quarta-feira, 26 de abril de 2017

Actos espontâneos

Ele nunca tinha tido jeito para actos espontâneos. Lia livros que deixava a meio. Desistira de lutar por amor. Ainda assim ela o arrebatou. Cada vez que dizia que iria embora mais o agarrava e puxava. Parecia querer-lhe sacar a espontaneidade à porrada. Ela sentia o seu ponto morto e desejava-lhe dar vida por ali mesmo. Era também o que lhe criava ainda mais desejo. Ela tinha vida de sobra. Tanta que se guardava para aqueles momentos (tinha-lhe confessado que não era nada assim, tresandando o hálito a cerveja, gin e traição). Ela fugia para onde ele queria. Para onde desejara um dia. Mas tudo nele havia mudado. O desejo era muito mais que mecânico. Tinha envelhecido de morte doutro amor. O contexto madrugador criou a soberba dos dois às horas. Incautos deixariam a hora certa passar. Nunca mais o momento teve aquela espontânea vontade. Dela nele e dele... quase reanimando. Mas cicatrizaram desse fogo. Um dia talvez se encontrariam. Um dia talvez ele acabasse os livros todos que deixava por acabar.

VAz Dias

#palavradejorge

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