segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Flores de verão

Um beijo na linha
Que se estende
Da maçã do rosto
Ao fim do pescoço.
Do sorriso ao fundo
Da alma. É o teu
Sorriso que
Convoco e ao beijo que nele
Coloco.
-Pouco a pouco-
Como uma flor que se rega.
Se alimenta.
Se assenta em jardim
Das mais belas plantas.
É o sorriso que em mim
Implantas
E a vontade
De no teu jardim
Teus aromas cativar
E teu toque
-Suave de pétala-
No meu sorriso
Se pousar.
És flor de verão
E eu um caminhante
Que me delicio
Com natureza das coisas.
Com o que nasce da terra
E se sente no ar.
És uma flor de verão
-não há que duvidar-.

VAz Dias
Espero que nesse silêncio húmido muitos gritos de prazer se tivessem vindo em ti. Entretanto eu vou ofegando por contigo estar.

VAz Dias

Recebe-me!

Traço-te a linha de vaidade.
Que me faz deslizar de vontade.
Que sorrias enquanto se cria
uma certa humidade.
Uma sensualidade
que no esboço treme.
Que nos sentidos do pintor geme.
Recebe-me!

VAz Dias

A sorte dum morcego se alimentar de luz

Clarão de luz
rasgando a noite.
Passos harmoniosos
fazendo da dança
algo ao comum mortal
tangível.
A sorte dum morcego
se alimentar de luz.
De eternidade em
eternidade.
Dançaram-me os olhos
de novo.
Asas nós pés! Incrível!

VAz Dias

Contínuo sumiço

Volto atrás. 
Por momentos sou capaz
de recordar aquele silêncio.
O que já deixei para trás.
Na tristeza do sopro do vento.
Sou feliz como a canção,
com o acre de lá atrás. Foi.
Mas somou-me às perdas.
Sou mais.
E com estas
religiosas conversas
da carne e do suspiro.
Viro-me para ti.
Beijo na nuca e sigo
suspirando por aqui.
Sopro-te a têmpora.
Vou sumindo.
Em ti...
contigo...
contínuo sumiço.
VAz Dias
A pureza alva com defeito. Perfeito!
De alva se revestia
a bela senhoria
escondendo o defeito
pela qual me fraquejara.
Ela era muito mais clara
do que isso.
O defeito brilhava
por debaixo da clara
manta.
Era pela cor que eu a queria,
o defeito que escondia.
Era ainda mais colorido
do que ao mundo
mostrava de branco.

VAz Dias

Desintegrado passado

Quero o tempo à velocidade de o poder fazer voltar atrás.
Eu sei que lá estarás.
Eu diferente tu igual.
E de novo lentamente.
À velocidade do certo.
Desintegrei-me.
Não há passado…

VAz Dias

Para onde fores eu vou

Leva-me.
Para onde fores eu vou.
Até para a perdição.
Voltamos sempre
juntos ou não.
Já lá estive e adorei.
A viagem de regresso
é penosa,
(mas então?)
Não é tão mais excitante
encontrarmo-nos perdidos
do que nunca
nos termos encontrado sequer.
Leva-me!
Ou vem então.

VAz Dias

Em mar aberto

Sou livre.
Em mar aberto
me livro das amarras
e me faço à linha
tangente entre
o medo e o desconhecido.
Na verdade volto
decidido a essa passagem
de novo.
Não foram os medos
ultrapassados
mas sim aceitar o desconhecido.
Não foi a tangência
é a viagem.
Vou livre até voar.
Mais desconhecidos encontrar.

VAz Dias

Sou futuro

Sou e serei sempre
o futuro.
Nunca este mas aquele.
Não vivo de saudosismo
(chamem-lhe defeito)
Mas de pretérito perfeito
para mim não conjugo.
Não consigo.
Sou futuro
porque a cada hora mudo.
Envelheço,
maturo.
Trago a juventude de amanhã
porque renovação não é passado.
É aprender a nascer de novo.
Aceitar ser o desconhecido
para que o passado
dos que com calma vão
seja um futuro tranquilo.
Sou a poeira que um dia serei
por isso agora vivo
o que ainda não passei.

VAz Dias

Vou inventar-te um poema

Vou inventar-te um poema.
Que seja de letra pequena.
De pequeno momento.
Mas de encontro.
Profundo.
O jeito como te demonstro interesse.
Aquecimento.
Estes últimos, largos!
Como alargo o beijo e me introduzo em ti.
É apenas um poema.
Fazer amor assim.
Ou sexo.
Sem que tudo tenha um fim.
Só inícios,
com indícios que queiras calores de mim.
Foi um poema de palavra pequena,
mas que te escrevi assim.

VAz Dias

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Tudo mudou minha desamada...

Tudo mudou.
Aprendi que rótulas
no chão eram a fiel
demonstração de fé.
O pedido humilde
de graças.
Tudo mudou
e a fé deu lugar a cair.
A levantar e também desistir.
Sim porque um homem
também aprende a desistir
e a seguir outros caminhos.
Tudo mudou.
O amor de joelhos
não é humildade. É humilhação.
É nunca ter sido
mas ter também sido
o alto dum crente.
Morreu um coração.
Renasceu diferente.
Cair e levantar são exercícios
atléticos.
Manifestações estéticas
dos amores dos nossos tempos.
Tudo mudou.
E o amor e a fé
são distracções da fraqueza humana.
Crescem da sua impossibilidade
de se acompanharem
do nada.
Da solidão convidada.
De crer em si e em si
como pessoa amada.
Tudo mudou
ou talvez nada.
Seria porventura sempre assim,
uma natureza já de si
para este trajecto encaminhada.
Tudo mudou
minha desamada...


VAz Dias

Arte é a minha fé

E arte? Que transforma os locais familiares em sonhos. Que transforma dores em andorinhas que voam. Que faz dos homens imortais para além da carne morta. Que fazem as suas diversas manifestações deus se não se conhecia fé.
Arte é a minha fé.

VAz Dias
Há momentos em que a ignorância que deixei crescer se faz pesada. Por outro lado, em certos momentos senti-me abençoado, mesmo não sabendo que era ignorância. Agora sei.

VAz Dias

Em casa grande me compartimentava

Em casa grande ecoava
Mais ruidosamente o silêncio.
Compartimentei-me.
Gritei.
A companhia não amedrontava.
O silêncio não amedrontava.
Contava ao escuro
O tempo.
Ele não o via
E eu tão pouco.
Fazíamos companhia
Uns e a outros.
Estávamos mais juntos
Eu, a escuridão e o silêncio.
Sem o tempo.
Esse sim
O maior receio
Em casas amplas.
Compartimentei-me
Até fazer desaparecer
Essas imensas paredes brancas.

VAz Dias
Não é pelo tonto se mentir mil vezes até se tornar o que ele deseja ser verdade que o princípio deixa de ser mentira. E ele tonto!

VAz Dias

O amor é de quem acredita em voar

Por mais que se dilua
o amor não é nosso.
Ele voa para quem
quer ter asas.
Eu não tenho asas.
Quando tentei planar, caí.
Diluo a perda caminhando.
Desejo-te vôos suaves
em finais de tarde.
Segue a luz laranja
na franja dos dias.
Leva o tempo.
E dilui o passado.
Lá está o amor. O teu.
Que sorrias.
Com as asas que me pedias.
Eram já tuas,
quando desceste na curva
que descrevias.
O amor é de quem acredita
em voar.

VAz Dias

Origamis

Origamis de montra
-a preta e branca-.
Que desenham o traço escarpado
de terra húmida
em espelhado céu cinzento
de densidade tamanha.
Pintam a côr
que nós daltónicos
acreditamos existir.
Pintamos com os olhos
uma montra de origamis.
Desvendámos e desdobrámos
essa figura estranha
à terra cinzenta,
preta e branca.

VAz Dias

Em passo de caracol

Languidamente desço ao fundo de ti.
Em passo de caracol.
Lento.
Lânguido.
Sem tempo.

VAz Dias
O louco e a sua tentativa de caber em padrões.
Esses loucos que criaram prisões nas mentes e corações de tanta querida gente.
De repente ele fez frente.
Riu-se. Vergou a regra qual indigente.
O louco era ele por se rir, por não saber se definir. E os outros, os legisladores, definidores do correcto e do conveniente.
Mandou todos à merda e lá se manteve rindo e balbuciando como um diabrete passagens do livro de leis de tão boa gente.
Sabia tais passagens de cor. Como cantilena que se detesta e que dança à volta na cabeça dos saudáveis.
A inteligência canta. O rancor dança. E o louco, esse desvairado, sabe-as de cor. Rindo alucinado. Um padrão.


VAz Dias

Mente quem mais sente

Eu sou os contrários e o excedente.
Revela-me o que ainda não sei
do futuro que ainda não saiba
no presente.
Traz-me sapiência que ainda
não tenha como urgente
e um coração,
um coração diferente.
Que pulse
e responda à morte
e ao amor
como toda a gente.
Mente quem mais sente.
Convenientemente.


VAz Dias

Cafeína nervosa

Preciso escrever
do nervo do café.
Dos nervos dos quilos.
Das toneladas de pensamentos.
"Chato duma merda!"
Que da atenção espera.
Produto actual
da rede social.
Escrevinho em tecla.
Faço a mescla
da caneta em papel
À letra de pixel.
Romântico bacoco
com pozinhos de pós-moderno
da escrita encetada.
Quero gritar.
Mais nada!
Venham os gostos
da minha oferta desmedida.
Sou a letra bela
da bela prostituída.
Vinde que a oração
está possuída!
Mais nada amigo!
Mais nada amiga!


VAz Dias
Em cada piscar de olhos, tuas pálpebras as minhas asas de vôo ao alto da tua profundidade.
Planei por lá e não mais quis fechar os meus olhos.

VAz Dias

Colorido cinzento

Não há arte
onde tu não te manifestas.
Não há um cinzento conveniente.
Um preto garrido.
Apenas as cores esbatidas
da tua passagem.
Quero-te aguaceiros em dia
quente.
A exponenciação das cores
através do teu colorido cinzento.

VAz Dias

Para além do ar

Excedes-me as medidas.
Alargas-me as capacidades.
Emoções sem carne nem toque.
Mas profundos e além tempo.
Além contentamento.
Além de mim.
Ter-te além de mim.
Querer-te assim.
Ganhas-me por não me teres.
Até desapareceres. E voltares.
Eu voltar.
Eu desaparecer além de mim
para me transformar em algo maior
para te encontrar.
Dou-te ar.
E tu? Tiras-me o ar.
Não respiro.
Sou cosmos.
Vivo e sem ar.
Para além de mim.
Para além do ar.


VAz Dias
Não te resisto.
Mais do que isto
só com o imprevisto
de aqui te pintares.
De à minha loucura resgatares.
Vem que eu resisto,
só até chegares.


VAz Dias

Os olhos tristes

Há choro na rua.
Revoltam-se os olhos tristes.
Já não se coíbem
de ficar fechados no escuro.
Na luz do dia vê-se o pranto.
É meu, tamanho espanto
dos que como eu choram.
Mas na luz do dia
para que os felizes os olhem.
Por muito que chorem,
quem os acode?
Quem segura a intempérie
que daqueles corações
explode?

