domingo, 1 de janeiro de 2017

Onde te alimentas fome?

Do que tenho eu fome?
Das pessoas.
De lhes acolher com o olhar
As palavras que lhes
Abundavam das bocas.
Da companhia que somos
Enquanto não somos
Apenas passagem
Umas das outras.
De lhes engolir num abraço
Todo um tempo
E sentí-las verdadeiras.
Tenho fome
De julgar que elas faziam
Um esforço de se encontrarem
Umas nas outras
E isso me saciar.
Isso lhes saciar a vontade.
Tenho fome do amor
Que nos faz passar horas
Alimentando-nos
Um do outro.
De quem quer que tenhamos sido.
De quem éramos
E poderíamos juntos
Ter sido.
Tenho fome sabes.
De mais.
Não só de falar.
De escrever.
Mas de ti.
Da tua fome
Enquanto loucos
Corremos
Para onde estaremos.
Tenho essa fome
Que apenas tu tens
Para apertar as mandíbulas
No fruto casto
Que se nos oferece
De doçura
Matando a agrura
De quem vive de barriga cheia.
Estou farto desses
Que apenas se alimentam
De tudo
Menos
Uns dos outros.
Salivo de saber-te
Das poucas que não quer
Um mundo com fome de nada.
Tens a fome
Que me alimenta
Mesmo que não traguemos
Practicamente nada.
Sim nada desse tudo de nada
De um mundo esfomeado
De vontade
E amor
E inquietude
Do que de facto a deixe
Saciada.
Tenho fome...

VAz Dias

#palavradejorge

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