segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Das esperanças caídas

A necessidade
De nos contemplar
Sabendo que seremos

Aguça-me o desdém.
A perda duma identidade
Conjunta.
Desconstruir
Até à nossa nascença.
Sermos do mundo
E viajarmos
Dentro um do outro.
Sermos amantes
De tantos de nós.
Perdermo-nos um
Do outro
Até que nada
Mais reste.
De não sermos nossos
Senão um do
Outro.
Sermos o fim
Para que nos perdemos.
Sermos pó
Do mesmo

Que trilhou as montanhas
E as escarpas
E a pele que trocámos.
Sermos um só
Que nasceu noutros
Corpos
E que aqui se apresentou
Assim.
Imperfeito como tão belo.
O tempo
Que nos cicatrizou
E enrugou de velhos.
Marcas de expressão
E marcas na estrada.
Uma chiadeira
De bradar aos meus
E aos teus.
Não quero ser teu
Muito menos
Aceitar que esse é o meu
Fatídico destino.
Lutarei com todas
As minhas forças
Para que nos separemos
Desta pele
Que antes era nossa.
Desconheço-nos
De antes dessa passagem.
Desse sonho interrompido.
Somos a terra
Que mordemos
E as vicissitudes
Para aqui chegar.
Ganhámos a nossa liberdade
Um do outro
E reencontrámo-nos
Sabe-se lá porquê.
Se foi Deus
Não o reconheço.
Perdi-me dele.
Se calhar ainda existe
E olha para mim a
Balbuciar estes mimos.
Se calhar
Foi o diabo
Que me amassou em
Pão
Ou o tempo
Que me fez chão
Por todos os que me pisaram.
Fui caminho
De tantos
E passei a ser
O meu próprio destino.
Surgiste assim
Tão tua
E tão destinada
Ao melhor.
E encontraste este
Perdido de ti.
Que falta de sorte.
Antes a morte
Ou a viagem
A Marte.
Amar-te é uma verdade
Sem fim feliz.
É um início
Do que haveríamos
Ter sido.
É não saber nada
Disto
Senão como o
Testamento
Dum velho decrépito
E sem senso
De si.
Um agarrado
À morfina
Dos dias
E das esperanças caídas.

VAz Dias
#palavradejorge

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