VAz Dias

Gozo e viagem

A tua cara de prazer
na inocência
do que de menos decente
se deseje
é a excitação dos que o amor
repelem.
Repetem no desejo
expressões que elas
no amor deram.
E depois foram.
E depois vieram as outras.
As novas.
As que a excitação provocam
sem de conta se darem
Do quanto com desejo
as memórias de amor
se apaguem.
Tu és tão ingenuamente
essa viagem.
Do passado do amor
à expressão do sexo animal
e selvagem.
Só podes ser o amor
antes da tua própria viagem.
Mas insinua-te
para o gozo e orgasmo
de quem ao amor
ficou à margem.

VAz Dias

Lábios de chuva

Os lábios são os caminhantes
De sussuro na cascata
que é teu pescoço.
Lentamente descaio
em alvoroço.
Sinto-me húmido
de teu tão fértil símbolo
de frescura.
Molho-me.
Banho-me.
Enquanto lábio a lábio
te desaperto a infinita
nascente.
Nascemos de prazer.
Transformamo-nos em água.
Voltando em chuva
para alimentar
a queda que temos
para esse pescoço
de meus lábios beber.

VAz Dias
Existes-me do outro lado
do espelho.
Reflexo e meio de me encontrar
em ti.
Toco-te e não me sentes.
Toco-te e não estás presente.
Mas tão perto.
Tão distantemente cerca.
Reflete-me.
Vem da luz negra.
Vem daí!
Desligo as luzes
e és minha,
mas do outro lado
do que o meu olhar
alcança.
Reflexo-luz minha.

VAz Dias


Os sonhos são belos.
Quase ingenuamente reais. Mas sabes que mais? Ser ingénuo é o ser belo por ainda sonhar.

VAz Dias

Beleza Interior

Séria. Beleza inexpugnável.
Face de escultura persa.
Pouco sizo
e pouca conversa.
Invento-lhe cor
no interior.
Talvez a meu contento.
Talvez a seu favor.
Talvez a mim me faça o favor
de com um sorriso velado me conceder
esse louvor.
Beleza interior.

VAz Dias

Ar Livre

Sou o excesso
para quem não saiu
da terra.
Sou ar para quem não respirou.
Respirai e invadi novas terras.
Busquem a audácia e também assim
serem felizes.
Vou inspirar o ar livre!


VAz Dias

Para lá do que se vê

Como o ar também podemos ser
rajada e brisa que em cada um passa.
O sol nosso comparsa enquanto existimos
na inexistência dos incrédulos.
Acredito que respiras de mim mais do que se vê
e eu da linha do firmamento
para lá do que se crê.
Sejas o ar de quem respiras e eu o fogo que se vê. 
Sopra-me um universo. 
Não peço. Nem meço. 
Porque também é mais palavra do que se lê.

VAz Dias

Jovem Fruto

Se o tempo
acentua a linha
e envelhece a pele,
veste galante quem o aceite
enquanto estique, suave,
a pele,
e quem melhor lhe sorri.
Despes bem os anos
com a leveza de quem traga a vida
como um fruto.
O sorriso é disso testemunho.
Agradece o tempo
quem melhor cuida
de si.
Um luxo!


VAz Dias

Acordei num sonho de ti

Deitei-me nos teus olhos. Puxei as pálpebras como lençóis
e deixei-me sonhar por ti. Adormeci por anos,
tantos que morri,
de saudades,
e dos teus sonhos que perdi.
Acordei dentro dum sonho de ti.
Acordei dentro dum sonho assim.

VAz Dias

Escadinha azul

Como em conto de criança
A escada azul se ergue
À imaginação do infante.
Que se espante e brinque
Salte e pinte
E o tempo por si espere.


VAz Dias

Flor felina

Ela era felina.
Em suave, flor.
Descompunha-me os sentidos.
Era aguaceiro em ardor,
ardia e oferecia-me
um novo sabor.
Chocolate menta.
Fresca e quente.
Mas tudo tem um
"de repente"
Após um "de rompante".
Traga-se cacau
que se entranha e desaparece
de vista.
Mas "ecoa" como frescura menta
pelo céu da boca, à hormona,
ao desejo e à mente.
Ela ficou sem estar presente.

VAz Dias

Faltas-me na realidade

Tenho saudades
Das tardes que ainda
Não passámos juntos.
Sinto falta dos beijos
Que me sopras
Na imaginação do fim
De tarde no areal.
Falta-me o olhar teu
Quando eu não estou
A olhar
Aquele que me traz
O sorriso na pele de hoje.
Perdi-te na contagem dos
Dias.
Não me lembro se era da tua falta de sentir falta
Ou se então não podias.
Vou beijar-te contra o vento
Até ao fim de tarde.
Até que à minha pele
O sol arda.
Até que à saudade no peito
Te bata.
Até que em meu escaldado
Coração
Meu pulsar te faça falta.
Faltas-me na realidade
E na imaginação, tanta!


VAz Dias
Um dia ver-te-ás ao espelho de forma diferente. 
E se gostares verás que és poesia.

VAz Dias

Se é bela elogia. Sorri.

Se é bela elogia.
Se é tímida olha.
Se sorrir sorri.
Como que de dádiva se colhe
a beleza duma vida num só dia.
Era aquele sorriso
que queria...
Sorri.


VAz Dias

DISCÓFILO

Lembras-te dos fins de tardes
onde o azul do firmamento
engolia o laranja quente
do sol velho do dia?
Lembras-te do que tocava
no gira-disco
enquanto eu saboreava teus lábios
laranja quente?
Enquanto o azul sereneva
o nosso fogo?
Fica no segredo que guardo
como discófilo frenético
enquanto os discos
se vão gastando em agulha
cansada de tempo tocado.
Preferia ensurdecer
em tempo trocado
de canção voada
em firmamento azul.
De laranja prateada
a nossa melodia.


VAz Dias

Vou indo...

Não foi.
Não fui.
Não ficou.
Não veio mas foi.
Não vou mas vou ficar
aqui no que não foi
antes do que serei.
Foi o que tinha de ser
mesmo se não foi
o que queria que fosse.
Foi sem vir
e partiu sem ficar.
Foi mais um sonho
de brincar ao tempo
e de mesmo assim falhar.
Vou indo para ficar.
Vou indo...

VAz Dias

Traço Osculado

Escrever-te-ia na linha do corpo
As verdades que em ti são belas.
No traço até os defeitos
Em beleza cambiadas
ficariam aquém delas.
Mas tatuava-te o peito por dentro com esperanças e suspiros
Em noites de carinho e luz de velas.
Osculados lábios
Que calados
Sopram nessas curvas
Tão desejadas palavras
De minha intenção.

VAz Dias
É o sorriso
que de tímido
esconde o que os olhos,
grandes como lua,
escondem na sua escuridão.
Não é malícia. É a simples propensão
que orbita
em volta da minha atenção.
Seu olhar é lua
seu sorriso magnético
de minha perdição.

VAz Dias
Desta vez sento-me.
Desta vez sinto-me
Da batalha perdida
Em paz.
Há que deixar-nos
Sucumbir da perda
E fazer dela ganho.
Sento-me.
Encosto-me.
Vejo recostado o tempo.
O ano.
E o minuto em que por alguém
Tenho amor. Amo.
Mas não daquela maneira
Vivaz e em salto
E assalto da atenção dela.
Estranho. Nunca pensei me
Desapegar tanto,
E no entanto perder.
Ganho-me.
Ganho-me sempre adiante.
Batalha constante
De quem quer descansar.
Paro por um instante.
Enquanto me recosto
E sento
Para entretanto ganhar.
Volto a sentar-me
Para da perda
Me familiarizar.


VAz Dias
A beleza vive no olhar mas transborda no abraço. 
A amizade vive de ambas. 
Bela.

VAz Dias

PROCRASTINAÇÃO

Adiemos a tua partida.
Deixemos para segundas núpcias
esse teu amor.
Não te vás que tenho tanto para te dizer…
para te mostrar
e que é do tamanho duma vida.
Adia. Amanhã também é dia.
Fica!
Prometo que amanhã
se quiseres ficar
novamente se adia."

VAz Dias

Cotovia do meu Parapeito

Foi assim que se foi.
Uma cotovia
Que cantava no meu parapeito
E me acordava daquele jeito.
Foi. Voou de volta
Para outro lugar,
Para outro parapeito.
Deixara de cantar a preceito
No meu ouvido.
Mas fiquei mais perdido
Porque em certo sentido
Deixara de morar e cantar
(Oh linda cotovia!)
Junto do meu encantado peito.
Voou e foi
Cantar mais feliz para outro
Parapeito.
VAz Dias

O encanto com que olhava para as coisas era apenas comparável com a beleza com que uma criança se detém com as cores pela primeira vez.

Ela irradiava essa beleza quando, nos olhos, o carrossel por mais voltas que desse no mesmo lugar lhe dessem ainda mais cores novas.
Ela andava às voltas na minha cabeça e a inocência essa, apenas resgatava a beleza aos meus olhos cansados, porque dos seus, enormes e cristalinos, me oferecera as cores que já não distinguia. Eu para ela, tinha ainda luz.

VAz Dias

Sede e obliteração

Fazer o sonho desaparecer
como últimas gotas
antes da seca.
Deixaste-me sedento
e num fim lento
deixaste-me ali obliterado.
De salga na boca,
seco e aguado.
Eras afinal a miragem
da minha caminhada
do deserto.
Acabado.
Seco.
Obliterado.


VAz Dias

Tenho saudades de te ter. De me entrelaçar nas tuas palavras e fazê-las minhas. E em quente respiração agarrar-te o corpo. E estremecer de orgasmos múltiplos porque os danças tão bem. E em cada final um sorriso de quem pega numa bicicleta e voa como dente-de -leão.
Sopraste-me para um tempo de senão...

VAz Dias
A sério? Achavas mesmo
que a minha sorte acabou
por te teres como meu filactério?

O que passou passou
e da caminhada do deserto
percorri o meu ser.
Sou o meu amuleto
e não mais outra o virá a ser.

A sorte que agora me acompanha
é a ilusão mas com critério.
Perdi mais do que fortuna contigo.
Perdi a magia de miúdo
e do teu ser o mistério.

VAz Dias

domingo, 20 de setembro de 2015

Passei na tua boca soprada

A realidade é a percepção.
Vê mais quem de olhos fechados
se deixou tocar pelas coisas.
As boas e as más.
Ver de olhos abertos o belo distrai
não ensina.
Por isso gosto de ti.
Por isso te toco.
Para não me veres.
Sou a brisa, o vento
ou rajada.
Passei na tua boca soprada.
Beija-me!
Não vejo nada.


VAz Dias

Tempo de senão

Tenho saudades de te ter. De me entrelaçar nas tuas palavras e fazê-las minhas. E em quente respiração agarrar-te o corpo. E estremecer de orgasmos múltiplos porque os danças tão bem. E em cada final um sorriso de quem pega numa bicicleta e voa como dente-de -leão.
Sopraste-me para um tempo de senão...

