Os mundos.

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