domingo, 23 de abril de 2017

Escuro de Fundo

Fico reduzido
Aqui neste ponto escuro.
Este é o tamanho
Profundo, descendo,
À memória do que escrevo.
Tantas as palavras
Que podem alicerçar
As paredes de um espaço
E a distância que de mim
A ti se alonga.
Assumes nesta escuridão
Uma postura que perdura
No tempo
E na curta distância
Que entre ti e mim
Não chega.
Aproxima-te!
Aproximo com a leitura
E o conforto de uma música.
Um piano,
Uma voz que podia ser tua.
Uma distância tão curta
Quanto uma vida
Nos chame.
Ou me cante.
Ou se encante
Do destempo.
Tento que o tempo
Não me perturbe.
O que distende esta escuridão
Até devolveres sinal de ti.
Sou perdido de todos
Quando aqui te "encontro".
O nosso tempo
Sem nós.
Sem ti de traço,
De corpo
E daquele abraço
Que faz os nossos corpos
Correrem.
Febre de morrerem
Nos bocados da sombra
E dum piano
Que vem à tona
Respirar o que sua.
Transpiro a água tua
Que corre para um mar
De noite estrelado.
Lembras-te no futuro
Termos lá estado
Abraçados em silêncio,
Não havia fronteira
Entre mar e o céu
Da lua?
Na areia,
No meio da rua,
Engolindo a brisa
E as promessas
Do amor em estrelada
Terra escura?
E no fundo do quarto
Mantenho a esperança
Daquela canção te trazer
Tão desnudada
Como a vontade
De me envolveres de noite
E céu
Numa luz que apenas dentro
De mim
Se acentua.
Espero sem tempo.
Toca "Quando, quando, quando?"
E escuro não é só o quarto,
É não ver fim no espaço
De entrares a tempo
De seres maré
Da luz que apaga
Tanto.
Vou-te amando
Contra a luz,
E a escuridão
A si se prepetuando.
Desnudei-me
Aqui neste pequeno
Escuro momento
Sem fundo
Do tempo.
Reduzido a ti
E a tudo o que não vem...
O tempo vai, demorado,
Passando.
E não vens.
Fica um piano.
Uma voz de veludo
E o escuro
Como pano de fundo.

VAz Dias

#palavradejorge

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