VAz Dias

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Amores afluentes

Esta brisa
que de luva aveludada
me serpenteia.
Que por entre árvores, vagens
e flores traz da suas viagens
ecos dos amores.
No rio vê-se esse eco.
As curvas aos milhares
que umas e outras se seguem
evidenciam da voz esse tremor.
Deslizam em sentido nascente.
Como se lá tivesse
de voltar o sentimento.
A brisa trouxe ecos
de amor afluente.
Ou afluentes.
Afunilam para o primeiro instante.
Um único amor.
Uma brisa calmante
dum rio que vinha de rios,
de rios do mar.
Era voz trémula
que um dia se deixara
amar.
A voz que em brisas
busca no rio se deixa levar.
Que à partida passa por mim
para lá, onde tudo começa,
dar-me voz
para a ressuscitar.


VAz Dias

Tela real verdade

Na minha tela
sobressai a verdade
em arte.
Sou menos do que
O grande plano
e maior do que o tempo
de antena.
Vivo tranquilo com pouco,
sob pena
de não representar
fielmente a minha parte.
Algo que alguns
de nós chamam
realidade.


VAz Dias

Contudo...

Andamos aos apalpões.
Seduzindo o tempo
para ganhar tempo.
No sorriso presente
uma vontade distante.
Se é que distância possa
ser tempo.
Se é que distância possa ser
Um presente.
Sorrir de lembrança.
Sorrir de reencontro.
E seguir em frente.
Independente e com futuro.
Com sorriso,
consequente.
Convicto.
Confiante.
Contudo…


VAz Dias

Bela Bondade

A bondade era o seu mais
belo atributo.
A sua beleza, a da pele,
e de como revestia
tal atributo,
pouco ou nada
prenunciava essa
magnificiência toda.
Ainda assim era adorada
pelas linhas que pintavam
o olhar de todos.
Eu perdera essa capacidade…

VAz Dias

Não foi...

Não foi o menosprezo.
Não foi o esquecimento.
Não foi o desprezo.
Não foi o teu arrefecimento.
Não foi o sorriso disfarçado de ti.
Não foi o que enfim desejaste.
Não foi.
Foi isso sim, o fim.
Não foi... de mim.

VAz Dias

Verde Verão

Onde me sento
tudo é esverdeado.
Na sombra da árvore
o sol pinta-me os olhos.
Vista esverdeante
o rio de azul se
cobriu de verde berrante.
Assim prefere
de envolto cenário.
Até o vento sopra
o azul e o amarelo primário.
E no ar se confunde de verde
e das cores frias ausente
para o meu agrado.
Este é o verão do verdadeiro verde.
Verdão da minha sede.
De todas as cores se pinta o meu verão de verde.


VAz Dias

Ardor Mitigado

Hoje declaro
que se mitigue o sol.
Como o amor.
Que tudo o que viole
a saúde da pele.
Como o sol
queimaste-me!
Mas atenta,
que por muito que pele
nunca à alma me derretas.
Nem no sonho me derrotes.
Sou meu.
Os sonhos são meus.
E o sol?
Venham dias mais fortes
e creme de protecção,
que de chama e ardor
já não me queimas
nem ardes.


VAz Dias

Ardo de loucura

Há fogos que se reacendem.
Há loucos que nunca se curam.
Eu sou um louco por me deixares arder!


VAz Dias

Mudo!

Tudo se acinzentou. 
Tudo tem um valor relativo. 
As relações. Os afectos. A magia das coisas.
Uma paz que é aparente. Uma guerra que é latente. Mas tudo cinzento.
Nada é verdadeiramente belo. Nem tão pouco asqueroso.
É tudo tão meio termo que me confunde. Menos o preto. O branco. E o cinzento. 
Uma paleta muito básica para desfrutar.
Não me importa sequer procurar. É tal a neutralidade às coisas que as deixo passar. 
Não me morrem mas também não me excitam. É uma relação morta com dois membros vivos. Sobrevivendo aos tempos. Definhando. Sem argumento nem convicção.
O propósito das coisas é tão relativo.
A busca é igualmente desnecessária.
Vivemos histórias em imagens. 
Mas depois trocamos. 
Geração zapping até à exaustão. Ou não. Cansamo-nos antes. 
Buscamos agarrar a oportunidade por exclusão de partes.
Eu sou parte de exclusão. E parte de inclusão. Sou isto e aquilo. Tanto faz. Vou indo. 
Vou descobrindo como não me chatear. 
Ansiolítico para acordar. Cafeína para acalmar. Tanto faz. 
Até errar. Não tem mal. É tudo tão relativo que nem isso agita a espuma.
Vou dormir. 
Talvez amanhã mude alguma coisa. 
Talvez. 
Talvez o mundo mude e eu com ele. 
Mudo!

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Sonhar a Saudade

Sonho em te tocar
a pele.
-assim não te toco,
assim não morro de saudades-.

Sonho em te tocar as pálpebras
-assim sonhas comigo e não morro de saudades de me olhares-.

Sonho em te ter tido uma vida
-assim não morro de ter tido saudades por te ter sonhado uma vida inteira-.

Sonho.


VAz Dias

Escrevo. Ponto.

Como de um bom
sonho se trate.
Ele chega sem aparato,
sente-se,
e logo me apronto.
Páro! A mão ferve.
Estou pronto.
O poema se escreve.
Ponto.

VAz Dias

Frenesim de liquidação

Corropio de gente.
Movimentos organizados
de caos comercial.
Batalhões que investem
em liquidações.
E tantos são os
bravos,
e tanto são os
saldos,
que um a um
como insetos são eliminados.
Desapareceram os bravos,
os batalhões organizados,
nos saldos e nas
liquidações.
Amanhã a luta dos bandos
continua.
O frenisim de mais uma
luta
e da labuta da nossa manada
consumista
que elimina tudo
e o que ainda não consta
da lista.

VAz Dias

Por entre luzes

Por entre as luzes que por entre as pessoas se barricavam,
assim via a impertinência com que nos anos
elogios te fitavam de longe.
Ou era de mim e as luzes me distraíam
ou as pessoas foram todas as outras que fomos conhecendo e assim estava bem. E assim o deleite se mantém,
como as luzes por entre as pessoas.
Como essa luz que de ti se faz arte
E eu ali detrás delas,
entre luzes,
uma só de contemplar-te.

VAz Dias

Penso Rápido

Deixamo-nos em suspenso.
Suspense do último encontro.
Congelada fica no tempo
a comunicação.
Voltaremos se não houver
muita razão.
Ou compromisso.
Volátil é a emoção.
Fazer amor de chat.
Vir ao encontro
ou não.
Tanto faz.
Há mais.
Comida rápida em hormonas.
Cresce rápido,
engorda rápido,
desvanece rápido.
Num ápice se foi feliz.
Num ápice se espera feliz.
Animais com cabeça.
Amor sem pertença.
Fazemos uma presença
como figura de capa
aceitamos quem mais
nos idolatra.
E depois acaba.
Para de novo sentirmos.
Retomamos o suspenso.
Se lá estiveres.
Lá estarás... convenço-me.
E se não?
Penso rápido...penso...

VAz Dias

Perdi-me quando a encontrei

Perdi-me quando
a encontrei.
Rua de sentido único
augurava um fim.
Ou isso ou voltar atrás.
Também nunca fui de
ficar quieto.

VAz Dias

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Tenho fome. Está na hora!

tenho fome.
a minha barriga ronca
pede que a calem.
mas a fome
é maior e que em mim
habita.
ela grita
porque não a podem calar.
ela exercita e expurga
o alimento veneno
que de fora
e à mesa se apresenta.
"senta-te!
não tenhas pressa!
come!"
come tudo o que te mandam.
e cala-te!
a tua fome é de silêncio.
porque comes o que te mandam
e não passas a verdadeira.
consome farta-bruto!
faz-te um homem
para a sociedade!
sacia-te para meteres na mesa
o que te ensinaram.
"assim não passas fome"
dizem essas porcas inchadas
e fazes do próximo
mais uma presa.
sua besta.
eu quero a fome que não me cala.
a que grita por mais palavra.
que de sopa de letra
se arregala.
quanto mais grito
mais emagreço.
dou da minha gordura
ao pior preço e se não for
de borla.
levem para se alimentarem
e levarem embora.
mas voltem com fome
"está na hora!"

VAz Dias

Inverdades

Penso muito no que digo.
Não digo tudo o que penso.
Mas o que digo é verdade.
Na verdade nem tudo.
Remeto para os silêncios
gritados.
E penso que há quem também
não lide bem com ela, na verdade.
É mentira que se diga tudo
pela boca.
Pode ser mais tarde,
Mas pela boca, os olhos ou o silêncio
virá mais de metade.
A outra, menos de metade,
fica para aprenderem por si,
e se tiverem vontade.

VAz Dias

Mãe Poesia

Escrever por escrever.
Manter o registo
dos silêncios.
Precaver a perda de memória
do espírito.
São do tamanho dos
compêndios
esses silêncios.
Não que seja saudosista.
Quero só saber de mim
antes de partir.
Poder ser velho
por contar anos
e não deixar de saber
contar.
Escrevo por escrever
para te lembrar.
Tu que o fizeste antes.
Foste desaparecendo.
Definhando.
A letra tremeu
mas a caneta nas tuas
mãos de pé,
vertical,
escreveu como que
a própria morte desafiando.
Escrevo porque me ensinaste
A escrever.
Mais!
Ensinaste-me a escrever
para além da vida.
Escrevo por escrever
por ser a minha mão
uma oração
onde a graça me deste
o Saber.
Sou a extensão de te escrever.
A mão do braço
Que um dia me segurou
Noutro me ensinou
E a sua vida pela minha trocou.
Voou
Mas como garça
Nos meus poemas
A sua alma planou.
Há poetisa
Nestes versos.
Há tristeza e ainda
Mais alegria de regresso!
Foi a sua alma
Que a minha
Para a escrita convocou!


VAz Dias

Aperto de mim

Falta-me ar
nesta imensidão
azul de oxigénio.
No peito acabou-se-me
o espaço para tanto
respirar.
Corro o mundo
e canso-me no segundo
imediatamente seguinte.
É gritante o tanto
de tão pouco que agora
inspiro e depois desisto.
Desaprendi a ter ar
que na caixa se confortasse.
Que me visitasse sempre
com a mesma vontade.
Talvez seja dele
e não de mim.
Darei tempo para que voe
e volte.
Talvez o queira eu mais
para este peito,
cada vez menor
(a cada aperto),
e convidá-lo a permanecer
mais vezes
e a ficar por perto.
Talvez quando
(por conforto)
encontrar meu coração,
de novo,
aberto.


VAz Dias

Ficar sem ti

E no ar subsistia
a ideia de ficares.
Eu queria,
mais até do que apenas
o ar que me ofereceste
para só respirar...

VAz Dias

Saber perder é a vitória mais dura

Que derrota
nos derrota mais?
Que nos mata
mais?
Se mata devia
ser a vitória sobre a morte
e reviver.
A vitória sobre o fim
deve ser ainda maior
do que a vitória em si.
Viver de novo
é o prémio de quem sabe
perder.
Perder e morrer
e à vitória renascer.

VAz Dias

E então?

