terça-feira, 25 de setembro de 2018

Espelho Espelhado de Mim

Vagarosamente
Os dias precipitam-se
Em direcção a ti.
Olhas-te ao espelho
Com as mãos segurando
O que é real,
Mantendo-te vertical,
Direito,
E as rugas a cavarem-se
De erosão
Como pediste.
As de expressão.
As de desilusão.
As do coração.
Em todas elas agora
Sabes que as pediste.
A luz fluorescente
Adensa mais a felicidade
Do que és e não foste
E o que querias ser.
Tudo atrás de ti
É plateia que não se vê.
Como nos sonhos
Em que sais à rua nu
E onde ninguém se importa
Senão tu
Que não tens pejo
De te expores
Em qualquer situação.
Mas tens um armário
De higiene
Onde guardas todo o material
De te limpares,
De te tratares
E de te redimires.
Penso rápido.
E logo se passaram 20
Anos.
Perdi menos do que ganhei.
Caminho a passos largos
Para o fim
E ainda não vou a meio
Da caminhada.
Aqui onde faço rugas
Porque ali onde sou
Espelhos
Espelhados sou infinito
Para desaparecer
Na infinitude de mim.
Nas rugas que se estendem
Numa luz tão
Dissidente de mim
E da escuridão que me envolve.

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