domingo, 22 de maio de 2016

Os olhos vivem no interior

Não quero desaprender com as pessoas a beleza que não se vê.
Reduzo o belo lá de fora a escombros. São todos belos e impecáveis. Sem nódoa ou demérito. Mas não consigo suster este amor que tenho pelo defeito interior, da casa simples. Dos desejos simples. Com a janela para o exterior. A graça dança aos nossos olhos mas é cinza de medo no seu interior.
Morri um dia lá dentro. E depois noutros. Cada vez que voltava à vida descobria o bem que de belo lavava a alma das paredes do meu ser. Há beleza interior na imperfeição da fachada e sobretudo do interior. A alma cavada de mortes e ressurreições. Beleza semi-feia de natureza descampada, mas viva. Germinada de intempéries consecutivas. Esculturas da erosão a que os verdadeiros belos se deixaram sofrer para não se ver aos olhos dos ainda vivos, a caminho dos últimos dias.
Morrer é um acto de purificação. Só morre para sempre quem se agarra à máscara bela da vida.
Só vê quem já morreu e se levantou. Os olhos vivem no interior.
Belo. Imperfeitamente belo.


VAz Dias

‪#‎palavradejorge‬

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