Eu não escrevo.
Deduzo palavras que
outros toquem.
Simples ou simplistas,
que interessa?
Seja desta aberrante
preguiça de ler.
Seja desta pouca
capacidade intelectual.
Seja da própria ignorância
assumida e alimentada.
Escrevo porque ninguém pediu.
Porque fui mal-criado
e fui entrando. Com a escrita
e mal-palavreando.
Palavrão.
Parvalhão.
Maldita mão
que se "desunha"
para falar das coisas
distantes da razão.
Ser prosaico é a minha tendência.
Como em tantas coisas.
Mas não sou moderno.
Pelo menos todos os dias.
Talvez nas noites.
Sou um humano
que escreve de rodeio
ao centro.
Uma ogiva que depois se sente.
Quem for filho de boa gente
ou um filho da mãe qualquer,
como eu
em certos momentos.
Alguns invento-os outros com os escritos
Da realidade comento.
Tipo moralista sem chão
Nem base moral
Para tal ostentação.
Mas não consigo travar
A mão.
Masturbação alheada da razão.
Livre, voo no vento das palavras
Até que se me acabem.
Que se esbatam no tempo.
Contanto que tenham
por momentos aos outros
Chegado.
Mesmo sem o brilho dos predestinados
Ou a importância dos bem-aventurados.
Fica o testemunho prosaico
De quem às letras não foi visto nem desmanchado.
As palavras foram o crime
Que à vida foi condenado.
E então?

VAz Dias

Quem sabe?

Deixo-te longe.
Por um tempo.
Por uma pequena eternidade.
Espero que ela não
saiba.
Quem sabe?
Pode ser que acabe
antes daquela tarde.
Ou na manhã seguinte.
Quem sabe?
Sei que nada sinto
quando tudo parte.
Quando nada parte.
Parte o tempo mais
que o coração.
Quem sabe se ele é de
cristal?
Que brilhe e que estale,
mas não deixe o tempo
cristalizar
o que sabe.
Amanhã quem sabe,
de manhã ou à tarde volte.
Quem sabe?

VAz Dias

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Procuro-me

Eu não sou eu.
Quando escrevo
esse sim, sou esse.
Como a primeira impressão
que a cada um pertence.
Para ele também
também não sou esse.
Quem somos para
cada um?
Para uns o que nos conviesse.
Para outros o que viesse.
Para todos o que lhes interesse.
E até a quem somos
alheios. Não sermos ninguém.
Também não somos
quando de nós também imagem
outros não têm.
Se somos assim tantos
e até nada,
porque fica uma pessoa preocupada?
Se também não sou quem era neste começo.
Devo preocupar-me porque
porventura já não me conheço?
Somos talvez quem
melhor nos conhece,
mesmo que esse não seja
aquele que se quisesse.
Mas a cada momento podemos mudar.
Esse pode ser este novo este.
Ou aquele que este também sonhou.
Podemos ser quem quisermos
desde que o ser
seja o que se prometeu.
Felizes os que se procuram.
Também eu.


VAz Dias

terça-feira, 23 de junho de 2015

Um belo borra-bota!

De derrota em derrota
me transformei
nesse idiota,
que de estranho ao mundo
com os restantes
me confundo.
Agiota do tempo
com pouco me contento,
contando que pouco
seja outro tanto
daquele que estranha
o meu tudo.
Contudo, para ele
serei sempre um idiota.
Pobre borra-bota
que da imagem
e posse pouco demonstra
ou tem para se vangloriar.
Tenho esta pouca
bagagem de me expressar.
Sim sou pobre,
por ainda seu léxico
não dominar.
Por vezes preferia tão pobretanas
me deixar ficar.
Mas a verve e a vontade
fazem ferver
e algo porventura ganhar.
O tempo senhores.
O tempo é meu para poupar.
Quando morrerdes
há muito que me pus
a andar.
Não tive o elixir
para os erros remediar,
muito menos o bisturí
para a pele esticar.
Morri velho e podre.
Mas ainda aqui estou
para vos lembrar,
que estas palavras serão por vós lidas
antes de no meu túmulo virar.
Quando fechar os olhos
sei que vou descansar.
"E o senhor, ainda tem medo
de aí à beira da vida se encostar?"
Morri velho senhores,
bem mais belo com a pele por esticar.

Arde-me!

Eu sou o fogo que te apaga.
Arde comigo, convido-te.
Acabo queimado
convicto
que a chama era minha
e tu a paga.
Apaga-me antes que arda.
Arde-me!
Arde-me repito!

VAz Dias

Flôr ou um jardim sem chão

Caiu a mão da flôr.
Caiu-me a flôr da mão.
Não há tristeza nem dor.
Nunca deveria haver, senão,
quando uma flôr
nos passou pela mão,
nos amaciou a primavera,
o inverno, o outono
e um outro verão.
Caiu a mão da flôr
que do meu rosto fazia
coração.
Que de coração o rosto
fazia mão.
Nela não havia mão.
A flôr caiu no goto
de outro. Era de outro
o rosto da sua convicção.
Uma flôr caiu da mão
Da mão que caiu em mim
como um jardim
em dia de verão.
Caiu uma flôr da mão
Caiu-me a mão da flôr
num jardim sem chão.


VAz Dias

São melodias

Apague-se a luz
sobre o olhar deles.
Apague-se o foco
que nas minhas mãos
brilha.
Fecho os olhos
enquanto toca aquela música.
E a seguinte...
e as outras.
Não nos olhemos por
tanto tempo.
Escutemos de bendita
cegueira
e ampliada audição.
A que nos chega à pele
de tímpano,
como bombo de pulsante
unção.
Desperte-se a alegria
da invisual audição.
Escuta!
É uma canção pela sombra
do ruído.
Pelo grito da geral confusão.
É apenas uma canção
num conjunto de sons
meu irmão.
Fecha os olhos
e cega-te de melodias.
Virão os melhores dias,
por agora sossega.
São melodias!

VAz Dias

"Descafeinada"

Faltava-me pousar a mão
p'la escrita.
Centrifugar o café,
perdão,
o descafeinado de fim
de dia.
Não me apetecia
mas o dever chama-me.
Nestas coisas sou muito
descafeinado.
Meio-termo.
Amaciador.
Mas quando a arte
de tocar os sentidos,
o relaxe e os espreguiçados
ouvintes se apodera,
tudo em mim se alvitra.
Café sou. Estimulante
e menos amaciador.
Vem o rubro antes
da restante côr.
Desequilibro o que antes
era amaciado pelo fim
de tarde,
do descafeinado
e o humor da mais
fina flôr.
Deixo o dia da mais
operária formiga
para dar início ao meu.
À noite.
Há noite como meu dia.
Cigarra labora comprometida
de arte descomprometida.
Da noite se faça dia
e o dia à noite se produza tal arte,
afoita. Reprodutiva.
Carnal. Rubra.
Tudo menos descafeinado dia.
Sejam os sentidos café
e a arte excesso.
O regresso abundante
à escura luminosidade.
Ou tudo ou nada.
Sem meios-termos
sem a neutra "descafeinada".

VAz Dias

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Sol-gira. (Daquele alpendre raiava)

Daquele alpendre
Se dobrava.
Debruçava-se sobre
O seu jardim.
O seu mundo.
O seu jardim
Era um mundo nosso
De girassóis.
Éramos só o que ela
Nos assolava.
E por nós se debruçava
E girávamos de encontro
À sua luz.
Só nós. À condução
Da sua luminescência.
O prazer dessa ciência
A quem apenas
Se debruçava
Do alpendre dos alpendres.
Ser o sol que nos gira.
O sol dos nossos dias.


VAz Dias

Sol-gira

Daquele alpendre
Se dobrava.
Debruçava-se sobre
O seu jardim.
O seu mundo.
O seu jardim
Era um mundo nosso
De girassóis.
Éramos só o que ela
Nos assolava.
E por nós se debruçava
E girávamos de encontro
À sua luz.
Só nós. À condução
Da sua luminescência.
O prazer dessa ciência
A quem apenas
Se debruçava
Do alpendre dos alpendres.
Ser o sol que nos gira.
O sol dos nossos dias.


VAz Dias

De noite somente

Era a noite
que quente
não serenava nem se deitava
na minha cama.
Calma e escura
esperava. Fitava-me ali somente.
Agarrei em ti palavra.
Clarivedente talvez
me serenasses tu a mente.
Que me levasses de volta
ao sonho.
Sopra-me a têmpora,
levemente,
para que o coração desacelere,
a brisa se torne vento
e a noite volte adormecer
e me deixar rendido
ao meu descanso e sonho.
Que a meu lado se deite
ou se vá de repente.
Mas que me deixe aqui
descansado somente.


VAz Dias

Arde... mais de metade.

Ele amava-a um pouco
mais de meio.
Ela meio-meio.
Tudo se resumia
ao poder de quem menos
Ao outro queria.
Quantos não eram os casais
que assim subsistiam?
O poder de quem menos ama.
A entrega de quem mais os
chama.
A chama que vela
Ao outro mais de meio.
A chama que se perde
a meio.
Não deve ser assim.
E ele perdeu-a
por nunca a ter conquistado.
Ela perdeu-o por nunca
ter amado.
Um amor que se vela
por uma chama por inteiro
não é um milagre,
é um esforço por um pouco mais
de metade
dessa vela que arde.


VAz Dias

Males Menores

Por vezes a ti volto.
Porque és real.
Porque habitas às escondidas
da fraqueza humana.
Tu não enganas.
Velha senhora de patranhas.
Infiltras-te pela sombra
das entranhas.
Respiramos o ar putrefacto
que emanas.
E volto por vezes lá
à tua vizinhança.
Não porque te queira
mas para não esquecer
por onde andas.
Não são os teus sorrisos
e "bem-aventuranças",
Que me levam a esses teus lados.
São as verdades em que tropeças
maldita maldade.
Repito, não me enganas!


VAz Dias

Viagens de pequenos nadas

Seja a felicidade
A que vos motivei também.
Não sei como vos fazer viajar
Senão ao interior.
Onde as profundezas
Também podem ser exploradas.
Oferecer-vos pequenos nadas
Que em nada se comparem
Ao tanto que os vossos oferecem.
Sou eu que não entendo
A magnificiência desses locais.
Do que têm demais.
Remeto-me ao silêncio
Das viagens ao interior,
Ao profundo universo
Do que a vós pareça
Pouco sedutor.
Nos meus negativos
Não surgem as paisagens.
Negativo. Não surgem.
Vale apenas e só,
Tão somente,
A viagem.


VAz Dias

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Inocência sonhada

Fou fechar a vista 
enquanto viajo para teu lado. 
Vou no amor. 
Vou na inocência perdida 
e contigo reencontrada. 
A boa. 
A mágica. 
A mais amada. 
És a viagem 
e nunca, 
jamais a chegada. 
Obrigado amor! 
Estou aí não tarda nada.

VAz Dias

terça-feira, 16 de junho de 2015

Os casais invisíveis

És as outras terras.
És a cor diferente
que lá se espera.
Nunca te pintaria dessa
beleza.
Já assim eras.
As viagens que te daria
dificilmente tanto fausto
se veria.
Tanta sumptuosidade
para o mundo se deleitar
na intimidade repousaria.
As fotografias
das viagens ao centro de nós
só em cada um veríamos.
Lamento tão pouca
exposição,
mas estas viagens
mudam-nos
e pouco pintam
e ainda menos deslumbram
quem não tem esta visão.

