quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Está bem!

"Está bem!"
Acenamos com a cabeça
Concordando
E deixando o apelo
Dos olhos
Ao resguardo dos desatentos.
As pessoas falam na rua
E o ruído é apenas
Uma frequência
Na qual te perdes.
Despertador que toca entre sonos.
Sinos que já não ouves
E o último sono
Ficou por provar.
O último corpo
Por culpar.
A pele envelhece
E a espera não é mais
Do que a consciência
Da morte.
As coisas que se fazem.
As agendas.
Os propósitos e os argumentos.
A ficção que se faz realidade
Dos outros.
As insónias dos outros.
"Insônias" é sotaque de quem
Está acordado quando
Ainda dormimos.
Está bem. Está sempre tudo
Bem!
Aceitar é o mesmo que não.
Espernear ou estancar dá
Para o mesmo.
Gritamos ao dia
De boca molhada.
Cuspimos os olhos
Ao céu inadvertidamente
E acordamos Deus.
Deus às vezes dorme
Se alguém acredita nesse céu.
Se não se acreditar
Também dá.
É uma picardia
Tão usual entre humanos
Que se vêem.
Mas do céu vem água.
A única coisa puramente
Física de quem não dorme
E que se vê.

[Toca o despertador de novo]

Nos sonhos o céu não
Existe e Ele não estava.
"Está bem!"

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