VAz Dias

Entre silêncios e murmúrios

É nesta hora
que ninguém agarra
o meu sentimento.
Dormem as almas
e descansam os lobos.
Sossegou-se o vento
e as brisas de momento
são as que expiro.
Calma.
Aparente.
Sento-me nesta cama.
Fito o escuro.
O negro colosso
para onde grito.
De lá nada vem.
Nada ouço. Ainda bem.
Nem ventos,
nem lobos,
nem negros colossos
me apoquentam.
Encostarei ao medo um
sorriso.
Farei o desassossego
Rir-se.
Por fim sonharei os dias
do amanhã.
Mergulharei nele de luz.
Com a vontade feliz
do que de pior e melhor
de mim
para ele conduz.
Amanhã.

VAz Dias

Fôramos...

Ele fora o seu suspiro.
Ela fora o seu tudo.
Ele fora à sua vida.
Ela fora a sua vida.
Fora o que foi.
E embora foi.
Ela encontrara outro suspiro
do que um dia foi.
Sejamos tudo o que podemos,
enquanto pudermos,
do que de belo
um dia foi.
Sejamos a saúde
do que ainda dói,
o sorriso do que ainda chora
e ser ainda mais
do que um dia foi.

VAz Dias

Ladrilho Lisbonense

Quem disse que não existe cor 
em preto e branco?
Quem nunca soube
que a brancura guarda
todo o colorido?
Quando o negro sublinha o branco, 
quando?
Quem a esta terra despertence
não sabe que a cor,
a preto e branco,
ladrilhado pelo olhar
de quem ama,
sabe a cor que pertence
este ladrilho lisbonense.

VAz Dias

Entre canário tapete

Entre canário tapete
reveste a mãe seu chão.
Sentou-se ali a imaginação.
Mal sabia que torneado banco
Se ali colocara
para com as cores
dar início à sedução.
Era primavera.
Era inocência.
Era o tapete canário
que a natureza pintava
o seu chão.

VAz Dias

É de mar salgado

É de mar salgado
que me abraçam.
É da salga
que saboreio as suas verdades.
São as minhas na verdade.
Porque nunca mergulharia
pela metade.
A doçura com que os abraço
vai na maré
e volta consigo
como meus convidados.
Salgai-me a boca
porque a doçura ficou
em alto-mar.
Lá onde em marés
vos inundo a pele da alma
em cada voltar.


VAz Dias

domingo, 14 de junho de 2015

Cachaço Moral

A leveza com que o justo vive
não alvitra minimamente
as lascas que à vida
lhe moldaram o cachaço moral.
O que para uns são tempestades
para ele são brisas
que se respiram e se aceitam
como o ar a respirar.

VAz Dias

Ferve a Verve

É a verve que ferve
a imaginação.
Serve a mente
mas sobretudo
as viagens pelo coração.


VAz Dias

No teu tempo

Deixa estar o tempo em paz.
Tu és já a dona do teu tempo.
Não peças. Exerce-o!
Deixa que ele nada tenha a ver
com o amor.
Este não deveria ser
ofuscado pela sua tirania.
Faz do amor
centelhas no universo infinito
enquanto o tempo corre
para trás.
Traz ao tempo amor
para ver do que tu luz
na sua escuridão brilhas.

VAz Dias

Aos heróis de nós

Faltam heróis.
Faltam os elegantes cavalheiros.
Faltam as mulheres que
sejam sinal do encanto desses.
Sejam também seu esteio.
Faltam.
Mas existem.
Em cada um de nós.
Em cada um daqueles
que admirámos em crianças.
Falta sermos heróis
de nós próprios.
Até só faltar os miúdos de hoje
Nos verem nessa altura.
Nessa grandeza.
E repetirem.
Multiplicarem a boa genteza.
Acreditemos.

VAz Dias

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Foi de não vires comigo...

Não foram as vezes que me deixaste em terra.
Foi de não vires comigo voar.

VAz Dias

Arte de não Regressar

É da escolha.
É da recolha aos sacrifícios
que uma arte nos peça.
Como num palco
Que nos lança p'ra ribalta
e a mesma luz
para a escuridão nos remeta.
A representação da vida
para algum bem
que nos permita.
É da escolha.
É só com tempo
se nos ilumine e seja convicta.
Porque matamos a vida
por mais que vivamos,
E mais sós assim vivemos,
pela audácia à semi divindade a que nos
Enaltecemos.
Morramos da vida
que aos outros não toque
a arte de cantar,
Por ser à nossa vida
A saudade de nunca mais
À plateia voltar.

VAz Dias

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Mudos sem Fundo

Nesta terra
de boa apresentação
fica a estética.
A operação plástica
de quem estende a mão.
Esses senhores
que tanto se publicitam
de boa aventurança
por tanta ajuda ao cidadão.
Mas são mudos sem fundo
quando prometem os apregoados
mundos e fundos.
E contentam-se.
Beneméritos se acham.
Julgam o pobre como ignorante,
como seu fiel seguidor.
Julgam manipular o fraco,
que se rende por uma mão
que dá e a outra cala.
Quem não tem convicção
também não fala.
Mas sente a dor
e a fome.
Não tanto da barriga vazia,
mas do ego que eleva
esse político homem,
que goza da impopularidade
de quem dessa treta
já não come.
Esses eleitos de papel
não alimentam mais
os que à miséria devotados
consome.
O meu voto vai
para quem não come
e também não cala,
porque também esse dá,
mas ao contrário desses fartos,
não propala.

VAz Dias

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Danças-me sonhos.

Não existe chão
quando te movimentas.
És de uma graça
em vôo e imponência
de garça.
Real,
mas quase sonhada.
Sem chão me deixas,
enquanto danças.
Enquanto convocas
os passos,
que a meus olhos
mais não são,
do que suaves pinceladas
de tua elegância.
Levantas-me vôos reais
e a sugestão de contigo
dançar sem chão.
Danças-me sonhos.

VAz Dias



É da Verve

É desta verve
que me assola no descanso.
Que me impele
a ir além do que sou capaz.
Até que o ímpeto se alimente
e se despoje ao descanso.
Mordaz!
Facúndia que desespera
o amordaçado,
que morde a mordaça,
que não sabe estar calado.
Alguns foram para este fim
criados.
Amaldiçoados pelos mudos
e por eles escutados.
Cansados se movem,
se não ouviram também essência.
Paciência!
Também é ao arauto que se culpa
da mensagem a disseminar.
Que se foda!
Com o jeito
também arranjarei forma
de me calar.
Sejam os outros arautos,
mais altos,
os bravos à crítica
em linha de mira
se colocarem.
Gritem e convoquem
se seus egos assim desejarem.
Somos egocêntricos
da vontade
mas poucos a morrerem
pela verdade.
Palavra de honra
para quem de palavra
se ache dono da verdade.

VAz Dias

Palavra Riscada

Quando tudo se disse,
quando tanto se disse.
De tanto que se quis,
de tudo o que se pedisse.
Foi o tempo,
o intervalo,
o espaço,
o céu,
o amor,
o desamor,
o desmérito
e o final silêncio.
Tanta amordaçada palavra
que livre se viu
e depois despedida.
Livre abandonada palavra perdida.
Que se disse. Gritou-se.
Riscada.

VAz Dias

Meu mundo, livre!

Pior do que privada liberdade
é o cácere a que cada homem
se obriga.
Por eleição
ou ignorante ilusão
da felicidade formatada.
Que venha o primeiro homem livre
e o diga.
Que mostre se a solidão
ou a curva abraçada
de um mundo inteiro
seja de busca perdida.
Seja ficar com um mundo
a libertação.
Seja o mundo livre!
Seja o homem também,
e o seja também por convicção!

VAz Dias

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Egocêntrica amizade

Darei as costas aos meus amigos
para subirem,
serem mais altos.
Serei o degrau
que os eleva,
sem me rogarem nem pedirem,
pois confio nos seus actos.
Não acredito nesses auto-intitulados
que agora vêem no meu lombo
a forma atalhada
de se porem a jeito como
se nada de si
se visse claramente.
Comprem amigos
já que os de coração
se foram de borla.
Chega sempre a verdade
quando o ego
a amizade destrona.

VAz Dias

Quantos são os dias de nós?

Quantos são os dias
de um homem?
Quantos são os dias
que nos fogem?
Na solidão acompanhada
ou na companhia solitária,
quantos são os dias
para estas escolhas
arbitrárias?
Quantos são os dias que nos restam
que os dias para nós
escolhem?

VAz Dias

Cicatriz Verdade

A verdade corta mais fundo
mas cicatriza a alma.
A curva que nos deixa,
além de um sorriso de paz,
É um arco ao respeito pela vida.


VAz Dias

Verdejantes céus

Passam-se as primaveras
com o verdejante céu
ser abarcado de azul celeste.
Passam-se os anos
como as dores que para
trás ficaram.
Vieram os novos dias,
e o amor que prometeste
oh lindo sol!
E do também azul cipreste
suaviza-se a alma
e os verões que no futuro
nossas naturezas juntaram.
Oh lindo sol que de
Azul esverdeado pintado
os céus por nós amaram.


VAz Dias

Rasgados eram os olhos

Rasgados eram os olhos
que como raio de luz
irrompiam na minha penumbra.
Rasgados eram os elogios
dos olhares que me circundavam.
Eram também meus.
Despertara eu para a luz?
Seria no breu aquele olhar
que o descrente conduz?
Rasgado era o passado
que de olhar fechado
se despertara na aurora.
Rasgado é o olhar
que iluminado
me cativa agora.

VAz Dias

Viver para além

Aprendi a arte de desamar.
Há muito que esculpi
o jeito de me desapegar.
Morre a cada dia
Aquele que se agarra ao sentimento
como única via de felicidade.
Vive o outro mais
que com razão se desapegou.
Não morremos de amor.
Vivemos do prazer de não ter.
Vivemos do prazer de ser
e mesmo esse
poder deixar de ser.
Mudar e seguir.
Viver para além.

VAz Dias

Fodei em nome do Amor!

Amai e fodei!
Fodei a mais
antes que o amor comece.
Porque esse é o que fode mais...

VAz Dias

Amores Imortais

Amar assim não é para mortais.
É uma invenção eterna demais
Que eloquente veste
Mas que desnuda
E ninguém quer morrer de amor por enregelar.
Vim do gelo.
Do gelo a que me devotastes.
Desnudado até à alma.
Não morri donos do amor mortais.
Se estou a mais é da transcendência a que me desejastes.
Tremo do frio. Volto a sentir o vosso frio. Cortante e dilacerante arrepio.
Que inferno de amor inventastes?
Que à alma quase congela
E queima?
Tremo de frio para além da morte e o amor pensava eu que era quente
Mesmo quando de vestes até alma ausentes.
Mortais que aos desnudados da alma
Para além da vida matais.

VAz Dias

Mãos escultoras de poesia

Se tivesses um corpo, tocava-o.
Se tivéssemos os corpos, ali ficávamos.
Se fosse verdade, para quê a poesia? Se a beleza interior esculpiu tão elequoentes formas.
Mas não pratico desonras. Não te toco porque não abdico de te tocar assim,
em mãos escultoras da poesia que és!

VAz Dias

Paradigmas do platonismo

Nós e o paradigma do platonismo. Eu sei que fui demasiado audaz. Nunca nas palavras. Eram tuas.

VAz Dias

Um dia não volto

Um dia não volto.
Vou em direcção ao horizonte,
ao ponto alto
que o destino convoque.
Não volto
porque o caminho é para a frente
e retroceder é ponto morto.
Para morto,
vivo solto até que me destine
a voar ao ponto mais alto.
Não paro. Não desisto.
Quando chegares lê isto.
Amanhã não volto.

VAz Dias

Naquela rua...

Hoje foi o último dia que te vi.
O primeiro do meu tudo.
Do nada que senti
Ao ver-te passar.
Sabia que um dia iria passar,
Mas quem ama
Não quer que passe.
Que um dia longe
Nos entristeça e desgrace
O fim do tudo.
Ias naquela tua vida
E eu na minha,
Tão mais minha
Como tão mais tua
Ia a tua.
Passaste por mim na rua
E tristemente nada senti.
Provei que tudo tem um fim
E o amor é maior assim,
Pois inventa novas vidas
Para quem sabe que tambem ele
É efémero e também finda...
Passaste a última vez por mim
Naquela rua.


VAz Dias

Sol de pendurada verticalidade

E o sol brinda-nos.
Pendurado de vertical
faz-se de verão
convidando-nos à sua
gentileza.
Queres derreter-te
em humidades comigo?
-inquiriu.
Partilho-te o desejo,
de quem de invernos partiu.

VAz Dias

Beijo-flor

Uma brisa suave tocou os lábios esta manhã. No sonho fui eu que te beijei.
Beijo-flor.

VAz Dias

Estremeço sem ti

Estremeço e o meu corpo
todo ele se transforma em energia,
em excesso,
em desejo de ti.
Ofereces-me as palavras simples
da complexidade dos silêncios.
Como nada é de tanto?
Como és tanta de ti
sem aqui existires?
Estremeço.
Quase não me conheço.
Entraste em mim
e tanto mudou.
Tanto de nada.
Da mais desejada.
Da que mais quis.
Tanto de nada.

VAz Dias

Céu, sons e... raios!

Surgiu-me entre raios de luz.
No eco de sons.
Ela própria vinha em ecos. Em cacos de normalidade.
Era naquele momento uma garota arisca sem freio.
E sentou-se. Convidou-se à nossa conversa. E eu gostei.
Ao olhar a convidei, mas ela voava.
E as palavras voavam.
E as luzes e os ecos e nós.
Ela porque sim. E eu porque fiquei ali, embevecido pairando.
Voei, até ela voar para um dia num qualquer céu, sons e… raios!… reencontrar.

VAz Dias

O sonho e o amor

O sonho acaba quando despertamos. Como no amor. E ainda mais quando o amor foi um sonho.
Sonhar e amar são responsabilidades demasiado sérias na sua relação para serem tomados levianamente.
Felizes os que sonham o amor. 
Felizes os que amam o sonho. 
Afortunados os que conseguem ambos.

VAz Dias

Dançava sem chão

E ali te erguias.
Em corropio de multidão,
de movediço chão
e só a teus pés não.
Imponente, teus olhos
meus olhos engoliam.
Caía sem expectativa de chão.
Embati. Drasticamente.
No olhar que me perdeu
da terra
e lançou em livre queda.
Perdera por momentos
a razão.
Que seja o que o olhar queira,
e meus sentidos queimam.
em minha terra sem chão.

Vaz Dias

Ela foi...

Ela secretamente cerrava as mandíbulas e escondia as suas intenções.
Quando deixava escapar palavras, vestia histórias de corpos nus e orgias. Propalava a poligamia como felicidade e bem-estar. Ela era o mundo. Ela era o tremor que a minha terra abalava. A minha pouca propensão para os ditâmes convencionais era drasticamente reduzida a um jogo de recreio. Eu era um menino nas suas mãos. E menino me mantive até ela encontrar a maturidade. Ela era sim, o epíteto do convencionalismo.

Ama, salva e guarda.

Nada em ti é exagero.
Nem o defeito
A que
nós os comuns mortais
Estamos devotados.
E se exagero nas palavras
É porque te vejo mais.
Te quero mais.
Sem apelo nem agrado.
Aprende comigo o que
É demais.
Para que no tempo
Algum para nós fique guardado.
E de amor, algum que fique
Ele também
Salvaguardado.

Vaz Dias

A quem dou abraços

O abraço é de todos.
Ao contrário do beijo é de quem o damos.
Não é político.
Não tem género.
Não tem mentira.
É de coração. Um coração com braços.
São todos meus
a quem dou abraços!

Vaz Dias

Alegra-se a possibilidade

Amo a possibilidade de todas as manhãs te poder dar um bom dia. 
De ser mais um e de isso me preencher. 
Alegras-me a possibilidade do dia. 
Alegras-me a possibilidade. 
Alegras-me. 
Bom dia amor. 
Bom dia ao amor.

Vaz Dias

As primaveris cotovias

Na manhã primaveril ouviam-se as cotovias.
O estalido da máquina que registava o colorido da alegria das crianças.
E no pensamento a tua companhia.
Sem ti apenas a arte dos dias,
no estalido da câmara, no colorido das crianças
e no canto que trazem de ti,
as primaveris cotovias.

Vaz Dias

Desencontrar é o ânimo

Que me interessa não existires na imperfeição que desejo 
se te multiplicas nos reflexos de várias? 
De ainda assim não o seres? 
A minha solidão é descobrir-te em cada nova imperfeição.
Em nunca te encontrar e em tantos reflexos te buscar.
A procura é a felicidade. 
Desencontrar é o ânimo.

Vaz Dias

Não o digas.

E se te dissesse que te quero,
como quem diz que te ama?
E se te dissesse o quanto te desejo,
como quem diz que te ama?
E se me amares?
Não o digas.
Que me queiras.
Que me desejes.
Como se dissesses que me amas.

Vaz Dias

Amores-luz

Esta noite fiz amor com as estrelas.
Eram todas cintilantes
cobrindo o universo que é o
teu peito.
Detive-me aí viajando
no pulsar da vida,
das explosões que do teu coração
em mim ardiam.
Esta noite fiz amor
com as estrelas que
do teu universo me ofereceste.
Hoje sou mais infinito amor.


Vaz Dias

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Sem ti

O que faço sem ti.
O que faço por ti.
O que desfaço do passado
para recolher
como em papel aos bocados.
Seria sempre assim.
Porque tu agora és tu
e adiante
outra serás.
Não por minha escolha
mas
porque em qualquer uma de ti
assim achaste.
O que faço por ti
é esperar-te na outra.
E naquela.
Porque a cara e o corpo
são beleza
mas a verdadeira
não reside,
voa.
De vida em vida
segue a aventura
do que faço sem ti,
e sem a outra...
e a outra.

Vaz Dias

segunda-feira, 4 de maio de 2015

A multiplicidade do coração

Talvez tenha o coração
mais juvenil.
Mais desprovido de empatia
por um só universo.
Este mal que me apoquenta
de a cada
que me toca me sentir
exultante.
A juventude recorrente
de a um novo namoro
que me contente.
Espera-se o ocaso de repente
ou entretanto.

Não sei se é assim tão diferente
dos demais.
Eu cá me habituei a finais
e a fins nos instantes iniciais.

-A audácia tem destas coisas-.

Ainda me lembro de querer
ser universo eterno
em eternidade doutro universo.
Mas confesso
que nunca senti o mesmo
em meu destino.
Se calhar inventei
um novo romantismo.
Talvez era o mesmo
do bacoco sentimentalismo.
Morre-se por amor.
Sofre-se com todo ardor.
É de poeta
e de aflito.
De tão radiante e auspicioso
novo romântico convicto.

Não se morre de amor.
Morre-se sozinho.
Seja a vida preenchida por um universo
Ou vários.
Venham as aventuras
e novos começos.
Não se morra só porque se deva sozinho
Viva-se preenchido
de novos e desconhecidos
caminhos.
Antes isso do que vivermos
no nosso prório universo,
eternamente sozinhos.

Vaz Dias

Cinza rasgado

Rasgarei o cinza do céu com um arco-íris afiado. Que humedeça a minha vontade de lhe azular a natureza. Porque tenho um universo imenso para te mostrar. Porque tu és um mar de possibilidades e outro universo a desvendar.

Vaz Dias

sábado, 2 de maio de 2015

Amor de Poeta

É do poeta viver dor
no meio da alegria.
De viver tudo profundamente
mesmo quando quase nada
O afecta.
É dele a razão que nada explica
e que a emoção ostenta.
Um sopro que o coração rebenta
e mais um poema para se expôr.
Mas aguenta.
Porque noutro poema
Noutro amor
Vem sempre tanta alegria
Salpicada d'algum desse ardor.
Que se perca o homem
E corra atrás dessa vã esperança.
Venha a dor com alguma alegria
Dessa audácia.
Que se encontre nessa falácia.
Ou renege e viva feliz como
Poeta.
Com um pouco de dor
Mas com um amor de um povoado
Planeta.
De um amor que a todos os outros
Completa.
E a si?
Todo esse amor lhe chega
Mesmo que daquele olhar
O amor não se cometa.
Os desamores da alegria
De um eterno poeta.

Vaz Dias

Voo das Andorinhas

Há uma beleza enorme na primavera. Há amores acontecendo com suavidade. Como um bando de andorinhas voltando de saudade e cantando entrelinhas. Como o poeta que vos canta a páginas tantas de tantas versadas linhas. Ah saudade de vos amar. Que venham as paisagens lindas e os suspiros. Que venham primaveras e sorrisos. Que cantemos e sejamos chilrear da saudade e do voo das andorinhas.

Vaz Dias 

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Cheirava a desamor...

Despreocupada, deixava um perfume de perdição no seu encalço.
Havia quem, adiante lhe ofertado tinha, esse camuflado veneno.
Cheirava a desamor...
Vaz Dias 

Fotografo-te prazeres

Vem segura a minha mão.
Vamos fazer viagens
ao profundo dos nossos seres.
Lá no fundo do coração.
Seguro-te a mão para me veres.
Fotografo-te prazeres.
"São os nossos momentos são!"
Subamos ao cume mais alto
e vejamos o mundo um do outro.
Toquemos as estrelas que brilham no nosso horizonte.
Fechemos a noite assim,
segurando a alma e fazendo amor.
Fiquemos acordados
e não deixemos que o tempo conte.
Foi lá dentro que fizemos os dias
e as estrelas do nosso horizonte.

Vaz Dias

Estranha era a indiferença.

Ela estranhava-me. Mas voltava sempre. Seria desta diferença porventura.
Um dia o sempre findou e estranhamente quando o "para sempre" se afigurava.
Estranha era a indiferença.
Vaz Dias 

Precipitava-se em cinza

A sua indiferença às coisas do mundo impertigava-me. Sabia-lhe o cinzento esbatido do passado mas o rúbio para o qual se precipitava, esmagava-me.
Como se oferecia côr a uma pessoa que apenas cinza conhecera?
Vaz Dias 

Aventurados por aí.

Deixei-lhe lábios marcados pelas costas. Indicavam erraticamente o sentido da minha paixão. Não havia caminho melhor. As suas costas escondiam o prazer que trincava no horizonte. Mordíamos as horas e tragávamos suspiros. Sem destino. Aventurados por aí.
Vaz Dias 

Perdidamente Achados

Éramos um contratempo.
Perfeitos numa outra vida.
Mas foi nesta que nos convencemos a encontrar.
Atirámos os dados ao ar.
Deixando destino rolar.
"Que se lixe o destino! Vamos tentar...
Cometamos o erro. Rendamo-nos a ele.
Que importa se falhar?"
"Foste tu que aqui chegaste não o desejando?
E no entanto, ambos aqui nos encontrávamos, 
perdidos e achados. 
Prontos a perder. 
Desconfiando algo ganhar no meio daquilo em que seríamos perfeitos...errar.
Vamo-nos perder e esperar algo encontrar?


Vaz Dias

A plasticidade em mim

Entusiasmei-me com o teu conteúdo.
Tu com as formas dos outros.
Descobri a plasticidade que me provocas.

Vaz Dias

Irracionalidade complexa

Emoções ou a vasta complexidade da irracionalidade.
Como se controla e se disciplina
Um cavalo selvagem que em nós irrompe?
Como se pede para que cavalgue quando a terra é infértil e a razão dormente?
Há em mim complexidade cavalgante...

Vaz Dias

Céu traído

Perguntaram se estávamos juntos. Na realidade não. O tempo encarregar-se-ia de contar outra história. Ainda assim experimentávamos nos relacionar. Éramos "a match made in heaven". O tempo viria a enganar o céu...

Vaz Dias 

Suave Trago

Por vezes a beleza
chega do anonimato.
Da assunção da naturalidade.
És suave
como um vinho frutado
em final de tarde de verão tragado.
Lentamente.
Para com tempo se apreciar.
Recolhida na natureza das coisas
surges familiar
e suave.
Nada se complica nem se agrava.
Néctar que nos sentidos se trave
e permaneça.
Sejas no amor mãe natureza.


Vaz Dias

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Por de dentro...

Eu dava por mim perdendo-a de vista.
Fechando os olhos encontrava-a sempre dentro de mim.
Não era amor, apenas busca.

Vaz Dias

terça-feira, 21 de abril de 2015

Escrevamos em texto livre!

Escrevo-te livros,
se assim fôr preciso.
Somarei nas palavras
e nos textos
e nas parábolas
tudo o que te tenha dito.
Mas trocaria de bom grado
todas elas
para até em silêncio
contigo a meu lado
fazermos um novo livro.
Com todas as novas palavras
que tenhamos inventado
e as que me tatuaste,
a cêra e a pecado,
por teu amor
no meu espírito.
Faço um livro de uma edição
e de uma cópia.
Eu fico com ela
e tu com a própria.
Depois rasguemos
as folhas
e escrevamos em texto livre!

Vaz Dias

Desnuda-me!

Gosto de ti vestida. 
Nua meu corpo convida. 
Gosto de meu corpo nu em teu revestir. 
Assim mesmo gosto do teu vestido. 
Sou eu. 
Teu têxtil preferido. 
Gosto de ti despida. 
Com meu corpo nu te revestir. 
Aqueces-me por dentro 
enquanto cai a roupa do espírito. 
Despes-me o que tenho vestido, 
para te cobrir de manto 
o que me tinhas vestido.
Gosto de te despir comigo em ti vestido.

Vaz Dias

sábado, 18 de abril de 2015

Ela sorria como loucos anos vinte.

Ela sorria
como loucos anos
vinte.
Ela corria e dispunha-se
como Beatriz,
actriz que gosta
chegar a agulha
e mostra
uma inquietude do mundo.
Um olhar de cinema
mudo,
ou colorido,
como em parisiense
azáfama perscruta.
O olhar profundo,
ingenuamente louco,
loucamente apaixonado,
por tudo quanto
o engenho aguça
e o sentimento convide.
Ela sorri,
nos seus loucos vinte anos
e pouco.
Como em loucos anos vinte
ou em azáfama de
quadros de Paris
que um realizador pinte.

Vaz Dias








Dente-de-leão

Repito a imagem na memória.
Rebobino e faço uma estória.
Avivo-te para aqui
me olhares.
Contemplo-te.
És bela!
O teu ser no acto mais simples
carrega elegância.
A predominância de me fazeres
vivo.
E repito.
Rebobino.
Revivo.
Como em planeta perdido
imagem viva de máquina
antiga a imagem emito.
Dente-de-leão que sopras
e fazes voar.
Rebobino e a flôr
algodão altiva,
recomeçar.
Sorriso de gata
e dente-de-leão desejo
contigo recomeçar.

Vaz Dias

terça-feira, 14 de abril de 2015

Para além dele

O tempo não foi feito para nós.
É demasiado compassado e numérico.
Existimos para além dele.
O espaço foi feito
Para que apenas lhe rendêssemos etéreos
E existíssemos para além dele.
Eu fui feito para me deixar seduzir
Pelo teu encanto. Pela tua existência.
E o amor? Quero-te para além dele!


Vaz Dias

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Anos-Lua

Da lua em anos-luz 
Se abeirou a resposta. 
Ela chegaria antes do sempre. 
Ela chegaria mais célere 
Do que a vontade 
Das marés. 
Ela era satélite do que 
No meu mar se agitava. 
A resposta era ela 
No meu mar se reflectia 
E na minha profundeza 
Desaperecia. 
No meu céu 
Secreta e liquidamente existia. 
Era luz. 
A minha lua. 
No céu. 
No meu mar. 
Maré sua. 
Mesmo não estando 
Anos-lua. 
No meu céu 
Mar desnuda.

Vaz Dias

Obscura Lua

Obscura lua 
De caras várias. 
De duas uma. 
Luz companheira. 
Ou obscura amante. 
Quero-te minha concubina. 
Tu me prendes meliniante. 
Lua luz confidente, 
Leva o segredo 
Ao lado sombrio que se esconde. 
Sei que há lá luz 
Que à noite acalente. 
Que à minha inquietude 
Alente. 
Lua luz ausente. 
Minha perdição conivente. 
Minha cegueira conduz 
À iluminação que se pressente. 
Lua luz. 
Luz ausente. 
Lua produz 
O que o poeta sente 
E o amante desmente.

Vaz Dias

De cinzento breu...

Despedia-me dela.
De lenço escarlate
Muito bem posto
Ostentando a lapela.
Nela
Repousava uma tira
De luz.
A cor que do cinzento
Que pintava a época
E aquela estação.
Apitava a despedida
O comboio que de breu
Cinzento
Escurecia o céu.
O sol que desaparecera
Escondera-se em olhar seu.
Seguiria consigo
E eu,
Despedia-me desta película.
Deste sonho meu.
Ficaria apenas o olhar.
Os olhos mais escuros que o
Cinzento breu
Ficariam por mais estações
E cores
Do que realmente aconteceu.
Um filme de despedida
Mas de presente.
O que ela me ofereceu.

Vaz Dias

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Vem do silêncio matar a saudade

Silêncio que me afugentas.
Tão mudo que quase me afugentas. 
Tenho saudade 
de nunca termos criado saudade. 
Que te pudesse cativar de verdade. 
Vem de silêncio matar a saudade. 
A que não temos, 
apenas a minha metade. 
Nasci, morri e renasci musa. 
Que as palavras de mim 
teu calado lado usa. 
Não são minhas as palavras 
que de minha pessoa se cruzam. 
São do silêncio que o poeta se abusa...

Vaz Dias

quinta-feira, 26 de março de 2015

Vento do Norte

O vento passou.
Aquele ar todo que se respira
a espaços
num todo.
Passou e deixou-me
pouco...
de tanto ar que prometia
fazer-me voar
voou.
Inventarei asas.
Voarei.
Por pouco.

Vaz Dias

quarta-feira, 25 de março de 2015

Barulho éramos nós!

Silêncio.
Que caia aqui um sorriso,
para se prender
por um instante.

"Lembras-te de largar
os pedais de frenesim intenso?
De te deixares ir
e tudo o resto ser silêncio?"

"Lembras-te de brincar
ao desliga e liga dos ouvidos?
De os premir com tanta força
que quando soltos todo
o som era surdo?"

"E de ser mudo?
olhar para o mundo,
céu incluído,
e em todo ele tudo ser
quieto?"

"Seria o céu
essa paz de silêncios?
Tão calado como
o universo?
Ser escuro era ser
de som abafado,
não era?

E sonhar era ruidoso
e cheio de cores.
Gostava de ouvir as cores
não faziam esse barulho
imenso.
Faziam sorrir. Dava vontade de acordar.
Pintar o mundo e berrar.
Não ter medo da repreensão.
Barulho éramos nós!

"Quando deixámos
o silêncio comandar as nossas vidas?
Quando deixámos o berreiro
nas cores perdida?"

Somos barulho, porra!

Barulho!

Vaz Dias











Enxugados olhos

E a vida é tão grande em mim
Como a soma de lágrimas lavadas.
Faltam-me mais mãos
Do que as minhas cansadas.
Não me dêem os braços
Em abraços
Se não puderem.
Emprestem-me mãos menos
Gastas
Para os olhos húmidos
Enxugarem...

Vaz Dias

Brando vai o lume

Neutraliza-se o fogo
com fogo.
Abafa-se nosso calor
com o torpor...
Brando vai o lume
do desamor
em cinza de côr
que se some.

Vaz Dias

No lóbulo da tribo enraizado

Não sei gritar como os demais.
O queixume que eles
Conseguem dos outros
Sua pena recolher.

(Sabe bem!)
Deve ser.

Os outros sabem
O que eu ainda não descortinei.
Vim doutra terra.
Onde se alarga lóbulo
Para à tribo respeitar.

(Sei lá eu...)

Também nunca o fiz.
Escrevo duma tribo diferente.
Dos que lhes falta palavra
Ou lóbulo ou pena
Para pertencer.

Grito nestas linhas.
Anéis que se precipitam
Até ao centro.
Que não se vendo
Precipitam-se para a génese.
Para o invento.

Talvez seja doutro tronco.
De árvore sem tribo.
De ramos abertos
Como braços abertos
Nunca cansados
Das aves que voem por perto.
Da sua planagem.
Do seu interesse momentâneo
De descanso.
Voam e eu cá fico.

Com raízes me fico
Esquecido das raízes
Da outra tribo.
Talvez pobre talvez rico.
Grito às estações
E às asas que delas
Nascem. E das vezes
Que passem e eu aqui fico
Aqui cresço raiz neste chão.
Pelo tempo perdido...

Vaz Dias

Quem é normal?

Devia ter-me remetido
Ao segredo da normalidade.
Ser diferente e buscar
Ser esxcelso
Não vos encantou
Na continuidade.
Devia ter-me remetido
Ao silêncio.
À mudez.
Ao compêndio
Da igualdade.
Ninguém quer ser diferente
Para sempre!
Querem igualdade
Para suportarem as suas
Pequenas diferenças
Em neutra conformidade.
Ficam sós os diferentes
Por ignorância de manifesta
Regularidade.
Felizes os ignorantes
Iguais
que nada ensinam
Aos mágicos mortais
Pois estes sabem
Como viver para sempre
Entre os escombros
Dos iguais...

Vaz Dias

domingo, 22 de março de 2015

Espelho teu

Embelezei-me em te olhar. 
Embelezei-me em teu olhar. 
Perdi-me em te sonhar. 
Encontrei-me em te despertar. 
Prefiro não o sonho. 
Não supondo 
Que um dia no meu olhar 
a tua beleza se perca 
no meu espelhar. 
"Espelho" meu, 
Mira a beleza que deseja 
Despertar.
Embelezaste o espelho
que não pára 
de te admirar.

Vaz Dias

Fugas do Coração II

E se te quisesse apenas 
o voluptuoso corpo? 
E se os teus olhos fossem 
criminosos de tão desejado delito? 
...Se a alma para aqui não fosse chamada? 
Queria-te toda. 
(Não me contentava com pouco).
Porque as almas melhor 
se reconhecem nos corpos. 
O meu 
no teu gemido... 
O teu no meu por coração raptado. 
O bom malandro que afinal 
vê-se despojado de argumento 
e rendido ao crime 
de te ter desejado
...Doce criminosa que de 
olhar raptas 
e desejo matas!

Vaz Dias

Encarnado Batom

Agarro em teu batom 
E te pinto versos. 
Pela linha de teu 
Corpo tão bom 
Te desejo. 
Sou perverso. 
O diabo de língua 
Em teu último terço. 
Senta-te em mim 
E mata-me a sede. 
Quero beber-te. 
Enebriar-me. 
És suculenta convenço-me. 
Vem e a ti vou!
Pinta-me a boca
com o teu prazer 
e desenha-me encarnado
com teu batom...

Vaz Dias

Mulher Horizonte

Voamos ao limite do horizonte? 
Acalentarmo-nos com o verão de lá? 
Primavera quente 
Com a suspeição em teus lábios presente 
Desse ardor que me derrete 
Nessa fronteira 
De beijo de verão 
De paixão tórrida 
E de prazer aliciante. 
Leva-me a voar 
No vertical de ti 
Mulher horizonte. 
Deixa-me teu corpo planar 
Enquanto derretes 
Em mim te queimar quente.
Cicatriz permanente.

Vaz Dias

Fugas do Coração I

Não vês que me perco
de cada vez
que de mim te acercas?
Me dás da tua essência
e te recolhes?
Inflamas-me o desejo
e depois foges?
Talvez desejes que me perca.

Mas não o desejes mais!
Desejei-o mais do que tu.
E por isso me perdi
de amores.
Sim, de amores por ti!

Arde mais violentamente
a chama.
Derreto e desapareço.
Vou para onde
o amor se aclama.
Longe de ti.
No universo.
Fico lá só
e cheio.
Sem ti. Livre e preso!
Mas sem ti.
Tristemente sem ti.
Fraco.
Pequeno.
E feio.

Vaz Dias

quinta-feira, 19 de março de 2015

De desejo matas

E se te quisesse apenas
o voluptuoso corpo?
E se os teus olhos
fossem criminosos
de tão desejado delito?
Se a alma para aqui
não fosse chamada?
Queria-te toda.
Não me contentava com pouco.
Porque as almas melhor
se reconhecem nos corpos.
O meu no teu gemido...
O teu no meu
por coração
raptado.
O bom malandro
que afinal vê-se despojado
de argumento
e rendido ao crime
de te ter desejado...
Doce criminosa
que de olhar raptas
e de desejo matas!

Vaz Dias

terça-feira, 17 de março de 2015

Desassossego

Decido não falar mais.
Gastarei palavras
nas rimas,
das mais variadas.

Quero-me hoje assim.
Das guardadas
agora sopro tantas...
e em rajadas.

"Queria amar-te."
Queria nada!
Foram palavras reflectidas...
demasiado pensadas.

Queria em teu peito cravar-te
todo o meu desapego.
Ao amor nego
tudo o que ainda falta dar-te.

Tu aí e eu aqui.
Sonho-te e depois volto
a continuar o dia.
Eu aqui e tu aí
tão longe
mas tão perto
do meu desassossego.

Não falo
nem calo.
Escrevo e exalto
o amor que não te tenho.
Tens-me.
Daí o sobressalto.

Vaz Dias

domingo, 15 de março de 2015

Um dia...

...E hoje enquanto te escrevo
assinalo-me um dia mais velho.
Um dia menos ignorante.
Um só poeta só que te sente.
Sem que da tua carne se contente
nem dum futuro a ambos se apresente. 
Aceito o que há por agora.
Mesmo sendo um contínuo descontente 
do que ao marasmo dos dias,
aos desafios e adversidades me veja perante.
Amo-te secretamente. 
E assim fico... sobrevivente.

Vaz Dias

quarta-feira, 11 de março de 2015

Pontos. Três. Gostos ou Prazeres.

Obrigado bela mulher.
Um gosto.
Porque do prazer
se escondem os seres.
Adoçam-se nas palavras
e num português altivo
fecha-se o tom
para se esconder prazeres.
Ou PRAZER.
Que é mais lúbrico
e instiga à palavra
se corresponder.
Os zês que terpidam
os sentidos...
Pontos. Três.
Que evitam
mais sussuros à luz
fazerem-se gemer.
Um GOSTO.
Um intervalo ou um
impedimento do ser
se fazer não perceber
e também de agradecer.
Um gosto que mais pareça
um prazer!
Ou um gosto se melhor
entender...

Vaz Dias

terça-feira, 10 de março de 2015

Metade Convin(S)ente...

Eu sou metades
que de somadas
acrescentam em mim
metade de outros nadas.
Nunca te seria fiel,
por não ter a certeza
de a mim o ser em pleno.
Meramente me empenho
em aceitar cada vez mais
a metade que não entendo.
Que não tenho.
Não a encontro em ti.
Nem em ti.
Nem naquela
ou sequer na outra.
Doce em fel
da tua metade
só querer o doce.
Que seja mel
que uma de vós me trouxe.
E se te fosses
cá ficava eu fielmente
amestrado à metade de mim
que nada sente
e à outra demasiado pensante.
Sintamos o que se pensa.
Sim talvez seja essa a metade,
a que pensa que sente.
Ainda a melhor metade
e a mais convincente
de quem de outra metade,
nada sente!

Vaz Dias

segunda-feira, 9 de março de 2015

O amor é cego

Gostava que ficasse.
Nem oportuno foi o momento
De sua graça saber.
Ou porventura volver.
Sim. Também me encantaria.
Não necessita bater à porta
nesse momento.
Saberei.
Na brisa o anúncio
Da sua chegada.
A fragrância que em mim
Deixou repousada
Dirá que é sua.
Ainda que nunca mais
Retornasse
Ou de seu nome
No meu conhecimento
não constasse
Teria o seu aroma
Em mim marcado.
Sem a ter olhado
Teria para sempre a visão
Desse seu
tão aveludado cheiro meu.


Vaz Dias

domingo, 8 de março de 2015

Dias de Mulher

Avó. Mãe. Filha. Neta.
E das demais que do meu
Abrutalhado masculino mundo
Completam.
Ela embeleza a inteligência
Das coisas.
Que toma conta e fá-la certa.
Os meninos e os senhores
Não têm como não concluir.
Quando a coisa aperta
Mais rápido à mãe e à mulher
Se confessa
Do que a um homem se possa
Admitir.
O dia da mulher é mais um
Que um nosso dia pela certa.
Nunca pode só haver um dia
Dela.
Porque o seu é de 48 horas
Enquanto um das nossas 24
Se completa.
Temos de convir.
Somos metade de um
dia da mulher.
Sejam todos dela
Para que meio engrandecidos
Nos possamos iludir.
Amanhã, se posso mandar,
também é
Teu dia mulher.
Para que a minha metade
Por tua caridade
Se permita de alguma forma
a existir.

Vaz Dias

Tens Alice em ti!

Tens Alice em ti!
Quando sorris.
Quando torneias os "ss"
Para soarem a suave.
Quando "err"as para saber
A Paris, Lisboa ou Lourenço Marques.

Tens Alice em ti!
Quando no lábio o rúbio
Te assenta de voz
Que canta um fado.
Ou declama o poema
De palavra lenta
E que embevece todos nós.

Tens Alice em ti!
Quando nas maçãs
De fino e belo traço
Alimentas a doçura
Da mãe natureza,
És neta da tua avó.
Tens dela em ti filha...
De certeza!
Tens Alice em ti!
Tens a Alice de todos nós!

Vaz Dias

quinta-feira, 5 de março de 2015

Des...obrigado!

Desafiando a gravidade.
Agudo em grave.
Um mundo em nada.
Cinco segundos para...chegar atrasado.
"Foi desta que aprendi.
Estou regenerado."
Qual quê?
Caio.
Mas de vontade.
Mais cinco segundos
De queda livre.
Não vens?
Não voas!
Estás à vontade.
Mais cinco segundos
E cais tarde.
Novamento resvalo.
Deixo-me ir solo.
Assim até prefiro.
Sem ti nem ninguém.
Quedo-me livre e
largo.
Desprendido e desapegado.
Vôo.

Vaz Dias

quarta-feira, 4 de março de 2015

Juntos a sós...

Nunca seríamos.
Cúmplices seriam
apenas os nossos corpos.
Nunca to tomaria por inteiro.
Na sua raíz o coração
desfaleceria.
E eu já não tenho mais de condão
para essa alegria.
Te perderia.
Quero o teu corpo
mas ele rejeita-me
porque o teu coração,
atraiçoando-nos,
mais me deseja.
Então não quero o prazer.
E o desprazer de te perder.
Ficamos vestidos
de nossos corpos,
sobrevivendo dos nossos fracos e
menores órgãos.
A sós e juntos
como quem esteja,
sem que se deseje
nem se ame.
Juntos a sós...

Vaz Dias

O Vento. A Felicidade e as Paixões Replicadas.

Vai-se apartando o nosso
iludido sentimento.
Caminhava-se lado a
lado.
Comungava-se o destino
pelo vento.
Iríamos ser o que tinha
desejado.
E assim desejou e decidiu.
Que nada no seu intento
seria de nossa fortuna
- se é que futuro fosse fortuna-.
Teria sido um nosso invento.
Uma criação que repetimos
e que de geração
em geração se consuma.
O ideal de amor eterno replicado.
Não há vento mais
aturdido do que este.
Não há ar, mais do que este
congelado.
Sopra-se movimento
para que o destino seja
a mútua felicidade.
Mas que raio?!
Nem este para despertar
essas mentes?
Ou afastar essas uniões convenientes?
Ou novas felicidades para buscar?
Nem nós fomos para ser
Nem os outros
para nos provar.
Sigamos nas rajadas,
as aventuras que o destino tem
para nós desejadas.
Sejamos nós o vento,
a felicidade
e as paixões replicadas.

Vaz Dias


terça-feira, 3 de março de 2015

Empedernido

O meu cérebro luta
contra a vontade.
Não deixa o coração expressar-se.
Tanta vontade
de te chegar.
De batimento te ecoar.
O cérebro não deixa de
cansar-se.
Quem és tu que virás
estes membros desconexos
conectar?
Quem és tu
que farás uma pedra,
querer,
sentir
e pensar?

Vaz Dias

domingo, 1 de março de 2015

A paz é suave

A paz é suave
Em cinzentos dias.
Nada no tempo ameaça
A tranquilidade.
Nem mesmo a negritude
Que trespassa.
Lá se desvanesse
Na branda brancura
Que da luz nos tocasse.
Suave é a paz
Que ajude a que o tempo
Mais negro
Ou mais branco
Passe.


Vaz Dias